quinta-feira, 1 de março de 2018

Os Trapalhões: Paulo Reis


Paulo Reis
Ator


Você atuou no filme A Princesa Xuxa e Os Trapalhões. Como e por quem recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a experiência?
Fui convidado pelo Cacá Diniz, produtor do filme, com quem eu já trabalhara em duas produções anteriores. E a experiência foi inesquecível.

Que representou para você trabalhar numa produção estrelada pelos Trapalhões, que eram fenômenos de bilheteria?
Embora eu não participasse da bilheteria, foi uma delícia, devido à repercussão junto ao público, que dura até hoje.

Quais as suas principais lembranças dessa produção?
A principal é a de conhecer e contracenar com Os Trapalhões, coisa que me rendeu convites para inúmeras participações nos programas deles na TV Globo.

Talvez a Xuxa, que foi modelo, não se incomodasse, mas as roupas eram, de certo modo, difíceis de vestir, não é?
A figurinista Yurika Yamasaki realizou um trabalho maravilhoso. Mas estava fazendo muito calor no Rio, e eu reconheço que sofri um pouco.

Ratan, seu personagem, é certamente um dos maiores vilões de todos os tempos da filmografia dos Trapalhões. Como compôs a sua personagem?
Procurei me inspirar nos vilões clássicos da Ficção Científica norte-americana, para evitar uma caricatura muito acentuada e dar algum charme ao personagem, que afinal queria viver um romance com a Xuxa.

As crianças, quando o filme foi lançado, o reconheciam na rua e se assustavam com você?
Não. Na verdade, isso só foi acontecer bem mais tarde, quando meus cabelos ficaram grisalhos como no filme, que, se não me engano, foi campeão de vendagem em termos de cópias em vídeo, fazendo com que as crianças passassem anos vendo e revendo a coreografia dos chicotes eletrônicos de Ratan. Algumas, hoje já crescidas, sabem de cor e de vez em quando me mostram.

Como foi o seu contato com Os Trapalhões?
Ótimo, embora estritamente profissional. Infelizmente, não convivemos mais, talvez por naquele momento pertencermos a universos artísticos bastante distintos. Acho que hoje em dia as coisas seriam bem diferentes e mais proveitosas para mim.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Sim, porque eu também sou assim. De modo que tenho boas lembranças do set de filmagem.

Onde ficava realmente o planeta Antar? Onde foi filmado?
Nos estúdios da Ponto Filmes, na zona portuária do Rio; nos estúdio Gabinal, em Jacarepaguá; e em um enorme areal na Barra da Tijuca... Daí, o calor inclemente!

O quarteto, ao lado da Xuxa, eram os maiores chamarizes, naquele momento, para uma produção cinematográfica (sucesso de público entre as crianças, carisma etc.). Isso acabou acontecendo, já que a bilheteria foi de mais de quatro milhões de espectadores (4.310.000). Qual a sua análise, hoje, dessa combinação entre Xuxa e Os Trapalhões?
Deveria ser repetida o quanto antes... Até hoje, sonho com o retorno de Ratan!

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo? Ele participava da escolha do elenco?
Tenho a impressão de que talvez o Renato fosse mais perfeccionista na televisão do que no cinema, porque não tenho nenhuma lembrança desse tipo de atitude por parte dele no filme, mas tenho nos programas de tevê.

Quais as lembranças da direção do cineasta José Alvarenga Júnior, nessa produção?
Se não me engano, o Zé estava começando a dirigir nessa época; mas já mostrava a extrema competência aliada à doce gentileza que sempre caracterizaram seu trabalho.

Na sua opinião, qual era o maior ator do quarteto?
Renato, sem dúvida alguma.

E o maior humorista?
Essa pergunta é impossível de ser respondida. Porque eles tinham estilos distintos, mas todos eram excelentes no que faziam.

A história tinha características futuristas, ocorre em outro planeta, em pleno espaço sideral. Num planeta chamado Antar. A produção foi ousada. Ela, de alguma forma, foi pensada em se basear em filmes como De Volta para o Futuro, que fazia sucesso na época?
Não tenho certeza disso, mas pode ser. A Ficção Científica estava em voga naquela época, com muitos filmes de sucesso, como Blade Runner ou Star Wars.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Lamentavelmente, os críticos e acadêmicos sempre rejeitaram e continuarão rejeitando tudo que é popular. Felizmente, parodiando o grande Mario Quintana, “eles passarão, nós passarinhos”.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Influenciado pelas maravilhosas comédias da Atlântida, que garantiram uma fase de ouro no cinema nacional... Em uma palavra: delicioso!

Gostaria de saber quais as recordações que você possui de um personagem que era considerado o quinto Trapalhão: Tião Macalé.
Infelizmente, menos do que eu gostaria de ter, porque convivemos muito pouco.

Para finalizar, gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular durante a produção desse filme.
Por razões de foro íntimo, prefiro não comentar.


Os Trapalhões: Paulo Souza


Paulo Souza
Gaffer de fotografia


Você trabalhou como gaffer de fotografia no filme Os Trapalhões e o Rei do Futebol. Como e em que circunstância recebeu o convite para trabalhar nesse filme? Como foi a experiência?
Nesse filme, eu não fui o gaffer. Fui chamado pelo produtor do filme, Caíque Ferreira, para fazer as filmagens do Maracanã, já que era um set enorme e precisava de várias equipes de eletricistas.

