terça-feira, 7 de maio de 2013

Karina Barum

Você nasceu em Brasília, e passou sua infância e adolescência em Porto Alegre, mas decidiu vir a São Paulo para cursar na Escola de Teatro Célia Helena. Em Brasília e Porto Alegre você não teria condições de se tornar uma atriz?
Sim sempre vi a gauchada pegando avião e pousando em novas terras, e também minha área sempre exigiu um mercado bem amplo, por isso fui embora. Mas hoje volto meus olhos para Porto Alegre (que apesar de cidade grande, é pequena comparando à São Paulo), ou mesmo cidades menores, onde sem problema algum posso realizar minha arte e ter o que gosto mais, uma vida mais simples. Isso tudo vejo que é mais fácil porque a área onde mais atuo é cinema e posso viajar de qualquer lugar para um set de filmagem, certo?
 
Sua estreia no teatro foi com o espetáculo “Os Menestréis”, de Oswaldo Montenegro. Como foi a experiência?
Eram muito cantores e bailarinos e todos os espetáculos exigiam super disciplina, lembro do Oswaldo, algumas vezes, dizendo, para alguém que chegava atrasado: 'Ei pegue suas coisa e dê meia volta, obrigada.'. Ao mesmo tempo ele era um doce de pessoa. Ali aprendi disciplina, e foi muito válido por que carreguei para todos os outros trabalhos, para mim é parte fundamental.
 
Na tevê, a atriz estreou em 1994, na novela “74,5, Uma Onda no Ar”, na extinta Manchete. Conte sobre a sua participação nessa produção.
Minha primeira novela. Mas parecia a décima rs.. um super envolvimento, com elenco e direção, além de ser filmada na praia e todos ficavam juntos no hotel, isso nos deu uma grande unidade. Lá conheci pessoas queridas que ficaram amigos queridos como Letícia Sabatella e Murilo Rosa, este foi com quem fiz o teste para entrar e lembro da gente ensaiando na minha casa e minha vó- no quarto ao lado- gritando: parem de brigar vocês dois!!! rs..
 
 
Depois passou por “Malhação”, considerada um laboratório. Como encarou esse desafio?
Rede Globo, era sonho, fui chamada para fazer o teste por que o Wolf Maia assistiu 'O Monge e a Filha do Carrasco' mas não pude ser dirigida por ele, o que me deixou triste, mas trabalhar em produção grande é maravilhoso, tudo funciona, tudo acontece. Minha personagem era, Débora, era uma garota sensível e patricinha ao mesmo tempo que se apaixonava por Dado. Participei de Malhação Férias e filmamos em três Rios, o que vibrávamos por que nossos personagens tinham que enfrentar esportes radicais. Bruno de Lucca era um pentelhinho ainda, André Marques já era um bom gourmet, Thiago Lacerda era um ex-nadador e gentil colega, isso tudo fica na nossa memória, pessoas tão legais e talentosas.
 
Seu maior sucesso foi em 1998, ao interpretar Shirley de “Torre de Babel”, na Globo?
Acredito que sim, Shirley, encantou pela sua pureza, e seu defeito na perna trazia uma fragilidade, mas quando você via Shirley ela não era tão frágil assim, mandava nos três tios, no pai e no avô! O mérito de Shirley credito ao nosso autor, mas para interpretá-la busquei muito em Ettore Scola, cineasta que amo e admiro.
 
Depois da novela “A Padroeira”, de 2001 você atuou em 2005 em “Esmeralda”, no SBT. Como foi a experiência de trabalho em outra emissora?
Já tinha tido esta experiência, mas o bom filho.. sempre a casa retorna . comecei na Globo, depois fiz a novela 'Louca Paixão' na Record, e Walter Avancini me chamou para fazer "A Padroeira" . Esta novela, me recordo com grande carinho, que quando cheguei na Globo para ter reunião com Avancini eu estava fazendo a personagem Bee-Bee, uma drogada que morria de overdose na peça 'Subúrbia', então cheguei à sala dele, muitos quilos mais magra, branca como um fantasma, com cabelos e sobrancelhas laranjas, bem eu estava bem estranha, mas ele virou para mim e disse naturalmente: "Você vai fazer Tuburcina, uma cabocla de 1600" Eu queria me ajoelhar aos seus pés e beijá-los.. mas me contive e disse apenas.. Pode deixar!
 
