quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ana Luiza Junqueira



Atriz e integra a Cia Paidéia de Teatro, onde protagonizou peças como ‘Dream Team’ e ‘Conta de Novo’.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Não costumo participar de curtas. Minha área é mais teatro, acho que são linguagens muito diferentes. Talvez pudesse arriscar alguma coisa se achasse muito interessante o assunto do curta, mas pra mim, estar em contato direto com o público é essencial.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não dá pra ignorar que o cinema está ligado à industria, ou seja, a um produto que precisa ser vendido. Acho que cada vez mais tem pessoas fazendo não só curtas, mas documentários, mexendo com essa linguagem, mas talvez isso não interesse ainda, em termos econômicos, para o mercado. E na minha opinião, ainda bem. Acho que esses curtas e documentários podem ser muito bem vindos em outros meios, de outras formas que não pela indústria.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Depende de que público estamos falando. O grande público que vai ao cinema? Quem pode pagar? Ou outros públicos? Eu acho que dependendo do que está se querendo com o curta o caminho é um ou é outro. Tem curtas que só entram em festivais, por exemplo. Tem curtas que são mostrados em centros culturais. Agora, entrar como um produto na indústria do cinema para atingir mais público, isso particularmente não me interessa.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
De novo, acho que depende do objetivo do cineasta. O Chris Marker, por exemplo, cineasta francês, muito pouco conhecido aqui no Brasil, trabalha praticamente só com documentários. Mas o que ele quer com isso? Pra que ele faz os documentários? Acho que temos que pensar sempre em relação ao que aquilo que criamos está sendo vinculado.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Eu não sei. Acho que pode ser que as pessoas mesmas que fazem curtas tratem como se fosse um primeiro passo para o longa, como um experimento. Se isso acontece, é difícil que os curtas evoluam na qualidade, porque quando a pessoa já conseguiu a brecha pro longa, abandona o curta, como se fosse menor. Por isso digo que depende do que se quer com um curta.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não. Não é minha área.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

EU CURTO - Kassandra Speltri


AZAR DE UM, SORTE DE NENHUM

O filme da vez é: “Azar de um, sorte de nenhum” de Carlos Daniel Reichel.

O roteiro foi baseado em um conto de Lima Barreto e traz uma situação inusitada onde um rapaz encomenda a própria morte.

Despretensioso, o filme me pegou pela simplicidade, onde um roteiro interessante e criatividade são ingredientes que sustentam a interpretação naturalista dos atores, que se divertem e ficam muito `a vontade pra acreditar nessa ficção maluca.

“Uma não tão inspirada homenagem/cópia/trash à Tarantino e Rodriguez” é o que está escrito na sinopse, e particularmente não me interessa falar da parte técnica, montagem, edição, luz… porque fica muito claro que quando se tem vontade, uma boa idéia, boas referências e criatividade pra costurar isso tudo (incluindo toda a parte técnica) o resultado surpreende sempre.

Não conheço essa galera que produziu esse filme e as vezes me coloco num aleatório divertido pra falar aqui, mas sei que esse foi produzido na cidade de Blumenau (SC) pra um trabalho de faculdade, e me diverti muito quando ouvi a voz do ator Nelson Machado que dubla o Kiko do seriado mexicano Chaves na boca do assassino.

Então fica a dica: Taí um exemplo de um bom convite pra se fazer curta metragem, porque esse eu faria mesmo por amizade! Rsrsrs… Não me levem a mal, mas aprendi muito trabalhando de graça pros amigos e tenho orgulho da maioria dessas maluquices que fiz!

Kassandra Speltri é atriz, dramaturga, diretora, artista plástica e colunista do blog ‘Os Curtos Filmes’.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Jannete Tomiita

