MIRAGEM
Rubens
Francisco Lucchetti
Certa vez... talvez no princípio dos tempos, isto se deu: dois nadas se encontraram. Eram a Vida e a Morte. – Sinto muito esta reunião. Há quem precise de mim na Terra – disse a Vida. – Há-de existir quem também precise de mim – replicou, com ironia, a Morte. – Sabe que tenho muito para lhe falar, não? – Sobre o homem? – É tudo que possuímos. Por que não falar nele? Ou será que não o possuímos? – É evidente que o possuímos... – Mas não é a respeito disso que desejo falar-lhe. É sobre o bem. – O bem?! – Sim. Desejo que estudemos um meio da fazer o homem sentir o bem na Terra. – E necessita da minha ajuda? – É claro... Passaram algum tempo em silêncio, como se pensassem. Enfim, a Vida disse: – É inútil! Compreendo agora que o homem não poderá sentir o bem, pois impôs o mal, ao pecar. – Sim, – concordou a Morte, – mas creio que tive uma ideia! – Qual...? – Poderíamos criar uma Miragem.. – Uma Miragem?! E em que consistiria essa Miragem? – Criaremos algo que faça o homem imaginar haver encontrado o bem. Será uma Miragem que irá persegui-lo a vida inteira. – Mas isto seria cruel! – Cruel? Tolice! A Vida pensou um pouco. Depois, sentindo que nada mais havia a fazer, aceitou. – Como irá se chamar essa Miragem? – Indagou. – Felicidade – respondeu a outra, afastando-se. |
Rubens Francisco Lucchetti é ficcionista e roteirista de Cinema e Quadrinhos.