Cineasta. Fez assistência de direção de ‘Olho
Nu’, documentário de Joel Pizzini sobre Ney Matogrosso. Dirigiu o filme ‘Yorimatã’.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Os curtas-metragens que realizei até hoje foram todos além de dirigidos,
montados, produzidos e com roteiro de minha autoria, em alguns casos com
parceiros que dividiram estas funções comigo. Foi um caminho sem volta, porque
foi um trabalho desencadeando no outro, o que acabou me privando de aceitar
propostas, por exemplo, de dirigir o roteiro de outra pessoa, ou de escrever
para outro realizador. Mas dentro dos trabalhos que realizei talvez seja
possível desenhar como um tema, ou personagem foi saindo de um projeto e
atravessando o seguinte.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Comecei cinema na universidade, sempre trabalhando em curtas-metragens,
de amigos e meus. Fiz muitos e nos meus filmes sempre procurei me testar de
forma diferente. Nas equipes, temas, linguagens, sempre busquei fugir dos
formatos que eu mesmo havia seguido no projeto anterior. Acho que estes curtas
permitiram essa experimentação e amadurecimento estético que eu não encontraria
de outra forma, a não ser fazendo e mostrando meu trabalho, principalmente nos
festivais.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da
mídia em geral?
O curta-metragem ainda é entendido como um exercício e não tem valor
comercial ou publicitário, que é o que move a mídia e espaços no circuito de
exibição em TV ou salas de cinema. Um realizador que decida fazer somente
curtas-metragens não sobrevive, não paga suas contas, senão tiver outra
atividade que banque suas "brincadeiras". Enquanto não for entendido
como um trabalho profissional, que precisa ser realizado, exibido e discutido,
teremos um silêncio geral de público e mídia sobre o curta-metragem.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
O curta-metragem é um formato perfeito para o sistema, hoje. Com uma
demanda crescente de produção audiovisual para TV e principalmente Internet,
existe uma produção de altíssima qualidade, em muita quantidade, e com
possibilidades infinitas de programação dentro de grades, seja pela temática,
pela duração, pelo baixo custo etc. O mercado ainda não conseguiu absorver esta
produção que está nos armários e computadores de realizadores que veem seu
filme "morrer" depois do circuito de 2 anos de festivais.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
O curta-metragem não é um trampolim para se fazer um longa. Pode ser que
seja encarado assim por alguns realizadores, mas acredito que é preciso
entender o curta-metragem não só pela curta duração do filme, mas pelas
possibilidades de criação e experimentação do formato. A facilidade de
execução, pelo tamanho do projeto no âmbito orçamentário, de equipe e tempo,
entre o argumento e o filme pronto, tem muito a ver com a liberdade que é
encontrada no curta-metragem.
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não conheço a receita para vencer no audiovisual brasileiro, nem sei se
existe uma receita, porque cada um tem um planejamento para sua carreira. Hoje
temos um mercado cruel que valoriza apenas a arrecadação e desempenho de
público de um filme, com dirigentes de órgãos públicos que de uma forma
extremamente preocupante se identificam com esta visão. Pessoas que pensam e
executam as políticas públicas de financiamento, não só de produção, que
procuram números e valores que não levam em conta o mercado dominado pelo
cinema comercial estrangeiro e nacional. Para vencer no audiovisual precisa-se
decidir qual ou quais dos caminhos seguir e atingir este objetivo não é fácil
em nenhum deles.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho alguns projetos de curtas-metragens que pretendo realizar em
breve, são duas ficções e um documentário, mas que precisariam de algum recurso
financeiro, porque foram pensados com essa estrutura. Continuo (re)tentando
editais e tomara que rolem logo!