Jannete é modelo e atriz.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Antigamente se faziam filmes curtos por questão financeira e porque era uma forma do cineasta testar suas histórias, entreter... Tudo começa com os curtas. E principalmente no cinema brasileiro pela questão financeira.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Os curtas têm espaço na mídia, mas são apresentados em festivais e mostras, é um outro público.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Poderia se passar curtas antes de longas. Poderia ter mais divulgação na internet. Mas como é um público alternativo as pessoas interessadas vão atrás. E poderia ter divulgações em todas as mídias, na TV, por exemplo.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sim, é possível. Só não se é possível pagar suas contas vivendo de curtas. O cinema é uma área de elite e os longas têm mais chances de divulgação e grana. Curtas podem receber prêmios, e não dão retorno financeiro. Mas não deixa de ser uma porta pra longas e bons contatos. Tem que arriscar.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não. Tem muita gente bacana fazendo bons curtas. Mas falta mesmo incentivo financeiro, eu acho. Sei que tem filmes brasileiros lá fora que ganharam prêmios e talvez falta um pouco de atenção dos grandes cineastas com os curtas pois a maioria destes são de estudantes, pessoas que estão aprendendo a fazer cinema, e por isso acho que os grandes não têm muito interesse... Mas vale tentar sempre.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Eu amo cinema, e sempre fico criando curtas na minha cabeça... Penso, a princípio, em atuar apenas. Sou bem crítica e amaria estar por trás das câmeras dirigindo, mas teria que estudar. Sou perfeccionista, e acho que tem que estudar pra se fazer qualquer coisa. E, por enquanto, estou estudando interpretação.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Carla Caffé



Carla foi diretora de arte nos filmes ‘Central do Brasil’, ‘Narradores de Javé’, ‘O Primeiro Dia’, entre outros. Mantém um ateliê em São Paulo no qual desenvolve atividades diversas: arquitetura, desenho, direção de arte. O endereço do seu site é: www.carlacaffe.com.br

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema
brasileiro?
Bem, não saberia responder ao certo a sua pergunta, pois não estudei cinema, sou formada em arquitetura. A minha prática com o cinema é fruto da experiência de trabalho, comecei na publicidade, passei pelo curta e fiz alguns longas. Acho que o curta metragem promove essa experiência de trabalho pois é mais confortável se arriscar em um curta do que na máquina de um longa-metragem, o curta por ser mais enxuto em termos econômicos facilita a experimentação, os riscos e os improvisos.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?

Acho que deveriam exibir os curtas nacionais antes de qualquer filme. A televisão, o celular, a internet também é um lugar apropriado para esse formato de cinema.
Já existem esses espaços, mas a questão é divulgar o curta-metragem.


É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
O curta por ser maleável é um formato que proporciona experimentos e isso é genial, está mais adequado para as novas mídias do que o longa, pequenas telas, esse mundo fragmentado de informações, mil janelas ao mesmo tempo. Não acho que é um trampolim, acho que é um formato que pode adequar melhor à alguns conteúdos, assim como é um conto ou uma novela para os escritores. Tem grandes escritores que escreveram contos durante toda a sua vida, não como trampolim para os romances.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que o brasileiro, não só os cineastas, são modistas, ou seja tudo é moda, não há espaço para as diversas linguagens. Um exemplo é a table top, pois depois do advento da computação, as table tops desapareceram do Brasil, ninguém mais sabe dessa técnica, mas se você navega na internet encontra uns malucos ainda fazendo coisas geniais na table top, claro que é europeu, os ingleses principalmente. Cada técnica tem sua linguagem própria e é essa riqueza que faz a diferença.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Acabei de receber uma proposta de fazer um sobre a Avenida Paulista, já imaginou que barato!! Tenho sim, vontade de fazer muito cinema, curtas, animações, stop-motion...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CURTA PASSIONAL - Carlo Mossy



ÚNICO E INTRANSFERÍVEL

A gente se esquece com bastante freqüência da importância que os curtas-metragens podem ter sido durante nossa agitada vida emotivamente fílmica, curtas que permitiram a vários jovens realizadores de constituir um esteio, um currículo, e não raramente uma égide contra os obstáculos e as eventuais desilusões de uma “sinistra” profissão. A nossa.

Muitas vezes alguns curtas-metragens se tornam peças cinematográficas altamente representativas pelo seu ilustrativo conteúdo e, sobretudo, pela estética exercida à atemporalidade de alguns anos antes. Como exemplo, tentem encontrar o curta-metragem The Big Shave, uma crônica ácida contra a Guerra do Vietnam, que Scorsese realizou, acreditem, aos 25 anos.

À preocupação arquitetural dos engenheiros de milhares significativos fotogramas, se fará contemplar, numa linguagem que lhes é correlata subjetivamente, uma marca (grife) que se estenderá ao longo de sua trajetória cinematográfica, correndo o risco de se tornarem, apesar das inevitáveis conturbações afetas ao cinema (politicamente falando), qualitativos longa-metragistas de construções experimentais, ficcionais e, claro, documentais.

