Mauro
Wilson
Roteirista
Você
construiu uma trajetória profissional sólida com Os Trapalhões.
Antes de trabalhar com eles, já acompanhava o programa na televisão e os filmes
deles no cinema? Se sim, qual era a sua opinião a respeito deles?
Totalmente.
O meu pai, Mário Wilson, escrevia esquetes para o programa de tevê. Eu adorava
tanto os filmes quanto o programa de televisão. Os Trapalhões eram os
meus comediantes preferidos.
Como
surgiu a oportunidade de trabalhar com Os
Trapalhões?
Logo
após a morte do meu pai, Walter Lacet, o diretor geral da linha de shows, estava procurando
novos roteiristas para o programa dos Trapalhões.
Então, eu e Paulo Andrade, meu parceiro também nos roteiros dos filmes,
mandamos vários esquetes para ele. Lacet mandou para o diretor do programa
Wilton Franco; e nós fomos aceitos.
Os Heróis Trapalhões – Uma Aventura na Selva foi
seu primeiro filme com Os
Trapalhões. Esse convite foi a grande oportunidade
profissional?
Sim.
Eu sempre sonhei escrever para o cinema. Foi o Wilton Franco que chamou a
gente, eu e o Paulo, para trabalhar no roteiro. Já existia um roteiro. Nós
trabalhamos em cima desse roteiro, junto com o produtor do filme, Cacá Diniz.
Naquela
época, que representava trabalhar com Os
Trapalhões?
Significava
escrever para os melhores comediantes do país. Os filmes eram sempre recorde de
bilheteria.
E
no mercado, eram os que melhor remuneravam um profissional como você,
roteirista?
Na
época, roteirista de cinema ganhava muito pouco. Mas, como na época eu também
ganhava pouco escrevendo para televisão, não era tão ruim assim. O mais legal
era ver o seu nome enorme na tela do cinema. Isso sempre é muito bom.
Desenvolver
um roteiro para o público infantil é muito mais difícil que para o público
adulto?
Igual.
Desenvolver roteiros é complicado para qualquer filme, principalmente comédias.
É muito complicado manter o público rindo por oitenta minutos.
O
quarteto seguia à risca o roteiro ou era só um ponto de partida para as
improvisações de cada um?
Eles
seguiam à risca e improvisavam em cima, quase sempre melhorando as cenas.
O Casamento dos Trapalhões, foi
inspirado no filme Sete Noivas
para Sete Irmãos, de 1954. Como foi
trabalhar nessa adaptação?
A
gente pegou a estrutura do filme e fez em cima um filme dos Trapalhões. É bem
menos complicado do que sair do zero.
Que
preceitos seguiu, para adaptá-lo à moda Trapalhões?
Mais
gags visuais.
Menos romance.
Em
O Casamento dos Trapalhões,
apesar do Renato Aragão ser a estrela principal, os outros três integrantes
possuem bons papéis. Era difícil conciliar esses papéis no roteiro? Havia
pressão por espaço, por tempo em cena?
Eu
acho que Paulo e eu é que melhoramos os personagens dos outros Trapalhões nos filmes.
A gente já fazia isso no programa, escrevendo esquetes só para os outros três.
As
cenas de luta são frequentes nos filmes dos Trapalhões. Você acha
que hoje, com a patrulha ideológica que existe, teria espaço para cenas desse
tipo em um filme infantil?
Acho
que sim. A Comédia não pode ter barreiras, qualquer tipo de barreiras. Mas sem
pesar na mão. Por causa do público infantil, as brigas nos filmes dos Trapalhões parecem
mais as brigas de palhaços no circo, procurando sempre ser mais engraçadas e
engenhosas do que violenta.
Esse
é um dos poucos filmes dos Trapalhões
em que o personagem de Renato Aragão não
sofre por um amor impossível. Uma das críticas mais frequentes em relação aos
filmes dos Trapalhões era
em relação ao roteiro previsível. E você, quais queixas mais ouvia?
Eu
escrevi para os Trapalhões em
uma época que as pessoas amavam o grupo, tanto no cinema como na televisão. As
críticas eram poucas. E, como eu nem lembro, não devem ser muito importantes.
Era
mais fácil escrever em tempos “politicamente
incorretos” como aqueles? Hoje, seria impensável
ver Didi chamando/insinuando a sexualidade de Dedé, Mussum chamando Didi de “cabeça
chata”, Didi chamando Mussum de “pássaro
grande”.
Não é?
Totalmente.
E Mussum sempre bebendo em cena? Hoje, isso é impossível. Tem o lado ruim,
porque eu acredito que a Comédia tem que passar do limite sempre. Mas também
tem o lado bom, porque lima piadas realmente preconceituosas, agressivas e sem
graça alguma. É claro que existe uma linha fina entre esses dois lados.
Os Trapalhões na Terra dos Monstros é
um dos filmes mais “massacrados”
por todos os fãs dos Trapalhões.
Além da cenografia fake,
evidente até para as crianças, a história é surreal. Qual a sua avaliação a
respeito desse filme?
Eu
também não gosto do filme. Um dos motivos é que o meu trabalho foi bastante modificado
no final. Eu entreguei um tratamento e nunca me chamaram para retrabalhar o
roteiro. Acredito que um roteiro atinge a sua força total no terceiro
tratamento.
Quem
o modificou? Que aconteceu nesse trabalho? Reconhece esse trabalho na sua
filmografia?
É
verdade. Acho que foi o diretor. Afastei-me totalmente do filme. Não fui nem na
estreia. Fiquei bem chateado com tudo isso. Mas é a vida.
