Cineasta.
Foi integrante por vinte e quatro anos da Casa de Cinema de Porto Alegre.
Dirigiu os curtas-metragens “Aulas muito
particulares”; “Deus ex-machina”; “Interlúdio”; entre outros.
O
que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O curta é um formato muito interessante, que se
assemelha a um conto na literatura. Eu comecei a escrever ainda adolescente, e
contos foram minhas primeiras tentativas de dizer alguma coisa sobre o mundo.
Talvez por isso ainda considere o curta-metragem uma alternativa de produção
interessante, mesmo que, nos últimos anos, tenha me dedicado mais aos longas-metragens.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Já trabalhei sem orçamento algum (nos tempos do
super-8), com orçamentos muito baixos (como nos meus primeiros 35mm, a exemplo
de "Interlúdio" e “Aulas muito particulares”) e com orçamentos
razoáveis (como em "Deus Ex-Machina", feito quase todo em estúdio).
Nos três casos, acho que a integração com a equipe é o mais importante. Se as
pessoas estão entusiasmadas, o resultado pode ser bom.
Por que os curtas não têm
espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque, a exemplo do conto, narrativas de curta
duração não tem grande valor de mercado, e o mercado define a atenção da mídia.
É interessante lembrar que o cinema “comercial” nasceu, em 1895, como curta
documentário, mas virou prioritariamente longa de ficção em pouco mais de 20
anos. Talvez seja algo ligado à estrutura de divulgação das salas de cinema. É
mais fácil explicar e fazer propaganda de uma história longa, com dois
personagens e uma trama, do que de uma série de histórias curtas, com dezenas
de personagens e tramas.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não
sei. Desconfio que no Brasil o problema não é diferente do resto do mundo. O
curta funciona bem em festivais, mas é impossível torná-lo um bom produto nas
salas. Em compensação, um curta bacana sempre tem uma carreira interessante na
internet (Youtube e Vimeo).
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Pode ser. Depende do que esse profissional pretende
com seu curta: provar que é competente como narrador, ou mostrar que é um
artista inovador, ou simplesmente contar uma história e encantar as pessoas?
Experimentar não é uma qualidade, é um modo de encarar a narrativa. Um filme
“tradicional” pode ser muito mais interessante que um “experimental”, dependendo
da habilidade de contar a história. Mas é claro que experimentar num curta é
muito mais comum do que num longa, porque há menos dinheiro envolvido.
O curta-metragem é um
trampolim para fazer um longa?
Não. Isso é uma bobagem
imensa. O curta é um formato independente e que deve ser valorizado por suas
características próprias.
Qual
é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não sei. Eu tento há uns 30 anos, com diferentes
receitas, e, comercialmente falando, só empato. Mas as pequenas e discretas
vitórias pessoais são sempre deliciosas.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
No
curto prazo, não. Quero fazer uma série de TV e continuar com meus longas. Mas,
como fiz um “teaser” para a série de TV, com uns 9 minutos, de certo modo acabo
de fazer um curta.