Amor
Estranho Amor: 30 anos depois
O tempo passou, e neste ano completa-se
trinta anos da primeira exibição do polêmico filme "Amor Estranho
Amor" (1982). Á época do lançamento, não houve tanta repercussão, o filme
passaria batido ao longo da história, pois assim como tantos outros, não tem
nenhuma característica que o tornaria um clássico. Muitos filmes foram
produzidos, todos assistidos (por pouco ou muito público), mas quase todos eles
passam, são poucos os que ficam.
Se acessos na internet valessem como
bilhetes, talvez “Amor Estranho Amor” seja hoje o filme mais assistido de todos
os tempos. Marcelo Ribeiro, uma criança
á época, não prosseguiu a carreira de ator. É ele que, ao lado da Xuxa,
protagoniza as cenas sensuais mais assistidas da história do cinema nacional. O
drama se popularizou pela Internet como um pornô, ainda que esta seja uma
reputação completamente controversa.
Entre diversas passagens do filme dirigido
por Walter Hugo Khouri (1929-2003), a eterna rainha dos baixinhos se deita nua sobre
Ribeiro e diz frases como "logo você vai virar um gurizão, mas desde já
você já é um sabonetinho" e "eu sou uma ursinha macia, olha como eu
sou macia". O filme saiu quase completamente de circulação após decisões
judiciais em favor da apresentadora, que adquiriu os direitos do filme e tolhe
a sua circulação. A internet disponibiliza fragmentos e em alguns sites podemos
assisti-lo na íntegra. Recentemente Aníbal Massaini tentou reaver os direitos
do filme, alegando que Xuxa não tinha renovado o direito de compra dos direitos
da película.
Toda e qualquer noticia que gira em torno
dessa produção rende polêmica. Recentemente Marcelo Ribeiro disse que estava
escrevendo um livro sobre a experiência. Na obra, detalharia sua filmografia
--composta por "Eros, o Deus do Amor" (1981), "Amor Estranho
Amor" (1982) e "Pecado Horizontal" (1982). Bastidores da
aventura com a rainha dos baixinhos, é claro, serão incluídos.
Ribeiro participou de um teste com 500
meninos para o filme "Eros, o Deus do Amor" (1981), de Khouri, em que
fez cenas sensuais com Kate Lyra. Khouri notou a repercussão que o filme teve
por usar uma criança e resolveu escrever o filme "Amor Estranho
Amor".
“Amor” foi o primeiro filme de Xuxa, ela faz
praticamente uma figuração. A estrela principal era Vera Fischer, que ganhou no
Festival de Brasília, prêmio pela sua atuação no filme.
O primeiro cartaz de porta de cinema era uma
foto de Ribeiro com braços cruzados segurando uma foto que representava um
útero remetendo à história de Édipo e Jocasta. Quando a Xuxa começou a fazer
sucesso na [extinta] TV Manchete e foi consagrada como "rainha dos
baixinhos", a produtora mudou a linha de divulgação do filme. Colocaram
Tarcísio Meira, Íris Bruzzi, Vera Fischer e Mauro Mendonça vestidos e a Xuxa
nua no meio. Foi aí que começou a ser o filme da Xuxa.
Em 2007 a produtora
‘Brasileirinhas’, atenta ás noticias, mitos e polêmicas em torno desta
produção, lançou “Estranho Amor” e trouxe como protagonista o próprio Marcelo
Ribeiro, numa referência óbvia ao clássico dos anos 80.
A cena polêmica de Tâmara, o personagem
fictício de Xuxa –é arte, não é pedofilia, é uma das cenas mais antológicas do
cinema nacional. Xuxa atua com esmero. O menino Hugo, personagem de Marcelo Ribeiro, idem.
Considerar qualquer atentado à moral ou
pedofilia no filme é um erro, Xuxa teve um grande momento, talvez seu melhor momento, superando o preconceito que havia
com modelos que atuavam na tevê e no cinema.
Xuxa havia conseguido interditar a saída do
filme em vídeo, nos anos 1990, que poderia representar certo perigo a sua
imagem de “rainha dos baixinhos”, Não me parece que o essencial fosse o fato de
abalar uma imagem de “fadinha”, mas, ao contrário, escancarar o fato de que a
“rainha” era extremamente erotizada, o que contribuía, aliás, para o sucesso do
programa também entre os adultos. Interditar obras de arte ou trabalhos
intelectuais, quer gostemos deles, quer não, é um absurdo.
Rafael Spaca, radialista, autor do
blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/).