sexta-feira, 11 de julho de 2014

Eneida Barbosa

 
Editora. Trabalhou na coordenação de produção do saudoso programa Zoom, na TV Cultura.
 
Você trabalhou muito tempo no programa ‘Zoom’ da TV Cultura. Qual foi a importância e o legado que ele deixou para o cinema no país?
Trabalhei durante seis anos na coordenação de produção do Programa ZOOM. A importância do programa foi fundamental porque abriu um espaço único em TV aberta para os curtas-metragens e festivais de cinema durante um período em que quase não se falava em curtas. Esse espaço possibilitou que vários cineastas reconhecidos internacionalmente, hoje em dia, exibissem seus primeiros filmes no ZOOM. Outra grande contribuição foi a de que ao longo dos 15 anos de sua existência muita gente decidiu ingressar nessa carreira após conhecer o programa. O ZOOM sempre foi extremamente respeitado pela classe cinematográfica e cumpriu muito bem o papel de divulgação da produção de curtas nacionais.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A concorrência com o cinema internacional é muito grande, os próprios longas-metragens brasileiros enfrentam diretamente esse problema. Os curtas-metragens sobrevivem totalmente à margem da mídia. Os festivais de cinema são praticamente o único espaço que os realizadores possuem para divulgar seus trabalhos. Recentemente isso tem mudado um pouco, algumas emissoras como Canal Brasil, TVE e Multishow abriram horários para exibição de curtas-metragens.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Uma boa solução seria colocar em prática a “Lei do Curta” que obriga os cinemas a exibirem um curta-metragem antes de um longa-metragem estrangeiro. Essa lei existe, mas não conseguem cumpri-la.
 
Outro veículo importante é a internet, temos sites bem interessantes como o ‘Porta Curtas’, ‘Curta o Curta’, ‘Curtagora’, mas ainda falta muita divulgação. O público em geral não conhece esses sites.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho perfeitamente possível ser um cineasta só de curtas. Atualmente temos muitos curtas realizados com roteiro, produção, edição e direção impecáveis. O nível está cada vez melhor, mas claro que serve também de experiência para a realização de longas-metragens. Grandes cineastas como Fernando Meirelles e Laís Bodanzky, por exemplo, começaram dirigindo curtas-metragens.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Durante muito tempo o curta foi produzido de uma forma experimental, muitas vezes funcionava bem revelando filmes interessantes, outras resultando em filmes com temas chatos, arrastados e de difícil “digestão”, com base nisto acredito que tenha recebido esse estereótipo. Felizmente, essa visão vem mudando. Cada vez mais os curtas têm revelado novos talentos que migram para os longas. Essa transição de profissionais acabou trazendo um respeito maior para quem produz curtas hoje.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Há quase 20 anos edito matérias para a TV e essa experiência me deixa  muito mais “confortável” na área das entrevistas. Histórias de vida interessantes sempre me fascinam, por isso, tenho um projeto de co-dirigir um documentário sobre a vida de um famoso cantor  que ainda não posso revelar o nome.