Atriz formada pela EAD e diretora teatral pela ECA/USP. Como
atriz participou dos filmes Garotas do ABC e Bens Confiscados, ambos de Carlos
Reichembach; Bodas de Papel, de André Sturm; A Memória Que Me Contam, de Lúcia
Murat; e nos curtas Faça Sua Escolha e De Outros Carnavais, ambos de Paulo
Miranda. Foi preparadora de elenco no filme Bens Confiscados, de Carlos
Reichembach.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem.
Bom, acho que o fundamental é um bom roteiro e uma equipe de
filmagem competente. Também presto atenção à visão e estética que o diretor
quer dar a essa estória. E é claro ao personagem. De alguma forma o personagem
tem que ser instigante ou ajudar a contar uma estória interessante. Se eu me
sentir atraída por essas coisas, aceito sem problemas.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Fiz dois curta- metragens profissionais com o diretor Paulo
Miranda. O Paulo e sua equipe são profissionais bastante competentes e
criativos, portanto a experiência foi muito boa. No primeiro, quase todos os
atores do filme eram amigos, o que propiciou um clima de cumplicidade bastante
divertido. Percebi que o diretor não
tinha todos os planos de filmagem resolvidos, o que nos dava alguma liberdade (a
atores e equipe técnica) para sugerir coisas.
Ele não tinha todas as respostas prontas, o que para mim é excelente. Também
soube construir um clima de harmonia entre a equipe em prol de um projeto comum
e, sobretudo sabia dirigir atores e confiar neles, coisa que acho fundamental. No
segundo projeto, as características essenciais permaneceram as mesmas, mas a
equipe era muito maior, assim como o número de locações e o tamanho da
produção. Pude perceber maior segurança e maturidade em relação ao diretor,
equipe e todo o processo de filmagem.
Algumas experiências não satisfatórias estão ligadas a
curtas-metragens de alunos de escola de cinema. Dos vários que fiz, raramente
tive acesso ao resultado final ou algum contato pós- filmagem para uma
avaliação ou troca em relação ao trabalho. Achei frustrante.
Por que os curtas não
têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sou uma especialista nesse assunto, mas imagino que o
curta-metragem, pelo menos no Brasil, é visto como uma experimentação antes de
realizar um filme “sério”, ou seja, um longa-metragem. Mesmo nas escolas de
cinema, o curta é visto como um grande e talvez o primeiro exercício para fazer
cinema, e não como uma linguagem em si, o que verdadeiramente é. Sabemos que para
que um diretor realize um longa-metragem ele precisa ter alguns curtas
profissionais na bagagem. Para que esta situação se modificasse, precisaríamos
criar uma cultura de conceber e entender o curta-metragem como uma linguagem
específica, carregada de particularidades e nuances e não apenas como um
“trampolim”, treinamento ou meio para
filmar um longa-metragem.
Outra questão é a realidade cultural de nosso país, onde a
arte não faz parte de nosso cardápio diário e onde o cinema ficou quase dez
anos sem possibilidade de realização. Além disso, posso estar equivocada, mas
não percebo muito interesse de profissionais destacados da área em dar atenção
aos curtas-metragens. Estas podem ser algumas possibilidades, longe de
esgotá-las, de que o curta- metragem tenha pouco espaço no cenário comercial.
Na sua opinião, como
deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Bem, essa questão é um problema do cinema nacional em geral
(tirando as produções da Globofilmes), não só de curtas-metragens. Sabemos a
batalha que significa manter um filme nacional em exibição nas salas de cinema.
Além do mais temos cada vez menos salas fora do grande circuito comercial.
Volto a dizer que não sou especialista no assunto, mas imagino que uma política
cultural de distribuição e exibição que levasse em conta e favorecesse nossas
produções seria um grande começo. Talvez também pudéssemos criar a
possibilidade de exibir curta- metragens antes da exibição de outros filmes em
circuito comercial, como já feito anteriormente. Músicos e maestros são muito bons agrupando peças eruditas
curtas variadas em concertos gratuitos ao ar livre ou em pequenas salas para
simples fruição do espectador comum. Talvez pudéssemos nos inspirar neles e
democratizar a exibição do curta, tirando-o do circuito quase restrito de
festivais. Quem sabe assim criaríamos uma cultura de cinema, independentemente
do formato.
O curta-metragem para
um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o
grande campo de liberdade para experimentação?
Posso apenas falar da perspectiva da atuação. Para que o curta-metragem seja um espaço de
experimentação para o ator, acho que depende bastante da relação que o diretor
estabelece com os atores no set, como ele enxerga o roteiro (se as falas e
ações podem ser improvisadas ou não), a importância que personagem ocupa na
estória ou ideia a ser passada e qual a linguagem estética adotada. Mas mesmo com um roteiro e direção
autocráticos, ou seja, sem muita liberdade de interferência, penso que a
atuação para cinema deve ser sempre um momento vivo, experimental, real e
portanto único. Quando isso acontece nada é conhecido ou previsível. Meu grande
mestre, Carlão Reichembach, me disse durante a filmagem de “Garotas do ABC” que
apesar de todo ensaio, preparação e planos de filmagem estabelecidos, o momento
do “ AÇÃO” é o momento do salto no abismo. Levo esse ensinamento sempre comigo independente
se faço um curta ou longa-metragem.
O curta-metragem é um
trampolim para fazer um longa?
Acho que não necessariamente. Entendo o longa e o
curta-metragem como linguagens de naturezas diferentes. Pelo menos em minha
experiência uma coisa não está ligada à outra.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não acredito em receitas. Acredito
na qualidade de ideias e roteiros e também em profissionais criativos. A arte
depende do diálogo que estabelece com o contexto contemporâneo e da troca e
resposta que obtêm do público, e isso é impossível de prever. Acredito que
filmes de sucesso tem algo importante a dizer no momento em que são feitos e
tocam a humanidade do expectador de maneira surpreendente e antes não
suspeitada.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Estou participando de um projeto de curta-metragem
colaborativo. Ou seja, os atores criam o roteiro e personagens, juntamente com
a diretora, e também sugerem a forma em que as cenas poderiam ser filmadas. É
bastante instigante e nos faz participar mais intensamente de todo o processo.
Talvez no futuro, com mais experiência, me aventure a dirigir um curta.