sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ícaro C. Martins


Ícaro estudou Cinema na USP. Iniciou a carreira de diretor com o curta-metragem ‘Favela’ (1976). Um dos iniciadores do Novo Cinema Paulista, escreveu e dirigiu com José Antônio Garcia os longas-metragens ‘O Olho Mágico do Amor’ (1982), ‘Onda Nova’ (1984) e ‘Estrela Nua’ (1985). Colaborou nos roteiros da série ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ e foi diretor dos programas de TV Brasil Real e Gente que Faz.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Assim como no resto do mundo, o cinema nacional começou em curta-metragem. Todos os pioneiros, assim como mais tarde os diretores de longa, sempre fizeram curtas. Ele sempre foi um formato para a experimentação e existem N obras fantásticas, para comprovar.  Além disso, em todos momentos que os longas metragens tiveram suas produções paralisadas e foram alijados do mercado, o cinema brasileiro foi fundamentalmente de curta-metragem.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não são exibidos comercialmente, nem com regularidade. Então a imprensa só os acompanha por ocasião dos festivais, mas tenho a impressão que quando isso acontece a cobertura é razoável.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
O curta-metragem precisa achar um espaço regular e profissional no mercado audiovisual, tanto em salas, quanto na TV e em outras mídias. Existem algumas iniciativas nesse sentido mas elas ainda são isoladas e não configuram uma situação estável. Entretanto merecem ser regularizadas e desenvolvidas. Nos anos 70 e 80 os cineclubes quase chegaram a se configurar como um circuito profissional alternativo, inclusive para longas também. Mas, não sei por que, parece que essa proposta foi deixada de lado nos últimos tempos. Além disso, a TV, mídias eletrônicas e telefones são espaços que precisam ser melhor explorados pelos curtas-metragens.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Existem casos isolados, como Sérgio Santeiro, por exemplo, mas é muito difícil. Enquanto o curta-metragem não tiver uma auto sustentabilidade comercial, mesmo que relativa isso não será viável. A antiga "Lei do Curta", mesmo com as distorções que teve, poderia ter sido um caminho, mas não foi. Hoje o espaço dos curtas nas salas comerciais foi ocupado por propagandas, aliás bastante pobres em sua maioria, e até os trailers dos longas-metragens tiveram seu espaço reduzido. É uma situação difícil de reverter no caso dos curtas, daí a necessidade de encontrar novas soluções, apontadas na questão anterior.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não. Mas, como disse antes, os curtas atualmente são completamente inviáveis financeiramente. Proporcionalmente, um curta é mais caro que um longa. Ele só é barato porque além de ser muito menor, em geral a maior parte da equipe não é paga devidamente.  Então é difícil, para não dizer impossível, as pessoas viverem e construírem carreiras em cima disso.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Gostaria mas acho difícil a curto prazo. Também dirijo documentários profissionalmente, mas quase sempre sem a liberdade autoral que se tem num curta.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Paula Burlamaqui

Paula é atriz, participou de diversas novelas, entre as quais ‘América’, ‘Da Cor do Pecado’, entre outros. No cinema fez ‘Gatão de Meia Idade’ e ‘Reis e Ratos’.


O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
O que me faz aceitar participar de um curta é a história, se me interesso já é um bom caminho.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei, mas acho que deveriam ter...

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que os curtas além dos festivais poderiam anteceder os filmes nacionais um para cada filme, após uma seleção e de comum acordo c a produtora do longa

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que todo cineasta sonha em fazer seu longa.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que os curtas não são marginalizados, pelo contrário, é um barato ver essa moçada fazendo curtas.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Quem sabe?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

BISTURI - Rejane K. Arruda

“A carne que escorre pelos furos de uma rede de palavras: sobre procedimentos com os atores em Segredos e Mentiras, de Mike Leight”.


Que o processo de criação de personagens envolve um pensamento, não duvidamos. A grande questão é como uma malha de imagens acústicas é construída “entre” diretor e atores – para dar sustentação ao lançar-se no jogo que esta “rede de proteção” possibilita. No caso de Mike Leight, em seis meses de ensaios, com conversas individuais e improvisações, esta malha é criada, revista e reconstruída. Interrogado, em palestra no Berlin Internacional Film Festival (2004), sobre um momento de Segredos e Mentiras em que Blenda Blethyn lembra-se que dormiu com um negro, Mike Leight nos dá um exemplo de um procedimento com os atores: 


Muito simples, eu e ela nos sentamos juntos para construir tudo o que aconteceu com Cynthia. Ela começou a beber e vivenciou vários tipos de festas e, em um determinado ponto, muito bêbada, entrou em um banheiro com um cara negro e claramente aconteceu.  Tomamos a decisão que isto era vago o suficiente para ela ter esquecido e, tendo dormido com outra pessoa na época, havia pensando que era outro o pai da criança. Ela nunca viu a criança porque não quis ver e a entregou para adoção. Nós construímos a história, inventando mil e uma, milhões de coisas, sobre a sua vida inteira; esta era apenas uma.


