Ivo Müller com Mayana Neiva no curta "O Tempo que Leva" (em
finalização). Foto de Lucas Barros.
Ivo Müller é ator, tradutor, produtor e dramaturgo. ‘Tabu’,
longa-metragem de Miguel Gomes (Portugal/Brasil/França/Alemanha) e o curta ‘Dicionário’,
de Ricardo Weshenfelder são alguns dos trabalhos que ele realizou no cinema.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Um
roteiro que surpreenda já na primeira leitura, uma boa proposta de produção e
direção. Acredito no trabalho coletivo.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar
em produções em curta-metragem.
Comecei
fazendo curtas, antes de decidir ser ator profissional, antes de fazer teatro.
Fiquei um tempo me dedicando ao teatro e nos dois últimos anos tive a chance de
voltar a fazer curtas. Posso falar dos dois últimos: o "Dicionário",
do Ricardo Weschenfelder e "O Tempo que leva", da Cíntia Domit Bitar.
O primeiro, baseado num conto do poeta Lindolf Bell, feito em P&B, com uma
pegada de realismo fantástico, ousado. O segundo ainda não ficou pronto, é uma
história de personagens no seu limite, uma visão delicada de uma diretora muito
talentosa.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por uma
questão de mercado. O curta que vai para os festivais tem um pequeno espaço,
mesmo assim, a mídia segue o mercado. Aliás, cultura em geral tem pouco espaço
e nossos jornais e revistas.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
Antes
dos longas, seria o ideal, na tela grande, no lugar daqueles comerciais...
A
internet abriu um grande espaço para os curtas, você pode ver muita coisa,
fimes do mundo todo, premiados em Cannes, Berlim...
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
O curta
pode ser um lugar de aprimoramento, lugar pra burilar técnicas. Mas essa
liberdade deve estar presente em todo trabalho artístico, inclusive nos longas.
O Kleber Mendonça Filho, por exemplo, fez seu primeiro longa, "O Som ao
Redor", com muita coisa já experimentada em curtas. Mas o longa é tão bom,
porque continua com o frescor, a ousadia e a liberdade que ele teve nos curtas.
O curta-metragem é um trampolim para fazer
um longa?
Qualquer
profissional (diretor, fotógrafo, ator) que se destaca em um curta pode ser
chamado para fazer um longa. Mas trampolim dá a impressão de coisa que acontece
muito rápido. O mundo das celebridades gosta de coisas que acontecem de uma
hora para a outra. O artista tem seu tempo, que pode ser mais rápido, mais
lento.
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Acho
que não existe receita, cada um é que cria seu caminho. Acredito em trabalho,
dedicação, loucura e paixão.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho
dois argumentos escritos, quero dirigir essas histórias um dia.