Marco
Altberg
Produtor executivo
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Fui
diretor de operações da Embrafilme durante quase dois anos, logo antes de o
presidente Fernando Collor decretar sua extinção. Nessa ocasião, resgatamos as
produções deles para voltarem a ser distribuídas pela empresa estatal. Elas estavam
sendo distribuídas por distribuidoras privadas, porque a Embrafilme, por algum
motivo, havia, anos antes, deixado de distribuir seus filmes. Nós, então,
resgatamos com sucesso, porque sempre era bilheteria garantida. Quando houve o
desastre Collor, que acabou com os organismos oficiais voltados para o cinema,
eu voltei para o mercado. Após uma rápida temporada nos Estados Unidos, iniciei
conversações com a R. A. Produções e acertamos que minha empresa produtora na
época, a Diadema, produziria dois filmes: O
Mistério de Robin
Hood, que teria a participação da Xuxa; e Os Trapalhões e a Árvore da Juventude.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Como
profissional da área, sim. A comunidade cinematográfica era bem menor do que
hoje e havia muita troca. Acompanhava os filmes, seus integrantes, equipes, resultados,
com o interesse do desenvolvimento do nosso mercado.
Nos
dois filmes que você trabalhou como produtor dos filmes dos Trapalhões, o Zacarias
já tinha morrido. Na sua avaliação, qual o impacto da ausência dele nesses dois
filmes?
Ele
fazia falta, sem dúvida. Era um quarteto. Peguei o trio. Mas eles se superavam e
eram sempre extraordinários. Cada um do seu jeito: Mussum, Dedé e Didi! Conteúdo
infantil genuinamente brasileiro. E fazer filmes com eles era sempre uma festa!
Representantes de uma época mais ingênua e pura.
Que
representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que
eram certeza de sucesso de bilheteria?
Era
um momento diferente e difícil do cinema brasileiro. O país vivia dias
turbulentos na política. As produções minguaram, com o fim da Embrafilme.
Fizemos os dois filmes com recursos dos exibidores e distribuidores. O chamado investimento
público havia desaparecido. Era um grande desafio, apesar da tradição comercial
do grupo.
Fizemos
produções com mais qualidade de produção, investindo em direção de arte,
fotografia. Foi o primeiro filme do grupo no sistema de som Dolby.
Renato
Aragão, Dedé e Mussum tinham como característica a irreverência. Até nos
bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram
descontraídas?
Sim,
muita alegria. Cheguei a fazer um making of
dos bastidores do filme Os Trapalhões e a
Árvore da Juventude, que filmamos em Manaus e arredores. Esse making of registrou
momentos maravilhosos de descontração dos três e as brincadeiras entre eles.
Como
era o seu contato com eles (Didi, Dedé e Mussum)?
Eu
era o executivo de produção encarregado de colocar o filme em pé. José
Alvarenga Júnior dirigiu os dois filmes. Na verdade, montamos uma mesma equipe para
os dois filmes. Meu contato direto era com o Paulinho Aragão, filho do Renato. Era
tudo muito harmonioso, dava tudo certo.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Eles
alternavam. Mas, evidentemente, Mussum se destacava na espontaneidade; e Renato
era o mestre que orquestrava a cena. Dedé acompanhava por música. Eles tinham
entrosamento incrível, não apenas eles mas também os coadjuvantes que os
acompanhavam há anos.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sempre
muito cioso das gags e
piadas. Tinha uma inspiração chapliniana, adaptada pra cultura brasileira.
Sabia do riscado direitinho e se entregava em cena.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Nas
poucas vezes que um filme dos Trapalhões
tinha boas críticas, Renato brincava que
ia ser um fracasso. Ele acreditava que o sucesso de público era
proporcionalmente contrário ao sucesso de crítica. E tinha razão. Hoje, imagino
que seus filmes sejam vistos com uma certa tolerância histórica, uma vez que
não existem mais... Mas o fato é que era muito importante a permanência de uma marca
infantil brasileira de filmes que fizesse frente aos filmes internacionais.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
São
filmes que tiveram seu momento histórico e desempenharam papel fundamental na
cinematografia brasileira. Menos em linguagem, mais em ocupação de mercado.
Esses dois fatores são igualmente importantes para a história e desenvolvimento
de uma cinematografia.
Foram
tantos filmes, tão diversos entre sí, produzidos de diferentes maneiras que não
ousaria em classificá-los num todo, mas sim pelos seus resultados.
No
filme Os Trapalhões e a Árvore da
Juventude, Os Trapalhões são guardas ambientais
que tentam preservar a floresta amazônica da devastação. Em toda a filmografia
de Renato há essa preocupação com o meio ambiente. Nesse filme isso é ainda
mais explícito. Ele mencionava essa preocupação para vocês?
Havia
sempre um bom sentimento por trás de seus filmes. Nesse caso específico, causas
humanitárias. Quando se faz conteúdo para crianças, a responsabilidade aumenta.
Eles tinham isso muito presente.
Os
filmes dos Trapalhões eram
bem recebidos pelo público, mas pouco foram premiados. Nesse caso, em
particular, vocês foram premiados no III
Festival de Cine
Infantil de Ciudad Guayana (Venezuela), em 1993.
Qual foi a repercussão entre vocês dessa premiação?
Por
incrível que pareça, não tenho esse registro. Como éramos produtores
contratados e minoritários, permanecendo a R. A. Produções como produtora
majoritária, a vida comercial do filme, assim como seus desdobramentos eram de responsabilidade
da R. A. Mas fico muito feliz desse feito. Talvez resultado da nossa
contribuição no valor de produção do filme. Quer dizer: no esmero técnico e
artístico.
Esse
foi o último filme dos Trapalhões
com o trio remanescente, após a morte de
Zacarias. Foi também o último filme de Mussum, falecido em 1994. Gostaria de
saber se havia, nas filmagens, uma tristeza entre os integrantes (Renato, Dedé e
Mussum) com a ainda recente morte de Zacarias.
No
que pude perceber, ele era sempre lembrado com carinho e saudade.
Quais
as lembranças da direção do cineasta José Alvarenga Júnior, nessa produção?
O Zé
já havia dirigido eles em outros filmes, e era um retorno dele a essa função. Mas
foi diferente, porque ele contou com uma produção em que ele pôde experimentar mais
e exercer a função com mais desenvoltura e criatividade.
Havia
uma pressão comercial de produzir naquele ritmo, dois filmes por ano, mesmo com
a morte de Zacarias?
Não
que me conste.
Havia
a intenção de fazer da Xuxa uma integrante dos Trapalhões?
Não
participei dessa negociação. Minha atuação foi restrita aos filmes.
A
Xuxa estava no auge da sua beleza e popularidade. Qual a sua avaliação dela como
atriz?
A
Xuxa era uma marca. Não acredito que ela mesma se veja como uma atriz na ampla
acepção da palavra. Mas cumpriu seu papel com eficiência no filme.