terça-feira, 15 de maio de 2012

Neville D’Almeida

Neville é o cineasta que mais sofreu perseguição da Ditadura. No seu currículo constam os filmes ‘A Dama do Lotação’, ‘Rio Babilônia’, ‘Matou a Família e Foi ao Cinema’, entre outros. Sua obra pode ser conferida em retrospectiva no Sesc Santo Amaro, no projeto ‘Neville D’Almeida – Além Cinema’, que fica em cartaz de 17 de maio a 8 de julho no Sesc Santo Amaro.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
A importância histórica que o curta tem no Cinema Brasileiro é imensa – total e absoluta. Para começar, devo dizer que o primeiro filme rodado no Brasil, foi um curta-metragem!! Filmado por “Affonso Segretto” em 1898. É bom observar que no início do século XX, centenas de pequenos filmes foram produzidos e exibidos para plateias urbanas que demandavam lazer e diversão. Portanto já no principio do século centenas de “curtas metragens” criaram a relação publico-cinema.

Você dirigiu alguns curtas. Fale sobre eles.
Já dirigi mais de cem curtas. Por exemplo:O BEM AVENTURADO’ – que foi o meu primeiro filme com 12 minutos de duração.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Para mim, os curtas-metragens deveriam ter “uma página inteira” todos os dias nos principais jornais do Brasil e do Mundo. Acho que isso vai acabar ocorrendo. Não só nos jornais, com em todas as outras mídias eletrônicas.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Acredito que o curta deve cada vez mais estar presente em todas mídias que estão disponíveis hoje. Como: celular – internet – avião – navio – ônibus – satélite – metrô – YouTube – rede municipal de educação – rede estadual – rede federal, TVs educativas – TVs Comerciais – TVs a cabo – e muito mais.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É claro que é possível ser um cineasta só de curta-metragem! Muitas vezes torna-se evidente que um diretor de curta pode ser dez vezes melhor do que vários diretores de longa-metragem. O importante não é o tamanho do filme mas o talento, a capacidade de ter um poder narrativo profundo com riqueza de linguagem.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acredito que isto possa ocorrer por parte de alguns cineastas. Mas, não podemos generalizar. Devemos sim, prestigiar e estimular cada vez mais, os realizadores de curtas.

Dá para o cinema nacional sobreviver sem subsídios?
Existe uma política nacional de subsídios ao cinema. Foi criado um modelo de produção, baseado nestes subsídios. Os preços de produção subiram muito.  E apareceram os “PRODUTORES DESPACHANTES”...

Eles não sobrevivem sem os subsídios. Eles acham que o Governo tem a obrigação de dar “PARA ELES” os famosos: SUBSIDIOS. Desta forma, burocratizaram totalmente os mecanismos de distribuição das verbas de uma forma, que: OS ARTISTAS ACABAM FICANDO FORA, e OS MAURICINHOS dominam com seus “PRODUTOS” subsidiados...

O que é necessário para vencer no cinema?
Para mim, vencer no cinema é estar feliz com os filmes que você faz. Mas é importante saber que a vitória não pertence a um só grupo. Tem que haver uma distribuição de Recursos: mais justa, mais abrangente, mais generosa, mais representativa. Pois vivemos no regime: MUITO PARA POUCOS E  POUCO PARA MUITOS! Esse regime deve ser alterado. Para: MUITO PARA TODOS!  Todo cineasta merece ser um vencedor!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso sim. Hoje mesmo, estou dirigindo um curta, chamado: “PLANETA GIGÓIA”. Amanha mesmo, estarei dirigindo outro em São Paulo. Agradeço a Deus a benção de poder fazer cada vez mais “curtas”.

O SESC Santo Amaro vai realizar uma mostra sobre o seu trabalho, fale desta homenagem e o que o público poderá encontrar neste projeto.
O SESC SANTO AMARO, com sensibilidade e cultura, esta promovendo uma mostra HISTORICA que certamente terá grande repercussão e muitos desdobramentos por todo Brasil. Com coragem e uma visão moderna, compromissada.

E exibe pela primeira vez um aspecto abrangente de uma obra que começou em 1966 em plena DITADURA MILITAR e vem até hoje totalmente engajada com a Arte Contemporânea e a acima de tudo com Liberdade. Devo dizer que é uma honra muito grande para mim, o convite feito pelo SESC SANTO AMARO (SP), através de pessoas sensíveis, dedicadas que tem uma visão profunda da cultura nos dias de hoje. Estou muito feliz em estar num lugar tão maravilhoso com pessoas tão dignas, recebendo esta HOMENAGEM que é claro que vou dividir com todos que participaram de todos estes trabalhos.

Qual é o seu próximo projeto?

O próximo projeto em cinema é:
1 – A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ
Adaptação da obra teatral de Mário Bortolotto.
2 – BYE BYE AMAZONIA
A morte anunciada da maior floresta do Planeta.
3 – A DAMA DA INTERNET
Texto original da nova mulher e o desejo no mundo virtual.


 EM ARTES PLASTICAS;

“ÓPERA DE CORDA E BARBANTE”
Catedral toda feita de cordas com projeção digital nos altares e balanços na Nave Principal da igreja.

“CRIATURAS ESTRANHAS”
Objetos Seres com dimensões humanas que se relacionam com as pessoas através de SOM LUZES E CORES. Relação ser humano objeto – movimento – musica – sentidos.

“TABAMAZONICA”
Montar a obra em São Paulo
Relação profunda entre a construção mais antiga do mundo e o futuro digital.