Mais do que um exercício profissional, uma vivência exclusiva e criativa a cores, mesmo que em p/b. Usando o emblemático simbolismo às conjunturas cognitivamente criativas, cujo recado é: cada um é cada um, permitam-se jovens talentosos, exporem através do vosso (i)limitado curta, sem medos e sem responsabilidades maiores que não seja a honestidade à sua criação contextual e à forma estética que lhe convêm administrar audiovisualmente, um desenho único e intransferível, assim como são as digitais: únicas e intransferíveis.

Quem vos escreve se iniciou no cinema em 1965 aos 20 anos de idade através de dois curtas na Suíça e outros dois em 1966 no Brasil: “Sim Mamãe”, comédia histriônica de 12 minutos e outro “Esperando Godoy” uma paródia hilária becketiana de 11 minutos de duração. Os quatro filmes, lamentavelmente perdidos, foram confeccionados em super-oito milímetros celulóidicos.

Em 1975 minha produtora, a Vidya, antecessora da Mossy Filmes, produziu, dentre os 22 longas e 12 curtas de seu currículo, o curta-metragem super premiado em vários festivais, na bitola de 35 mm, “Pé Direito”, (Impressões da infância, da juventude, eternizadas na memória. Detalhes do interior de uma casa: a mesa de jantar, o relógio de parede, a penteadeira, o velho rádio, as cortinas rendadas, o jardim), maravilhoso filme assinado pela Nazaré Ohana, excepcional montadora e roteirista, morta num trágico acidente em seu jipe. Nazaré é mãe da atriz Cláudia Ohana.

Então, vamos nessa, garotada, o cinema nacional precisa de vossa crença e religiosidade fílmica, irreverente que seja, neomoderna na sua abundância, abstrata o suficiente para ser figurativa, e não importa qual a câmera de captação que for usada, ousem e abusem, indignem-se mostrando suas variantes artísticas, pois o curta-metragem é a ponte entre o sonho e a - mágica- realidade celulóidica.

Carlo Mossy é diretor, ator, produtor, roteirista de cinema e colunista do blog Os Curtos Filmes.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vera Egito



Vera é uma das maiores expoentes do cinema brasileiro. A cineasta exibiu recentemente dois curtas-metragens na Semana da Crítica de Cannes e se transformou num dos destaques do festival. 

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
No comecinho do cinema só havia curtas. Então acho que a importância é imensa. Já que os primeiros registros cinematográficos do Brasil - e do mundo todo - são curtas. Pensando na história do cinema nacional, há um curta que, inclusive, está entre os filmes mais lindos que já vi feitos aqui no Brasil. É o "Couro de Gato", do Joaquim Pedro de Andrade. O curta faz parte do filme "Cinco vezes Favela" de 1959 e é uma obra-prima.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que simplesmente porque o curta não tem valor comercial. E a grande mídia tende a privilegiar as obras que fazem parte do mercado. O que, pensando bem, faz sentido, já que estamos falando de uma massa muito abrangente de leitores. Porém, os curtas têm espaço em uma mídia mais alternativa como blogs e sites. Além disso, durante os Festivais, os curtas que fazem parte das mostras, ganham espaço especial, inclusive na grande mídia. O Festival de Curtas de SP, por exemplo, tem um site super legal que publica textos sobre todos os filmes em cartaz. É uma maneira bacana de divulgar os filmes.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que seria legal reunir quatro ou cinco curtas e exibí-los juntos, tanto na TV quanto nas salas de cinema. Um preço promocional também seria interessante porque a questão é que os curtas, no geral, têm caráter experimental. É um formato que, por ser de baixo orçamento, dá liberdade aos realizadores. Isso faz com que os filmes não tenham muito alcance comercial. Por isso é complicado cobrar ingressos caros, ou mesmo cobrá-los. Nesse sentido, a internet acabou virando um ótimo meio de divulgação para os curtas. No caso de curtas feitos para a tela grande, ou seja, finalizados em 35mm, com som Dolby e tudo o mais, os festivais são o melhor meio. Festivais de Curtas são sempre muito bacanas. O público é muito interessado e a troca entre os espectadores e realizadores sempre acontece de um jeito ótimo.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Possível é, claro. Mas acho ruim um cineasta ficar preso a apenas um formato, seja ele qual for. O curta não é exatamente um trampolin, acho que é um momento de experimentação. Simplesmente porque estamos falando de orçamentos menores e comprometimentos também menores se compararmos com um longa.

