Monique
Lafond
Atriz
Quando
foi seu primeiro contato com Os
Trapalhões? Conte um pouco de suas lembranças dos
filmes do quarteto que tiveram sua participação. Fale também sobre o Carlos
Kurt.
O
primeiro contato que tive com Renato Aragão foi em 1971, no longa, Bonga, O Vagabundo. Eu fazia
uma figuração, estava começando no cinema... Passei a fazer os filmes dos Trapalhões a convite
do diretor J. B. Tanko. Eu já havia trabalhado com
o Tanko antes, em 1972, em Salve-se Quem Puder –
Rally da Juventude, um
filme para jovens. Eu consegui surpreendê-lo; e foi até aumentando o meu papel, durante as filmagens. Eu
era esperta, topava tudo, sem frescuras. Fazer
filmes, naquela época, era uma loucura. Em virtude do baixo orçamento, tínhamos que ter uma disciplina enorme
com horários e disponibilidade! Tanko
tinha um humor negro, eu adorava! E trabalhava com um pequeno chicote nas mãos e brincava com a gente, era
super disciplinado. Ele sempre dizia que, se a
gente não trabalhasse bem, ele ia colocar um cachorro fazendo a cena. Ríamos muito!! Ele, com aquele sotaque de
gringo, era um fofo. Trabalhar com o Kurt também
era maravilhoso!!! Naquela época, não havia concorrência, a gente sempre conseguia estar trabalhando com alguns
atores repetidamente. O mercado de trabalho
era outro. O Kurt sempre fazia meu pai, tinha uns olhos azuis lindos. Não fiz mais filmes dos Trapalhões por que
estava virando uma “Trapalhona”. Já no quinto filme, eu declinei do
convite. Achava que eu poderia ficar marcada como
uma “Trapalhona”.
Agradeço – e muito! – a oportunidade. Devo muito aos Trapalhões.
Os atores tinham preconceito de fazer humor. Quem fazia humor não fazia novela. Daí, algumas atrizes
passaram a me ligar, querendo saber como era
trabalhar com eles. E eu fui falando que elas só tinham a ganhar. Pronto! Foi show! Todas as estrelas,
então, queriam participar dos filmes. A plateia de criança é a plateia mais honesta que existe. Sou
cria do cinema nacional, muito graças aos
Trapalhões,
às crianças e aos papais das crianças.
Não
se ensaiava muito. Era muito em cima dos improvisos, que iam nascendo; daí, virava outra cena !!! Tem uma cena no filme Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão,
filmado grande
parte no Parque Lage, aqui no Rio, em 1975. Nessa cena, eu, Mussum, Dedé e Renato tínhamos que atravessar
para o outro lado de um lago, usando como
ponte uma árvore tombada. Esse lago fazia parte da trama. Quem caísse nele virava criança. O Renato tinha que
cair e eu também... Nós não conseguíamos fazer
a cena de tanto rir. Fazia um frio de rachar. Mussum e Renato tomaram um golinho de um “mé”, para aquecer. Daí, já viu! Só
gargalhadas... E o Mussum,
com seu carisma e alegria, contagiava a todos !
Quais
as suas lembranças do filme Aladim
e a Lâmpada Maravilhosa? Onde esse
filme foi filmado?
Foi
filmado em Miguel Pereira, na serra do Rio de Janeiro, em 1973. Geralmente, ficávamos
em locação, fora de casa. Era contratada uma cozinheira, ótima, uma negona,
comida caseira. Todos comiam de tudo, sem frescura. Eu engordava bem!!! Fui uma
menina moleque, sempre me jogava por inteira. Era mais uma na trupe!
Em
1973, aconteceram as filmagens de Robin
Hood, O Trapalhão da Floresta. Como foi?
Foi
filmado no Recreio dos Bandeirantes. Ali, eram só dunas. Não tinha nada. Não
tinha nem o nome de Recreio, era Barra da Tijuca. O J. B. Tanko sempre escolhia
as locações, junto com o diretor de fotografia.
A
crítica classifica esse filme como um dos melhores.
Ninguém
ia ao cinema nacional, havia um preconceito naquela época. Mas os filmes infantis
arrebentavam. O Tanko (por também ser o produtor) me pedia; e lá ia eu fazer as
campanhas de lançamento dos filmes dos Trapalhões.
Às vezes, ia sozinha, pelo Brasil. A finalização de um filme era muito
trabalhosa, naquela época. Não havia som direto. Depois de tudo filmado,
dublávamos tudo, trancados em estúdio. Hoje em dia, é maravilhoso, com som
direto. O trabalho do dublador é mais difícil que o do ator. Havia atores que
não conseguiam se dublar. Eu amava!
Fale
de Renato.
Renato
sempre fazia o gol, era muito bem calçado.
Fale
de Dedé.
“Escada”, puta de um “escada”. Escrevia muito e
sabia levantar a bola!
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele
escolhe o elenco, faz tudo. Ele se metia, porque criava junto. Não se ensaiava muito,
era muito em cima dos improvisos, que iam nascendo; daí virava outra cena!!!
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
O
Brasil tem preconceito com o humor. Hoje, isso está mudando. O Chico Anysio morreu,
o Jô Soares parou de fazer humor. Os programas de humor mudaram seu formato. Eu
me lembro de uma época em que, se voce fizesse programa de humor, não era
chamado para fazer novela! Então, ninguém queria fazer humor, mas eu fazia!
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Foi
maravilhoso. Até hoje, tenho fãs graças aos filmes para crianças. Só mais tarde,
percebi que ter trabalhado com Os
Trapalhões era trabalhar com meu público de amanhã.
Você fica no imaginário das crianças.