'Esmeralda' fiz meu ensaio para vilã, pois Graziela, não era uma vilã, mas era dominada pela mãe e muito influenciada, mas no final se arrepende de tudo e acaba morrendo de amor! Sempre torci que o SBT acreditasse em seus atores e técnicos, pois foi muito bonita esta novela e tivemos muitas críticas positivas deste trabalho também.
 
 
Você ficou quase sete anos sem atuar em novelas, quais foram as razões desse hiato?
Eu tinha sido convidada para fazer protagonista na Record 'Louca Paixão' e logo após esta novela casei e tive minha maior criação: Manuela.
 
No cinema, sua estreia é em 1996, atuando em "O Monge e a filha do Carrasco", de Walter Lima Jr. Como foi isso?
Este teste peguei em fila escaldante com sol de 40 graus, e valeu muito à pena. Puxa neste filme além de iniciar com Walter Lima Jr, que que foi referência para mim, um ser maravilhoso e um artista raro, eu estava diante de uma coprodução, o filme era todo falado em inglês, e com elenco maravilhoso com José Lewgoy, que tb é referência para qualquer ator.. Patrícia Pilar, Eduardo Conte, Rubens de Falco, Charles Paraventi e tantos outros.. achei que faria uma das bruxas por que era para isso que eu estava na fila, mas Walter trocou meu papel para a protagonista. A Benedicta era uma personagem complexa, ela era uma menina excluída pela sociedade , por ser filha do carrasco da cidade, e vê no Monge Ambrosious, interpretado por Murilo Benício, toda a bondade que nunca havia recebido.
 
Logo depois, você atuou em "Buena Sorte" (1997), de Tânia Lamarca, e "O Quinze", de Jurandir Oliveira. Como foi o seu método de preparação para esses papéis? O preparo é parecido quando se lança em novelas ou teatro?
Sim o processo para a busca do personagem é parecido, tanto para cinema, quanto tv e teatro, a forma de fazer é que muda. E muda também como achar este personagem, por que cada um demanda uma descoberta nova. Em Buena Sorte, precise fazer aulas de equitação e aprender a Apartar - modalidade com cavalo, onde o cavaleiro separa com seu cavalo todo o gado- que é um balé lindo. Minha personagem era campeã de Apartação, e só de estar na terra com os cavalos diariamente me ajudou a entrar no universo de Júlia. Mas as vezes apenas um acorde de violino pode nos ajudar rs.. sim é como uma salada de frutas, pois o ser humano é complexo.
 
 
Um dos seus últimos trabalhos no audiovisual foi "Corpos Alados", um curta-metragem dirigido por Paulo Furtado e Domingos Meira. O curta é o espaço que você se sente com mais liberdade para atuar?
O curta metragem é um espaço onde podemos também trabalhar, mas não significa, trabalhar mais, tudo vai depender da sua entrega e seriedade. Um curta é um espaço que geralmente, todos estão envolvidos, muitas produções independentes. Vou rodar um curta agora em dezembro que vou dirigir, ‘Parada Solicitada’, 30 atores e o que mais gosto é quando todos entram no processo, isto é, cada um dá o que pode para o projeto ir pra frente, é uma união equilibrada e sincera.
 
“Três Pedras” é um curta-metragem que você produziu, fale sobre ele.
"Corpos Alados" e "Três Pedras são o mesmo curta rs... é que mudou!
Foi fantástico, onde o 'processo' aconteceu! Foi feito também entre amigos e todos produziram, dirigiram e atuaram e tivemos o querido Ewerton de Castro no elenco.
 
A direção em cinema é um caminho natural para você?
Sonho com direção, amo direção de ator, e gosto muito de dar instrumentos para um ator conseguir desenvolver o seu máximo. São métodos e maneiras e claro uma boa escolha de elenco! Mas se é um caminho eu não desenho muito, apenas sigo em frente, trabalhando com amor, gosto de experimentar coisas novas, coisas também que alimentam meu próprio trabalho de atriz.
 
Há glamour na vida de uma atriz?
O mesmo Glamour que existe na vida de um chef de cozinha. Você já viu uma cozinha em trabalho, gente gritando, panelas fervendo, calor escaldante, tensão constante rs.. é mais ou menos isso, não pode ter glamour é um trabalho de peão.
 
