Zaira,
conte como surgiu pela primeira vez a ideia de se tornar uma atriz.
Eu trabalhava como
modelo da Christine Yufon, fazia muitas fotos de publicidade e comerciais para
TV. Um dia o David Cardoso, procurando atrizes para um filme de sua produção, escolheu
uma de minhas fotos e me chamou para fazer uma entrevista com o diretor Jean
Garret que decidiu me convidar para estrelar seu filme a ‘Ilha do Desejo’, foi
meu primeiro filme.
Você
nasceu em Porto Alegre grande parte da sua trajetória artística está ligada a
cidade de São Paulo. O que tem a falar de São Paulo?
Eu amo São Paulo...
sempre que ouço a música Sampa me veem lágrimas nos olhos de saudades. Eu
cresci nesta louca cidade, lembro que quando cheguei em São Paulo eu tinha apenas sete anos, senti um cheiro de
gasolina forte pela cidade e minha mãe disse: “é a cidade grande minha filha”….
São Paulo tem uma melancolia e uma alegria própria onde eu me identifico a
beça. Dizem que Nova York lembra São Paulo, mas eu acho que São Paulo é única,
não tem igual somente quem mora na cidade é quem sabe. “I love Sampa”.
Poucos
sabem que você também é bailarina. Como o balé apareceu na sua vida? Foi uma
vontade sua ou dos seus pais?
Foi ideia de minha
mãe, que alias foi o melhor presente que ela poderia ter me deixado. Eu comecei
a dançar aos oito anos. Minha mãe me matriculou no Conservatório Musical Souza
Lima perto de casa, a professora era a Regina Meire Sangiovani. Eu fiz muitos
anos de ballet clássico, moderno, e alguns anos de flamenco. Aos catorze anos
comecei a dar aulas de ballet para crianças. Meu primeiro cheque foi para mim
um grito de liberdade!!! Adorei mais pelo gosto de ter ganho com meu suor.
Fiquei dando aulas de ballet e também fui bailarina da Joyce e dancei
profissionalmente com carteira assinada e tudo (hahaha). Fiz até shows na Boate
Beco, até pintar o primeiro filme.
Quando mudei para Nova York entrei para a Broadway Dance Center School onde fiz
aulas de jazz. Aqui em Los Angeles faz três anos que me exercito com aulas de
Pilates.
Você
estrelou diversos filmes emblemáticos, entre eles estão ‘Os Insaciados’;
‘Tessa, a Gata’; ‘As Gatas, Mulheres de Aluguel’, entre outros. O que o cinema
representa na sua vida?
O cinema que fiz,
teve para uma faca de dois gumes. Por um lado, me “popularizou” digamos assim,
até hoje recebo muitos e muitos e-mails de fãs dos meus filmes. Por outro lado,
assim como uma tatuagem na pele, acabou me marcando com um rótulo que gritou
mais forte do que o bom teatro e os trabalhos que fiz na TV. Este rótulo me
incomodou para caramba em minha trajetória toda, sentindo que sempre dava um
passo para frente e o rótulo da pornochanchada me empurrava dois passos para
traz. Eu lutei e foi com muito sacrifício que consegui provar meu talento.
E
o que esses filmes que você estrelou representaram na sua filmografia?
O que aconteceu
depois que eu parei de fazer os filmes da chamada “Boca do Cinema” ou como você
queira chamar, foi o seguinte: Eu parti para o teatro, pois o cinema tomou um
rumo que não tinha nada a ver comigo, e eu na verdade já tinha me violentado o
suficiente para continuar fazendo qualquer filme da Boca. A qualidade foi
caindo a cada filme. Os produtores enlouqueceram, e partiram para a baixaria.
Processei um diretor por ter colocado enxerto de cenas explicitas com uma dublê
em um dos meus filmes. Agora a pouco tempo, descobri que muitos filmes que fiz
contém enxerto Tentei falar com uma advogada no Brasil, mas é um caso que pode
levar anos e nem sei se vale a pena comprar
esta briga pois fizeram isto com outras atrizes também, e são tantos filmes e
tem uns diretores que nem estão mais
aqui.
As
mulheres, desde os primórdios do cinema nacional, sempre apareceram como coadjuvantes
e vocês, em São Paulo (na Boca do Lixo), conseguiram reverter essa posição. Isso
foi natural ou vocês se colocaram como as verdadeiras protagonistas daquele momento
histórico?