O que me intriga é a quantidade: “mil e uma, milhões de coisas”, para que a atriz, no aqui e agora do jogo, “pince” uma alavanca - que pode, de súbito, instalar-se, na medida em que está articulada à pergunta feita pela outra atriz em cena: “porque eu, negra, não posso ser sua filha?” Não é difícil imaginar que a atriz pode escorregar pelas imagens acústicas e visuais trocadas (que podem ser atualizadas no instante da cena) -  se, de fato, percorresse um caminho, uma cadeia, e esbarrasse, de repente, em uma delas (o corpo reagindo “como se tivesse lembrado, com as marcas, contorções, ritmo, pausas, espasmos que são dele). Este momento de Brenda Blethyn no filme nos causa a profunda impressão de que algo vivo foi criado “na hora”. No entanto, atriz e diretor criaram, verbalmente, o “passado da personagem” - para que o material imagético (e significante) pudesse escapulir do baú. Trata-se de algo extremamente paradoxal, como assume Leight: o espírito de improvisação é mantido (o ator em momento algum tem acesso a um escript), no entanto, há ensaio e repetição, para que se torne seguro do que fará. 

Há polêmicas, questões, paradoxos, implicados, e Leight é mais um a criticar o Método, bem como o procedimento de “ilhar-se” do mundo para “viver” o personagem. Ele aponta a necessidade do ator “sair e entrar” do personagem, na medida em que o cria “em terceira pessoa”. O Método stanislavskiano talvez possa ser resumido com um “se eu fosse” (o personagem). Stanislavski pede ao ator para “colocar-se em situação” e agir “como se eu” assim estivesse. Knébel diz: “exercer o poderoso direito de atuar em nome próprio”. Em Leight inverte-se: o operador é o “ele”. Será que “ele” agiria assim? A regra “Nunca se referir a ação da personagem em primeira pessoa” é um detalhe que, a primeira vista, pode parecer insignificante. No entanto, jogar com o imaginário sobre “ele” sendo “eu” é um paradoxos e eu me pergunto de onde vem a verdade deste jogo. 

Leight diz que o ator pode “entrar e sair” do “ele”. O que seria este “ele” se não uma malha de imagens acústicas que o ator cria, reconstrói e pode percorrer? Leight fala dos figurinos que deixam o ator confortável e seguro para viver “o ele”. Mas não é o figurino capaz de sustentar o estalo de uma associação e alicerçar o corpo na cadeia articulada de ações. Uma malha de imagens acústicas, uma rede de linguagem (de palavras trocadas) poderia construir um mundo para que o ator “entre” - tal como em um sistema virtual aos moldes de Matrix? O ator entra “lá” com a sua carne e sofre as cadeias desta rede (escorregando, com o organismo, pelos furos) que nunca está completa? Leight faz questão de dizer que “nunca está pronto” (nem para ele) e que o ator tem que encarar “que não sabe o que é”. E não apenas encarar, mas colocar-se a serviço de saber, de buscar, de inventar. 

Mas, se a cena, depois de constituída em improvisações, é repetida e ensaiada, onde está “o não saber”? Não haveria um intervalo, entre cada ação e cada frase, que o organismo preencheria “na hora”? E, especialmente se não há o tamponamento através de uma certeza de saber, não seria a vertigem que o ator ali encontra? E não seria esta a condição para se imprimir a busca e a descoberta que se estabelece em cada passo (na cena) mesmo com as ações já definidas? O “não saber”, o “não tamponar a rede com a inteireza do imaginário”, é mais um “detalhe” do procedimento metodológico de Leight. O ator não produz a completude de uma compreensão ou o tamponamento dos furos com a interpretação de um mundo, como se este estivesse, em algum momento, pronto. Há vazio, lacuna. Há espaço para vôo cego mesmo com a rede de palavras intensamente trocadas. 

