Seu
nome é José Dias
Ano passado recebi um convite
para ser jurado do VII Festival de Cinema de Cascavel. Veteranos, ou não (como eu),
a verdade é que nunca sabemos o que iremos encontrar ao aceitar uma solicitação
com essa. Particularmente nesse caso eu tinha poucas informações.
Para chegar a Cascavel eu desembarquei
em Foz do Iguaçu, calor terrível. Um funcionário da Secretaria de Cultura da
cidade me aguardava segurando uma placa com o nome do festival para poder me
localizar. Ao entrar no carro o rapaz informa que precisaríamos passar em um
hotel para buscar outra pessoa, que também iria compor o quadro da equipe.
O carro parou em frente ao hotel,
antes de descer, o rapaz diz: “é aquele senhor lendo o jornal, vou chamá-lo”. Quando
escrevo que nunca sabemos o que podemos encontrar, é fato. A maioria dos
jurados, críticos e afins que trabalham para julgar a qualidade artística e
técnica de um filme é enjoada, esnobe, consideram-se mais importantes que os
próprios filmes em questão. Aquele senhor lendo jornal no saguão do hotel era
José Dias, renomado cenógrafo. Carioca, ele sai do hotel com malemolência, me
cumprimenta sorridente, simpático. Ofereço o banco da frente do carro para se
sentar, apesar de mais alto que ele. Em tom jocoso, prontamente aceita, dizendo
ser um senhor de idade.
Seguimos para Cascavel, paramos
na estrada para almoçar. Seriam quase duas horas de viagem, mas pareceram
quinze minutos. No trajeto ele se apresentou e contou sobre a sua trajetória.
Sua primeira cenografia de maior
porte é a da montagem paulista de Campeões do Mundo, de Dias Gomes, direção de Antônio Mercado, 1980. É em
espetáculos artisticamente ambiciosos que sua capacidade de interpretar
visualmente um texto e o espírito de uma encenação se destaca - como em Besame
Mucho, de Mario
Prata, direção de Aderbal Freire
Filho, entre outros espetáculos. No teatro foram diversos prêmios.
Além do
teatro e televisão é também diretor de arte e cenógrafo de cinema, filmes
institucionais e comerciais.
José Dias trabalha também em
televisão. Como contratado da TV Globo, criou cenários para programas variados
e chegou a ocupar o cargo de cenógrafo-chefe do setor de montagens da emissora.
Antes, tinha trabalhado na extinta TV Tupi
(1972-1973), mas foi na Globo que deixou trabalhos importantes, onde esteve de
1974 a 1989, sendo responsável pela cenografia dos casos especiais ("O
silêncio é de ouro", "Feliz aniversário", "Ciranda
cirandinha", "Jorge um brasileiro", "A morte e a morte de
Quincas berro d’água", entre outros) e do seriado "O Bem Amado"
– sobre o qual publicou um livro.
Participou
também da equipe de cenógrafos da novela "Gabriela".
Numa
segunda-feira à noite, para um público de seis pessoas, José Dias fez uma
palestra sobre cenografia. Em determinado momento ele rememorou seu trabalho em
“Gabriela”, a primeira versão. Era pertinente já que naquele momento era
exibido o remake da própria.
Ele se
dizia indignado com a cenografia do bordel, o Bataclan: “aquilo não existe
nem em Paris, é muito luxo, imagine no interior da Bahia no começo do século?
Não me importa a beleza, na cenografia o importante é a verdade!”.
Aquelas
palavras marcaram. Não só na cenografia tem que ter a verdade, o profissional
precisa ser também e José Dias o é.
Rafael Spaca, radialista, autor do
blog Os
Curtos Filmes
(http://oscurtosfilmes.blogspot.com/).