Braço direito do diretor de fotografia no set de filmagem, o gaffer é uma função pouco conhecida para quem não está envolvido diretamente com cinema. Pode nos contar o que ele faz exatamente?
No Brasil, a função gaffer começou basicamente comigo. Até então, chamavase chefe de elétrica. Na década de 1980, fiz vários filmes estrangeiros e vi que tinha essa função, que era a que eu exercia no Brasil. A diferença é que o gaffer é como um diretor de fotografia assistente. Ele ajuda no conceito, entende de colorimetria, fotometria, lidera toda a equipe de eletricistas e maquinistas, gelatinas, distribuição de energia elétrica no set.

Falando especificamente do filme Os Trapalhões e o Rei do Futebol. Foi um desafio para você o número excessivo de externas? Como foi trabalhar nas cenas iniciais (partida de futebol num campo de várzea) e nas finais (no Estádio do Maracanã)?
Posso falar da parte do Maracanã. Foi muito trabalhoso. Era tudo muito longe. E, como filmamos à noite e não tínhamos os recursos de hoje, “mundo digital”, tinha que iluminar quase todo o estádio.

Os Trapalhões e o Rei do Futebol foi o último filme dirigido por Carlos Manga. Gostaria que falasse a respeito dele.
Não tive muita intimidade com o Manga. Fiz uns comerciais para a Tigre, aqueles com o inspetor Ted Tigre. Eu era muito amigo da assistente de direção dele, Marcia Burg, já falecida. Teve um episódio muito engraçado no primeiro dia no Maracanã. Estávamos nos preparando para filmar, e as coisas começaram a dar errado em alguns departamentos no set. Ele parou a filmagem e chamou toda a equipe no meio do campo e falou: “Vocês estão bons é para trabalhar com polaroid.”

Nessa produção, destaque para dois não-atores: Luiza Brunet e Pelé. Qual a sua avaliação deles no desenvolvimento do filme?
Eu já havia trabalhado com o Pelé em um filme que ele mesmo produziu: Pedro Mico. Com todo o respeito, ele como ator foi um ótimo jogador. Quanto à Luiza Brunet... Trabalhei com ela em um curta-metragem: S. O. S. Brunet!. Nesse tipo de filmes, não precisava ser ator; bastava fazer sucesso na mídia.

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
A equipe não tinha essa visão. 99% eram freelances.

Seu último filme com Os Trapalhões é também o último filme deles com a sua formação tradicional: Uma Escola Atrapalhada. Como surgiu a oportunidade de trabalhar nesse filme?
Na época, eu já era um dos melhores gaffers do Brasil e tinha muitos amigos que iriam fazer o filme e eles me perguntaram se eu estava afim de fazer. Fiz e adorei. O diretor de fotografia, Walter Carvalho, eu já conhecia há muito tempo, desde 1983, quando ele foi câmera em Quilombo, filme dirigido por Cacá Diegues.

Quais as suas lembranças do filme Uma Escola Atrapalhada?
Foi muito divertido fazer. Acho que não tenho nenhuma lembrança específica, com exceção de uma cena em que quase morreram os quatro. Foi assim: a galera dos efeitos especiais pediu para o produtor Caíque Ferreira vinte e cinco litros de gasolina, porque tinha uma cena de explosão do carro. E o Caíque disse: “Nem pensar. Vou dar apenas cinco.” Assim foi feito. Fomos filmar. O carro estava estacionado, e os quatro passavam por trás. Quando se acionou o botão do explosivo, foi um cogumelo de fogo que lambeu tudo e Os Trapalhões foram parar longe e por pouco não viraram churrasquinho.

Como foi trabalhar com Del Rangel, que dirigiu esse filme?
O Del é um cara muito bacana. Gosto muito dele. É um exemplo de profissional e amigo.

O filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta. Como foi o seu contato com ele? Ele já estava doente?
Realmente, ele filmou pouco. Não tive muito contato com ele. Eu tinha mais contato com Renato e Dedé. Não percebi que o Zacarias estava com problemas. Ele fazia as cenas numa boa. Conversava com todo mundo.

O personagem de Zacarias, assim como os de Dedé Santana e Mussum, fizeram apenas uma breve aparição. A sensação é que pareciam figurantes no filme. Isso procede?
Não. Esse filme foi basicamente escrito para a Angélica e o grupo Polegar. Os Trapalhões fizeram uma participação.

Apesar do sucesso de bilheteria, o filme é considerado pela crítica o pior filme antes da morte de Zacarias. Qual é a sua opinião a respeito?
Acho que esse tipo de filme não tem essa de ser bom ou ruim. São filmes para dar dinheiro. São filmes comerciais. Veja pelo elenco: grupo Polegar, Gugu, Supla...

Quem era o maior comediante do grupo?
Renato e Mussum.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim. Esse é um dos motivos do grande sucesso dos Trapalhões.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Porque são os únicos que davam bilheteria. Acho que, às vezes, precisamos nos tocar que ainda somos um país com um nível muito grande de analfabetos e semianalfabetos, ou seja, povão! E povão quer é sorrir e não ficar vendo filme-cabeça.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Chaplim, Mazzaropi, Oscarito, Grande Otelo, Chico Anysio, Golias, Os Trapalhões... Para mim, estão todos no mesmo nível, em diferentes épocas.