Há também discussões, acertos, negociações e certezas “sobre um detalhe” – como deixa entrever outro exemplo de “Segredos e Mentiras”. Claire Rushbrook não queria voltar para a família depois da revelação de que tem uma irmã: “Roxanne não faria isto” – diz a atriz. Mas, para Leight, ela voltaria. A “resolução do problema” se deu com a introdução de um elemento: Roxanne pergunta ao namorado se ele acha que ela deve voltar. “Sim”, ele responde. E ela volta. Há coerência, sentido, lógica, no entanto, em confecção intensa, que envolve uma certeza escondida no corpo: “Ela não voltaria” (a atriz não ia ceder na negociação com o diretor). Apenas quando algo novo se enlaçou o desvio foi constituído: “E se ele falar que sim?”. “Aí sim”. Uma frase foi introduzida de maneira a tecer mais um pedacinho de simbólico. Uma palavra trocada e já era outro o trajeto da personagem; bem como do corpo enquanto encarnação fantasmática da ação da personagem (este “lugar” criado). Mais uma via na rede cravada no tempo e espaço do mundo. 

Ainda há a precisão do enquadramento ao qual o ator serve. O jogo não é apenas com o universo ficcional. A rede de palavras implica também o olhar da câmera metaforizado: “Não é apenas um exercício de câmera panorâmica; o ator é como um coelho em uma gaiola que quer escapar e você vê-lo rondando” (Leight). Há linguagem por toda a parte, uma rede, que suporta o frescor e as feridas na carne exposta e, então, flagra a sua imagem (metaforizando a sua relação com ela). 


Rejane Kasting Arruda para Bisturi de abril de 2012.

domingo, 22 de abril de 2012

André Fischer


André é o criador do MixBrasil, um dos principais portais de informações e cultura popular englobando os diversos setores que formam a comunidade GLBTT do Brasil. Apresentador do programa de curtas-metragens ‘Cine MixBrasil’, no Canal Brasil, Globosat, é o idealizador e co-diretor do Festival Mix Brasil de Cinema e Video da Diversidade Sexual, um importante projeto de cinema alternativo do Brasil reconhecido internacionalmente.


Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Ele é o formador de grandes talentos, que encontram neste formato a liberdade e viabilidade para ingressarem na carreira cinematográfica. È possível ousar mais no curta. E na primeira metade da década de 90, quando o cinema de longa-metragem praticamente morreu no Brasil, ele foi o bastião da produção nacional.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque há um hábito de considerar os longas como a expressão maior da arte audiovisual. E certamente é mais difícil criar uma retranca nos veículos para uma produção tão pulverizada.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que o curta já tem uma visibilidade bem interessante. Com advento da internet e público habituando-se a durações menores, ele tende naturalmente a crescer nesta mídia.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Entendo como uma linguagem e formato muito peculiares, mas não consigo imaginar um cineasta que não queira ousar em outros formatos...

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas? 
Pelo contrário, acho que é muito respeitado. 

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Enciclopédia Ilustrada do Mossy


Odete Lara

Pessoal e intransferível

 
Odete Lara, ah, Odete Lara! Como descrever brioso sobre a sublime deusa da minha recôndita mitologia real, e muito além da atenciosa colega de fotogramas laboratoriais? Retratá-la empírea, através desses modernosos digitalizadores frígidos, e envolver seu precioso nome-sonho em nostálgicos compêndios transcendentais, à relação abrasadora durante a mágica época de nossas compulsivas e inatingíveis "tramas", vez e outra emolduradas por uma odisseia romanesca, como se fosse um compassível filme inacabado. E seria esse, queridíssima atriz, o modo mais justo de te desenhar eletrizantemente linda? Você, maravilhosa fêmea-mito, a quem conferi incondicionalmente todos os meus irrequietos juvenis sentimentos, até os mais sublimemente proibidos, estrategicamente escondidos, assim como me entreguei sédulo às aulas por ti ministradas gentilmente à arte de se colocar e agir diante de uma câmera, e, à concepção fílmica, os primeiros passos de um jovem ator inexperiente; faço-lhe, agora, permita-me, uma pergunta que vaga pela atemporalidade, e que não exigirá metafísica resposta: à inexorabilidade do tempo/espaço, você, alguns aninhos mais sábia, a minha mestra vigorosamente anárquica, a minha cicerone idealista à Marcha dos 100 Mil, o meu conteúdo passional e hipnótico de intrínsecas eras, jamais lhe veio à sua desinquieta mente que a nossa -talvez- despropositada e "deselegante" relação relâmpago beyond lens, tinha sido uma (i)morredoura(?!) metáfora existencial, continuidade do nosso filme-objeto? 

