quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Renato Tapajós

Além de escritor reconhecido, autor de obras como 'A infância acabou' e 'Em câmara lenta', Renato Tapajós dedica-se ao cinema. Paraense radicado em São Paulo, Tapajós lutou contra a repressão e a ditadura militar e, por isso, ficou preso durante cinco anos.

Qual é a sua relação com o curta-metragem?
Durante minha carreira fiz muitos curtas-metragens, talvez metade dos filmes que fiz foram curtas, principalmente em meus primeiros anos de trabalho. Depois, fiz muitos médias-metragens e alguns longas. Como sou documentarista, há uma determinação de mercado, em tempos mais recentes: a TV, de um modo geral trabalha com médias (por volta de 52 minutos) e os cinemas, com longas. O curta, que fica mais restrito ao circuito independente, perde espaço para as outras metragens no cinema profissional. Além disso, quando o cineasta, e isso é uma das coisas que aconteceu comigo, busca aprofundar seu discurso, vai acabar precisando de mais tempo cinematográfico.

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Claro que dá. É a mesma coisa na literatura, onde historias podem ser contadas em contos, às vezes em contos curtíssimos. Eu sempre digo que cada tema, cada assunto pede a forma (e o tempo) que precisam. Na verdade, não é o cineasta que define o tempo, e sim seu tema. Quando o cineasta não obedece ao tempo do filme, ele faz um filme ruim. Portanto, há muitos curtas ruins porque não deveriam ser curtas: são aqueles que chamamos de "longuinhas", ou seja, filmes que precisavam de um tempo maior para darem conta de seu tema, mas que são espremidos num tempo mínimo. A mesma coisa acontece quando o cineasta tenta fazer um longa de um tema de curta: fica um filme arrastado e chato. O bom curta é aquele que foi pensado, desde a definição de seu conteúdo, como curta. Que tem uma narrativa que leva para um desfecho rápido em pouco tempo. Geralmente tem algo de anedótico: uma historia que se fecha com um fim surpreendente, ou que desvenda a trama, ou que dá uma visão nova do assunto.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não creio que um cineasta profissional possa viver apenas de curtas. Não existe mercado, não existe produção significativa (editais são sempre baratos demais e captar para um curta é quase impossível) Por outro lado, o amadurecimento de um cineasta passa, necessariamente, por metragens maiores: os problemas são outros, novas questões são colocadas, é necessário desenvolver o domínio da linguagem. Pode até vir a fazer curtas depois - mas ficar só no curta é limitador.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Tem grande importância histórica. Primeiro, como sobrevivência de um cinema brasileiro de qualidade nas décadas de 30 a 50, quando a produção de longa estava dominada pela chanchada. Segundo, como instrumento de pesquisa, principalmente nos anos 60, para o que viria a ser o Cinema Novo. O filme fundador do Cinema Novo (Aruanda, de Jurandir Noronha) é um curta metragem. Terceiro, como laboratório para os cineastas mais importantes do nosso cinema. De Glauber Rocha a Fernando Meirelles, todos fizeram curtas. Ainda hoje, quando a produção do curta cresce, mesmo sem dispor de um circuito decente para circular, ele é um laboratório de experimentação de linguagem.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acredito nisso. Como já disse acima, o curta não tem mercado. Mas os cineastas, de um modo geral, respeitam curta por causa de todos os motivos que expus na resposta anterior. Além disso, atenção: pode ser que se abra um mercado para o curta com a expansão dos sistemas integrados de telecomunicações. Por exemplo, curtas para serem baixados em celular. Essa é uma possibilidade real para um futuro não muito distante.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não tenho pensado nisso. Em minha produtora há vários curtas já realizados ou em realização, mas todos dirigidos por pessoas que trabalham aqui, não por mim. Meus projetos, na verdade, não cabem em curtas. Mas, dependendo do desenvolvimento do mercado, quem sabe.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Suzana Amaral

Sua estréia como diretora se deu em 1971 com o curta “Sua Majestade Piolim” sobre o famoso palhaço e suas ligações com o teatro popular. Em 1985, Suzana Amaral estréia em longas de forma arrasadora na bela adaptação cinematográfica do livro homônimo de Clarice Lispector, “A Hora da Estrela".