Neste cinema a beleza
da mulher era o que vendia o filme. Na verdade eu preferia fazer um papel
pequeno, mas forte, que me desse a oportunidade de trabalhar um personagem, do
que uma protagonista onde ficasse 90% do filme sem roupa. Mas o que vendia era
o corpo das atrizes. Então o fato de ficarem procurando um roteiro comercial,
fez com que o lado artístico fosse caindo cada vez mais. Na verdade se perderam
na ambição, e esqueceram a arte. Quanto mais mulher bonita e quanto mais partes
do corpo nu aparecia, mais bilheteria dava. Então isto começou a virar uma bola
de neve e os diretores na ganância do dinheiro, começaram a colocar mais
mulheres, menos roupas e ganhavam muito e pagavam pouco.
Era
a partir das atrizes que o filme começava a se “desenhar”?
Acho que os roteiros
eram escritos meio que da noite para o dia. Na mesa daquele bar daquela rua
chamada Triunfo (Restaurante Soberano), surgiram muito “roteiros” . Lembro que
às vezes eu sentava ali para tomar um café e o Ody Fraga estava escrevendo e
tomando cafezinho. No dia seguinte o filme estava rodando. Acho que não era a
partir da atriz, acho que era a partir de uma historia picante. Quanto mais
picante melhor. Depois vinha a atriz, e o importante era estar em boa forma.
Entre
filmes e novelas constam mais de 25 trabalhos. Quais você destacaria e o por
que?
Tem um filme que
gosto muito chamado ‘PS post Scriptum’ do Roman Lessage. Fala de Sampa, e tem muitos
atores maravilhosos. Todos se entregaram de corpo e alma neste filme. O Lessage
era muito exigente. Ele fez teste com várias atrizes para o papel da Tiana eu
mesma já não aguentava mais. Fiz vários testes. Até que finalmente um dia ele
me chamou pelo nome da personagem, e eu comecei a chorar de emoção. Nunca vou
esquecer. Tenho também a ‘Valsa nº 6’ o monólogo do Nelson Rodrigues. Tive
varias criticas maravilhosas ai no Brasil. Eu fazia doze personagens. Fiz
também esta peca aqui em Los Angeles no Teatro Freud da Faculdade da UCLA com
produção do Fabio Golombeck.
Interessante foi que diretores
americanos de teatro foram assistir e mesmo a peça ter sido feita em português
adoraram e foram me abraçar no camarim dando os parabéns.
E
quais gostaria de esquecer? E por que?
Teve uma época na
minha vida que eu gostaria de esquecer: a maioria dos filmes que fiz para ser
honesta. Mas hoje eu estou completamente resolvida com isto. Fiz, tá
feito, foi uma época, já passou.
Havia
rivalidade entre as “musas” do cinema paulista?
Eu era tão ocupada e
tão voltada para o meu mundo, que se tinha rivalidade eu nunca percebi. Eu
estava sempre pensando no que fazer para melhorar minha vida, não tinha tempo
mesmo.
Como é o seu processo de construção de uma personagem?
Eu
gosto de sentir e viver como se fosse o personagem, então ele vai brotando. Eu
escrevo uma historinha como se fosse um diário de mim mesmo, mas na verdade não
sou eu sou o personagem. Depois ele vai surgindo naturalmente sem esforço, e a
emoção vem junto.
Muitos
produtores e diretores de filme possuem suas atrizes prediletas. Você sempre se
destacou, não só pela beleza, como também pelo profissionalismo. Esse era um
diferencial?
Para ser honesta com
você Rafael, eu me arrependo por não ter sido mais profissional. Tive muita
sorte de ter trabalhado com pessoas maravilhosas, ótimos diretores, autores,
atores, produtores, mas meu forte não era o profissionalismo (hahahaha).
Chegava atrasada, reclamava, tinha uma época na minha vida que eu era muito
chata, e quando me lembro disso, não gosto, me deixa triste. As pessoas mudam a partir do momento em que
começam a enxergar a si mesmo. Eu estou sempre mudando e tentando sempre
melhorar como pessoa. O Budismo tem um ditado que fala: “Os cílios estão colados
nos olhos e a gente não vê” Eu adoro este ditado, pois na verdade, só
conseguimos mudar quando enxergamos os próprios defeitos.
Você
declarou certa vez que era tímida. Como lidar com a timidez quando protagoniza
uma comédia erótica?
Foi muito difícil a
primeira vez que tive que fazer uma cena onde tirava a roupa. Lembro que a
primeira vez, simplesmente não compareci na filmagem fiquei em casa de cama.