Trata-se de um testemunho de arrebatamento subjetivo, em que os poros epidérmicos e as saudades espirituais seriam as únicas testemunhas de um dadivoso pretérito diante de um tribunal das belas verdades. O juiz, o sorriso jubiloso que ora apresento. Odete Lara, mescla de Greta Garbo e Marlene Dietrich, de adaptada beleza tropical contagiante, fantasia feminina voluptuosa de marmanjos como de mulheres, mesmo que existencialmente sofrida à exaustão, como todo poeta glorioso tende ser, esbanjava através de seu olhar flechado e intimidador, olhar fetiche, à combinação da mulher irreprochável, pele alva incandescente, voz firme, som de rouxinol, um arrepiante encanto aos que perto dela se encontravam. Edificou imperativa, através de sua personalidade-fortaleza o império majestoso solo de Odete Lara. Não tão somente pela sua rara beleza elegante e bestial, mas, sobretudo, pela fantástica atriz dramática, cômica e cantante que foi. Só os adultos de mais de cinquenta, mesmo assim, só os sensíveis, saberiam decodificar parcialmente o mito Odete, quiçá, alguns jovens interessados nos monstros sagrados das telas de antanho, apreciadores de cineclubes, caçadores de musas, idem.

Adentrem urgentemente no Google, leitores queridos desse brilhante Blog, e desvelem os primorosos detalhes pessoais e profissionais desta que ainda é, e que sempre será, a maior diva de todas as divas. É uma pena que o brasileiro tupiniquim nutra e se aconchegue à cultura do esquecimento. Odete Lara está lindamente viva, e é, ainda, aos oitenta e três, uma figura culturalmente e antropologicamente insubstituível.

Carlo Mossy é diretor, ator, produtor, roteirista de cinema e colunista do blog Os Curtos Filmes.

José Geraldo Couto


José Geraldo Couto, jornalista e tradutor, foi colunista da Folha de S.Paulo. É crítico de cinema, literatura e futebol.



Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Podemos pensar numa dupla importância do curta-metragem para o cinema brasileiro. Por um lado, foi por meio de curtas que muitos dos nossos grandes cineastas fizeram sua entrada no cinema: Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Rogério Sganzerla, Julio Bressane e inúmeros outros. Além disso, foram os curtas que, no período mais crítico do cinema brasileiro, na virada dos anos 80 para os 90, mantiveram ativa a produção. Foi o período em que surgiram no curta talentos como Jorge Furtado, Beto Brant, Tata Amaral, Joel Pizzini e inúmeros outros. Há ainda casos muito particulares, como o do pioneiro Humberto Mauro, que durante décadas se manteve em plena atividade realizando curtas educativos para o Instituto Nacional de Cinema Educativo.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A cobertura cultural da grande imprensa, de um modo geral, está cada vez mais subordinada à lógica do mercado. As seções culturais dos jornais e revistas são cada vez mais vistas como guias de consumo de bens culturais para os leitores. Como os curtas praticamente não têm lugar no atual circuito exibidor (nem nas salas de cinema, nem nas TVs, com exceções como o Canal Brasil e a TV Cultura), eles não têm existência de mercado e por isso são ignorados.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público? Não tenho opinião formada sobre o assunto, mas talvez seja o caso de reeditar, em novas bases, a política de exibição de um curta metragem antes de cada longa exibido nos cinemas. Sabemos que essa lei vigorou por um tempo, nos anos 60 e 70, mas foi desvirtuada porque os exibidores, para cumprir a exigência de obrigatoriedade, começaram a produzir seus próprios curtas, geralmente filmes de baixa qualidade, por exemplo filmes institucionais chapa-branca como os de Primo Carbonari e Jean Manzon. Mas quando eram exibidos bons curtas nacionais antes dos longas o público geralmente reagia bem, e assim se manifestou em várias enquetes de opinião.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Penso que é possível, do ponto de vista artístico, produzir uma obra relevante composta apenas de curtas-metragens. Alguns curtas já produzidos, no Brasil e no exterior, são valiosos em si, não como "estágio preparatório" para a realização de longas. Penso, por exemplo, nos curtas de Alain Resnais (como "Noite e nevoeiro"), de Godard ("Todos os rapazes se chamam Patrick" e vários outros), de Jean Cocteau, Orson Welles, Stanley Kubrick, nos brasileiros "A velha a fiar", de Humberto Mauro, "Pátio", de Glauber Rocha, "Ilha das Flores", de Jorge Furtado, "Caramujo flor", de Joel Pizzini. Citei só os que me vieram rapidamente à memória, mas a lista seria interminável. O que o ocorre é que, para viabilizar o cinema como profissão, os diretores em geral são compelidos ao longa, que tem uma existência comercial que o curta em geral não tem, e não só no Brasil.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Talvez seja. Não tenho como avaliar. Sei que os diretores que ainda não fizeram um longa detestam ser chamados de "curta-metragistas". Acho que há, sim, um estigma generalizado quanto ao formato, como algo menor, preparatório para os voos maiores dos longas.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, nunca pensei em dirigir, nem curta nem longa. Quando muito, posso colaborar num roteiro.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Chris Couto

