Mestre em Literatura, com especialização
na Universidade Livre de Berlim, autor e produtor de cinema. Entre seus principais
trabalhos na escrita audiovisual está o roteiro de “A Via Láctea”.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
O curta é parecido com o jazz. No audiovisual tradicional (o filme
experimental pode ser diferente) há um extenso caminho entre a criação e o
filme pronto. É preciso primeiro escrever o roteiro, depois produzir e filmar,
depois editar, depois finalizar - e somente aí se pode ver o resultado do que
se pensou no início. O que me atrai no curta é a possibilidade de ver mais
instantaneamente o resultado da criação. No jazz, por exemplo, isso é imediato:
você ouve simultaneamente a sua criação enquanto improvisa um solo no sax. No
audiovisual, o curta me parece ser o formato que mais aproxima o resultado
final da ideia inicial, se comparado ao que acontece num solo de Coltrane no
sax.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Para mim tudo começou com o curta. Experimentei no videopoema com alguns
amigos poetas, quando lançaram câmeras de vídeo acessíveis nos anos 90. Depois
experimentei com roteiros de ficção, e inventei um idioma, o cinemês, para um
dos curtas do qual fui co-roteirista, “O Encontro”. Depois tive a sorte de
ganhar um prêmio de produção com outro curta de ficção, que também coproduzi,
“Infinitamente Maio”. Depois escrevi e produzi o curta que foi minha estreia na
direção, “Brasil Maravilha”, exibido nos Festivais de Rotterdam, Berlim e mais
quarenta países. Mas, exceto no caso de “Infinitamente Maio”, fiz tudo isso sem
financiamento algum, com investimentos do meu próprio bolso, e então parei por
dez anos para me especializar em roteiros de longa como uma forma de tentar
viver da profissão. Agora tive novamente a sorte de ganhar outro prêmio de
produção para um roteiro que escrevi há mais de onze anos atrás, “O Táxi de
Escher”.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Em princípio os curtas-metragens não têm a mesma penetração de mercado, nem
a mesma visibilidade, nem o mesmo investimento em publicidade, que os longas.
Mas com a internet isso parece estar se modificando. Nas redes sociais, por
exemplo já há casos de curtas sendo às vezes mais bem divulgados que longas. E,
de qualquer forma, sempre que um curta se destaca em festivais importantes, ele
tem seu espaço garantido na mídia oficial.
Na sua opinião, como deveria ser a
exibição dos curtas para atingir mais público?
A internet me parece uma ferramenta magnífica para qualquer tipo de formato
mais breve. E com a recente opção de conexão a internet nos novos modelos de tevê,
acredito que este seja um espaço a ser cada vez mais explorado pelo curta.
O curta-metragem para um profissional
(seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Em minha opinião o uso da experimentação ou não depende do tipo de historia
que se quer contar, não tanto do formato. Ou seja, é a dramaturgia que importa.
Se o seu protagonista, e a sua historia, pedem experimentação, então isso vai
acontecer tanto no curta, quanto no longa-metragem. Mas se, por outro lado,
você tem uma história ou personagens clássicos, experimentar por experimentar
pode até derrubar a sua historia e o seu personagem. Ou seja, em qualquer caso,
curta ou longa, é preciso mergulhar a fundo no roteiro e, como nos lembra o
escritor, dramaturgo, e cineasta americano David Mamet, tentar entender “o que
o personagem quer”, e “o que a historia pede,” independentemente do formato.
O curta-metragem é um trampolim para
fazer um longa?
Pode ser até que funcione assim em muitos casos, mas essa não me parece ser,
necessariamente, uma regra. Conheço diretores que estão felizes com o formato
mais breve – e buscam ao máximo explorar as suas possibilidades. Acho que
depende mais do estilo de cada autor. Alguns são mais “contistas”, outros mais
“romancistas”, etc. É diferente correr a maratona e os 100 metros rasos - e um
não leva, necessariamente, ao outro. Então depende muito do que você quer
fazer, e do seu estilo pessoal também.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Se houvesse resposta para esta pergunta, nós estaríamos fazendo esta
entrevista em Saint Tropez, ou no Caribe, ou em Fernando de Noronha, (risos).