quarta-feira, 23 de maio de 2012

Kiko Mollica

Sócio proprietário da Km 70, estreou no cinema em 2003 com o curta-metragem “Seu pai já disse que isso não é brinquedo”, que recebeu vários prêmios em festivais brasileiros (melhor curta-metragem segundo a crítica do 8º CINE-PE – Festival do Audiovisual de Recife, prêmio de pesquisa de linguagem no 11º Vitória Cine Vídeo e melhor curta-metragem do 1º Festival de Belém do Cinema Brasileiro, entre outros).


Qual a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema?
O cinema surgiu como curta-metragem (e depois de inventado, não demorou a chegar ao Brasil - é bom dizer). Raro enquanto ficção, o filme de curta duração se fez presente nos primórdios da nossa história cinematográfica principalmente através de cinejornais e documentários. A Cinemateca Brasileira possui exemplares pioneiros que mostram a importância do formato. De Glauber Rocha a Fernando Meirelles, passando pelo pioneirismo de Humberto Mauro, todos os cineastas brasileiros fizeram cinema com curta duração. Vale destacar um período muito fértil no final dos anos 1980 conhecido como "Primavera do Curta" onde novos temas e questões surgiram quando a ditadura chegou ao fim. Velhos estilos também foram questionados nesse momento e toda a fertilidade que marca essa etapa teve grande repercussão nos festivais. Outra curiosidade desse período é a presença do formato nas salas comerciais graças a Lei do Curta (sim, já tivemos uma lei que nos defendia). Para exemplificar o que estou dizendo, é daí que surge um dos nossos melhores filmes (independente de sua duração): "Ilha das Flores", de Jorge Furtado (melhor curta do Festival de Berlim de 1990).

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que esse espaço não existe simplesmente porque a mídia se dedica a divulgar o que está ao alcance do público. Por que gastar espaço do jornal com aquilo que o consumidor não tem como assistir? Aqui em São Paulo durante o Festival Internacional de Curtas-Metragens é comum encontrar criticas desses filmes nos jornais. Aliás, já faz alguns anos que esse Festival - um dos maiores do mundo dedicado a esse formato - promove um workshop cujo resultado é um boletim repleto de criticas aos filmes apresentados em suas mostras.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que os exibidores não vão gostar da minha opinião, mas acho que os curtas tinham que estar nas salas de cinema junto com a exibição dos longas. A exibição de um curta antes da sessão é perfeita. Se o sujeito não gosta do formato, entra na sala mais tarde. Prefiro muito mais ver um curta a suportar aqueles eternos minutos de publicidade. Outro local para esses filmes é a internet. O site "Porta-Curtas" é o melhor exemplo. O realizador é remunerado, seu filme é contextualizado e sua ficha técnica disponibilizada. Também precisa ser reconhecido e louvado o espaço que o Canal Brasil e a TV Cultura reservam para esse formato. O Canal Brasil, principalmente, tem exibição diária de vários curtas. Sem falar de programas dedicados a gêneros específicos, como animação e sexualidade.  Os programadores, de maneira geral, precisam não se esquecer de uma coisa: se o filme não é bom, relaxa porque acaba rápido.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa.
Possível é, mas acho que chega uma hora que o diretor quer desafios maiores. Ou começa a desenvolver histórias mais complexas. Não acho que existam temas que só podem ser abordados em uma narrativa maior, mas tenho certeza que com mais tempo podemos nos aprofundar mais em determinados assuntos. Agora, uma coisa é certa, para se fazer um longa-metragem é preciso antes praticar. E o curta é um excelente espaço para isso.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Fazer cinema não é fácil. Porém, realizar um curta não é difícil se comparamos com a complexidade da produção de um longa-metragem. Dito isso, e reconhecendo a vaidade que normalmente acompanha o artista, acho que há mais respeito por quem dirige longa-metragem. Poucos reconhecem que - independente da duração - estão diante da produção artística.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso em dirigir vários curtas futuramente. Felizmente, não faltam idéias. O que me falta é tempo. E grana. Estou tentando resolver isso.