Qual é a sua relação com o curta-metragem?
Atualmente não tenho nenhuma relação com os curtas a não ser através das aulas e dos projetos dos meus alunos...

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Contar um fato, um evento ou uma estória bem simples é possível num curta-metragem.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que o curta é um meio para um fim...Funciona como uma escola e ou um aprendizado onde é possível errar sem grandes conseqüências nem compromissos.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Histórica..????????.Todo cineasta teve suas experiências primeiras nos curtas... Estes não são nunca lembrados como realizações a não ser que se opte apenas por curtas... Assim historicamente já tivemos na época do ‘Categoria Especial’ alguns curtas excepcionais. Mas foram raros. Não ha canais de exibição que motivem os espectadores a freqüentar os curtas.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
É um meio para um fim... uma escola... nunca um objetivo e ou uma opção profissional.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já tive meu tempo de curtas (fiz uns 8) .Também tive meu tempo de documentarista. Fiz uns 55 documentários, fiz vários e muitos para a TV Cultura (trabalhei lá uns 18 anos) Ganhei inclusive um premio no Festival de Brasília: melhor documentário e também no Festival de Oberhausen. Alem de ter ido a vários festivais no exterior com meus documentários, sem contar os institucionais.

De forma alguma penso em dirigir curtas no futuro..........porque e para quem??????

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Hora do Curta

Programação que elaborei no Sesc Santo André. Cartaz foi feito pelo Samuel Casal.

O projeto ‘Hora do Curta’ tinha como escopo, trazer ao público novas linguagens contemporâneas da Internet e cinema. Os filmes eram exibidos na Sala da Internet Livre, sem interferir na programação da Sala: o espaço da sala tornava-se de múltiplo uso e as atividades da sala prosseguiam ao mesmo tempo em que havia projeção de cinema. Deste modo criava-se uma atmosfera cultural abrangente.

Em 18 meses de projeto, foram exibidos 132 filmes de animação, documentários, ficção e trabalhos conceituais ou experimentais.

Pelo projeto passaram:

- Festival de Vídeo de São Carlos
- Academia Internacional de Cinema de São Paulo
- FLUXUS - Festival Internacional de Cinema na Internet
- Clássicos do Porta Curtas
- Cactos Intactos (Guerrilha Cultural do Rio de Janeiro)
- Cinema de Fernando Sabino e David Neves

A escolha por este projeto não se ateve apenas ao conteúdo dos curtas, mas pelos méritos de seus roteiros, os quais têm em suas produções um histórico abrangente, que inclui estudo de temas como estilo, desenvolvimento de personagens, manobras ecléticas de roteiro e literatura, o que permite um resultado tão avançado quanto o de mega-produções.
Os curtas contêm a essencialidade de relatar uma história com detalhes, indiferente do seu tempo restrito. Todos os trabalhos trazem conteúdos com estilos e estruturas narrativas que são normalmente usadas no melhor do mercado cinematográfico.Nossa finalidade é a de difundir a cultura. Desta maneira, a formação do público que participava das atividades e migravam para outros espaços da unidade, como teatro, shows, exposições entre outros, era o resultado do investimento cultural que vem em virtude deste projeto.

Os participantes constroem um repertório amplo e adquirem uma visão mais critica dos filmes e, principalmente, da cultura de um modo geral.O projeto ‘Hora do Curta’ foi uma iniciativa para valorizar o curta brasileiro, reafirmando o gênero como expressão cultural, técnica e estética.

Guilherme de Almeida Prado

Diretor formado na prática, na Boca do Lixo, em São Paulo, onde foi assistente de direção de diversos filmes de cineastas como Ody Fraga, David Cardoso e Luiz Castellini.

Em 1995 dirigiu o curta-metragem "Glaura".


Tendo atuado no cinema, tanto em longa quanto em curta-metragem, qual é o paralelo que você localiza nestas duas frentes?
A principal vantagem do curta-metragem é a liberdade que se tem para experimentar e criar. Devia existir muito mais financiamento à fundo perdido para experimentação e criação em curta-metragem. O curta-metragem devia ser a ponta de lança dos filmes de risco.