Gostaria que falasse o que representou para você trabalhar com Os Trapalhões, que carregaram, por muito tempo, o cinema nacional nas costas.
Fiz Os Trapalhões e o Rei do Futebol, Uma Escola Atrapalhada, Didi, o Cupido Trapalhão. Fico muito feliz de ter participado de um pouco dessa escalada. Um grupo de artistas que fez o Brasil sorrir por muito tempo. Lembro quando morava em Minas, eu ainda criança, meus pais sentados em frente à televisão esperando a hora de começar o programa dos Trapalhões. Passaram-se os anos, e eu aqui com eles. Não é maravilhoso? E ainda sou amicíssimo do Paulinho Aragão, filho do Renato, que é um cara muito gente boa.

Os Trapalhões: Paulo Cursino


Paulo Cursino
Roteirista


Uma das maiores críticas a respeito do cinema dos Trapalhões é em relação ao roteiro dos filmes, sempre óbvios. Qual a sua opinião a respeito?
Acho que se trata de um comentário óbvio também. Os roteiros dos filmes dos Trapalhões eram perfeitamente adequados ao público que se destinava, tanto é que funcionavam e faziam sucesso. Costuma-se confundir o simples com o simplório, são duas coisas diferentes. A capacidade de comunicação, a universalidade das histórias, o humor brotando e funcionando em cada cena... parecem algo simples de se fazer, mas a maioria tenta fazer e falha. Os filmes dos Trapalhões funcionavam. A crítica brasileira nunca entendeu que nem sempre fazer o óbvio é simples e nem sempre fazer o simples resulta em algo óbvio.

Você acompanhava os lançamentos dos filmes? Gostava de assistir?
Eu fui fã dos filmes dos Trapalhões na infância e fiquei emocionado como um garoto, quando vi meu nome na tela grande associado a um filme de Renato Aragão. Devo ter assistido O Cupido Trapalhão umas cinco vezes só nos cinemas. Gostava de acompanhar e aprender como uma sala reagia às piadas. Acompanhar o lançamento e a exibição dos filmes era quase uma escola e sempre é uma experiência gratificante para mim.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Renato Aragão, na fase pós-Trapalhões?
Eu havia assinado contrato com a TV Globo para ser colaborador de novela, mas eu não tinha contato com nenhum autor. Na oficina de dramaturgia da casa, havia sido identificada a minha facilidade para escrever humor e indicaram-me para escrever especiais para a volta de Renato Aragão, após o final dos Trapalhões. Muita gente tinha dificuldade de escrever para o Renato, para o humor dele, com a esperteza do Didi. Eu, pelo contrário, tirei de letra. Emplaquei meu primeiro especial logo de cara. O Renato gostou do meu texto de primeira, e a admiração foi recíproca. Em pouco tempo, bem rápido mesmo, eu me tornei redator- final do programa e dos especiais dele. Devo muito ao Renato, pela confiança que ele depositou em mim. Ele me abriu muitas portas dentro da emissora, e aprendi ainda mais a escrever humor e a entender o público com ele.

O Trapalhão e a Luz Azul marcou o reencontro de Renato e Dedé Santana no cinema. Como foi pra você desenvolver esse trabalho.
Eu peguei O Trapalhão e a Luz Azul meio na fogueira, de última hora. Quem havia desenvolvido a sinopse foi o Walther Negrão. Por coincidência total, eu estava colaborando em uma novela dele na época, Vila Madalena. Quando Walther soube que eu escrevi especiais para o Renato, passou-me o filme na hora, disse para eu resolver algumas questões e tratar com as demandas dos produtores. Eu era muito inexperiente, mas tinha esse sonho de escrever para a tela grande. Foi uma experiência muito desgastante, com muitos telefonemas, discussões, atrasos de entrega, porque o filme tinha uma premissa bem problemática, cara, fantasiosa. A cada hora, surgia uma demanda diferente. Falando de forma clara: foi uma “roubada” ter aceitado o trabalho. O filme foi feito a toque de caixa. E o resultado não me agradou e nem ao público, tanto que não foi bem. Mas foi a minha estreia no cinema, e tenho bem claro que fiz o que pude ali. O importante naquele momento foi meu trabalho ter agradado, tanto que fui chamado para todos os próximos.

Uma das principais queixas em O Trapalhão e a Luz Azul é a respeito da participação de Dedé no filme. Muitos dizem que ele faz quase uma figuração no filme. Qual é a sua avaliação?
Esse foi um dos principais problemas da sinopse do filme fechada pelo Walther Negrão: não havia espaço para o Dedé Santana, não havia um personagem escrito para ele. Tentei vender a ideia de que o filme talvez pudesse ser uma aventura da dupla, mas fugia demais da encomenda e do que o Renato gostaria de fazer naquele momento. O Renato queria renovar sua imagem, abrir novas vertentes, tanto que ele queria vender a ideia do Trapalhão, não dos Trapalhões. Para ele, Trapalhões sempre foi e sempre seria apenas o quarteto. Lembremos que não fazia muito tempo que Zacarias e Mussum haviam partido. Havia no ar um desejo meio latente, não expresso, de desvincular sua imagem do grupo. Um recomeço. Porém, ao mesmo tempo, havia uma pequena encomenda para que Dedé participasse. Então, apenas encaixei de última hora o Dedé no papel de um dos vilões, o que foi inusitado e até mencionado na época, pois o Dedé fez bem, ele é um bom ator. Mas, ainda assim, não havia muita função para ele.