O longa metragem acarreta obrigações com distribuidora, bilheteria, altos orçamentos. Tudo isso muda muito a postura do realizador em relação a obra. O curta tem menos obrigações, por assim dizer. E isso faz com que a criação seja mais livre, mais experimental. Porém, o longa também é um formato interessante por ser a maneira clássica de se contar uma estória em audiovisual. Por ter também mais abrangência comercialmente. Acho que um realizador pode alcançar todos os formatos, do vídeo-clipe ao longa passando por curtas, séries para a TV e telefilmes. O importante é produzir sempre.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não. Nunca senti isso. Grandes cineastas que eu, inclusive, admiro muito, me tratam como uma colega. Embora eu só tenha feito curtas e embora eles sejam muito mais experientes que eu. É claro que eu estou em uma fase diferente. Estou começando. Sou uma iniciante e me coloco sempre como tal. Não acho que isso seja marginalização. É apenas um fato.

Todos os festivais em que os curtas "Espalhadas" e "Elo" estiveram foram muito organizados e muito profissionais. Tanto os que exibiam curtas e longas quanto os exclusivamente de curtas. Não há discriminação. O que entendo é que um cineasta que já realizou curtas, longas, séries para TV, clipes, enfim, é um cineasta mais completo do que eu. Ou do que qualquer outro que só tenha feito curtas. A experiência em diversos formatos traz visões diferentes e uma noção muito mais completa da profissão de diretor. Portanto, um diretor que só faz curtas pode ser visto como um profissional menos completo, ao menos naquele momento. Mas, de novo, não acho que isso seja marginalização, é apenas uma constatação e que, dependendo do caso, pode fazer muito sentido.

Na 62ª edição do Festival de Cannes você exibiu dois curtas ‘Elo’, seu segundo filme, abriu a mostra, enquanto o desfecho ficou por conta de Espalhadas pelo Ar’, projeto apresentado como trabalho de conclusão do curso de audiovisual na Universidade de São Paulo (USP). Essa foi a primeira vez que o público assistiu a duas produções de um mesmo autor. Qual é a importância deste feito para você e para o curta-metragem?
Para mim foi a experiência de estar no Festival de Cannes. Um evento tão importante onde tantos artistas que eu admiro já passaram. É inesquecível. Para os curtas foi ótimo pois é uma plataforma de exibição maravilhosa. Por conta de Cannes os curtas também foram exibidos na Cinemateca Francesa em Paris e participaram de outros eventos.

A Semana da Crítica e o próprio Festival de Cannes tratam os curtas com muito carinho. Senti como se eles vissem novas histórias de vida começando. Novos realizadores se formando e o fato do festival apoiar esse começo deixava todos muito orgulhosos. O clima de Cannes é incrível. Todo mundo ali ama muito cinema e isso é sentido em cada conversa, em cada exibição. Foi um feito inédito a exibição dupla. Mas isso aconteceu um pouco por acaso. O "Espalhadas pelo Ar" havia ganhado o prêmio de "Descoberta da Crítica Francesa" no Festival de Filmes estudantis de Poitiers. Por conta desse prêmio, ele seria exibido no contexto da Semana da Crítica. Na mesma época meu segundo curta "Elo" ficou pronto e foi enviado para a seleção do festival. Os selecionadores da Semana da Crítica, que já estavam com o "Espalhadas" por conta de Poitiers, gostaram muito do "Elo" e decidiram exibir os dois, como uma forma de mostrar "a evolução de uma jovem cineasta" segundo as palavras deles mesmos.

Você estudou na Escuela de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños. Como foi a experiência?
Foi em janeiro de 2003, ano em que eu ingressei na faculdade. Fiz um curso de férias de Guión Cinematógrafico e foi lá que eu escrevi pela primeira vez. A escola é quase um sonho. Estudantes de cinema do mundo inteiro em uma fazenda no meio do nada. Porque a Escola fica isolada. E lá os alunos moram, escrevem, produzem e finalizam os filmes. É um barato. Por ser uma escola internacional, sustentada por doações externas e pelo pagamento dos alunos, lá não se sofre tanto com as carências que existem em Cuba.