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Dizem que a única diferença entre um curta e um longa é que num curta você tem que vencer por nocaute e num longa você pode vencer por pontos.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Existem cineastas apenas de curta, mas são exceções. Não existem fontes de financiamento para um cineasta se manter como curta-metragista a vida toda, pelo menos no Brasil. Acho importante o curta como um dos possíveis trampolins para os longas.

Conte como foi filmar "GLAURA", seu processo de criação, produção e direção.
Glaura nasceu como episódio de um longa e acho que foi um dos meus filmes mais fáceis de fazer e criar. Tive imenso prazer em fazer este filme e foi um de meus maiores sucessos. Tive a idéia e escrevi o roteiro em menos de 10 horas e filmei num fim de semana com um elenco e uma equipe feita apenas de amigos. Acho que nunca quis fazer outro curta porque acho difícil conseguir repetir uma experiência tão feliz.

Pensa em fazer novamente um curta-metragem?
Não vejo sentido e voltar a fazer curtas, a não ser como parte de um projeto maior.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O espaço para artes em geral diminuiu ou se dividiu muito na mídia de jornal. Não acho que isso seja importante para o curta. O curta tem que ser de vanguarda e não existe espaço para cinema de vanguarda na mídia tradicional. A internet acredito que tem sido um novo veículo de vanguarda que precisa ser melhor explorado.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta foi e é importante em vários momentos cruciais da história do cinema brasileiro. No início do Cinema Novo, na renovação dos anos 80 e agora que enfrentamos o desafio de criar um cinema brasileiro para o século XXI, com a influencia de novas linguagens como o vídeo game e a internet.

Gero Camilo

Um dos atores mais freqüentes das telas nacionais, Gero canta, dança, dirige, produz e interpreta.

Dá pra contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Eu acho que dá porque a metáfora já é um mote para a história e a metáfora as vezes é uma palavra desde que tenha significante necessário dela em comunhão com o tempo, com a claridade e é isso que faz com que essa metáfora seja direta, então ela pode ser pequena ela pode ser enxuta necessariamente você não precisa fazer um longa-metragem pra você... tocar e dar a mensagem que você quer dar, você precisa de uma fotografia viva e um número de quadros necessários para que essa fotografia exista nessa comunicação artística que você quer com o espectador vai do teu ato criativo isso não é o tempo que determina é a obra que determina, ou seja, é a inspiração... claro que existe um molde, existe um gênero e nós sofremos muito isso, uma enxurralhada de gêneros nesse milênio então parece que tudo foi feito e nós resta o grande caos, a grande oficina dos gêneros, dos métodos já prontos, como dinamizar esses métodos, recriar, como fazer que o seu filme possa ser aceito sem ter o tempo de duração exigido por qualquer festival que seja? Você quanto cineasta vai ter a tua liberdade de expressar a sua obra pelo tempo que ela tem para existir não pelo molde que ela tem que se formar para existir quanto cinema.

Há diferença na preparação do ator para atuar num curta-metragem comparando-se na preparação quando você vai atuar no teatro, longa-metragem...
Tudo vai da necessidade da obra, a obra vai pedir, que vai exigir o tempo a se dedicar a ela... por exemplo... o nosso grupo a ‘Fuleragem Filmes’ nós já temos quatro curtas filmados e cada um tem o seu tempo de formação e todos... na verdade são três curtas e o outro é quase uma pílula que a gente chama... são as memórias para jogar no YouTube para criar outros caminhos da própria fotografia, do próprio cinema atual, moderno... os nossos curtas foram muito bem preparados, muito bem ensaiados. Nosso grupo pesquisa o digital e interessa pesquisar o digital e interessa pesquisar o teatro contemporâneo, ou seja, ele é o encontro de intenções diretas sobre estéticas e pra mim não interessa muito filmar o teatro de hoje num encontro com uma linguagem digital porque isso aproxima o próprio cinema de uma origem dele, ou seja, o cinema deixa de ter esse peso, essa estrutura e pode ser diluído no que é mais necessário que é na verdade a mensagem, o que você quer fazer com o cinema, o que você quer fotografar, e isso é muitas vezes é um trabalho... pode ser resumido num trabalho de ator com o olhar...