Em Didi, O Cupido Trapalhão, estranhamente Dedé Santana não participou. Qual o motivo?
No Cupido Trapalhão, a questão de se fazer um filme apenas com Didi, com algo bem distante do quarteto, se concretizou ainda mais. Era uma renovação completa. Renato já estava de volta com um programa semanal apenas seu na Globo: A Turma do Didi, do qual eu era o redator-final. E ele queria valorizar o elenco do programa. Tínhamos um bom ibope; e Renato havia alcançado uma certa segurança e autonomia ali, tanto que o filme funcionou muito bem também. Mas, ainda assim, Dedé Santana chegou a ser cogitado. Não havia espaço e resolvemos, dessa vez, em vez de criar algo na última hora, deixar de lado. Aprendemos com a experiência de A Luz Azul.

Nesse filme o elenco era composto por não-atores como o cantor Daniel e a apresentadora Jackeline Petkovic. Ao mesmo tempo, tinha mestres da atuação como Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho. Como fica a cabeça do roteirista com personagens/atores tão díspares assim?
Foi bem tranquilo. Os personagens estavam bem definidos; e, quando isso acontece, não tem erro. Daniel e Jackeline eram carismáticos e fizeram o dever de casa direito. Mauro Mendonça me surpreendeu, abraçando o humor e as piadas sem o menor pudor. Rosamaria outro show de descontração também. Já era fã dos dois, fiquei ainda mais. Gosto muito da participação do Aramis Trindade também. Ele criou um vilão bom, leve, na medida certa do filme.

Por que Didi, O Cupido Trapalhão foi o último grande sucesso de Renato Aragão no cinema?
Acho que foi pelo cuidado que tivemos em manter a essência da história original. Romeu e Julieta sempre funciona bem. Este é o meu maior orgulho: preservar a sequência, com humor, dos eventos da trama clássica. Procuramos explorar várias cenas e esquetes que Renato fazia bem, ele está bastante engraçado no papel de cupido e anjo atrapalhado. O elenco e as participações especiais também ajudaram: Jackeline estava linda; Daniel estava no auge; o musical da Kelly Key, também no auge, fazia a criançada dançar nas cadeiras. Tudo ali foi um grande acerto.

O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili foi uma clara tentativa de Renato para catapultar a carreira de sua filha, Lívian Aragão, no cinema. Por que não funcionou?
A minha participação no roteiro de O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili foi bem pequena. Na época, eu já não escrevia mais o programa do Renato. Eu era o redator- final do Sob Nova Direção na Globo, então não acompanhei de perto. Eu acho que o grande problema de O Cavaleiro foi o mesmo de A Luz Azul: ambientação de época. Acho muito difícil acertar filmes infanto-juvenis de época. Se pegarmos todos os grandes sucessos de Renato e Os Trapalhões no cinema, veremos que quase todos são contemporâneos ou se passam numa época indefinida. O próprio título com o “cavaleiro” e a “princesa”... tudo isso afasta, não combina muito com o Didi, na minha opinião. Se pegarmos todos os clássicos que Renato adaptou para o cinema, O Cinderelo, Os Mosqueteiros, As Minas do Rei Salomão, apesar de se inspirarem em histórias clássicas, todas se passavam em dias atuais. O pulo do gato para mim estava aí, mas acho que nem mesmo o Renato se deu conta disso. Mas, note, é apenas uma opinião.

Esse também foi seu último trabalho com Renato Aragão. Por quê?
Porque a tevê tomou todo o meu tempo naquela época. Eu fiquei quatro anos no ar com o Sob Nova Direção, um programa de ótima audiência no domingo à noite. A responsabilidade era grande, cheguei a comandar uma equipe de dez autores. Então, preferi dar um tempo em cinema e dedicar-me única e exclusivamente à tevê. Mas fui convidado a escrever praticamente todos os filmes depois de O Cupido. Sempre me interessava, mas não havia tempo.

Renato Aragão controla a feitura do roteiro? É dele a palavra final?
Sim, sempre. Mas Renato sempre foi muito generoso e respeitoso com o meu texto e o de vários outros colegas. Ele tem uma visão incrível de cena e de emoção em um texto. Sua capacidade de visualizar a piada, antecipar a reação do público... impressiona. Sempre foi um professor para mim.

Qual é o maior acerto num roteiro de Comédia? E o pior erro, aquele que se deve sempre evitar?
O principal acerto em um roteiro de Comédia está na definição do personagem principal e na clareza com que ele se apresenta ao público. História, trama, diálogos, tudo isso vem em segundo plano. Sem um bom personagem, você pode ter a melhor trama do mundo, a Comédia não funciona. E o pior erro é acreditar no poder da piada para salvar uma cena ou uma história. Uma boa piada pode salvar uma cena, ou duas, mas não mais de três. Abusar do recurso e contar apenas com o chiste, a gracinha, a piadinha... é afundar a Comédia e nunca resulta em um bom filme.

