Leticia é atriz. No cinema, atuou em 15 curtas e 2 longas (um com direção de Ugo Giorgetti e outro com direção de Rubens Rewald). Recentemente, participou da segunda temporada da série "Na fama e na lama", no Canal Multishow, no papel de "Gracinha".
O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Trabalhar com cinema me interessa muito e me enriquece como atriz. Estar em um set é mágico pra mim. Estar em cena levando em consideração a lente, e não bem um numeroso público (como faço no teatro), é algo diferente do que nós, que nascemos no teatro, estamos acostumados, e isso nos fornece uma "malandragem" como atores que não é fácil de ser obtida. Se o ator fica apenas em um dos vários meios em que ele pode estar e se fazer presente, ele, geralmente, acaba ficando limitado, e sua visão daquilo que é atuar acaba não ficando tão ampla quanto poderia. Isso não é uma regra, claro. Há atores que só fazem teatro, por exemplo, e são atores magníficos! Mas, no geral, acho que caminhar por todos os meios é algo rico... Então, fazer um curta é ampliar essa visão. É ter que criar em um curto espaço de tempo e ter que transmitir determinadas mensagens em um filme de poucos minutos. É um desafio. Se sair bem em um curta (em termos de atuação) é um desafio muito grande. E, independentemente de ser curta ou longa, o prazer de estar em um set é que me faz aceitar fazer curtas, longas, series etc.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque, acredito, não estamos acostumados a querer ir ao cinema pra ver um filme de poucos minutos. A não ser em festivais. Pagar ingresso pra ver um filme rápido (ou qualquer outra coisa rápida) não é um hábito do nosso país. E, como a crítica brasileira (literária, teatral, cinematográfica etc.) está fortemente vinculada à mídia, que, por sua vez, tem a questão do dinheiro como manda-chuva, fica complicado dar atenção a trabalhos que não rendem muitas cifras. Mas também fica difícil saber por onde começar a "consertar"... Não há culpados, e modificar esse pensamento do público leva tempo. É como perguntar quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha... Quem deve ser mudado, o público ou os chefões do cinema brasileiro? Eu arriscaria dizer que a modificação deve vir de cima, e o público aos poucos vai se acostumando a ver a arte e o dinheiro de uma forma diferente. E mais próspera, eu diria. Fui clara? rs!
Aliás, o mesmo acontece com teatro... A não ser quando se fala de musicais famosos ou peças com atores globais... Aí, sim, tem-se público e dinheiro. Porque, de modo geral, o teatro também não ganha a atenção da mídia.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Talvez se os curtas fossem, periodicamente, exibidos nas grandes redes de cinema... Inclusive nos "famosos" cinemas de shopping, onde sempre há público. A internet também é um meio interessante de divulgação desses trabalhos. Mas há algo que seria chave, na minha opinião: grandes emissoras de TV proporcionarem exibições periódicas de curtas... E, claro, não às 3h da manhã. A TV continua sendo o meio de comunicação mais abrangente do país, então seu poder sobre o público é grande.
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Apesar de adorar fazer cinema, eu não sei responder a esta pergunta com precisão. Porque não sou cineasta, sou atriz. E, como atriz, não me vejo fazendo apenas curtas (nem apenas longas). Contudo, vale lembrar: para uma atriz, fazer um longa dá mais visibilidade e possibilidades de trabalho do que fazer curtas... Ainda que o prazer de fazer os curtas sempre exista e sempre nos faça fazê-los.
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Novamente digo: sou atriz, então não sei precisar isso... Mas não creio que os curtas sejam marginalizados. Até porque, até onde eu sei, é importante que curtas sejam feitos, pois há um esquema de pontuação na Ancine (Agência Nacional de Cinema), não?! Afirmação de leiga essa, vale destacar... rs!
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Talvez. A câmera tem me interessado cada vez mais. Mas talvez em parceria com algum cineasta experiente, para que eu possa ficar mais na direção de elenco e de própria cena, do que na parte mais técnica, da qual pouco entendo ainda... Sou atriz e não pretendo assumir verdadeiramente outra posição dentro do cinema, a não ser como experimentação...