É difícil se manter como atriz na televisão? Ou no cinema é mais complicado?
É difícil saber, sempre achei mais simples cinema, comecei no cinema. Mas a TV é algo sinistro, quantos atores se formam por ano? Quantos prédios temos de TV? Rede Globo e TV Record no Rio, SBT em São Paulo. Produções independentes e também canais fechados tem crescido bastante e isso é muito bom, por que vejo atores novatos sonhando com a Globo ou Record, isso é muito difícil, pelo número mesmo, a questão é matemática.
 
 
Você estreou como diretora da peça “Mulher Burra”, como é dirigir e lidar com atores?
Uma delícia,.. As meninas foram maravilhosas, entraram de cabeça, "Mulher Burra" é comédia do início ao fim mas com muita emoção verdadeira e para tanto é necessário despudoramento e entrega, Fernanda Hartmann logo será descoberta, faço votos por ser uma atriz de alma, de verdade, isso chama no cinema. Eu ensaiei esta peça em duas montagens a primeira tivemos tempo e foi completo, no segundo com novo elenco, tivemos pouco tempo, mas elas tinham muito espaço para a criação e sinto que um diretor precisa confiar também, para que o ator cresça.
 
Você ministra aulas de cinema e TV para crianças e adolescentes na capital paulista. Como é o seu trabalho?
Hoje ministro curso de Cinema avançado e intermediário para atores experientes ou não, o que importa é a verdade deles na frente das câmeras, minhas aulas são de direcionamento, não adianta enganar a lente de cinema pega tudo, não adianta se preparar para a cena, você já tem que estar nela. É muito bacana ver um crescimento rápido dos atores, ator tem ser inteligente e saber usar sua imaginação, que é sua maior arma.
 
Qual é o peso de ser protagonista de novela? Você viveu a presidiária Letícia (em “Louca Paixão”, da Record).
Fiz protagonistas em cinema, mas em novela, o que sinto é trabalho árduo o ano todo, 40 cenas para gravar por dia, isso é muito. O que é muito importante é alto astral e muito estudo. Mas em novelas tem a exposição maior, o contato direto, o dia a dia com o público, este eu acho um grande enfrentamento. Mas existe toda uma equipe para dar este suporte, um ator nunca esta sozinho.
 
Falta mais seriedade de determinadas pessoas para levar a carreira de atriz com mais profissionalismo?
Sempre vai existir espaço para profissionais competentes, mas confesso que hoje, parece que o que é ruim é melhor. Todos se rendem ao dinheiro fácil e imediato. Isso vem acontecendo ao teatro, peças de riso fácil atraem muito mais, pra que pensar, pra que sofrer? Sucessos sem conteúdo, sempre vai existir, mas sonho sempre com algo bem maior para o Brasil. Estes dias vi, uma praça em uma cidade qualquer da Europa, sendo agraciada com uma orquestra ao ar vivo, mas o que mais me chamou a atenção, eram os rostos de prazer de homens, mulheres e crianças, algumas brincando de reger. Nossas crianças mereciam isso também.
 
Por que tantas pessoas querem se tornar atriz hoje em dia?
Como garçom é a profissão que todos podem fazer, é só dar uma treinadinha, não é? Ambas são as profissões mais lotadas. O sonho que a mídia imprime é falso, o glamour, como você mesmo disse é falso, se a gente não tem boa noção sobre as coisas cai. O ator tem que estudar antes de tudo, mas o que todos estão fazendo é ir a academia! Mas será que estes estão errados? talvez não, a procura, infelizmente esta sendo esta: músculos e bundas.
 
Qual é a sua avaliação do seriado “Tribunal na TV”, da Band?
Quando eu fiz alguns atores me ligaram e disseram, como você fez é um produto sem qualidade. Não achei, gostei muito de fazer uma homossexual assassina, realmente um personagem único. Além de dar emprego para muitos atores paulista. Mas é preciso dizer que aquela linguagem era muito cafona rs..
 
Para finalizar, o que projeta para a sua carreira a longo prazo?
Estar numa cabana na beira da praia, ensinando interpretação para filhos de pescadores.. por que não?