Qual é o grande barato do curta-metragem?
É... a possibilidade de transgredir... dele conseguir no próprio curta ele alimentar a fome de uma massa muito acostumada com um modelo, com um molde de cinema estabelecido há muito tempo mas que está precisando se refazer, se reformar na comunicação direta com o público desse tempo de 2007 e essa é a dificuldade e o curta ajuda, no sentido que quando bem feito, você pode compreender, você pode se alimentar por ele tanto quanto você se alimentaria no filme de três horas e meia.

Elias Andreato

Ator e diretor. Como intérprete, transita com desenvoltura nos variados estilos da cena contemporânea, destacando-se nas atuações em personagens densas e angustiadas, comprometidas com o ato de viver. Como diretor, distingue-se sobretudo nas comédias, buscando efeitos de leveza e entretenimento.
No cinema participa de algumas produções, com destaque para Sábado, Os Boleiros e O Príncipe, todos de Ugo Giorgetti.

O senhor é um espectador de curta-metragem?
É muito difícil a gente assistir curta-metragem mesmo porque só em sessão especial, no MIS (Museu da Imagem e do Som) o cinema antigamente, antes dos filmes de longa-metragem passava curta, hoje em dia não sei se passa, faz tanto tempo que não vou ao cinema, mas me lembro que assisti muito curta e fiz muito curta, em cinema a minha carreira é muito pequena mas fiz muito curta-metragem.

Qual é o curta nacional que mais te chamou a atenção?
Olha, um curta que eu fiz... eu fiz a muito tempo e não tinha visto ainda e fiquei muito impressionado que se chama ‘O Pai’. Eu fiquei muito impressionado porque eu resolvi fazer esse curta, o roteiro é muito bacana, muito interessante, é um trabalho de término da ECA (Escola de Comunicação e Arte) e quando eu vi o resultado eu fiquei super surpreso assim... como ficou bacana... mas é muito difícil você assistir a um curta-metragem a linguagem é bacana... tem um curta que eu fiz com o Caco Ciocler que estamos um ano sem conseguir terminar, mas o problema é que não tem aonde assistir a não ser que se tenha uma sessão especial, uma mostra, fora isso não tem aonde assistir curta-metragem.

Você acha que dá para contar uma história em poucos minutos?
Dá, o grande barato do curta-metragem é exatamente isso, a síntese. Tem roteiros deslumbrantes, maravilhosos, que em questão de segundos você entende a história, entende esses personagens e eles ficam ricos com tão poucas palavras, as vezes eu acho que é um exercício para a direção maravilhoso porque se o cara consegue contar uma história num curta-metragem, se ele for se exercitar muito nessa linguagem, quando ele chegar num longa ele está mais do que descolado.

Helena Ignês

Entrevista feita pessoalmente com Helena Ignês no dia 26 de Fevereiro de 2007. Foi a primeira sonora deste projeto.

A atriz é um ícone do Cinema Marginal tão importante quanto os demais pioneiros do movimento. Helena Ignez criou um estilo de atuar, com força e grande presença na tela.

Tendo atuado no cinema, tanto em longa quanto em curta-metragem, qual é o paralelo que você localiza nestas duas frentes?
A diferença de linguagem que é induzida pela própria metragem e... essa é a diferença fundamental, a qualidade deverá ser a mesma tanto no curta quanto no longa e acredito que para o ‘cinema-indústria’ deve existir uma diferença abismal... que não é a minha... porque o curta-metragem tem poucos lugares de exibição, ele é pouco visto, pouco difundido... então ele é injustamente relegado dentro deste aspecto no cinema.

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Em trinta minutos? Acredito que sim... agora mesmo no caso do Joel Pizzini que fez o ‘Helena Zero’, que ele fez dentro de um tempo de programa de televisão, que é de vinte e sete, trinta minutos... e o filme é completo, maravilhoso... só que em curta-metragem.

