Diretora de televisão e cinema documentário. Cursou Cinema e
Geografia na Universidade Federal Fluminense. Sua
estreia na realização de longas-metragens se deu em 2011, com o documentário ‘Vou
rifar meu coração’, que recebeu o prêmio de melhor direção de arte e
menção especial da crítica no Atlantidoc Uruguai, além de ser eleito melhor
filme no In-Edit Brasil 2012. É também
diretora do filme ‘Saara’ (1998), curta-metragem vencedor dos
prêmios de melhor filme no 2º Festival do Filme Documentário e Etnográfico de
Belo Horizonte e melhor direção no 1º Fest Cine.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Acredito
que cada filme, quando é pensado, concebido, tem um tempo de duração natural, o
tempo que aquela história pede, seja ficção ou documentário.
O
curta tem um formato extremamente interessante por diversas razões. É um tipo
de filme em que mais frequentemente os cineastas experimentam, provocam,
subvertem a linguagem "socialmente aceita" dos longas clássicos
narrativos. Claro que muitos longas-metragens também o fazem, mas é certamente
menos comum. Outra questão importante tem a ver com a viabilidade de produção.
É mais ágil, mais barato, uma produção menos pesada pra se levantar e, por
isso, tem uma identidade maior com cineastas jovens, que oxigenam o fazer
cinematográfico, e com aqueles que têm uma relação menos institucional e mais
artística com o cinema que fazem. O
curta é um terreno de criação, de inovação e provocação e isso me atrai demais
a fazer esse tipo de filme.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
A
grande imprensa é parte fundamental, criadora inclusive, de nossa cultura
capitalista que elege seus “Avatares” (ou Harry Potters) e condena à obscuridade
grande parte das produções independentes em que os curtas são expressão
importante. Essa visão está presente até mesmo na esfera das políticas
públicas onde muitas vezes vemos os curtas serem tratados equivocadamente como
cinema "menos relevante".
Ocorre
que muitas vezes as demandas sociais por acesso à arte consegue
transpor esse muro que separa as zonas luminosas da produção cultural e as
zonas opacas, "obscuras" que, ao contrário do que possa parecer,
trazem luz, reflexão, ampliação de horizontes, por estarem mais conectadas com
um pensamento crítico. É o caso de diversos cineclubes exibidores de curtas,
como o Cachaça Cinema Clube, por exemplo, evento mensal que lota o Cine Odeon
há 9 anos.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
Sou a favor da exibição de curtas nas salas
de cinema antes dos longas. É uma política formadora de público, que pode
começar a mostrar algumas obras geniais que ficam muitas vezes limitadas às
plateias de festivais. Acredito ser este um incentivo importante ao cinema
brasileiro, pois traz uma renovação de linguagem para o vocabulário
cinematográfico do público mais amplo, que certamente passará a se interessar
cada vez mais por este tipo de cinema. É a criação de um hábito saudável, como
se alimentar bem.
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um
trampolim para fazer um longa...
Completamente. O Jorge Furtado é um exemplo
para mim, neste aspecto. Embora tenha se dedicado nos últimos anos ao longa-metragem,
viveu durante décadas como premiado curtametragista. Mesmo após a consagração
de alguns de seus curtas, com destaque para "Ilha das Flores", não se
tornou cineasta de longas.
O curta tem, em um certo aspecto, uma
característica de militância, de lealdade a uma forma de contar histórias
próprias do formato, um compromisso com um cinema mais autoral.
O
curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Creio que não. Pega até mal.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Certamente.
Tenho algumas ideias de filmes que têm sua expressão ideal no curta-metragem.
Como eu falei acima, cada filme pede uma duração, uma forma narrativa. Adoro
fazer curtas e pretendo continuar nessa estrada.