Marcos
Flaksman
Diretor de arte
Você
trabalhou em dois filmes dos Trapalhões:
O Mistério de Robin Hood (1990)
e Os Trapalhões e a Árvore da
Juventude (1991). Como e por quem recebeu o convite
para trabalhar nesses filmes. Como foi a experiência?
Eu
participei da linha de shows da
Globo. Na cenografia, que era no Teatro Fênix, no Jardim Botânico (RJ). Eu
trabalhava com o Jô, no Viva o Gordo.
Eles, Os Trapalhões,
tinham o programa semanal lá; e eu cruzava com eles pelos corredores. Todos
gravavam ali. Em 1984, eu acho, o cenógrafo dos Trapalhões, o
Alfredão, que era cenógrafo de televisão (eu vinha do teatro e cinema), sujeito
muito simpático, teve um problema no coração e convidou-me para fazer o
programa. Ele, então, me falou: “Eu te
dou, porque eu sei que você me devolve o programa. Se deixo em aberto, perco meu lugar, quando eu
puder voltar.” Eu fiz o programa por menos de um ano.
Divertia-me muito. Mussum ficou muito amigo meu. Zacarias era muito discreto. O
Renato tinha o hábito, nessa época, de fazer dois filmes por ano. E, quando o
cinema estava esperneando por falta de recursos, conseguiu fazer mais dois.
Pela nossa parceria na tevê, fui convidado.
Você
trabalhou com vários diretores de cinema, entre os quais Ruy Guerra, Carla
Camurati e Walter Carvalho. Que representou para você esses trabalhos com Os Trapalhões?
Eu
adorei fazer. Eu não considero a dramaturgia ou a filmografia do Renato Aragão menor,
por ser Comédia. Ele não faz dramas filosóficos ou intelectuais. Sempre quis
fazer cinema para o grande público, com um olhar especial para o público
infantil. Não tinha sacanagem. O Renato era o supervisor dos roteiros dele,
cuidadoso com tudo. Ele sempre foi muito caprichoso nos filmes dele. E o fato
de ser popular, não implicava em fazer de qualquer jeito. Muito pelo contrário.
Eram produções muito caprichadas.
É
possível fazer algum tipo de comparação entre o trabalho dos Trapalhões e o dos
diretores citados acima?
Não
vejo grande diferença, não. Acho que é mais difícil realizar bem uma Comédia do
que um Drama. Comédia é difícil, o roteiro é difícil. Tradicionalmente, é um
gênero mais difícil, tanto no teatro, quanto no cinema e mesmo na televisão.
Esses
dois filmes foram feitos logo após a morte de Zacarias. Como acompanhou essa
repercussão, durante o trabalho com Renato, Dedé e Mussum?
Essa
gente era muito profissional. Eu fiquei bastante próximo do Mussum, que era
grande figura. Eu tinha um sítio em Jacarepaguá. E o Mussum estava interessado
nele. Fiquei sabendo, então, pelo Mussum que o Zacarias era pai de santo e que
tinha um sítio ali perto. Pai de Santo!
Renato,
Dedé e Mussum estavam abalados com a ausência de Zacarias? Como era o clima
entre eles nas filmagens?
Não
diante de mim, eu os conhecia muito pouco. O fato era mais comentado pelos
jornalistas, que iam ao set.
Mas eu não vivi isso.
Antes
de trabalhar com Os Trapalhões,
você assistia aos filmes deles?
Vi.
Não eram filmes que faziam parte do meu cardápio de procura; mas vi, sim. E vi alguns
bem interessantes e muito bem produzidos. Engraçados e de muito sucesso.
Quais
as suas lembranças do filme O
Mistério de Robin Hood? Onde esse
filme foi filmado?
O
Renato tinha um grande amigo chamado Beto Carrero, que era empresário e dono de
um circo. Tive contato com ele e seu pessoal para montagem de lonas. Renato era
proprietário de um estúdio atrás do Barra Shopping, onde fica o New York
Center, era uma concessão da Marinha ou do Exército. E o filme foi feito ali,
no pátio dos estúdios. Montamos o circo em externa. Mas choveu muito nas semanas
seguintes, e o terreno ficou inundado. Era uma loucura, um mar, um lamaçal! O
Renato disse que não podia parar de filmar. Falou: “Tô fodido, separar.” E
transferimos o circo para dentro do estúdio, enchi de terra ali no piso. Ninguém
percebe isso no filme.
Os Trapalhões sempre
se caracterizaram em parodiar clássicos da literatura universal. Em O Mistério de Robin Hood,
Renato usa o circo como pano de fundo da trama. Como foi o seu trabalho para
ambientar essa história?
O
Renato Aragão sempre construiu esse personagem. O Robin Hood é o Didi Mocó.
Renato sempre teve essa postura “chapliniana”
na sua obra.
Robin
Hood é o único personagem que Renato Aragão repetiu em toda a sua filmografia.
Antes, ele havia filmado Robin
Hood, O Trapalhão na Floresta. Ele tinha
algum tipo de fixação pelo personagem?
Ele
se acha um Robin Hood do cinema. O personagem Didi é assim, ele se identifica. Sempre
estava do lado do mais fraco. O personagem do Didi sempre optou por isso: uma
postura romântica, anárquica.
Renato
Aragão é um profissional que acompanha todo o processo de filmagem. Como era a
sua sintonia com ele? Vocês conversaram bastante?
Ele
dava muito liberdade de criação, nunca questionou o que eu mostrava pra ele.
Metia mais a mão no roteiro e na edição. Comédia é ritmo. Confiava no José Alvarenga
Júnior e estava atento o tempo todo. E não perdia a espontaneidade, durante a
filmagem. Sempre muito profissional e aplicado.
Quais
as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com o trio (Renato,
Dedé e Mussum)?
Super
relaxada, e eles eram sempre simpáticos. Tenho lembranças ótimas, já que
conheci Myrinha, minha mulher, lá. Não posso deixar de ter essas filmagens na mais
alta conta. Temos muito carinho por essa época.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
O
cinema feito por eles é popular, brasileiro, um cinema que é também para
crianças. Antes de mais nada, popular, inteligente e respeitoso com o público
(imenso). Didi Mocó é um herói romântico e marcante do cinema brasileiro. Longa
vida pra ele!