Você irá produzir a cinebiografia do Mussum. Por que decidiu fazer esse trabalho?
Sim, irei escrever e produzir. O Mussum sempre foi um dos meus cômicos preferidos, e eu sempre me interessei muito pela sua história. Ele era engraçado naturalmente, não precisava se esforçar muito para fazer rir, sustentou uma carreira inteira em cima de um personagem só e de um jeito de falar, algo que realmente impressiona. Seu domínio de palco era incrível. Ele dançava, cantava, contava piadas com a mesma competência. Sua carreira musical é bem interessante; e a sua personalidade, acima de tudo, é o que mais me interessa desenvolver e trabalhar. Eu sonhava há anos em fazer um filme sobre ele, mas nunca conseguia ver ninguém para o papel. Isso até eu trabalhar com o Aílton Graça em Até Que a Sorte nos Separe. Há um momento em especial em que Aílton agita as bochechas que ele ficou idêntico ao Mussum. No ato, falei para o diretor Roberto Santucci: “Achamos o cara para o papel.” Cheguei a conversar com o Aílton, que se animou e curtiu muito a ideia de fazer a vida do Mussum. Eu falei para ele que iria fazer um trabalho de pesquisa para começar o roteiro. Mas não comecei. O sucesso avassalador de Até Que a Sorte nos Separe me obrigou a escrever uma sequência e adiei o projeto. Foi então que surgiu o livro Mussum Forévis, do Juliano Barreto. A pesquisa toda estava lá. Compramos o direito no ato e fomos à luta. O roteiro ficará pronto no ano que vem, rodaremos no final de 2016. É o projeto pelo qual nutro mais carinho no momento.

Na sua opinião, ele foi o maior humorista do grupo?
Não. O maior humorista do grupo, o mais completo, sempre foi o Renato. Mas os quatro se complementavam de forma maravilhosa. Renato era mais técnico, mais preparado, mais inteligente em cena. Dedé sempre foi um dos melhores “escadas” da história da televisão brasileira. Ninguém sabia levantar uma piada como ele. Todos ali brilhavam, porque Dedé preparava o terreno. Ele é genial nisso. Zacarias tinha um tempo e uma graça própria, bem diferente dos outros três. E Mussum, na minha opinião, era o mais engraçado de todos. Impossível competir com ele. Você não precisava nem dar uma piada para ele. Bastava ele entrar em cena e soltar um “cacildis” que a plateia vinha abaixo. Ele era uma força da natureza.

Que pretende com esse trabalho?
Pretendo levar o espírito do Mussum para o filme, captar aquela graça natural dele. E, ao mesmo tempo, mostrar um lado pouco conhecido e explorado, que é o de músico. Também pretendo ir mais longe. Mussum sempre teve uma persona complexa: foi muito pobre, depois muito rico, foi um zé-ninguém, depois muito popular, abraçou a música, abandonou a música, amava fazer rir, mas também não gostava de ser apenas um palhaço. Quanto mais eu leio e converso com pessoas que trabalharam com ele, mais eu sinto a responsabilidade de tentar traduzir em poucas cenas, em um filme de no máximo duas horas, toda sua trajetória. É um personagem riquíssimo.

Carlos Kurt, Roberto Guiherme, Tião Macalé, Ted Boy Marinho, qual desses atores merece o devido reconhecimento pela sua importância na construção da identidade dos Trapalhões?
Todos eles tiveram seu valor e seu momento, ainda mais Ted Boy Marino. Mas acho que apenas Tião Macalé e Roberto Guilherme poderiam ser chamados de “quinto Trapalhão”, caso houvesse necessidade de mais um. Eles são reconhecidos e têm carinho semelhante do público, no imaginário do público. Eles fazem parte do universo do quarteto. Não é pouca coisa. São carreiras admiráveis.

Como você classifica o cinema feito pelos Trapalhões e o cinema feito pelo Renato Aragão pós-Trapalhões?
Os filmes do Renato pós-Trapalhões são mais irregulares, mas mais benfeitos tecnicamente e até mesmo os roteiros são melhores. Mas não dá pra negar que acho o cinema feito pelos Trapalhões quatro vezes mais engraçado. Creio que nem preciso dizer porquê.

Os Trapalhões: Paulo Aragão Neto


Paulo Aragão Neto
Diretor do programa, produtor de filmes


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Quando tinha seis anos de idade, meu pai (Renato) me chamou pela primeira vez para trabalhar com ele na TV Excelsior do Rio; desde então, venho, sempre que possível, trabalhando com ele, inclusive nos filmes dos Trapalhões e na última temporada de Os Trapalhões na TV Globo em 1995.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Acompanhava de perto. A princípio, ia assistir às filmagens; e, desde 1977, quando fui trabalhar na R. A. Produções, produzindo os filmes.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
O ambiente sempre foi muito descontraído. Lembro-me das brincadeiras constantes no set, que ajudavam a dar um clima mais ameno à rotina intensa das filmagens.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
As piadas eram constantes, tanto que resolvemos editar os improvisos como bloopers, nos créditos finais dos filmes.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
A proximidade era quase diária, inclusive nas celebrações nas casas de cada um deles. Mussum e Renato lançavam seu arsenal de pegadinhas um para o outro em bases constantes. O Mauro (Zacarias) era quieto; mas, quando soltava uma brincadeira era de morrer de rir. E o Dedé, assim como nos filmes, sempre foi o alvo das gozações. A gente ria muito!

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
O que me motivava muito era o ritmo de produção. Fazíamos dois filmes por ano. Portanto, sempre havia trabalho. E era gratificante fazer parte de uma indústria cinematográfica naquele momento do país.

Um dos cineastas com uma parceria mais longeva com Os Trapalhões foi o J. B. Tanko. Quais as lembranças que você tem dele?
O Tanko veio trazer a técnica europeia de cinematografia, o que foi enriquecedor para o conteúdo dos filmes. Era uma figura muito presente em todas as etapas.

