sexta-feira, 3 de abril de 2015

Rafael Saar


Cineasta. Fez assistência de direção de ‘Olho Nu’, documentário de Joel Pizzini sobre Ney Matogrosso. Dirigiu o filme ‘Yorimatã’.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Os curtas-metragens que realizei até hoje foram todos além de dirigidos, montados, produzidos e com roteiro de minha autoria, em alguns casos com parceiros que dividiram estas funções comigo. Foi um caminho sem volta, porque foi um trabalho desencadeando no outro, o que acabou me privando de aceitar propostas, por exemplo, de dirigir o roteiro de outra pessoa, ou de escrever para outro realizador. Mas dentro dos trabalhos que realizei talvez seja possível desenhar como um tema, ou personagem foi saindo de um projeto e atravessando o seguinte.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Comecei cinema na universidade, sempre trabalhando em curtas-metragens, de amigos e meus. Fiz muitos e nos meus filmes sempre procurei me testar de forma diferente. Nas equipes, temas, linguagens, sempre busquei fugir dos formatos que eu mesmo havia seguido no projeto anterior. Acho que estes curtas permitiram essa experimentação e amadurecimento estético que eu não encontraria de outra forma, a não ser fazendo e mostrando meu trabalho, principalmente nos festivais.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O curta-metragem ainda é entendido como um exercício e não tem valor comercial ou publicitário, que é o que move a mídia e espaços no circuito de exibição em TV ou salas de cinema. Um realizador que decida fazer somente curtas-metragens não sobrevive, não paga suas contas, senão tiver outra atividade que banque suas "brincadeiras". Enquanto não for entendido como um trabalho profissional, que precisa ser realizado, exibido e discutido, teremos um silêncio geral de público e mídia sobre o curta-metragem.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
O curta-metragem é um formato perfeito para o sistema, hoje. Com uma demanda crescente de produção audiovisual para TV e principalmente Internet, existe uma produção de altíssima qualidade, em muita quantidade, e com possibilidades infinitas de programação dentro de grades, seja pela temática, pela duração, pelo baixo custo etc. O mercado ainda não conseguiu absorver esta produção que está nos armários e computadores de realizadores que veem seu filme "morrer" depois do circuito de 2 anos de festivais.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
O curta-metragem não é um trampolim para se fazer um longa. Pode ser que seja encarado assim por alguns realizadores, mas acredito que é preciso entender o curta-metragem não só pela curta duração do filme, mas pelas possibilidades de criação e experimentação do formato. A facilidade de execução, pelo tamanho do projeto no âmbito orçamentário, de equipe e tempo, entre o argumento e o filme pronto, tem muito a ver com a liberdade que é encontrada no curta-metragem.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não conheço a receita para vencer no audiovisual brasileiro, nem sei se existe uma receita, porque cada um tem um planejamento para sua carreira. Hoje temos um mercado cruel que valoriza apenas a arrecadação e desempenho de público de um filme, com dirigentes de órgãos públicos que de uma forma extremamente preocupante se identificam com esta visão. Pessoas que pensam e executam as políticas públicas de financiamento, não só de produção, que procuram números e valores que não levam em conta o mercado dominado pelo cinema comercial estrangeiro e nacional. Para vencer no audiovisual precisa-se decidir qual ou quais dos caminhos seguir e atingir este objetivo não é fácil em nenhum deles.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho alguns projetos de curtas-metragens que pretendo realizar em breve, são duas ficções e um documentário, mas que precisariam de algum recurso financeiro, porque foram pensados com essa estrutura. Continuo (re)tentando editais e tomara que rolem logo!