Não conseguia levantar meu corpo estava pesado, e eu numa dúvida cruel, pois já
tinha prometido para o diretor que ia fazer, e depois me arrependi. Então
fiquei pensando no gasto que ele teria em ter que me substituir, sendo que eu
já tinha feito muitas outras cenas (de roupa) Decidi não dar este prejuízo a
ele então pedi que minha irmã me acompanhasse. Tomei uns dois copos de conhaque
e fiz a cena. Este mesmo diretor anos depois foi o que me traiu colocando cenas
de sexo num dos meus filmes.
Como
você lidava com a exposição do seu corpo?
Eu sempre me sentia
mal em ver estampado em cartazes gigantes nas faixadas dos cinemas meu corpo
nu… ali, e todo o mundo que passava na Avenida São João ou Ipiranga, ficava olhando.
Eu quando passava olhava para o outro lado.
A
exposição do corpo feminino no cinema está mais ligado à ganância de dinheiro
dos produtores de cinema na época ou ao público, ávido em assistir corpos
perfeitos na tela?
Ligado aos dois.
Tinha um público enorme para ver o corpo nu das donzelas e o bolso dos
produtores se enchendo de grana.
O erotismo é uma arte?
Com
certeza o erotismo pode ser feito com arte, assim como pode ser feito de uma
forma gratuita e banal.
Você
sempre foi uma mulher bonita?
Yes!!!!!!!
(Hahahahhahahha)
Como
define a sua beleza?
Natural! Sou uma
naturalista. Não uso maquiagem, quase nunca. Nunca fiz plástica, nunca me
injetei com botox (Estou pensando no assunto (hahahaha)) Faço exercícios, ando
de bicicleta, sou vegan, não como absolutamente nada que seja derivado de
nenhum animal. Estou sempre trabalhando minha beleza interna, minha beleza da
alma, que acho a mais importante.
Qual
era o perfil médio dos seus fãs?
Homens e rapazes
(hahahahaha).
Um
dos casos que mais irritavam os atores naquela época era que, ao assinar um contrato,
o nome do filme era um e quando lançado era outro. Aconteceu um caso com você
em ‘O Bebê de Proveta’, que quando lançado se chamava ‘A Noite dos Bacanais’.
Como era isso?
Era o que acontecia.
É muito engraçado e que às vezes alguém me manda um e-mail dizendo acabei de
ver um filme seu no Canal Brasil, ou pegou na internet, e quando falam o nome
eu não me lembro de ter feito. Claro, o nome foi mudado para chamar mais
bilheteria. Na verdade ia para a censura com um nome, e passavam uma sessão
para a equipe e na hora de distribuir, trocavam de nome para ser mais
comercial. Sem o menor respeito com os atores, sem nunca nem ao menos avisar:
“olha trocamos o nome do filme viu”?
Chegou
a processar ou teve receio de ser “limada” na Boca do Lixo?
Sim processei um
diretor e ganhei a causa.
Outra questão é que em filmes de comédias
eróticas (as pornochanchadas) foram, tempos depois, enxertadas cenas de sexo
explicito. Como analisa essa questão? Muitos acreditam que você fez filme de sexo
explicito.
Eu
nunca fiz cenas de sexo explicito e processei o diretor que enxertou, e ganhei
a causa. Mas o filme continuou sendo vendido no mercado negro. Descobri também
há pouco tempo que fizeram isto com muitos filmes de muitas atrizes enxertos de
cenas de sexo e acho que ate trocaram de nome os filmes.
Por que não aceitou trabalhar em filmes de
sexo explicito? Os cachês eram realmente maiores?
Acho
que o cinema é uma arte e o que faz dele sensacional é que nenhum ator morre de
verdade, nenhum ator que representa um drogado toma droga de verdade. Imagina,
acabei de ver o filme do Leonardo Di Caprio, o ‘The Wolf of Wall Street’ onde
durante o tempo todo ele cheira cocaína, e toma êxtase imagina se fosse
explicito tudo o que ele faz neste filme? Ele estaria morto. O lindo da arte é
a representação, nada e de verdade, mas tudo parece ser… O erotismo está na
situação, nas entrelinhas, num olhar, num suspiro, numa palavra, numa música...
Não precisa transar de verdade para mostrar que é uma cena de sexo.
Na televisão, quais
personagens destaca?
Acho
que foram as duas personagens que fiz na TV Bandeirantes, fazia uma freira
casta e fazia a irmã gêmea dela, uma prostituta que fugiu de um bordel e foi se
esconder no convento fazendo a vida da irmã um caos. Foi muito bom fazer
personagem duplo, como atriz foi um ótimo ensaio.
E no teatro?