Na sua opinião, quem era o maior comediante do grupo?
Difícil de responder. Porque, acima do talento individual, a sinergia do grupo reunido era algo extraordinário. Quando achavam uma brecha – e sempre achavam – para o improviso, os outros seguiam dali; e a comédia era rica na espontaneidade. E com maestria voltavam ao texto, sem que muitos percebessem que era um improviso.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim, desde a elaboração do argumento até o cartaz do filme, passando por cada etapa do processo.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Era um humor básico e simples, sem conteúdo intelectual ou político explícito. Os críticos se sentiam mais identificados com filmes mais intelectualizados ou políticos.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Humor popular. Cada um deles representava um segmento da base da pirâmide sociocultural brasileira.

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
Não é uma característica exclusiva deles. A televisão sempre se valeu desse recurso... no mundo todo. Mas era uma forma de explorar o imaginário de um povo (ou grande parte dele), cuja cultura se baseava na tevê e nos filmes, principalmente os norte-americanos.

Qual o legado histórico que o cinema dos Trapalhões deixaram para o país?
De que podemos construir uma indústria de entretenimento com base na experiência cultural brasileira. E a longevidade. Impressiona que Renato e Dedé estão se mantendo há quase cinquenta anos no mundo do entretenimento. Marcaram três ou quatro gerações com sua presença. E a coragem de investir em um segmento como o cinema, mídia que teve altos e baixos ao longo desse período.

Podemos considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do país?
Foi um produtor importante. Participou de quase cinquenta filmes, dos quais produziu ou coproduziu mais de trinta, com altos índices de audiência.

Acredita que, pela importância que o quarteto possui no cinema, há pouca bibliografia a respeito deles?
Estou certo de que os produtos biográficos vão começar a surgir, na medida em que despertar a curiosidade das novas gerações pelo grupo.

Por que os festivais de cinema no Brasil não mencionam, ainda hoje, o cinema feito pelos Trapalhões?
São raras as menções, mas existem. O mito Trapalhões vai ganhar força nesse meio, na proporção em que sua exposição se tornar mais rara.

Roberto Guilherme é um dos parceiros mais antigos dos Trapalhões. Está com o Renato até hoje; porém, participou pouco do cinema do quarteto. Qual a razão?
Entendo que o público de cinema queria ver o quarteto em ação, enquanto o da televisão aceitava melhor as participações de Roberto Guilherme, Tião Macalé, Wanderley Cardoso, Ivon Curi, Ted Boy Marino e outros. Não partia deles essa exigência, a audiência que elegia.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Num voo de Foz do Iguaçu a Manaus, durante as filmagens de Os Três Mosquiteiros Trapalhões, uma tempestade magnética obrigou o piloto a pousar em um aeroporto militar onde permaneceu por quase duas horas. Os passageiros ficaram inquietos, pois não podiam desembarcar; e o avião, por ordem dos militares, devia ficar com os motores desligados e não havia qualquer previsão de decolagem. Percebendo o clima de angústia, Mussum começou um samba. Logo, os demais Trapalhões foram se agregando e, enquanto a tempestade tropical durou, fizeram o show mais exclusivo que já houve em sua história. Quando o piloto anunciou a decolagem, os passageiros vieram cumprimentá-los. Inclusive, uma família que transportava o corpo de um parente falecido veio agradecer a eles pelos momentos de alegria no que poderia ser uma viagem trágica. Na verdade, eles eram um show ambulante e, por onde passavam (aviões, ônibus, hotéis e pequenas cidades), deixavam a marca da alegria e irreverência característica do grupo.

Os Trapalhões: Oswaldo Lioi


Oswaldo Lioi
Cenógrafo


Gostaria de saber como e em que circunstâncias surgiu o primeiro convite para trabalhar com o grupo.
Eu já tinha um encantamento pelo cinema, enquanto era aluno de Anísio Medeiros, grande diretor de arte de Macunaíma, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Lição de Amor etc.). Eu cursava Arquitetura e Cenografia; e ele foi o meu grande incentivador, fazendo a apresentação da primera exposição que fiz como artista plástico pela Funarte. Em seguida, depois de experimentar o Super-8 e Animação; conheci Tizuka Yamasaki na Cal, onde fizemos um clipe. E ela me indicou para Yurika Yamasaki, com quem tive o primeiro contato com longas (o Leila Diniz). E Yurika logo me convocou para o primeiro filme assinando.

Você trabalhou em diversas produções do grupo. É um dos poucos profissionais que possui longa parceria com o quarteto. Quais foram os filmes que mais o marcaram e por quê?
Com certeza, o primeiro: Os Fantasmas Trapalhões. Dirigido por um ícone do cinema brasileiro, J. B. Tanko, esse filme é um delicioso projeto, que ainda tem Zezé Macedo. Destaco também O Casamento dos Trapalhões e Os Trapalhões e a Luz Azul. Esses dois filmes marcaram pela complexidade das construções em estúdio: como a cidade tomada de neons e cores; e no Luz Azul, a grande caverna e a cidade cenográfica, possíveis com imensa pesquisa material e de soluções nascidas e desenvolvidas ali.

A que se deve essa longa trajetória com Os Trapalhões?
Vejo pelo gosto de trabalhos com e para crianças... E também pela longa parceria com Yurika Yamasaki.

Renato Aragão tem como cartacterística o perfeccionismo no seu trabalho. Ele acompanha todos os detalhes do filme. Como foi trabalhar com ele?
Sempre um prazer. Nada se compara a trabalhar com e para alguém que sabe como ninguém aonde quer chegar. Daí, a longevidade.

