Cineasta. Dirigiu curtas premiados, como ‘Vox Populi’ (melhor filme no
Festival Internacional de Santiago do Chile), antes de começar a dirigir seus
documentários. Em 2002, foi presidente da ABD&C/RJ e, entre 2003 e 2005, da
ABD.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Um bom
projeto, um bom amigo ou um bom cachê. Se as três condições estiverem juntas,
melhor (risos), mas uma delas já basta para mobilizar meus neurônios. Brincadeiras
à parte, eu fui um curta-metragista muito ativo entre 1996 e 2006, período em
que realizei 4 curtas em 35mm: Vox Populi, Banquete, Ópera Curta e Fúria -
todos para cinema, é importante frisar. E também fui dirigente da Associação
Brasileira de Documentaristas, entidade que representa e luta pelos interesses
dos curta-metragistas do Brasil inteiro.
Porém, como convidado, somente participei da realização de dois curtas
de amigos: primeiro como produtor de “Nevasca Tropical”, de Bruno Vianna, e
depois como assistente de direção de “Eu Sou Assim”, de Luiz Guimarães de
Castro. Porém, depois que rodei meu longa, o “Elvis & Madona”, meio que
pendurei as chuteiras para os curtas.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Guardadas as
proporções de orçamentos e tempo de filmagem, meus curtas deram tanto trabalho
quanto o longa, e é assim mesmo que eu acho que deva ser. Quando você faz uma
obra cinematográfica para ser vista por uma plateia de centenas de pessoas numa
sala escura e em silêncio, você precisa de um acabamento de imagem e de som de
primeira qualidade, e isto leva muito tempo ou muito dinheiro. Produzir com
dinheiro é simples: você contrata a equipe e executa o serviço, mas como nunca
se tem dinheiro bastante para um curta, um realizador que almeja a excelência
precisa contar com a ajuda de profissionais e empresas de forma graciosa,
trabalhando nos tempos livres. As filmagens devem ser rápidas e objetivas, nada
de ficar viajando na maionese para não desperdiçar o precioso de tempo de
todos. É melhor economizar a criatividade para a montagem, edição de som e
escolha das músicas.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Pelo simples
fato de não haver um mercado formado. E não é só no Brasil, não: é no mundo
todo.
Na sua opinião, como deveria ser a
exibição dos curtas para atingir mais público?
Bastaria
fazer cumprir a Lei do Curta, que está no Artigo 13 da Lei Federal 6.281, de 9
de Dezembro de 1975. Pela lei, o filme estrangeiro de longa-metragem deve ser
precedido de curta-metragem brasileiro. A lei funcionou aos trancos e barrancos
por alguns anos, mas teve a sua versão perfeita a partir de 1987, criando uma
fase chamada de “A Primavera do Curta”, e revelou jovens cineastas como Beto
Brant, Walter Salles, Jorge Furtado, Cláudio Assis, Lírio Ferreira, entre
outros. Mas então elle, o Collor,
chegou e arrasou nosso cinema extinguindo de uma canetada só os mecanismos de controle
e gestão, que eram a Embrafilme e o Concine. Mas ele não conseguiu extinguir a
lei, que continua lá deitada em berço esplêndido. A lei só precisa de nova
regulamentação que definirá critérios de duração dos filmes, números de
sessões, escolhas dos programas, remuneração dos filmes, etc. Isto seria o
paraíso para a cultura brasileira, mas só vai ter chance de acontecer se a ABD
voltar a ser uma entidade combativa e independente dos governos.
O curta-metragem para um profissional
(seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Mais ou
menos. O curta só tem compromisso com a arte, que por sua vez deve sempre ser
repensada e reinventada. Mas isto não quer dizer que cada membro da equipe pode
fazer o que der na telha. O curta é sempre um filme de autor: é ele quem manda
e não tem conversa. É ditadura mesmo. Se o fotógrafo quiser ousar nos
enquadramentos ou nas cores, deve ter a “permissão” do diretor; o mesmo vale
para o diretor de arte e figurino, os atores, o montador, o editor de som e o
músico. Esses são o cérebro de um filme, mas a alma é sempre o diretor.
O curta-metragem é um trampolim para
fazer um longa?
Eu não
usaria a figura de um trampolim, mas sim de uma escola, ou seja, um espaço para
aprender a fazer uma produção, a lidar com equipes, a dominar os tempos de cada
etapa e, principalmente, entender a relação entre o espectador e a tela do
cinema. Quem usa o curta-metragem apenas como trampolim, tipo Marcio Garcia,
acaba quase sempre se dando mal.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Ah, se eu
soubesse a resposta para esta pergunta... Posso lhe dar a receita de prato que
inventei, o Fricassé de Jabá com Girimum, mas não há receita de como vencer no
audiovisual brasileiro. Aliás, o que é vencer? “Elvis e Madona” participou de
mais de 50 festivais no mundo todo (exceto a África), ganhou mais de 30
prêmios, teve as melhores críticas (exceto a do Diogo Mainardi, da Veja) e fez
menos que 20 mil espectadores, dos quais eu não recebi um centavo sequer.
Enquanto isso, filmes medíocres como “Muita Calma Nessa Hora” e “Aí, Comeu?”
fazem milhões. Então, qual é a receita?
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Sim, tenho
uma ideia na cabeça de fazer um filme que se passa na construção de um
edifício. Infelizmente, uma câmera na mão não basta para realiza-lo.