segunda-feira, 25 de maio de 2015

Izadora Fernandes


Atriz. Atuou em “Mutum”, de Sandra Kogut e em vários curtas, entre eles se destaca “A Reforma das Minas de Prata”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Eu não escolho um papel pensando no formato que será concebido. Para mim tanto faz ser um longa ou um curta, desde que eu acredite na personagem e na capacidade que terei em construí-la.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Minha primeira participação foi em 1999, meu companheiro na época estava se formando em comunicação na PUC e pertencia a um grupo de pessoas que começava a produzir audiovisual. Eu estudava no Teatro Universitário da UFMG e nunca tinha tido nenhuma experiência com cinema. Meu primeiro trabalho foi junto com o Filipe (ex-companheiro) e o grupo de amigos dele. Fizemos uma espécie de documentário ficcional, - não sei se já podíamos chamar assim naquela época-, que recebeu o título de “A Reforma das Minas de Prata”. De lá pra cá eu perdi a conta de quantos curtas-metragens eu fiz. Alguns eu nem cheguei a ver, outros eu não quero ver porque sei que não ficaram bons, e minha autocrítica já é uma questão que preciso lidar cotidianamente, então, melhor não ver. O último que fiz foi “Diário do não ver”, das diretoras Cristina Maure e Joana Oliveira, este foi exibido em Gramado e em Portugal, e está num percurso bem promissor nos festivais de cinema. Em muitos eu fiz apenas alguma participação, mas tenho um carinho enorme por todos. As equipes geralmente são muito interessantes, constituídas de pessoas que fazem por amor à causa, porque querem aprender, querem dialogar com o meio de alguma forma, nunca por causa de grana. Filme de curta-metragem raramente tem dinheiro pra pagar bem.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral? 
Porque não há espaço para exibição. Como haveria de ter críticas se ninguém vai ver o filme depois de ler. Não acredito que seja um problema dos críticos, não acho que eles não estejam vendo ou não se importando com os curtas. Se estivermos num festival de cinema teremos olhares, matérias e críticas sobre curtas. Com a entrada da internet fazendo o papel de exibidor é possível que o cenário se modifique nesse sentido.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Pois é, ainda não temos uma estratégia pensada para a exibição de curtas, acaba que este formato é difundido basicamente no meio dos frequentadores de festivais. O que vejo são tentativas pontuais, como já houve no projeto Curta Petrobras, onde eram exibidos curtas em algumas salas de cinema antes da exibição dos longas-metragens. Desconheço se existem iniciativas parecidas, aqui em Belo Horizonte eu sei que não.
Creio na necessidade urgente de se pensar nisso, pois temos um número considerável de pessoas produzindo curtas e eles acabam engavetados, ou quando são exibidos é dentro dos circuitos de festivais e nos canais pagos de TV. De certa forma eu acredito que os realizadores de curtas-metragens se acomodaram um pouco com essa possibilidade dos festivais, não tenho visto nenhum tipo de ação, individual ou coletiva, que vislumbre a possibilidade de contemplar um público maior. Já temos exemplos de que o público é receptivo. Basta ver a praça principal de Tiradentes, durante o festival de cinema, não interessa se é uma sessão de curtas ou longas, ela fica totalmente tomada pelos moradores. Enquanto essas ações não se concretizam, considero a internet um bom caminho para o público. Fico feliz quando posso ver um filme que não pude assistir em um festival na tela do computador, e ainda posso trocar um e-mail com o diretor.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Se você se dispuser a experimentar, sim. Se estiver preso ao roteiro, a ideias pré-concebidas, imutáveis, o formato não fará diferença, você não viverá a experimentação por inteiro porque já designou o que é e o que não é. Eu não gosto de curtas-metragens que queriam ter sido longas-metragens, e penso que são a consequência de um apego exacerbado dos envolvidos.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Talvez, mas não sei se é uma regra. Meu primeiro longa-metragem eu fiz graças a um teste. A diretora nunca tinha visto nenhum trabalho meu. Mas é claro que o fato de eu ter alguma familiaridade com a câmera (adquirida nos curtas) e saber jogar/brincar com ela me ajudou a passar no teste. Então, como atriz, talvez a resposta seja sim.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Depende de onde você quer chegar. Se eu não fizer nenhum outro trabalho como atriz até o fim da minha vida já me dou por satisfeita com o que fiz até agora. Eu não dependo disso pra sobreviver e só faço o que eu gosto. Agora, se eu fosse uma cineasta, ou até mesmo uma atriz que quisesse muito “vencer” eu me daria o seguinte conselho: Trabalhe, trabalhe e trabalhe.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Porque talvez seja mais fácil fazer um filme do que escrever um livro. Não que eu possa garantir a qualidade de nenhum dos dois...