Atriz. Atuou em ‘Três
Pesadelos e Um Delírio de Edgar Allan Poe: O Corvo’, entre outros. Está em cartaz no Teatro Augusta com o espetáculo
‘Covil da Beleza’.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Eu começo lendo o roteiro, acho
importante encontrar nele uma motivação para contar a história. Mas em geral
aceito participar pela abordagem. Pra mim o essencial é confiar no diretor e
ser uma colaboradora do projeto além de uma atriz que vai interpretar uma
personagem.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Meu primeiro curta foi em 2002, logo
depois de me formar atriz pela FAP - Faculdade de Artes do Paraná. Até o
momento, trabalhei em 20 curtas no total, realizados a maioria em Curitiba,
onde nasci e morei a maior parte do tempo. Participei também de produções em
São Paulo, onde moro atualmente, e no Rio de Janeiro onde morei pequenos
períodos para fazer oficinas de cinema e TV e apresentar espetáculos de teatro.
No início, boa parte dos curtas dos quais participei foram realizados por
estudantes de cinema. Em Curitiba o cinema é uma produção recente e crescente.
Hoje existem muitos novos cineastas e coletivos de cinema que começaram com uma
câmera na mão, uma boa ideia e muita vontade de fazer cinema. Tenho orgulho
desses "garotos", dos trabalhos que fiz com eles. Embarquei nas suas
ideias e fiz várias parcerias. Alguns desses curtas foram realizados em
película. Tive a sorte de ouvir o meu primeiro "Ação" acompanhado do
barulho do filme rodando numa câmera 16mm.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da
mídia em geral?
Os curtas precisam ser vistos por um
número maior de pessoas. Mas o interesse não se cria de uma hora para outra,
nem existe uma fórmula. Depende dos idealizadores e do impulso que motivou a
obra. Falando da minha experiência, a maioria dos curtas que fiz foram enviados
para festivais, foram desenvolvidos na busca de um olhar cinematográfico
autoral e rapidamente encontraram seu lugar. Participei de alguns curtas
realizados para um programa da TV Globo paranaense, com roteiros desenvolvidos
a partir de histórias e "causos" locais. Os curtas são exibidos
semanalmente e envolvem muitas produtoras, atores, diretores e artistas da
área, é uma ideia que gerou interesse de um público mais diverso e encontrou
seu espaço dessa forma. Um curta em que atuei recentemente foi divulgado em uma
revista online chamada LAMA, desenvolvido a partir de um conto inédito escrito
para a revista. Essa revista criou esses "duetos" artísticos, o
escritor fazia um conto para o curta ou o curta inspirava o conto. Isso gerou
um movimento interessante de diálogo entre linguagens e artistas de várias
áreas. Acho que o importante pra quem realiza não é questionar se o curta tem
ou não espaço na mídia, mas criar espaço para ele. Acredito em boas ideias e
acredito que devemos realizá-las independente das contrariedades, que são
muitas sempre. São as posturas, as vontades individuais que transformam o
coletivo. As mídias sociais hoje, provam que as individualidades tem um
potencial maior do que já se imaginou no que diz respeito à transmissão da
informação e à formação de opinião. Acho fundamental o artista se perguntar o
que quer dizer, por que quer dizer, como vai dizer, mas apesar de tudo,
dizê-lo.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
Assisti a alguns curtas-metragens antes dos longas nas sessões de cinema. Acho
esse um bom método. Acredito que de uma maneira geral o público de arte é
carente de formação. As pessoas precisam ter contato com arte desde sempre,
precisam se sentir convidadas a participar. Entender, por meio da experiência
direta, que arte não é para alguns, não é feita só para artistas, que é para
todos. Nesse caso, também é importante a procura dos artistas pelo público.
Alguns cineastas que conheço tem projetos de oficinas nas escolas, nas
periferias e exibem filmes fora das salas de cinema.
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou
produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Muitos profissionais do cinema
começaram a sua carreira em produções de curta-metragem. No início sempre nos
abrimos à experimentação, ela é a sorte de quem começa. Mas também acredito na
experimentação como o desafio de quem permanece. Acho interessante que a
experimentação faça parte do cinema e do artista de uma maneira geral. Acho tão
importante estar conectado consigo próprio e com seus objetivos, quanto estar
aberto ao momento. A reinvenção faz parte do percurso e a liberdade está
contida nisso. Tadeusz Kantor, artista polonês, dizia que os artistas não devem
parar de procurar, devem renunciar às posições já conquistadas, ir além das
formas já adquiridas e se modificar com o tempo.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acredito que a experiência de realizar curtas-metragens ajuda no processo de
realização de um longa e acredito que o inverso também é verdadeiro. De uma
forma ou de outra não deve existir arte maior ou menor no cinema e comparo isso
com o fato de não existir uma pessoa da equipe com maior ou menor importância.
Se uma única pessoa não está ali, o trabalho para, não se realiza. É o que
considero belo no cinema, o trabalho em equipe, as pessoas unidas por um mesmo
objetivo que é contar uma história. E não importa se é romance ou conto, se veio
de um livro ou de uma música, se vai ter 100 ou 10 minutos, importa a
experiência e o compromisso com a obra.
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não acredito em receitas. Ou melhor, não acredito em uma única. É importante
agir, colocar as ideias em prática. Nesse caso esperar uma fórmula não ajuda.
Cito Denise Stocklos em cena numa peça sobre Louise Bourgeois: "Eu
acredito na minha potência. Por isso hoje eu posso ir aonde eu quiser. Porque
estou livre da esperança."
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não está nos meus planos. Mas nunca digo nunca ;)