quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fernanda D'Umbra

Fernanda já fez mais de 40 peças com o grupo ‘Cemitério de Automóveis’, uma das mais underground e ovacionadas do teatro brasileiro contemporâneo , é conhecida pela influência da literatura beatnik, dos quadrinhos, do cinema e do blues.

Fernanda, você que é uma atriz de teatro, o que você acha que o teatro pode ajudar no cinema especificamente no curta-metragem?
Eu acho que o ator de teatro é um cara que aprende a interpretar porque ele tem que saber mesmo, a linguagem de teatro depende muito dele. A gente não tem os recursos que nos favorecem, como tem no cinema e na TV, que é uma edição, que é uma câmera que vem te ajudar, no teatro a gente tem que aprender a ser bom quase que sozinho ali, então um ator de teatro via de regra é um ator que sabe interpretar, o que ele precisa quando vai para o cinema de curta-metragem, é conseguir adaptar aquele saber que ele tem da interpretação para aquela linguagem e jogar com ela, porque ao mesmo tempo que o cinema te favorece, porque ele te dá os recursos que o teatro não tem, ele também pode te passar a perna porque tem que também saber lidar com esses recursos. No quesito interpretação eu acho que o ator de teatro tem muito a oferecer para o cinema, curta, média e longa-metragem.

E você pensa, por exemplo, em enveredar para essa área? Por que eu sei que o Ivan Cabral já fez curtas, o pessoal do Sátyros, tem essa vontade de experimentar, de contestar o que está por aí dessa linguagem cinematográfica.
Olha, depois que eu comecei a fazer TV, que eu estou fazendo agora uma série na GNT, muito me interessava por esse assunto câmera, e ele começou a mexer com meu imaginário, se eu disser que já tive idéia de fazer um curta, é mentira, nunca tive, mas agora eu posso te dizer que eu devo vir a ter interesse em enveredar por aí, porque as tecnologias estão mais fáceis, o acesso está mais fácil e a gente vai acabar fazendo alguma besteira uma hora ou outra.

Você falou de tecnologia, tanto do celular que dá para gravar curta, câmeras digitais, tem uma proliferação muito grande. O que você acha que uma pessoa tem que fazer para diferenciar um trabalho, fazer um trabalho bacana, nessa avalanche de curtas que tem por aí?
Se o cara quer ser diferente tem que ser bom, e ser bom significa ter um certo talento para a coisa, não é o equipamento que faz o bom cineasta, é a cabeça dele, é o que ele tem lá dentro, é o que ele quer mostrar do jeito que ele quer mostrar. Então o que eu acho que vai diferenciar no final das contas, como o acesso está fácil, todo mundo vai sair fazendo, o que vai diferenciar é a cabeça de quem tá com aquele negócio na mão.

Qual é o grande barato de um curta?
È de contar de maneira sucinta uma boa história, eu gosto de história, eu acho a coisa da linguagem pela linguagem bem sacal, mas também pode ser que seja até uma limitação minha estética, não estou aqui me colocando, estou assumindo até uma possível limitação, mas um curta que me conte uma boa história eu acho bem bacana.

O curta tem um poder de síntese muito grande, você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem? O teatro geralmente é de 50 minutos para cima, se pudesse ser filmado, nunca seria um curta, você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo?
Acho que dá, dá para você fazer isso de várias formas, dá para você fazer isso no roteiro, na montagem, e eu acho que dá sim, acho que dá fácil para contar uma história curta.

Você também é autora, interpreta e tudo mais, você acha que poderia escrever, e produzir, dirigir um curta, já que você me falou que pode vir a ter essa idéia no futuro? Se tivesse agora uma idéia que tivesse que fazer um curta agora, qual o curta que você faria?
Idéia de um curta agora, eu acho que eu faria uma curta sobre uma pessoa que abandona todas as tecnologias e tenta continuar vivendo na cidade grande assim, sem celular, sem internet, pelo menos por um tempo e ver o que acontece na vida dela, é uma experiência que eu estou tentando fazer comigo agora, mas na verdade você me pegou de surpresa, eu não sei que idéia teria, agora eu acho que eu não teria problema nenhum em escrever e dirigir se eu conseguisse alguém para fazer uma direção de fotografia comigo, e fazer uma parceria ai comigo, resta saber se eu vou achar esse alguém, se eu achar eu vou fazer sim.