Quais os curtas do Rogério Sganzerla que a senhora mais preza?
Tem inúmeros, tem um extraordinário chamado ‘Petróleo jorrou na Bahia’ que é um ponto fundamental no nosso trabalho de restauração do filmes de Rogério foi feito nos anos oitenta, tem oito minutos e é um documento histórico extraordinário, retrata a população de Salvador nesse período, as transformações que aconteceu o petróleo na Bahia e gosto muito também do ‘Brasil’, um filme fantástico, tem também ‘América, o grande acerto de Vespúcio’, com finalização feita por mim para o Festival de Torino e também inédito e ele é um curta porque o projeto de longa-metragem sobre o Vespúcio não aconteceu então esse curta é fantástico, absolutamente maravilhoso... como outros... eu acho que os filmes do Rogério, os curtas ou longas tem qualidade do inventor de cinema, de um gênio, de um caso absolutamente ímpar e invulgar dentro do cinema internacional.

E os curtas que a senhora atuou, qual a senhora pode destacar?
De curtas como atriz esse do Cactos Intactos é bem interessante ‘Helena dos Sonhos’ e além desse do Joel Pizzini ‘Helena Zero’ e tem os meus que eu fiz, eu gosto muito deles também que é o ‘Bastidores da Belair’, ‘A Miss e o Dinossauro’ e ‘Redenção da Rua’ são três curtas, um feito aqui em São Paulo e Nova York que é o ‘Redenção da Rua’ com a montagem do Rogério e ‘A Miss e o Dinossauro’ que também é um material dos anos setenta, um material histórico na verdade um making-off do filme da ‘Belair’ e que eu editei e finalizei em 2006.

Philippe Barcinski

O diretor dos premiados curtas 'Palíndromo' e 'Janela Aberta' e do longa 'Não por Acaso', faz parte da lista obrigatória de qualquer cinéfilo que gosta de curta.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
O curta é um produto audiovisual autônomo. E atualmente as câmeras em celulares, os sites como youtube, tudo isso faz com que todos possam ser produtores de imagens em potencial, sem aspirações a chegar ao longa-metragem.

Há uma grande variedade de pessoas fazendo curtas-metragens. Nem todas ambicionam o longa.

Conte como foi filmar "A Escada", seu processo de criação, produção e direção.
Foi feito dentro do curso de cinema da USP no terceiro ano. Era o que se chamava de exercício cinematográfico que não necessariamente seria finalizado. A diretriz daquele ano era fazer um filme sem diálogos. Eu já tinha essa idéia antes. E adaptei para o exercício.

O filme deu um retorno muito grande. Depois de finalizado foi premiado em Gramado e Brasília.

Conte como foi filmar "A Grade", seu processo de criação, produção e direção.
A Grade foi feito ainda dentro da ECA/USP, como projeto de quarto ano. Ele seguia a mesma linha de A Escada. Porém o filme não teve o mesmo retorno que A Escada.

Conte como foi filmar "O Postal Branco", seu processo de criação, produção e direção.
O Postal Branco foi o primeiro curta feito fora da faculdade. O roteiro foi contemplado em um concurso federal. Conseguimos mais alguns aportes pela Lei Mendonça e filmamos. Foi produzido pela Superfilmes.

A idéia era levar alguns elementos da experiência com os curtas anteriores para uma narrativa mais longa. Na época, eu estava muito influenciado por Kieslowski. Quis fazer um filme muito lacônico, de silêncios. O filme é praticamente um solo do ator. Eu acho um filme interessante mas faltava-me experência na época para um desenvolvimento de um personagem complexo. Gosto do filme, mas acho que ainda faltava-me repertório para atingir o objetivo.

Conte como foi filmar "Palíndromo", seu processo de criação, produção e direção.
Eu estava muito tempo sem filmar. Tive essa idéia e queria filmar rapidamente. Comprei negativo, descolei uma câmera emprestada, chamei os amigos e filmei no budget.

A O2 Filmes me emprestou o avid para montar e, uma vez montado, captou recursos para uma blow up eletrônico. Foi o primeiro transfer digital no Brasil. O filme deu muito retorno, participando de festivais como Berlim.

