quinta-feira, 6 de março de 2014

Joel Caetano

 
Diretor, ator e roteirista. Joel Caetano é um dos fundadores da produtora paulista de filmes chamada Recurso Zero Produções, que procura revitalizar o cinema por meio de novas ideias, provando que é possível fazer filmes de boa qualidade técnica e narrativa de forma independente.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Eu acho que a metragem, de uma obra não a torna menor artisticamente só por ser curta. Gosto de participar de curtas pois não me preocupo com esse tipo de coisa. Me preocupo em contar boas histórias dentro de um tempo condizente com o que a obra necessita para ser bem feita e compreendida pelo público. O que acho errado é esticar uma história curta só porque alguns consideram um longa mais importante. O mesmo pode acontecer quando se tem elementos demais e se decide fazer um curta onde a melhor opção seria um longa. Na verdade, tudo depende da história que se pretende contar, se é longa ou curta, o importante é ter um equilíbrio, sempre pensando na qualidade trama como principal objeto de realização artística e não na duração por si só, ou seja, um longa nem sempre é a melhor opção assim como o curta ou média, vai depender muito da habilidade do diretor em perceber isso e escolher o melhor para seu trabalho artístico em questão.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que ainda se vê os curtas como algo experimental, onde o cineasta está num estágio de "treinamento" para fazer um longa. 
 
É um preconceito que acho meio equivocado. 
 
Um filme curto não deixa de ser bom ou completo por ser de menor duração. Existem histórias que funcionam melhor em um curta, por isso, essa visão tem que mudar, mas não só nos jornalistas e mídias em geral, esse paradigma deve ser quebrado entre os próprios cineastas que muitas também consideram o curta como uma transição e não uma forma artística muito satisfatória quando se precisa contar determinadas histórias. Nem sempre nossas ideias precisam de muito tempo para serem expostas, as vezes uma ideia incrível só funciona se exposta em um período de tempo muito curto, sem rodeios, causando impacto imediato. Depende muito da sensação que se pretende passar.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Muito já se discutiu esse assunto, e uma maneira interessante seria exibir curtas antes das sessões de longas no cinema, ajudaria esse tipo de cinema a ser conhecido de uma forma mais abrangente.
 
Promover sessões de curtas em escolas, universidades é outra opção. Tive a oportunidade de exibir meus curtas para esse tipo de público e é sempre satisfatório por ser uma diversão rápida e eficaz, sem contar que normalmente o público estudantil acaba por disseminar por meio do boca-a-boca a existência dessa opção cinematográfica, ajudando assim, outras pessoas terem acesso aos curtas. E por fim, deveriam existir mais programas de TV que exibissem esses filmes, principalmente os nacionais, tenho certeza que seria um sucesso e que ajudaria a estabelecer o curta, como uma forma de expressão artística mais forte, visto que a TV tem grande influência cultural em nosso país.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que sim. Mas como disse anteriormente, tudo depende da história que se deseja contar. Eu por exemplo já dirigi mais de 13 curtas, escrevi para serem curtas e me sinto muito satisfeito com o resultado. Pretendo continuar contando minhas histórias, sendo curtas ou longas, vai depender do que estiver criando no momento, felizmente não consigo ver isso como uma barreia e sim como um opção.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que por alguns, aqueles que acham que um curta é apenas uma escada para algo maior, mas se esquecem que o maior, não depende da duração e sim da qualidade da história.  O interessante é que existe uma corrente contrária. Conheço alguns cineastas independentes que só faziam longas, e depois de experimentarem o curta, não querem largar mais, pela facilidade de se realizar e o poder de síntese que esse tipo de cinema proporciona.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Finalizei 'Estranha', um curta de 12 minutos que já está em circuito de festivais e tenho muito orgulho desse trabalho assim como o longa "A noite do Chupacabras" de meu amigo e diretor Rodrigo Aragão, o qual participo como ator, ambos trabalhos de metragens diferentes, mas que foram incríveis de se realizar. Pretendo continuar fazendo curtas e longas, vai depender da minha identificação artística com a história, o projeto e os envolvidos.