Eu mesmo tinha uma idéia super romântica sobre a Ilha até conhecê-la de verdade. Em Havana há um policial em cada esquina. Você é vigiado, literalmente. Não há internet, apenas em Hotéis para turistas e cobrada por hora em dólares. Ou seja, inacessível a população. Há uma geração inteira que desconhece a rede. As bancas de jornais só têm jornais do governo. A televisão exibe cinco canais apenas, todos do governo. Enfim, eu não tinha essa dimensão da repressão em que se vive por lá. Só entendi quando fui.

Mas Cuba é um país incrível por conta de seu povo e de sua cultura, realmente impressionantes. E a Escuela me ensinou muita coisa. Tenho até hoje guardado o roteiro que escrevi lá. Quem sabe um dia ele seja filmado.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Acabei de escrever, junto com o Heitor Dhalia, um roteiro para curta-metragem que será dirigido por ele. Como diretora não tenho nenhum projeto de curta no momento.
Estou dirigindo filmes publicitários na Paranoïd Br, finalizando um clipe da cantora Céu e escrevendo o segundo tratamento do roteiro do que será meu primeiro longa metragem.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Rafael Spaca


O CURTA-METRAGEM NO CENTRO DAS DISCUSSÕES

Por Camila Lopes Val

No último dia 21 de agosto o blogue Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/) comemorou três anos de existência, porém, engana-se quem pensa que Rafael Spaca, radialista formado na Universidade Metodista de São Paulo, começou a desenvolver o trabalho nesse tempo.

Sua experiência profissional forjou uma ideia que iniciou quase dois anos antes, quando ingressou como animador cultural do SESC. Foi lá que desenvolveu o projeto ‘Hora do Curta’, onde exibiu mais de cem filmes em um ano e meio de atividade que começou a olhar com mais atenção para o curta-metragem.

“Exibimos filmes de vários locais do país e à medida que as exibições começaram a ganhar mais simpatia do público que, a priori, tinha uma resistência ao formato, comecei a identificar falta de informação e divulgação ao curta-metragem”.

Seus ciclos começaram a ganhar destaque na programação do SESC e conseqüentemente matérias começaram a ser publicadas em vários jornais, revistas e até televisão.

“Lembro que a Revista E (publicação editada pelo SESC SP) deu grande destaque para o ciclo que programei sobre o trabalho do Fernando Sabino como cineasta”. O ciclo que Rafael Spaca se refere é uma série de documentários que o escritor realizou junto com David Neves sobre a intimidade de gênios literários brasileiros. “Ali eu vi que poderia contribuir para a nossa cultura cinematográfica elaborando uma tribuna de discussão em torno do tema”, conclui.

As idéias começaram a ganhar corpo e o intuito era oferecer ao público um serviço diferente. A internet, infestada de sites e blogues (muitos não duram seis meses de existência) de tudo quanto é tipo, não tinha um blogue que debatesse, discutisse e desse espaço para profissionais de todas as áreas do cinema.

“Comecei a entrevistar pessoas que eu já conhecia, afinal, como o blogue não estava na internet ainda, muitas pessoas não quiseram falar com uma pessoa que representava um projeto que não estava concretizado”.

Com o acúmulo de entrevistas, todas elas feitas pessoalmente com um pequeno gravador, Spaca decidiu que era hora de lançar o blogue.

“Minha primeira entrevistada foi a Helena Ignês (atriz, musa do cinema marginal), fui até a sua casa e conversamos sobre cinema por um bom tempo”. Dali em diante Spaca se encontrava com atores e diretores antes ou depois das sessões teatrais na capital e em produtoras de cinema. Essas entrevistas eram feitas entre uma folga a outra do seu trabalho.

Os deslocamentos eram grandes e tudo foi feito de transporte público, o que tornava a rotina bem cansativa.

O blogue registra, desde 2008, entrevistas inéditas e exclusivas sobre cinema com personalidades da área, desde diretores, como Toni Venturi e Kiko Goiffman, passando por atrizes, como Bianca Rinaldi, Simone Spoladore, até produtores da chamada Boca do Lixo, como Antonio Polo Galante. O enfoque é sempre para o curta-metragem e esse ano a página atingiu a marca de 200 entrevistados.