Conte como foi filmar "A Janela Aberta", seu processo de criação, produção e direção.
A Janela Aberta foi um prêmio do Minc produzido pela O2 Filmes. Eu queria fazer uma experimentação de montagem com associação de imagens e sons de forma bem livre. A idéia de seguir o fluxo de pensamentos de uma pessoa com transtorno obsessivo compulsivo foi muito feliz para isso. O filme também teve um retorno excelente, participando de vários festivais como Cannes.

Dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem? Como é trabalhar com a síntese no cinema?
O curta é um espaço muito livre. É muito interessante trabalhar com a síntese.

Habituado a trabalhar em curtas, encontrou alguma dificuldade em fazer um longa: detectou diferenças entre as duas formas?
A maior dificuldade foi no roteiro, no desenvolvimento de personagens. Nos curtas não havia muito espaço para desenvolvimento de personagens. E no longa é fundamental pois o personagem é a porta de acesso do espectador ao filme.

Pensa em fazer novamente um curta-metragem?
No momento estou engajado em alguns projetos de longa e não estou focando em nenhum curta. Mas se eu demorar demais para levantar um longa é possível que eu invista energia em um curta para dar vasão à ânsia criativa. Mas, no momento, não tenho projetos de curta em mente.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Eu acho que o grande espaço do curta é a internet. Acho que na internet há espaço tanto para a veiculação quanto a exibição dos filmes.

Monique Gardenberg

Monique Gardenberg é uma artista multimídia, com atuações importantes em várias frentes: música, dança, videoclipe, teatro e, claro, cinema. Em 1982 funda a “Dueto Produções”, uma das mais importantes produtoras do país, responsável por festivais históricos de música e dança. O primeiro filme dirigido no Brasil foi o premiado curta-metragem “Diário Noturno”, em 1993, vencedor de quatro prêmios no Festival de Gramado, incluindo Melhor Direção.


Qual é a importância histórica do curta-metragem no cinema nacional?
O curta é o começo. A maioria dos cineastas, daqui ou de fora, iniciam como curta-metragistas. Um caminho natural para se chegar ao longa, uma forma de se acumular experiência, vivência no set, domínio sobre aquela arte, sobre a linguagem do cinema.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Ele sempre é tido como um trampolim na carreira.De forma alguma. Acho que todo cineasta valoriza o curta-metragem. É nele que podemos experimentar, testar nosso talento, filmar com maior liberdade. O curta, e depois o clip, são oportunidades preciosas que não podemos desprezar.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não penso. Mas porque a história sempre vem antes. Nunca penso: “vou fazer um longa”. Sempre penso: “quero contar esta história”. No momento, não tenho um conto, uma pequena história na cabeça. Mas tenho amigos que têm e pretendo produzir um filme com 4 curtas de amigos, inspirados na literatura contemporânea.

Qual é a sua relação com o curta?
Fiz três curtas da minha carreira. Todos fundamentais. Aprendi a lidar com as lentes quando fazia o meu último curta. Cada coisa foi vindo a sua hora, e eu fui descobrindo algo novo a cada um deles.

O curta-metragem é o grande movimento do cinema atual?
Não sei dizer. Mas sempre será um meio para revelação de talentos.

Tudo o que Sei sobre Glaura


TUDO O QUE SEI SOBRE GLAURA

por Guilherme de Almeida Prado
(texto publicado no "diário de bordo" da revista PRIMEIRO PLANO - ano I - número I - agosto de 1996)

Eu sou o tipo de cineasta que gostaria de fazer muito mais filmes e falar muito menos sobre eles, mas talvez por ter tão poucas oportunidades financeiras de filmar é que entro em mais esta armadilha e cá estou escrevendo alguma coisa sobre meu "Glaura".

Como não há muito o que contar, vou tentar resumir a história de como entrei na enrascada de realizar um curta-metragem.

Eu sempre quis fazer um curta-metragem. Antes de trabalhar profissionalmente em longa-metragem, cheguei a cometer alguns curtas em super-8mm, mas todos eram realmente esboços ou experimentações para um longa-metragem e não tinham qualquer intenção de analisar as possibilidade de expressão do gênero "curta". Apesar de ter escrito alguns roteiros de curtas para inscrever no "Prêmio Estímulo", nunca ganhei e acabei esquecendo os roteiros na gaveta e depois jogando fora nas mudanças de casa.

