Atriz e roteirista. No cinema atuou em “Linha de Fuga”; “Mata
Hari”; “Colostro” (curta-metragem); entre outros.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O
roteiro! Nada me deixa mais feliz do que ter em mãos um projeto com vigor, com
personagens que me surpreendam, histórias com inteligência e sem truques.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Fiz Artes
Cênicas, na USP, fiquei muito tempo só envolvida com o teatro, mas já na
faculdade comecei a participar de alguns projetos em cinema e me encantei. A
câmera parece conseguir ler cada filigrana do pensamento do ator, me senti
desafiada. A ponto de, em dado momento, começar a escrever, para não parar de
fazer, para que não dependesse apenas de convites. Foi uma redescoberta como
artista, no sentido de que eu poderia criar personagens e histórias que tivesse
vontade de viver e contar. Acho que
minha formação como atriz me ajudou a escrever, de certo modo comecei a
construir atmosferas e diálogos baseados no que meu corpo já havia vivido no
palco, a partir da minha intimidade com as personagens. E o processo como
roteirista também me ajudou como atriz, minha escrita é lenta, faço muitos
tratamentos nos meus roteiros, então sinto que quando vou fisicalizar a
personagem já a conheço bem, porque tive todo esse tempo de convivência e
assimilação. O passo seguinte foi abrir uma produtora de cinema, a Arte In
Vitro Filmes, junto com o Cainan Baladez, que é diretor e parceiro nesses
projetos em que escrevo, atuo e, às vezes, dirijo. Enfim, adoro receber
convites de bons cineastas, com boas personagens, mas é libertador saber que
não dependo só deles para seguir com meu trabalho.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez
por não serem comercializados e não terem um espaço de exibição na programação
dos cinemas. Mas existem festivais de curtas metragens incríveis no Brasil, que
preenchem um pouco esses espaços, onde você pode acompanhar o que existe de
melhor sendo feito no país e no exterior. Além de ser uma ótima oportunidade de
troca entre cineastas de vários lugares. E não sinto que só o curta-metragem
sofra com a falta de espaço. Acho perverso, por exemplo, o que acontece com os
longas que entram em cartaz (muitas vezes depois de anos de tentativas) e
precisam fazer um público bom na primeira semana, do contrário já ficam
limitados a horários e salas de difícil acesso. Acho que as políticas de
distribuição e exibição precisam ser debatidas e reajustadas ainda, para que
exista um maior equilíbrio de forças no mercado, entre produtores, artistas,
distribuidores, exibidores, público e poder público.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu
acredito muito na volta da lei de exibição de curtas antes dos longas.
Reestruturada, com curadores que selecionem bons curtas e curtas que dialoguem
com os longas que serão exibidos na sequência. E acho também que a nova lei
para TV paga pode ser fundamental para expandir e difundir o curta-metragem na
televisão brasileira, pode abrir um espaço importante para intensificar o
diálogo do formato com o público.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sinto que
a experimentação e o risco deveriam ser inerentes ao fazer artístico, de modo
geral. No caso dos curtas, tenho tido a oportunidade de ver muitos trabalhos
inovadores e contundentes nesses festivais em que frequento, de cineastas que
estão despontando por aí, fazendo seus filmes com ou sem patrocínio, mas com
bastante vigor. Mas acho
que para atingir essa qualidade, é importante que se busque um olhar pragmático
para o próprio trabalho, a telona é muito sedutora, tanto para o ator, quanto
para o diretor, acho que a gente deve tomar cuidado pra não se encantar com a
própria imagem, sabe? Isso pode comprometer bastante o resultado de um filme.
Nessa hora é fundamental ter amigos talentosos e sinceros, que te ajudem a
enxergar seu projeto sem firulas.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
É uma
ótima pergunta, porque persiste uma crença de que o curta é só um “aquecer de
tambores” para o longa, né? Eu não sinto assim, nunca criei nenhum trabalho
pelo tempo, são as histórias que me dizem quanto tempo elas tem. Não acho que o
curta-metragem é um formato inferior ao longa, acredito que o tamanho do
projeto é determinado pelo que se quer contar. Inclusive já tive muito a
sensação de assistir a curtas que sentia que não cabiam naquele formato, assim
como vi longas que, suspeito, ficariam melhores se tivessem sido pensados como
curtas. Eu mesma, por exemplo, comecei a escrever um roteiro de curta-metragem
e, lá pelo sexto tratamento, me dei conta de que aquela história não cabia no
formato, de que era, na verdade, um roteiro de longa-metragem.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Hum… essa ideia de vencer é muito relativa, né? Vencer para quem? Para o público? Para a
crítica? Para o seu próprio critério? Acho que o cineasta tem que buscar
clareza nos seus objetivos e perseguir isso de forma coerente e honesta. O mais
importante é que, cada um do seu jeito, tenha apoio de políticas públicas que
permitam que essa diversidade aconteça de forma equilibrada. Existem diversos
tipos de cinema sendo feitos no Brasil, para cada um desses jeitos vencer tem
um significado diferente.
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Sim,
tenho a minha gavetinha de roteiros. E o que comentei antes tem muito
significado para mim, adoro essa independência de produzir meus próprios
projetos, de não ser mais uma atriz a procura de um papel, isso me angustiava
bastante antes de começar a escrever. Então tento abrir outras frentes, me
desdobrando nas funções de direção e produção para poder esvaziar a tal
gavetinha de roteiros e de personagens. Embora me sinta mais a vontade como
atriz e roteirista, tive uma experiência bem legal como diretora no Animador,
primeiro curta que assino a direção, junto com o Cainan. Agora estamos
finalizando nosso próximo projeto, o Colostro, em que dividimos o roteiro,
Cainan assina a direção e eu a co-direção. Acho que sempre optarei por essa
direção compartilhada, essa parceria que me permita ser atriz no projeto,
porque no set eu gosto mesmo é de atuar.