Vera Cruz, uma mentira!
Muitas pessoas
cometem um equivoco ao dizer que a Companhia Cinematográfica
Vera Cruz foi uma indústria de cinema aqui no Brasil. Não foi nem um esboço de
indústria!
A
Vera Cruz foi um estúdio de cinema. Um estúdio profissional, com profissionais
extremamente competentes em suas áreas, muitos deles vindos de fora do país. O
produtor italiano Franco Zampari e o industrial brasileiro Francisco Matarazzo
tinham uma visão, um sonho americano de fazer cinema.
Toda
a produção realizada ao longo de quatro anos em que a Vera Cruz funcionou e, neste
período, saíram vinte e dois filmes, tinha como espelho a produção americana.
É
indiscutível o legado que a Cia. Cinematográfica Vera Cruz deixou para o país.
Foram conquistados prêmios, lapidaram talentos em todas as áreas, revelaram nomes
e deixaram uma marca.
Buscaram
nomes no teatro, equipamentos de vanguarda e tentaram mostrar às pessoas que
era possível fazer cinema no país. Foi um período áureo, romântico, mas o mercado
é muito mais frio e cruel.
Suas
bases eram industriais, mas pelo tempo e pela forma que terminou (quebrada, sem
dinheiro, sem distribuição, sem força para concorrer com o mercado industrial
americano), não podemos considera-la como indústria.
Faltou
uma visão estratégica para mantê-la produzindo, se autogerindo, se durasse
mais, o curso da história do nosso cinema poderia ser outro. O que falta ao
país é uma politica de longa duração. Nosso cinema é dividido em movimentos, um
aqui outro acolá.
Não
há uma história linear, com uma média de produção de filmes realizados, de
construção de salas de cinema, de formação de público, vivemos de momentos.
Isso é fato, desse jeito não somos e nem seremos uma indústria.
Esse
pensamento imediatista é péssimo, mas é o pensamento que vigora e que existe
neste país.
Quando
faliu, seus galpões serviram para todos os fins, desde feiras de automóveis até
para festas de casamento. Hector Babenco utilizou os galpões para filmar
algumas cenas de ‘Carandiru’, a TV Cultura chegou a gravar algumas produções
ali e foi só. Continua sendo subutilizada, com destino incerto.
Sua
estrutura física é espetacular, não há galpões na cidade de São Paulo com
aquela dimensão e mesmo assim continua de lado. Nem todo mundo tem lugar para filmar,
por que não pensam nela?
Ainda
hoje há pessoas que citam a Vera Cruz como referência, cabe ao leitor decidir
qual é a verdadeira lição que temos que tomar com essa história.
Rafael Spaca, radialista, autor do blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/).