Vamos legitimar o cinema dos Trapalhões
É incrível o número de pessoas que torcem o nariz quando se fala do cinema feito pelo quarteto dos Trapalhões.
A marca que eles deixaram foi a da persistência. No momento de escassez e de penúria do cinema nacional, lá estavam eles produzindo até três filmes por ano (na média eram dois) e levando milhões de pessoas ao cinema. Das dez maiores bilheterias de todos os tempos, contando só os filmes nacionais, eles possuem quatro títulos na lista.
Por ser uma franquia do programa de enorme sucesso na Rede Globo, há um grande preconceito contra eles. Foram mais de 30 filmes produzidos entre as décadas de 60 e 90, que influenciaram gerações.
Fizeram paródias, usaram a esperteza em trazer para as telas nomes populares e em evidência como Pelé, Xuxa, Gugu, Grupo Dominó, Angélica, entre outros, para atrair ainda mais público para os seus filmes, também fizeram adaptações literárias, uma delas, ‘O Auto da Compadecida’. Ariano Suassuna – intelectual e autor do clássico -, definiu assim o que viu: “Essa peça teve várias adaptações para o cinema, mas a que eu mais gosto é a com os Trapalhões”, disse categórico.
Além desses nomes de ocasião, os Trapalhões trabalharam com profissionais de primeira linha: Regina Duarte, Bruna Lombardi, Vera Setta, Carlos Kurt, Zezé Macedo, Gracindo Jr. Adriano Stuart, Carlos Manga, e por aí vai.
O cinema que os Trapalhões fizeram, era um misto de cinema comercial, do mambembe misturado com o artesanal, kitsch com cult e uma amalgama de todas as outras referências possíveis, o que o tornou singular. Eles possuem uma marca. E não se pode dizer que fizeram sucesso porque tinham uma grande empresa de comunicação por trás. Eles fizeram sucesso porque foram muito bons.
Prova disso é o ‘Casseta & Planeta’. Também um programa de enorme sucesso, mas que não repetiu o feito dentro do cinema.
Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias eram grandes atores e excepcionais comediantes. O que eles fizeram pelo cinema e, principalmente, pelo humor nacional, mereciam reverências. Não há uma única noticia de premiação pelo conjunto da obra, não há ciclos sendo programados, não há nada que os coloquem em uma posição mais alta.
Esse distanciamento histórico é importante para refletirmos sobre isso.
O cinema que produziram foi alvo de teses acadêmicas que elevaram seus trabalhos. Mas faltam os festivais de cinema, as instituições culturais para legitimar e chancelar esse legado. Quem sabe assim o olhar das pessoas mude e o nariz fique no lugar correto quando ouvirem algum comentário sobre o cinema dos Trapalhões.