quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Philippe Barcinski

O diretor dos premiados curtas 'Palíndromo' e 'Janela Aberta' e do longa 'Não por Acaso', faz parte da lista obrigatória de qualquer cinéfilo que gosta de curta.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
O curta é um produto audiovisual autônomo. E atualmente as câmeras em celulares, os sites como youtube, tudo isso faz com que todos possam ser produtores de imagens em potencial, sem aspirações a chegar ao longa-metragem.

Há uma grande variedade de pessoas fazendo curtas-metragens. Nem todas ambicionam o longa.

Conte como foi filmar "A Escada", seu processo de criação, produção e direção.
Foi feito dentro do curso de cinema da USP no terceiro ano. Era o que se chamava de exercício cinematográfico que não necessariamente seria finalizado. A diretriz daquele ano era fazer um filme sem diálogos. Eu já tinha essa idéia antes. E adaptei para o exercício.

O filme deu um retorno muito grande. Depois de finalizado foi premiado em Gramado e Brasília.

Conte como foi filmar "A Grade", seu processo de criação, produção e direção.
A Grade foi feito ainda dentro da ECA/USP, como projeto de quarto ano. Ele seguia a mesma linha de A Escada. Porém o filme não teve o mesmo retorno que A Escada.

Conte como foi filmar "O Postal Branco", seu processo de criação, produção e direção.
O Postal Branco foi o primeiro curta feito fora da faculdade. O roteiro foi contemplado em um concurso federal. Conseguimos mais alguns aportes pela Lei Mendonça e filmamos. Foi produzido pela Superfilmes.

A idéia era levar alguns elementos da experiência com os curtas anteriores para uma narrativa mais longa. Na época, eu estava muito influenciado por Kieslowski. Quis fazer um filme muito lacônico, de silêncios. O filme é praticamente um solo do ator. Eu acho um filme interessante mas faltava-me experência na época para um desenvolvimento de um personagem complexo. Gosto do filme, mas acho que ainda faltava-me repertório para atingir o objetivo.

Conte como foi filmar "Palíndromo", seu processo de criação, produção e direção.
Eu estava muito tempo sem filmar. Tive essa idéia e queria filmar rapidamente. Comprei negativo, descolei uma câmera emprestada, chamei os amigos e filmei no budget.

A O2 Filmes me emprestou o avid para montar e, uma vez montado, captou recursos para uma blow up eletrônico. Foi o primeiro transfer digital no Brasil. O filme deu muito retorno, participando de festivais como Berlim.

Conte como foi filmar "A Janela Aberta", seu processo de criação, produção e direção.
A Janela Aberta foi um prêmio do Minc produzido pela O2 Filmes. Eu queria fazer uma experimentação de montagem com associação de imagens e sons de forma bem livre. A idéia de seguir o fluxo de pensamentos de uma pessoa com transtorno obsessivo compulsivo foi muito feliz para isso. O filme também teve um retorno excelente, participando de vários festivais como Cannes.

Dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem? Como é trabalhar com a síntese no cinema?
O curta é um espaço muito livre. É muito interessante trabalhar com a síntese.

Habituado a trabalhar em curtas, encontrou alguma dificuldade em fazer um longa: detectou diferenças entre as duas formas?
A maior dificuldade foi no roteiro, no desenvolvimento de personagens. Nos curtas não havia muito espaço para desenvolvimento de personagens. E no longa é fundamental pois o personagem é a porta de acesso do espectador ao filme.

Pensa em fazer novamente um curta-metragem?
No momento estou engajado em alguns projetos de longa e não estou focando em nenhum curta. Mas se eu demorar demais para levantar um longa é possível que eu invista energia em um curta para dar vasão à ânsia criativa. Mas, no momento, não tenho projetos de curta em mente.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Eu acho que o grande espaço do curta é a internet. Acho que na internet há espaço tanto para a veiculação quanto a exibição dos filmes.