Lívia é atriz e produtora de teatro. Seus
últimos trabalhos nos palcos foi o espetáculo GARGÓLIOS, do diretor Gerald
Thomas (com a London Dry Opera Company), e o musical ‘Noel Rosa – O Poeta da
Vila e os seus Amores’, com direção de Dagoberto Feliz. Na TV atuou em duas
séries do Canal Multishow - “Na Fama e na Lama” e “Olívias na TV”, e
recentemente participou de um episódio do Saturday Night Live Brasil, da Rede
TV.
Sou atriz com formação em
teatro. Fiz poucos curtas na vida, mas quando me convidam, primeiro vejo se
gosto do roteiro e sendo ele interessante aceito de imediato, mesmo sem verbas
(algo muito comum nesse tipo de trabalho). Faço isso para adquirir
experiência na linguagem cinematográfica, que é muito diferente da teatral. Existem
muitos caminhos que podem formar um ator: escolas, cursos e trabalho
direto na prática. No teatro me formei em escola (além de diversos
cursos livres). No cinema, por enquanto, estou aprendendo "fazendo".
O primeiro filme que fiz foi um média-metragem chamado BRASA, de um
diretor alemão, Sebastian Mez, que quis realizar um
trabalho no Brasil. Tive que fazer uma cena em plano-sequência de 9
minutos umas 25 vezes (ele era o maior detalhista que já pude
conhecer). Pude perceber que no cinema tudo é muito diferente, tudo é mais
contido, interiorizado, mas o sucesso da cena não tem a ver só com atuação do
ator. As vezes o seu melhor take não é o que entra na edição, pois a
câmera não estava boa. É difícil assimilar a linguagem do vídeo, mas
foi uma experiência sensacional.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Em primeiro lugar, acredito
que, no Brasil, infelizmente, não existe ainda uma cultura de valorização para
trabalhos "alternativos" (no sentido de não-convencionais), isso de
forma geral, incluindo todas as formas de manifestações artísticas (no teatro,
no cinema, na música, nas artes plásticas, etc.). Além disto, o cinema
brasileiro ficou muito tempo na geladeira. Nós temos filmes fantásticos
que além de não terem sido valorizados pelo grande público
na época, foram esquecidos. O Glauber Rocha, por exemplo, foi um
dos maiores gênios do nosso país, mas poucos o conhecem. O cinema nacional
nunca foi e ainda não é algo rentável para o mercado brasileiro. Hoje, por mais
que a bilheteria dos filmes nacionais esteja em ascensão, podemos contar nos
dedos filmes que lucraram. Eu consigo lembrar apenas do "Se Eu
Fosse Você", "Dois Filhos de Francisco" e "Tropa de Elite
2", longas-metragens totalmente comerciais, sem julgamento de valores
pois, sobretudo o último, é um ótimo filme. O resto foi "prejuízo"
para o governo, uma vez que toda a produção que se insere no mercado nacional
conta com apoio estadual ou federal, através de leis de incentivo fiscal.
E, geralmente, o valor da bilheteria nunca atinge o valor da produção. Tudo
isso pra dizer que, se nem o mercado dos longas-metragens está estabelecido,
imagine o dos curtas? Enfim, acredito que a saída pra todos esses problemas
seria uma "revolução cultural brasileira". Há que se resignificar os
focos e os interesses do grande público.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Essa pergunta, para
mim, está diretamente ligada à anterior. Acredito que o problema
para atingir mais público está na DIVULGAÇÃO desses trabalhos.
E não há espaço para divulgar curtas-metragens nos meios de
comunicação de massa, pois ainda não se estabeleceu nem o mercado dos
longas. Não sei se o problema está na exibição, pois vejo um movimento bem
forte de festivais de curtas, nacionais e internacionais, uma saída bastante
inteligente para esses filmes terem um mínimo de reconhecimento e popularidade.
É
possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um
trampolim para fazer um longa...
Não sei se um curta é
necessariamente um trampolim para se fazer um longa, mas da mesma forma
que eu, como atriz, tenho sempre vontade de fazer coisas diferentes, de passar
por novos desafios, acredito que os cineastas possam ter as mesmas inquietações.
Desta forma, me identifico muito com quem sente necessidade de se
inovar em seus trabalhos, mas não desvalorizo quem possa ter um currículo
apenas com curtas-metragens, mesmo porque cada trabalho pode ser extremamente
diferente do outro.
O
curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei se isso acontece entre
os cineastas, mas repudio toda forma de desvalorização do trabalho do outro, a
não ser quando o trabalho seja realmente desqualificável no meu ponto de vista,
ou seja, ele próprio desvalorize a luta dos artistas por uma cultura
consistente. É óbvio que tudo é muito subjetivo, tudo pode ser
unicamente uma questão de gosto, mas eu já vi curtas belíssimos e longas
péssimos. Acredito que não há regras para se executar um bom trabalho.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Além de atriz, sou formada em
Radio e TV. Meu TCC foi um média-metragem que ficou bem bonito. Mas na equipe
assumi a função de roteirista e produtora de casting. Foi assim durante toda a
faculdade. Sempre me aproximei do que diz respeito à criação da história,
ou de funções relacionadas ao elenco. Recentemente, em
2010, dirigi um curta-metragem documentário sobre a vida do Noel Rosa. Foi
uma experiência maravilhosa, adorei o resultado. Por isso, tenho vontade, sim,
de dirigir um curta, mas acredito que, no momento, se trabalhasse
efetivamente no ramo cinematográfico, me daria melhor como preparadora de
atores, do que como diretora.