Também oferece aos leitores a série “5 Estrelas da Boca”, uma espécie de fotonovela que narra, em primeira pessoa, as histórias de cinco expoentes da Boca do Lixo. A primeira homenageada foi Nicole Puzzi (protagonista de filmes como ‘Ariella’; ‘Eros, o deus do amor’), cujas fotos de sua trajetória artística podem ser conferidas no blog. Nomes como Débora Muniz (‘A quinta dimensão do sexo’; ‘Gata da Noite’) e Zilda Mayo (‘Tara das cocotas na Ilha dos Pecados’; ‘Pecado Horizontal’) serão contemplados nas próximas edições, que acontecem anualmente.

Desde julho o blogue conta com quatro colunistas: Rejane Arruda (pesquisadora e atriz); Carlo Mossy (produtor, roteirista, diretor e ator); Nilson Primitivo (cineasta) e Kassandra Speltri (atriz e figurinista) que irão publicar mensalmente, artigos dedicados ao cinema.

O blogue também realiza um trabalho de memória, onde Spaca resgata textos e lembranças de um dos maiores nomes do cinema nacional: Rubens Francisco Lucchetti (roteirista de filmes do Zé do Caixão e Ivan Cardoso).

A síntese é uma das suas marcas registradas. Além de abordar o curta (metragem que pode variar de quinze a vinte minutos no máximo), suas entrevistas são compostas de no máximo seis questões. “Fiz isso pensando no dinamismo da internet, cada vez mais veloz, eu mesmo não gosto de ler textos longos no computador!”.

Mas haverá uma exceção, “estou preparando um material histórico, extenso, sobre R.F.Lucchetti”. Esse material Spaca não revela em detalhes, mas está há quase dois anos trabalhando nisso. “Devo publicar no final do próximo ano”. Eles se comunicam por cartas, o que torno o trabalho mais moroso, mas fez com que se aproximassem e hoje são grandes amigos. “Lucchetti é uma figura extraordinária, a homenagem é mais do que justa”, diz Spaca.

Nesses três anos de existência o blogue acumula uma média de visitação diária de 3 mil pessoas, um público composto por estudantes, profissionais de comunicação (rádio, Tv e cinema), jornalistas e amantes da cultura em geral.

Sua paixão por cinema não se restringe a elaborar ciclos e mostras pelo SESC e a sua tribuna na internet, Spaca já realizou dois curtas e tem planos para dirigir mais. “quando fiz o Tarifa R$2,30 e Tarifa R$2,30 – o retorno, enviei o link para dois cineastas e pedi a opinião a respeito”.

O curta foi filmado de seu aparelho celular e é um traveling que segue do terminal Parque Dom Pedro até o terminal Sacomã, os cineasta fizeram o seguinte comentário:
‘Rafael, você se comporta como um digno discípulo de Kiarostami. Parabéns!’Jean-Claude Bernardet (cineasta, crítico e escritor)‘Assisti ao Tarifa R$2,30 e gostei do seu radicalismo. "Minimalista" não no sentido da repetição, mas da célula única, faz com que nós, ao invés de nos relacionarmos com a cidade/paisagem através da janela, nos relacionemos com nós mesmos assistindo a cidade/paisagem através da janela. Mergulho interior através da imagem exterior.’Lina Chamie (diretora cinematográfica)
Cada vez mais citado, o blogue repercute e cresce a cada dia. Prova disso é a parceria com o FIIK, que irá permitir ao público a utilização de seu conteúdo e troca de saberes.

Seu fôlego para o trabalho nos permite dizer que será um dos nomes para o futuro.


Íntegra da matéria publicada na Revista ‘Cinema Caipira’, setembro de 2011.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Revista Cinema Caipira – Setembro

Caros, a edição deste mês da revista ‘Cinema Caipira’ fez uma bela reportagem a respeito do meu trabalho no blog. Envio junto com este post a matéria separada.