Mais tarde, quando estreei no longa dirigindo os três episódios de "As Taras de Todos Nós", também não realizei o filme como uma soma de curtas. O filme foi produzido como um longa e já se sabia a ordem das estórias que, de qualquer maneira, tinham todas mais de trinta minutos e portanto eram realmente média-metragens.

De todos os meus projetos "curtos", apenas um continuou martelando minha cabeça, e não era o "Glaura". Como qualquer cineasta sabe, é muito difícil fazer experimentações em longa-metragem. O alto orçamento e as obrigações com o "mercado" impedem que se consiga financiamento para um longa-metragem com características experimentais. Como eu gosto de experimentar, venho sempre embalando a idéia de fazer um filme experimental de quinze minutos contando quinze anos no relacionamento de um casal. Tudo misturando os tempos passado, presente e futuro; todos convivendo no mesmo espaço e na mesma imagem, na forma de "backs" e "front-projections". Assim, quando me convidaram para o que deveria ser o longa de episódios "Felicidade É...", achei que estava na hora de botar na tela esta minha velha idéia.

Mas a idéia tinha ficado mesmo velha. Além disso, o casal com quem eu pretendia rodar o filme não estava disponível. A segunda opção seria o casal Júlia Lemmertz/Alexandre Borges. Eu precisava de um casal realmente casado porque o filme era extremamente erótico, quase pornográfico, e isso só poderia ser bem realizado com um casal com total intimidade para não ficar agressivo e realmente pornográfico. O tempo atual seria em parte uma relação sexual. Acontece que Júlia e Alexandre estavam fazendo no teatro a peça de Arnaldo Jabor "Eu Sei Que Vou Te Amar" e, depois de ver a peça, percebi que todos diriam que eu tinha feito o curta em cima da peça. Esta também sobre o relacionamento de um casal. Como se não bastasse isso, assisti o filme de Oliver Stone "Natural Born Killers" e metade do que eu pretendia realizar com "front" e "back-projection" já estavam no filme. Em outras palavras, eu teriam um trabalhão para desenvolver no Brasil as técnicas necessárias para realizar as minhas idéias experimentais e todos diriam que eu tinha copiado do Oliver Stone.

Estava eu nesta encruzilhada, quando me telefonou o José Lewgoy e, entre um papo e outro, me perguntou: E eu estou no filme? Eu respondi que não; que o filme era só sobre um casal de jovens.

Mais tarde, nadando, fiquei pensando: E se eu esquecesse a velha idéia e fizesse um filme com Júlia, Alexandre, Lewgoy? Algo mais simples, cotidiano, no mesmo estilo dos outros episódios do "Felicidade é...", do qual eu já havia lido três dos roteiros?

Assim a estória de "Glaura" saiu pronta em três mil metros de piscina: Numa manhã ensolarada de domingo, uma infeliz e suburbana dona-de-casa de classe média baixa descobre o significado da felicidade. Afinal, "a vida é uma cebola que se descasca chorando".

Acrescente-se a isso um antigo sonho meu de dirigir um musical. O primeiro filme que assisti na vida foi "Viagem Ao Centro da Terra", em que trabalhava o cantor Pat Boone e, graças a isso, ele tinha que cantar algumas musiquinhas pouco encaixada na estória de Júlio Verne. Mas talvez venha daí minha fixação em musicais e, especialmente, música brasileira. Resolvi que "Glaura" seria um musical-sampler com dezenas de provérbios, citações, letras e músicas sobre a felicidade.

Na elaboração dos personagens levei em conta uma promessa que tinha feito alguns anos atrás ao Lewgoy: escrever um personagem onde ele pudesse mostrar todos seus dons de ator realista. Em geral oferecem a Lewgoy apenas papéis que chamamos de "bigger than life", ou seja o vilão ou o personagem misterioso e irreal. O Lewgoy sempre quis representar papéis de carne e osso, como o velho "Orestes".

A Júlia e o Alexandre vieram do outro projeto e só faltou acrescentar a Matilde Mastrangi, que trabalha em todos os meus filmes e para quem eu havia prometido o papel de italianona da Moóca que o cinema da Boca sempre lhe ficou devendo, por lhe dar apenas papéis de mulheres sofisticadas e ninfomaníacas.

