Jornalista e crítico de cinema. Já colaborou com veículos
como a revista SET,
o Guia da Folha de S. Paulo
e o programa da TV Gazeta Todo
Seu. Atualmente, é colaborador regular das revistas mensais Rolling Stone e Revista da Cultura, curador
do festival semestral Cine MuBE Vitrine Independente, consultor para a ONG
CineMaterna e sócio-fundador da Abraccine (Associação Brasileira dos Críticos
de Cinema). Integrante de júris em festivais pelo país - 2º SP Terror, 2º Curta
Neblina e 18º Mix Brasil (2010); 1º Festival Lume de Cinema Internacional, em
São Luis/MA, 6º Cine Fantasy e 3º Curta Neblina (2011); júri da crítica
(Abraccine) no 2º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de
Curitiba (2013).
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem na
filmografia nacional?
A importância do curta-metragem, histórica ou não, não é exclusiva à
filmografia nacional. O formato curta, por sua própria natureza de estrutura e
de exibição fora do circuito comercial, é plataforma ideal tanto para cineastas
iniciantes amadurecerem processos de trabalho como também para testarem
estéticas e linguagens. O curta é perfeito para ousar, buscar novas ideias e/ou
soluções, e com isso representa uma produção em constante inquietação, e com
capacidade de registro quase imediato dos fatos e realidades do momento. E é
fato que a grande maioria dos cineastas estabelecidos começou suas filmografias
pelo curta, de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos a Laís Bodanzky e Beto
Brant.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia
em geral?
Justamente porque o formato não tem caráter comercial e não é exibido como um
longa. O acesso que se tem aos curtas, tirando eventuais sessões exclusivas em
salas do circuito, se reduz a três frentes de exibição: principalmente os
festivais de cinema, depois a acessibilidade via internet e por fim programas
na TV, geralmente paga (como Canal Brasil e TV Brasil). Com isto, ainda mais
diante do espaço cada vez mais limitado dedicado à Cultura em geral, em
especial na imprensa escrita, nem se cogita abrir espaço a fórceps para obras
de visibilidade limitada. Já não há espaço hábil para comentar todos os longas-metragens
em exibição, menos ainda as mostras retrospectivas e especiais, o que dizer dos
curtas?
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
Esta é uma discussão que já se estende por décadas e nunca chegou a um formato
ideal. Lembro que nos anos 1970/80 havia a obrigatoriedade de exibir um curta
nacional antes de cada longa -- mas isto acabou sendo uma faca de dois gumes,
pois na época havia pouca produção em quantidade e qualidade, o que alimentou
um crescente preconceito do espectador em relação ao curta. Hoje, o formato
vive momento de prestígio crítico e prêmios tanto nacionais quanto
internacionais, mas a curiosidade espontânea do espectador ainda é limitada. Na
atual conjuntura de mercado e mídia, acho que o curta desfruta do maior alcance
possível. A acessibilidade on-line, em sites como o Porta Curtas, já abriu
bastante o leque para o público. Mas ao contrário dos longas, que contam com o
registro do ingresso pago, é difícil contabilizar os espectadores de um curta.
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre
um trampolim para fazer um longa...
Bem, possível claro que é, mas é muito, muito raro conhecer um cineasta que não
queira migrar para o longa por tanto ser um desafio maior de carreira como
também por ser um melhor acesso (não garantido...) ao espectador. De fato, o
curta é visto como trampolim para uma carreira mais ampla. Mas não só:
cineastas veteranos em longa por vezes flertam com o curta pela liberdade de
expressão e tema incomuns no longa. Um raríssimo caso de cineasta
exclusivamente fiel ao curta, que agora me vem à mente, é o do mineiro Dellani
Lima, de linha estética experimental e produção intensa.
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Nos meus 25 anos de convivência com diferentes tipos de cineastas, já cruzei o
caminho de alguns profissionais que consideram o curta uma expressão menor. Mas
isto é ignorância e preconceito. A marginalização do formato se deve mais por
sua natureza não-comercial, não-lucrativa, levando à pouca (ou nula) cobertura
jornalística e decorrente desinteresse por parte do espectador.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Ao contrário do que há muitos anos eu ouço -- de que um crítico
de cinema é um cineasta frustrado --, nunca quis fazer um filme, seja curta ou
longa. Desde pré-adolescente meu lance é ver e comentar. Mas nunca se sabe o
dia de amanhã, não é mesmo?