A revista Cinema Caipira ISSN 1984-896x, número 31, já está disponível para encomenda e download gratuito em diversos formatos. Neste mês contam com os seguintes artigos;


“PRODUÇÃO SONORA NO CINEMA CONTEMPORÂNEO: um olhar sobre desafios do som no cinema brasileiro e o processo de finalização de som do filme “Tropa de Elite 2”” de Bernardo Marquez Alves

“O jovem cinema contemporâneo brasileiro” de Marcelo Ikeda

“Agora o trem vai!!!” de Reinaldo Volpato e Luiz Carlos Lucena

“O CURTA-METRAGEM NO CENTRO DAS DISCUSSÕES” de Camila Lopes Val

“Conversas entre educação (educadores?) e cinema; somos todos caipiras(?) e (as) linhas de fuga possíveis” de Daniel Mittmann

“Kino-Olho ganha dois prémios” de Fernanda Tosini
revista folheável para leitura online
http://www.readoz.com/publication/read?i=1041432#page1
revista para impressão em arquivo pdf
http://www.4shared.com/document/TVY954gd/revista31imp.html
clique aqui para saber como montar a sua com o arquivo pdf

arquivo ePub para leitura em celulares e tablets
http://www.4shared.com/file/MhQ5UKva/Revista_31_-_Grupo_Kino-Olho.html
para encomendar a revista no valor de R$7,00 cada ou assinar a anuidade por R$50,00, envie e-mail para
jpmiranda82@yahoo.com





sexta-feira, 2 de setembro de 2011

BISTURI - Rejane K. Arruda


Lillian Gish em "The Wind", de Sjöstrom. 

A Bisturi deste mês traz Lillian Gish em "The Wind", filme de Sjöstrom de 1928. O filme trata de Letty (Gish) que, ao hospedar-se com o primo, se depara com uma terrível ameaça: a tempestade de vento que (tal como os pássaros de Hitchcock) assume aspecto perturbador e, pouco a pouco, toma a dimensão do trágico. Para que Letty continue lá, é preciso que se case. Esta é a condição imposta pela esposa do seu primo - que percebe a relação de carinho entre eles. Letty então se casa - resistindo, no entanto, ao amor. Quando o marido viaja, é atacada por um homem do vilarejo, que acaba por ela assassinado. Em meio a tempestade, Letty cede a vertigem que lhe toma o corpo e só cessa com o retorno daquele que a tomou como esposa. 

Na performance de Gish, o exagero das formas se instala como signo do afeto, sublinhando a ação dramática articulada à narrativa. Há momentos em que os olhos deixam o corpo sem alma, forma de gesso, "instante de pseudo-morte". O semblante é erigido por uma tensão que, ao fazer pêndulo com gentis movimentos, propõe um revesamento. Há o abcesso, o instantaneismo, a alteração repentina entre dois registros: ora a imobilidade, ora o movimento incessante do eixo do corpo, que oscila entre os minúsculos gestos cotidianos. Há momentos em que as linhas do rosto abruptamente se abrem para o significante que o marca: ora a "sede do homem", ora o "vento". Em meio ao cabelo imenso, misturada aos gestos, o que Gish faz é um poema do corpo. As seqüencias corporais comportam-se como pedaços de frases musicais que reaparecem, intensas ou diluidas, ajustando-se a outras e compondo novas melodias. Algumas vezes o olhar é decomposto nos objetos. Outras vezes, ela se perde como humana - os olhos torneiam, alienígenas. Tudo mareia. 

O que podemos ler quando o olhar desce - repousado delicadamente sobre imagens do mundo? Se criamos uma cadeia como "desconfiança, desalento, timidez, tristeza", esta implicará fatalmente o não-dizer, pois não há dizer que dê conta de uma grafia do corpo. Os elementos, na medida em que sobram à leitura da ação, reaparecem como estilo. E é este o ganho de Gish: ela tem estilo - num certo sentido que podemos atribuir à frase de Busson: "o estilo é o homem". Mais do que um vocabulário gishiano, surge uma escrita gishiana - articulada à estética do cinema-mudo. 

Rejane Kasting Arruda, é atriz e pesquisadora. Atua em cinema e teatro. Faz pesquisa na Universidade de São Paulo junto ao Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator. Ministra aulas de atuação para cinema. Participou dos filmes Corpo, O Veneno da Madrugada, Tanta, Iminente, Edifício do Tesouro e Medo de Sangue, entre outros. É também colunista do blog Os Curtos Filmes, onde assina uma coluna mensal. 

rejane.arruda@usp.br

Aldine Müller



Musa da pornochanchada – são mais de 20 filmes no currículo, Aldine dedicou-se também ao teatro e à TV, tendo feito novelas como “Sassaricando”, “O Salvador da Pátria”, “Rainha da Sucata” e o remake de “Escrava Isaura”, e humorísticos como "Escolinha do Professor Raimundo". Atualmente possui sua própria Cia. de teatro e circula com as peças em várias cidades do país. 

