Sócio
proprietário da Km 70, estreou no cinema em 2003 com o curta-metragem “Seu pai
já disse que isso não é brinquedo”, que recebeu vários prêmios em festivais
brasileiros (melhor curta-metragem segundo a crítica do 8º CINE-PE – Festival
do Audiovisual de Recife, prêmio de pesquisa de linguagem no 11º Vitória Cine
Vídeo e melhor curta-metragem do 1º Festival de Belém do Cinema Brasileiro,
entre outros).
Qual a importância
histórica que o curta-metragem tem no cinema?
O
cinema surgiu como curta-metragem (e depois de inventado, não demorou
a chegar ao Brasil - é bom dizer). Raro enquanto ficção, o filme de
curta duração se fez presente nos primórdios da nossa história
cinematográfica principalmente através de cinejornais e documentários. A
Cinemateca Brasileira possui exemplares pioneiros que mostram a
importância do formato. De Glauber Rocha a Fernando Meirelles, passando
pelo pioneirismo de Humberto Mauro, todos os cineastas brasileiros fizeram
cinema com curta duração. Vale destacar um período muito fértil no final
dos anos 1980 conhecido como "Primavera do Curta" onde novos
temas e questões surgiram quando a ditadura chegou ao fim. Velhos estilos
também foram questionados nesse momento e toda a fertilidade que marca
essa etapa teve grande repercussão nos festivais. Outra curiosidade desse
período é a presença do formato nas salas comerciais graças a Lei do Curta
(sim, já tivemos uma lei que nos defendia). Para exemplificar o que estou
dizendo, é daí que surge um dos nossos melhores filmes (independente
de sua duração): "Ilha das Flores", de Jorge Furtado (melhor curta
do Festival de Berlim de 1990).
Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho
que esse espaço não existe simplesmente porque a mídia se dedica
a divulgar o que está ao alcance do público. Por que gastar espaço do
jornal com aquilo que o consumidor não tem como assistir? Aqui em São
Paulo durante o Festival Internacional de Curtas-Metragens é comum
encontrar criticas desses filmes nos jornais. Aliás, já faz alguns anos
que esse Festival - um dos maiores do mundo dedicado a esse formato -
promove um workshop cujo resultado é um boletim repleto de criticas aos
filmes apresentados em suas mostras.
Na sua opinião, como
deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho
que os exibidores não vão gostar da minha opinião, mas acho que os curtas
tinham que estar nas salas de cinema junto com a exibição dos longas. A
exibição de um curta antes da sessão é perfeita. Se o sujeito não gosta do
formato, entra na sala mais tarde. Prefiro muito mais ver um curta a
suportar aqueles eternos minutos de publicidade. Outro local para esses
filmes é a internet. O site "Porta-Curtas" é o melhor exemplo.
O realizador é remunerado, seu filme é contextualizado e sua ficha
técnica disponibilizada. Também precisa ser reconhecido e louvado o espaço
que o Canal Brasil e a TV Cultura reservam para esse formato. O Canal
Brasil, principalmente, tem exibição diária de vários curtas. Sem falar
de programas dedicados a gêneros específicos, como animação e sexualidade. Os programadores, de maneira geral,
precisam não se esquecer de uma coisa: se o filme não é bom, relaxa porque
acaba rápido.
É possível ser um
cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim
para fazer um longa.
Possível
é, mas acho que chega uma hora que o diretor quer desafios maiores. Ou
começa a desenvolver histórias mais complexas. Não acho que existam temas
que só podem ser abordados em uma narrativa maior, mas tenho certeza que
com mais tempo podemos nos aprofundar mais em determinados assuntos.
Agora, uma coisa é certa, para se fazer um longa-metragem é preciso antes
praticar. E o curta é um excelente espaço para isso.
O curta-metragem é
marginalizado entre os próprios cineastas?
Fazer
cinema não é fácil. Porém, realizar um curta não é difícil se comparamos
com a complexidade da produção de um longa-metragem. Dito isso, e
reconhecendo a vaidade que normalmente acompanha o artista, acho que
há mais respeito por quem dirige longa-metragem. Poucos reconhecem que -
independente da duração - estão diante da produção artística.
Pensa em dirigir um
curta futuramente?
Penso
em dirigir vários curtas futuramente. Felizmente, não faltam idéias. O que
me falta é tempo. E grana. Estou tentando resolver isso.