Como foi a sua relação de convivência com os quatro atores, durante os períodos de filmagem?
Inesquecíveis. Cada qual com seus personagens, eternos clowns... bem brasileiros e adoráveis, numa relação de extremo profissionalismo, seriamente palhaços.

Muito se fala que havia ciúmes entre Os Trapalhões. Chegou a detectar isso?
Não vejo dessa forma. O grupo cresceu. Chegaram a fazer filmes separados; mas voltaram a ficar juntos, depois. Sobrou a dupla Didi e Dedé, e os que se foram não puderam ser substituídos à altura.

Como era a convivência com a equipe (técnicos, atores etc.) fora do set de filmagem?
Bastante profissional na relação, como quaisquer atores/técnicos. O Mussum talvez fosse bem mais anárquico dentro e fora. Total harmonia.

Você mantinha contato com eles, após os trabalhos? Fez amizade com algum deles?
Normalmente, mesmo reencontrando fora, mantinha uma distância. Acho importante preservar esse espaço profissional.

Por que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Pelo mesmo motivo pelo qual, durante muito tempo, esses filmes e, em geral, todos aqueles feitos no Brasil para crianças, serem desconsiderados pelos festivais ou considerados descartáveis ou menores: preconceito tolo. E lembro bem de ter dificuldades nos anos 1980 de tirar o registro profissional no sindicato, por ter trabalhado em três filmes dos Trapalhões...

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Tenho o maior carinho por esse tipo de cinema. É um cinema único, do anti-herói- atrapalhado. Uma fatia difícil de se preencher com a frequência que tínhamos. Hoje, o mercado americano continua preenchendo a lacuna.

Qual o legado histórico que o cinema dos Trapalhões deixou para o país?
Acho bem difícil imaginar cinema no Brasil sem a Comédia, sem Mazzaropi, sem Zezé Macedo, sem Dercy Gonçalves, sem Didi Mocó e Dedé. Seria como não ter Macunaíma. Eles ainda são nossos maiores clowns. Sem eles, essa história não seria completa.

Podemos considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do país?
É ainda a maior longevidade de produção para criança, talvez única na frequência que teve. Difícil repetir essa saga.

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
A paródia aos clássicos é uma maneira deliciosa de fazer rir, sem medo, e não só no cinema. Em Barcelona, existe um Museu Picasso. Lá há somente pinturas de Pablo Picasso, parodiando os quadros clássicos e dos amigos, uma verdadeira aula de bom humor.

Os Trapalhões: Nonato Estrela


Nonato Estrela
Diretor de fotografia


Você trabalhou com Os Trapalhões em cinco filmes. Como e por quem recebeu o convite para trabalhar nesses filmes? Como foi a experiência?
Recebi o convite do diretor de fotografia Jorge Monclar. Eu era assistente de fotografía

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Um bom mercado de trabalho se apresentava. Além de ser muito divertido trabalhar com eles.

Como foi o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Eles me receberam muito bem, sempre com brincadeiras. O ambiente era ótimo. Afinal, eles faziam humor. Então, não tinha lugar para bode!

Como surgiram os outros convites para trabalhar com o quarteto?
A amizade foi se fortalecendo... e junto a confiança. Os convites foram se apresentando.

Quais as suas recordações desses trabalhos?
As melhores recordações possíveis. Eles eram meus heróis de infância. Muito agradável.

Em cinco produções com Os Trapalhões, você trabalhou com três diretores diferentes. Fato raro, não?
Acho que não. Como Os Trapalhões já me conheciam, ficou tudo mais fácil!

Em Os Fantasmas Trapalhões, o quarteto reeditou uma parceria de sucesso com o cineasta J. B.Tanko. Quais as lembranças de trabalho com esse diretor?
As melhores possíveis.

Esse filme foi o último de Tanko com Os Trapalhões. Como era a sintonia do quarteto com o diretor? Eles eram antes de tudo amigos?
Você perguntou e já respondeu: eles eram super amigos... Eu só assisti o que está consumado: amizade, amizade e amizade.

Os Fantasmas Trapalhões marcou certas rupturas na produção cinematográfica do quarteto. Em primeiro lugar, as filmagens passaram a ser feitas, em sua maioria, em um universo fechado, ou seja, em estúdio. Cenários e figurinos pré-fabricados se tornaram mais presentes, facilitando a produção. Isso foi proposital?
O Renato estava ficando cansado de tantas viagens. Afinal, eles faziam televisão também. Estúdio era mais confortável e perto de casa.

Os Trapalhões tinham também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Por esse motivo, tornou-se frequente a presença de personalidades da televisão, como, por exemplo, o grupo Dominó e Gugu Liberato. Isso era o melhor a fazer, pensando na visão de um exigente e diversificado público infanto-juvenil?
Eles queriam pegar outros públicos, e Gugu e tudo mais era uma nova chance de aumentar o público.

Quem era o maior comediante do grupo?
O melhor comediante do grupo dependia da piada. Todos eram bons.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Renato é perfeccionista em tudo. Nos filmes também!

A Princesa Xuxa e Os Trapalhões teve inspiração em Star Wars?
Claro que sim. Todo filme tinha algum conceito ...