Nesse
mesmo filme há uma cena explícita de merchandising.
O Bocão, garoto-propaganda de uma marca de gelatinas aparece no filme. Isso
aconteceu em outros filmes dos Trapalhões
também. Nessa hora, como fica o
roteirista?
Eu
não sou contra o merchandising,
desde que seja legal. E, numa Comédia, se possível, engraçado. No filme, A Princesa Xuxa e Os Trapalhões tem
um da Coca-Cola muito bom. Foi criado pelo diretor José Alvarenga Júnior.
De
quem foi a ideia original de fazer um filme com essa temática de monstros?
As
ideias dos argumentos são sempre do Renato Aragão. Ele deu sempre o pontapé inicial.
E,
a partir dessas ideias, vocês começavam a trabalhar? Isso era feito em reunião? Vocês
tinham liberdade para modificar alguma coisa?
Aconteciam
várias reuniões com o Renato. A gente ia montando o roteiro, e ele aprovava e
dava ideias. Tudo numa boa. Ninguém conhece melhor os filmes dos Trapalhões do que o
Renato.
Em
A Princesa Xuxa e Os Trapalhões,
a história é uma fábula. Nesse caso, a liberdade de criação para você,
roteirista, é ainda maior? Foi maior?
Esse
é um dos filmes que eu escrevi de que gosto bastante. Criamos mundos novos.
Todos os personagens estão bem apresentados, e o romance de Xuxa com o Renato
funcionou.
Princesa
Xaron (Xuxa Meneghel) pensa que todos são felizes. Do lado de fora, os
príncipes Mussaim (Mussum), Zacaling (Zacarias) e Dedeon (Dedé Santana) se unem
ao Cavaleiro Sem Nome (Renato Aragão) para combater Ratan (Paulo Reis). Foi sua
a ideia de criar pseudônimos para os personagens?
Não
lembro bem. Acho que foram criados pelo Renato Aragão, mas não tenho certeza.
Xuxa e Os Trapalhões em O Mistério de Robin Hood é
o primeiro filme dos Trapalhões sem
Zacarias. Como foi escrever um roteiro sem ele?
Uma
certa tristeza. Mas, por outro lado, reforçamos a parceria Dedé e Mussum, que
funcionou bastante. Esse filme tem uma ideia bem legal: todos os personagens possuem
uma identidade secreta.
Mas,
com isso, não perderam a identidade?
Acho
que não foi isso. Foi um desgaste natural.
Tinha
sentido fazer um filme sem a formação original?
Acho
que sim. Gosto desse filme. Acho que tem que seguir em frente.
Você
não acha que um filme sem um integrante da sua formação original tem mais a
perder do que ganhar?
Acho.
Mas acho também que tinha quer ser feito. Os
Trapalhões continuaram mais um tempo. Só
terminaram, quando o Mussum morreu. Aí, realmente, não tinha mais jeito.
A Xuxa já entra, inclusive, no título do filme. Foi uma forma encontrada para tentar
cobrir a ausência de Zacarias?
Não.
A Xuxa era uma estrela tão grande quanto Os
Trapalhões. Possivelmente, foi um acerto
comercial; mas justo.
Qual
a sua opinião a respeito de Xuxa como atriz?
A
Xuxa é puro carisma, além de ser linda. Acredito que ela funciona bem.
Os Trapalhões e a Árvore da Juventude foi
criado e feito especialmente para comemorar os vinte e cinco anos dos Trapalhões. Em razão
dessa efeméride, a ideia era criar um filme de impacto?
Acho
que isso não foi pensado desse jeito. Era filme sobre ecologia e desmatamento, assuntos
fortes na época.
Renato
Aragão era muito ligado à questão ambiental. São vários os filmes com falas e
abordagens a esse respeito. Era explícito esse desejo dele de colocar no roteiro
essa temática?
Sim.
O filme era sobre questões ambientais. Renato gostava de aventuras que tivessem
por trás uma mensagem positiva do mundo, uma dose de esperança. A gente que
escrevia embarcava nessa ideia.
Esse
é o último filme do Mussum. Que tem a falar a respeito dele?
Mussum
era simplesmente maravilhoso. Um dos melhores comediantes com quem eu
trabalhei. Ele era do tipo que melhorava qualquer piada, qualquer fala engraçada,
qualquer gag.
Foi um sonho ter escrito para ele por tanto tempo. Um prêmio para um autor de
Comédia.
Renato
Aragão tem como característica o perfeccionismo. Ele acompanha todo o processo
de produção do filme. Ele chegava a palpitar no seu trabalho?
Muito.
Renato lia todas as versões e participava da criação, tanto na tevê como no
cinema. Era ele que aprovava tudo. Mas numa boa.
O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili foi
seu último trabalho no cinema com Renato Aragão. Fale a respeito.
Eu
entrei nesse praticamente no final, no último tratamento. Mas gosto bastante. Foi
bom ter voltado ao universo do Renato Aragão.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Era
sempre divertido ir aos sets de
filmagem. Eles tornavam tudo divertido. Principalmente o Renato Aragão. Eu
lembro que, às vezes, espalhava estalinhos nos cenários para os atores pisarem.
Acho que também é bom dizer que Renato tem um ótimo conhecimento de
dramaturgia. Eu me lembro de um conselho muito bom que ele me deu sobre vilões:
os vilões podem ser até simpáticos, mas em algum momento eles têm que mostrar
para as pessoas que eles são ruins de verdade.