Nessa festa não poderia faltar o marido de Matilde, Oscar Magrini e até os filhos de ambos os casais envolvidos acabaram aparecendo...

E fiquei martelando até as quatro da madrugada no microcomputador e o roteiro estava pronto, faltando apenas acrescentar alguns dos chavões, ditos pelo "Orestes", que fui colecionando na memória e num livro de "pensamentos".

Dizem que enquanto em um longa você pode ganhar o espectador por pontos, no curta você tem que ganhar por nocaute. Mas não me preocupei com isso. Fui fiel ao meu estilo habitual de contar a estória da maneira sutil, inserindo aos poucos o espectador no meu universo. Mas em "Glaura", com apenas quinze minutos, eu tive que ser muito mais sucinto na sutileza. Tive que ir sutilmente direto ao assunto. Cada plano tinha que contar a sua estória completa e foi idealizado para exprimir o máximo de informações no menor tempo. Os personagens tiveram que ser esboçado em traços leves mas marcantes. Também tive que tirar dos planos todos os elementos que não contribuíssem para mais rapidamente dar o recado. Toda a construção do curta tinha um único objetivo: proporcionar dois ou três segundos de felicidade ao espectador no final do filme.

Ficou assim pronto o roteiro. Faltava agora fazer o filme.

Primeiro veio o capítulo da escadaria: Rodei alguns municípios para encontrar a necessária escadaria de igreja que acabou sendo encontrada bem perto, no Cambuci. Uma opção que me parecia longe da ideal, mas que com a decupagem acabou saindo ainda melhor do que em minha imaginação. O interior acabei encontrando na casa de um amigo de faculdade. Um santo!

Roteiro, Elenco e Locações na mão, juntei uma equipe também de amigos, onde contei com a colaboração de alguém que, embora velho amigo, eu nem sabia quanto: Carlos Reichenbach, o Carlão, voltando excepcionalmente a fotografar. Um luxo!

Propositadamente deixo de lado a questão financeira, supervalorizada pela mídia no atual momento. Os jornalistas parecem estar mais interessados no custo dos filmes que eu seu conteúdo.

Ninguém jamais perguntou ao Van Gogh quanto ele gastou para comprar aqueles girassóis, nem quanto custou a tinta e a tela. Também não era nenhuma novidade pintar girassóis. Muitos já haviam pintado antes e pintariam depois. O que importa no quadro é a pincelada do Van Gogh. A pincelada é o que fez o quadro valer milhões de dólares. Do outro lado do Atlântico, Hollywood gasta milhões de dólares em superproduções que não valem um tostão. O que falta? A pincelada. Hoje, quando assisto um filme, só me interessa a pincelada. Nem a estória importa mais. "Todas já foram contadas", garante Truffaut.

O filme ficou pronto e acabou fora do "Felicidade É...": "porque não estava pronto a tempo de ser exibido no festival de Gramado". Essa parte prefiro omitir e ir direto à exibição do filme, que me deu uma enorme satisfação.

Eu imaginava que um verdadeiro "curta" teria que ter todas aquelas características autorais em que o diretor, em geral estreante, faz tudo para chamar a atenção para si mesmo. Isso pode se dizer que faz parte fundamental do gênero "curta" e são assim os curtas que fazem mais sucesso. Eu acreditava que não existiria muito espaço para um curta que valorizasse os atores e o texto em detrimento da linguagem e experimentação, mas acredito que justamente por isso, "Glaura" acabou parecendo original, apesar da extrema simplicidade e despojamento de sua forma. A recepção do público foi tão calorosa que acabei ficando com vontade de entrar em outra fria como essa.

E isso é tudo o que sei sobre "Glaura". Se tiver oportunidade, assista o filme. Só o espectador pode saber mais.

Olá!!!

Este é um espaço para entrevistas e também para crítica cinematográfica, especificamente sobre curta-metragem.

Considero a produção de curtas o grande movimento cinematográfico... porém... não há debate.

O que pensam diretores, atores e importantes personalidades da cultura nacional sobre o tema?

Bem-vindos!