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Críticos rejeitavam porque eram filmes comerciais, críticos não gostam de bilheteria.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Classifico os filmes deles como uma boa diversão e acabaram sendo considerados cult... Eles eram ótimos, inventaram personagens genuinamente brasileiros.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato que tenha presenciado como testemunha ocular.
Renato proibiu Mussum de beber no set. Então, Mussum botava sempre alguma coisa na coca-cola, com a cooperação do camareiro. E bebia feliz, e ninguém se chateava...

Os Trapalhões: Ney Fernandes


Ney Fernandes
Edição de som, assistente de montagem


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
O primeiro convite foi da Dominique Pâris, para fazer assistência de montagem.

Quem era Dominique Pâris?
Dominique Pâris é uma montadora francesa que morava no Brasil.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Sim. Os Trapalhões eram o grande sucesso de bilheteria, e todos queriam trabalhar com eles.

Os cachês de trabalho com Os Trapalhões eram maiores, iguais ou menores que os de outras produções em que você trabalhou?
O cachê era maior. Podia ser comparado com produção internacional.

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Representava o mesmo que trabalhar numa produção internacional.

Seu primeiro filme com Os Trapalhões não foi bem com Os Trapalhões. Você chegou em um momento conturbado da história do quarteto, quando eles se separaram. Você trabalhou com Renato Aragão em O Trapalhão na Arca de Noé, que teve direção de Del Rangel. Quais as suas principais recordações desse trabalho?
A recordação mais marcante era de muita correria, porque tínhamos que finalizar antes do filme da DeMuZa.

Todos na produção do filme O Trapalhão na Arca de Noé tinham a consciência da competição que havia com a DeMuZa? Como chegava essa informação até vocês?
Sim, porque estavam produzindo simultaneamente. As informações chegavam através do próprio meio de trabalho.

É verdade que Renato Aragão queria fazer de O Trapalhão na Arca de Noé o filme da sua vida, para mostrar ao Dedé, Mussum e Zacarias que poderia ter uma carreira no cinema sem eles?
Creio que sim.

Como era o clima no set de filmagem?
Sobre isso eu não posso falar, porque não era minha área de atuação. Mas na montagem e na edição de som o ambiente era muito bom.

O Renato marcava presença na montagem?
Quando era possível.

Havia a possibilidade de Sérgio Mallandro se tornar fixo na trupe dos TrapalhõesAventaram essa possibilidade?
Sim, o Sérgio Mallandro estava começando uma carreira de sucesso.

Logo depois, você voltou a trabalhar em um filme do Renato Aragão. Mas dessa vez com todos os integrantes. Foi em A Filha dos Trapalhões, com direção de Dedé Santana. Quais as lembranças que tem desse filme?
Era um ambiente bom, alegre. O Dedé é uma pessoa muito comunicativa e vibrava muito com o filme.

Em A Filha dos Trapalhões, você trabalhou como assistente de edição de som e assistente de montagem. Conte a respeito disso. Que faz um assistente de edição de som e de montagem?
O assistente organizava todo o copião. Escrevia em um caderno as sequências, planos e takes. Depois sincronizava o som (transcrito para magnético 17/5) com a imagem. Durante a montagem, guardava as sobras que estavam na banheira (lugar onde ficavam os cortes de imagem e som). Abria pista para som direto, dublagem, narração, música, ambientes, fx (efeitos) e fazia o mapa de mixagem.

Dedé Santana dirigiu esse filme. Como foi o processo de direção dele?
O Dedé fez uma direção talentosa e segura. Ele teve como assistente de direção Ari Fernandes, que tinha dirigido o seriado Vigilante Rodoviário.

Como foi trabalhar com Dedé Santana na montagem do filme A Filha dos TrapalhõesEle entendia do assunto?
Foi muito tranquilo, porque ele sabia o que queria. Ele entendia do assunto.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Acredito que sim, mas eu não participava das filmagens.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Meu contato maior foi com Dedé, porque ele foi o diretor de um dos filmes. E foi muito divertido. Quanto aos outros, meu contato era somente quando tinha dublagem e era um contato normal, profissional.

Quem era o maior comediante do grupo?
Mussum.

Seu último filme com Os Trapalhões foi em Os Trapalhões no Reino da Fantasia, também com direção de Dedé Santana. E dessa vez você fez a edição de som. Fale a respeito desse trabalho.
Foi meu primeiro trabalho como editor de som. Eu estava muito nervoso com a responsabilidade. Mas o Dedé me ajudou muito na concepção do som do filme. E, no final, deu tudo certo. E tornei-me um editor de som.

Por que esse foi seu último filme com Os Trapalhões?
Eu não estou bem certo se foi nessa época que eles passaram a ser produzidos por outras produtoras, que escolheram outros profissionais.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim, ele, na medida do possível, acompanhava a montagem e edição.

Você trabalhou em dezenas de filmes, com os maias variados cineastas e estilos, como Lúcia Murat, Paulo César Sarraceni , Cacá Diegues, Sérgio Bianchi, Walter Lima Júnior, David Neves, Leon Hirszman, para citar apenas alguns cineastas. O que Os Trapalhões têm de diferente e de comum com esses cineastas?
A responsabilidade é o fator igual para todos. A diferenciação está na forma de trabalhar. Com Os Trapalhões, tudo era muito divertido, além de sabermos que era sucesso garantido e ganhávamos muito bem.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Porque era considerado filme popular.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Um cinema alegre, divertido e popular.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
O futebol, que rolava aos sábados. Jogava o Renato, filhos, amigos e os funcionários da empresa.