A FÁBULA DO MUSTANG COR-DE-SANGUE
Rubens Francisco Lucchetti
O avô do ano 2000 chamou o netinho e disse: – Vou contar para você uma história do tempo em que os automóveis falavam. Era uma vez um Mustang cor-de-sangue... – Como era um Mustang? – Quis saber o netinho. – Era bonitinho. Era assim como um atomicóptero, só que tinha rodas e corria no chão. Como corria um Mustang. Mas ele tinha um defeito: gostava muito de passar por cima das pessoas. Bem, era uma vez um Mustang cor-de-sangue, que vinha por uma rua e, de repente, viu um homem. Quis passar por cima do homem. Então, o homem pulou para a calçada. O Mustang correu também, e o homem correu em direção ao jardim de uma casa. O Mustang correu também, e o homem entrou na casa. O Mustang derrubou uma parede da casa e foi lá dentro passar por cima do homem, que se ajoelhou e falou: “Mustang cor-de-sangue, eu estava no meio da rua; e me perseguiste. Eu pulei para a calçada, e me perseguiste. Eu corri para um jardim, e me perseguiste. Eu entrei nesta casa, e me perseguiste. Que devo fazer para que me deixes em paz?” “Dirige um Mustang igual a mim e não te perseguirei mais.” “Mas eu não posso dirigir um Mustang. Sou um pedestre.” “Nesse caso, vou passar por cima de ti.” “Não! Se tens um pouco de piedade, poupe-me a vida!” “Não posso. Meu dono tomou seis uísques e, além disso, é filho de um senador.” – E, após dizer essas palavras, o Mustang passou por cima do homem e saiu buzinando todo contente – concluiu o avô. O netinho do ano 2000 riu divertido e nem perguntou pela moral da história, porque naquele tempo também não havia moral. Este texto foi escrito por volta de 1954. |