Thiago
Dottori é roteirista de ‘VIPs’,
‘Destino SP’ e ‘Os 3’.
O que te faz aceitar
participar de produções em curta-metragem?
Eu participei de poucas experiências de curta metragem. Quando
me formei, em 2001, fizemos um documentário sobre Anselmo Duarte chamado
"Cinema Pagador". Eu gostei muito do tema: resgatar a memória de
importante cineasta esquecido. Foi isso que me motivou a participar. Mais
recentemente, a diretora Tuca Paoli queria fazer um curta e eu tinha engavetado
um roteiro chamado "AMAdores", que conta a história de um casal que
acaba de se conhecer. Esse filme passou em Cannes no ano passado. Escrevi ou
ajudei no roteiro de alguns curtas recentemente e o que me faz aceitar foi
sempre a possibilidade de experimentar e, principalmente, de desenvolver um
tema mais pessoal -- coisa que não acontece tanto na minha carreira como
roteirista de longas e séries de TV.
Por que os curtas não
têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Os curtas vivem em um universo mais restrito, de Festivais e
Mostras de Cinema. Como é um formato "não comercial", acredito que os
jornais não dêem tanto espaço. Mas pelo menos na crítica especializada,
principalmente nos blogs de críticos de cinema, percebo que eles recebem uma
atenção especial.
Na sua opinião, como
deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Já houve tentativas de exibir curtas em salas comerciais, antes
do longa. Acho interessante. Penso que essa iniciativa poderia ser retomada em
cinemas de arte pelo menos. Mas hoje, sem dúvida alguma, a internet é um grande
espaço pra exibição de curtas. Pode não ter o charme e a imersão da sala de
cinema, mas não deixa de ser uma ótima maneira de tornar o filme mais
conhecido.
É possível ser um
cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para
fazer um longa...
Acho que é possível ser um cineasta de curta-metragem. Não me
vem à cabeça agora bons exemplos, mas acredito que existam. Todos os cineastas
que só fizeram curta que conheço tem pelo menos um projeto de longa. Acho
também que mesmo quem faça longas possa voltar ao curta metragem mais pra
frente, para experimentar. Acredito que o Jorge Furtado fez isso recentemente,
depois de alguns longas, filmou um curta. Ou seja, penso que não é necessário
criar esse tipo de barreira, cineasta é cineasta seja de qual filme for... mas
acho que está na cabeça da maioria dos realizadores essa ideia de que o curta é
uma grande experimentação para o longa. E acho natural que seja assim.
O curta-metragem é
marginalizado entre os próprios cineastas?
Não. Pelo menos eu acredito que não. Muitos cineastas, talvez a
maioria, começaram fazendo curtas. Então não há essa ideia de marginalizar quem
faz curtas, seria como negar a si mesmo.
Pensa em dirigir um
curta futuramente?
Eu penso em dirigir um curta sim. O problema é que eu sou
péssimo em ideias para curtas. Minhas ideias, talvez por vício de trabalho,
sempre tem um arco mais longo e acho que pra você fazer um bom curta você
precisa de uma "sacada" muito forte. Mas sem dúvida, passa pela minha
cabeça a ideia de praticar a direção num curta metragem.