‘A
Valsa nº 6’ do Nelson Rodrigues me deu prestigio, mas eu adoro comédia. Adorei
fazer uma peça que o Atílio Rico dirigiu, ‘Quem Programa Ação arruma Confusão’,
Também adorei fazer ‘O infalível Dr. Brochard’ uma comédia do Paulo Goulart que
fiz com meus queridos Flávio Galvão, Jacques Lagoa, Jiuseppe Oristanio e Walter
Breda.
Mesmo trabalhando em TV,
teatro e cinema, podemos dizer que a sua essência é mesmo o cinema?
Acho
que sim, eu comecei no cinema.
Como você se define como
atriz?
INTENSA.
Gosto de dar tudo de mim para o personagem, gosto de trabalhar cada respiração,
cada movimento, trabalhar no fundo da alma o personagem, até ele gritar
Gostaria de voltar a atuar
em televisão ou cinema?
Com
certeza se for algo que me emocione….
O
que um produtor ou diretor precisa fazer para que você aceite um papel?
Primeiro
me convidar e depois dizer o que se trata.
Se eu gostar negociamos.
Quais diretores gostaria de
trabalhar?
Os
melhores (hahahahaha).
Quais são os melhores?
Existe
muita gente boa hoje em dia tanto diretores de teatro como de cinema. Tem uma
turma que esta fazendo cinema no Brasil que eu curto a beça. Não vou citar
nomes pois de repente esqueço de algum e depois me arrependo.
Quais atores você acompanha
e admira o trabalho?
São
muitos atores que gosto, o Brasil está cheio de gente boa tenho amigos atores
maravilhosos, nem da para citar nomes. Dos internacionais gosto muito do Christopher Walken ele
é versátil, faz drama e comédia muito bem e nunca é o mesmo, não tem uma forma
de fazer, sempre cria o personagem.
Viver na América e não
pensar em Hollywood é possível?
Hollywood
é um mito, Hollywood ficou marcada com os filmes que hoje são clássicos, e com
o glamour das estrelas tipo Greta Gargo, Merlyn Monroe, e tantas outras. Pensar
em ser uma estrela hollywoodiana acho que muitos atores devem ter pensado e
devem pensar claro que já pensei também, a fama internacional, os milhões que ganham
num filme, etc. Mas para ser honesta eu
nunca procurei e nunca fui atrás, pois
quando vim meu inglês não dava para segurar uma cena, e agora que falo bem,
minha cabeça mudou, tenho outro planos em mente e sou muito ocupada fazendo
coisas que me dão muito prazer.
O seu mítico ensaio na
Revista Playboy, junto com Aldine Muller, foi o que causou o maior impacto
entre todos os trabalhos que já realizou?
Acho
que impacto maior que o cinema causou e vem causando até hoje na minha
vida e impossível, mas a Playboy pra
época, confesso que foi ousadia, e causou sim um impacto muito grande, tanto
que ganhamos como uma das capas mais
vendidas e também estamos no livro da Playboy, eternizadas. (hahahahaha)
Depois desse ensaio você
recebeu mais cantadas de mulheres?
Cantada
de mulheres sempre recebi mesmo antes, engraçado, mas acho que a Playboy afetou
mais os homens, recebi muitos telefonemas e cantadas mais de homens e até de
alguns “poderosos” de Brasília (hahahaha). Tive que tirar meu nome da lista
telefônica e trocar meu número.
Por que decidiu morar fora
do Brasil?
Esta
eu vou deixar para contar no meu livro.
Qual foi o maior erro da sua
vida?
Aqueles
que tive medo de cometer.
Pode citar um?
Acho
que me arrependo de não ter escolhido melhor os roteiros e a qualidade de
alguns filmes, hoje faria diferente, não pelo fato de achar que errei, mas pelo
fato da Zaira ter mudado.
Qual foi o maior acerto?
Ser
mãe!
Recentemente, quando da sua
última visita ao país, você gerou grandes comentários (todos elogiosos) ao postar
fotos de biquíni. Como faz para manter o corpo em tão perfeita forma?
Eu
sofro (hahahahahha), deixo de comer um monte de coisas que gosto só para manter
a forma, coisas de ego (hahaha). Mas obrigada pelo elogio.
Aceitaria posar nua
novamente?
Depende
da grana (hahahahhahahahahah).
É possível surgir outra
Zaira Bueno no nosso audiovisual?
(hahahahahahhahahahaha)
never!!!!!!!!!
Quem foi o seu maior
parceiro de trabalho?
Foram
vários, cada momento foi um momento e eu curti todos, me diverti com muitos, e
amei alguns (hahahahha).
Quais seus projetos para o
futuro?
Meu
livro onde conto minha vida na América! São dezoito anos de América, pode?????
Qual é a previsão de
lançamento?
Final
do ano.