O que te faz aceitar participar de um curta? 
Minha retomada no cinema foi através do curta-metragem. O curta é bacana porque você trabalha com pessoas que não tem vícios cinematográficos, é mais experimental, mais solto. Serve para me revitalizar como atriz. 

Por que os curtas não tem espaço na mídia? 
Eles não têm um filão comercial, faço para ajudar as pessoas, mas não ganho dinheiro algum com esses trabalhos. O curta tem potencial, tem histórias que cabem só no curta. Um exemplo é o ‘Ninfas Diabólicas’ que eu fiz... era para ser um curta e acabou se transformando num longa... o mais interessante seria deixá-lo no formato do curta. Sonho com o dia em que o curta tenha um mercado comercial para ele. Chico Anísio tem uma frase que é assim: cinema bom se faz em dólares. 

Como é a sua preparação para atuar em curtas? 
Todo trabalho tem uma vivência interior, tem que sentir o papel, para existir e ser visceral. Cinema é a minha área! 

O curta-metragem é marginalizado? 
Curta paga mal, artista não vive de brisa. Fazemos por amor, para nos perpetuar na tela. 

Pensa em dirigir? 
Já fui assistente de direção. No cinema eu gostaria e me arriscaria a dirigir. Em teatro ou televisão eu não faria isso, não toparia.  Quero dirigir um curta, mas para isso eu preciso me preparar melhor.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Nilson Primitivo

foto: katinha

“A inocência perguntou a crueldade: ‘porque me persegues?’ e a crueldade respondeu: ‘e você, porque não se opõe?” 

Para Sady Baby: saúde no corpo e tranqüilidade no spirit

Na maioria das vezes, na verdade, os filmes de Sady nos remetem a uma atmosfera de estranho terror. Um terror em que a sensação que depois permanece é a de ter assistido realmente a um filme deste gênero. Um estado indefinível, atemporal, do qual não se guarda lembrança precisa, mas do qual se lembra no mais profundo de seu ser: um estado primordial de que usufruía antes do tempo, antes da História. E é difícil detectar ao certo de que forma, mas existe um lado documental intuitivo nesses filmes, apesar de serem ‘servidos’ encenados, dramatizados. Sensação ampliada mais ainda pela distância do tempo. Quase tudo da década de 80 hoje soa bizarro, quase sempre distorcido e brutal e vale como estudo e reflexão. Trata-se de uma situação cultural e existencial onde só a indiferença torna consciente esse estado de guerra, e comparar a cena de hoje a um pós-guerra, sem dúvida, é imediato. Desse encontro nasceu a glosa paródica pela qual o eco de antigos significantes lastreia a inversão dos significados atuais. 

Ao cinéfilo avisado por certo não escaparão comparações com os mais radicais cineastas do underground americano, sobretudo o dos bons tempos (década de 60/70), com o cinema "extremo" vindo do Oriente, ou com os demais "marginais" nacionais, esses quando ainda empenhados na sua antiga missão de iconoclastas antiparnasianos. 

A tentação metalinguística de pôr a palavra ao encalço de si mesma e inverter os sentidos será marca inequívoca dessa crítica e prática vigente em tempos saturados de memória e consciência céticas. A crítica cabe o papel de funcionar como uma espécie de memória coletiva: lembrar o que foi esquecido ou ignorado, fazer conexões, contextualizar e generalizar a partir do que aparece geralmente como ‘verdade‘ definitiva, o fragmento, a história isolada, e ligá-los aos processos mais amplos que podem ter produzido a situação de que estamos falando. Esse artigo se opõe ao consenso e não reprime sua pequena voz (que, ao final, nem será mais tão pequena assim). E se coloca a disposição para a reconstrução histórica e para o debate sobre esses autores através da proposta nuclear de análise das modalidades de representação, relacionando-as com a história e modernidade. A arquitetura desse labirinto sintetiza a concepção de que “a modernidade é uma tradição polêmica” A complexidade desses filmes e desse período é um desafio para quem busca decifrar seus significados e descrevê-los com características de um movimento estético. Que essa realidade, que é a única e verdadeira, caiba a revista, é isso que seu nome deveria significar. 

Nilson Primitivo é cineasta e colunista do blog Os Curtos Filmes.