sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Carlos de Niggro

Ator. Atuou nos filmes ‘2 Coelhos’ (Afonso Poyart); ‘Andaluz’ (Guilherme Motta) e ‘Papo de Boteco’ (Diomédio Piskator).
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Eu gosto de me identificar com a história que vai ser contada no curta-metragem, gosto de me sentir integrado, confortável. O ator tem que estar sempre em exercício, praticando, aprendendo novas linguagens, novas direções. Muitas vezes os roteiros de curtas-metragens propõem boas histórias, personagens interessantes, desafiadores e isso é um bom combustível para o nosso trabalho criador.
 
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Já passei por equipes bem organizadas e outras nem tanto, e isso não está relacionado somente à falta de estrutura. Tem equipe que tem toda a ideia na cabeça, mas, só enxerga o produto pronto, se esquece do processo. Isso reflete no nosso trabalho, pois muitos não sabem lidar com o ator, não sabem nos dirigir, não tem essa sensibilidade específica, entende? Eles falam dos takes, dos enquadramentos, do som, da luz, mas não colocam o ator nesse centro, não criam juntos, isso é uma pena. Quando você é dirigido por uma pessoa que já fez teatro ou algo do tipo, a coisa muda de figura, o cara te entende, o processo caminha melhor. Muitas vezes os valores dos caches são simbólicos, você faz pela arte, pelo trabalho, pelo amigo.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O nosso país está caminhando a passos lentos quando o assunto é cultura, no geral; o teatro está aí sobrevivendo porque tem um povo guerreiro, lutador, cheio de amor, sonhos e ideais, e é assim com a música, a dança, etc., etc. Nosso cinema só consegue um espaço de destaque quando está bem patrocinado, e/ou teve uma ótima aceitação fora do país. Quantos filmes maravilhosos ficaram apenas duas semanas em cartaz. No caso dos curtas não é diferente, ainda não existe uma tradição no nosso país a respeito desse segmento. Quem aprecia esse trabalho, na maior parte das vezes são pessoas ligadas à cultura. O povo em geral, não conhece. A ideia curta metragem ficou muito atrelado à trabalho escolar; alunos de cinema que precisam finalizar um curso convidam alguns atores oferecendo alimentação e ajuda de custo e pronto. Essa mentalidade tem que mudar. Temos que pensar no profissional, fazer gerar renda, é uma da formas que imagino para que possamos difundir mais essa ideia.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Temos que começar na base, nas escolas. Desenvolver um trabalho de maior inserção cultural, apresentar a esses meninos e meninas essa arte, aguçar o senso critico. Exibir diversos trabalhos na rede pública, municipal e privada de ensino. Tem um festival escolar na região do Alto Tietê chamado Cine&Arte que já está fazendo isso, nele os alunos do ensino médio e fundamental criam seus curtas, videoclipes. Adolescentes que já irão para o mundo com uma visão diferenciada sobre os curtas metragens, talvez eles é quem vão espalhar essa ideia para as novas gerações, talvez essas novas gerações vão consumir mais esse segmento artístico, talvez.
 
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Não há dúvidas! Porém, acredito que precisamos criar e difundir ainda mais os festivais. Seguir o exemplo dos organizadores do Festival Art Déco de Cinema entre outros que fazem premiações, valorizam os trabalhos da equipe, atores, enfim... Essas iniciativas ajudam a desvincular a imagem escolar desse segmento artístico, e podem contribuir para chamar a atenção do publico, e claro dos patrocinadores. 
 
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Depende. Se a produção criadora desse curta alçar voos maiores e lembrar do ator e de sua equipe no futuro é possível. Mas, como não acredito em Papai Noel, prefiro dizer que na maioria das vezes, os mesmos atores que fizeram o curta por ajuda de custo ou alimentação, serão os primeiros a serem substituídos quando a equipe conseguir patrocinadores para um projeto dessa grandeza. Infelizmente é assim que acontece. E quero deixar claro que não estou generalizando, mas os números a favor de uma situação como essa são altos.
 
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Será que existe receita? Creio que é trabalho, trabalho e mais trabalho. A gente precisa arranjar uma forma de ser sustentável, tentar não depender somente do governo, gerar nossa renda, nossos projetos, criar nossas histórias. Como disse acima, precisamos melhorar o entendimento cultural do nosso povo em todos os setores. Se o povo tiver mais acesso à Cultura será bom pra todo mundo, é ele quem vai definir o nosso sucesso.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Tenho um texto que está sendo roteirizado, e espero filmá-lo em breve. Será uma experiência marcante com certeza, já temos a produtora que irá contribuir com a parte técnica, os amigos da Produtora Replik.  Quem sabe não a gente não fala sobre isso numa próxima entrevista!