Chris é atriz e apresentadora. Foi VJ da MTV, na televisão participou de ‘Som & Fúria’, ‘Malhação’ e ‘A Grande Família’. No cinema fez ‘Salve Geral’, ‘Tainá 2’, ‘O Invasor’, entre outros.



Você já atuou em curtas como ‘Para Ser Feliz para Sempre’, ‘Almoço Executivo’, entre outros. O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Nesses dois casos específicos, fui convidada porque eram amigas. Na verdade a Marina Person é minha comadre. Naquele momento, eu estava grávida da Maria. Almoço Executivo é um grande argumento feito por amigos. Adoro curtas. Gosto da idéia de falar bastante em pouco tempo, de falar pouco e dizer o que deve ser dito naquele momento. Gosto mesmo do formato. Acho mais divertido apesar de ser ingrato, por ficar mais restrito em exibições. Curtas hoje em dia só se vê em Mostras e Festivais.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque eles são uns idiotas? Ou porque o mundo não tem mais espaço prá esse tipo de ingenuidade?

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Hoje acredito mais em movimento pessoal, uma organização de turmas com os mesmos objetivos, mostras em bairros, sei lá. Ou partir geral pra internet.. que eu acho que é o que tem rolado bastante. é só procurar na internet que você acha muitos filmes e muitas idéias. Parece que está tudo aqui na rede.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acredito nas idéias e na vontade das pessoas. Se o desejo de alguém for contar uma história maior, perfeito. Mas se ela quiser contar pequenas histórias, durante o tempo que achar necessário, tudo certo. Não tem regra, como diria uma grande amiga "é livre!"

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Melhor você perguntar pra um cineasta. Eu sou atriz, adoro minha profissão, se me derem uma personagem boa, independentemente do tamanho, vou fazer. Sem problemas.

Pensa em dirigir um curta futuramente?

Vou pensar.

Agradecimento

O blog 'Os Curtos Filmes' atingiu a marca de três digitos. Já são 101 seguidores.

Meu agradecimento a todos vocês.

Rafael Spaca.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Emilio de Mello

Emilio é ator formado pela Escola de Arte Dramática de São Paulo Em 2005 ganhou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante pela atuação no filme ‘Cazuza - O Tempo Não Para’, no Prêmio Adoro Cinema Brasileiro.



Você já atuou em curtas como ‘Nos Tempos do Cinematógrafo’ e ‘Fora da Estrada’, entre outros. O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Convites para cinema são sempre atraentes para mim. Aceito os trabalhos pela qualidade do projeto e pela minha identificação com eles, não me importo se são curtas, médias ou longas.

Sua preparação, como ator, para atuar em curtas difere de outras preparações tais como teatro, TV, etc.?

Minha preparação para qualquer trabalho é me disponibilizar para o lúdico. Brincar, jogar e se divertir é fundamental.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Hoje o espaço na mídia é algo bastante difícil para todos que fazem arte.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

Aquela fórmula antiga de um curta antes dos longas nos cinemas me parece bacana. Internet também pode ser um bom caminho.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

Claro que é, tudo é possível, depende da vontade, empenho e disponibilidade do artista.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?

Não sinto isso.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não penso nisso, mas não dispensaria esse projeto.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Danilo Gullane

Danilo é roteirista, produtor cultural e curador. No curta ‘Perdemos de 1 a 1’, de Patrícia Moran, foi o diretor de produção. É irmão de Caio e Fabiano Gullane, da ‘Gullane Filmes’, uma das maiores produtoras de cinema do país.


Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Há quem diga que o curta-metragem é um exercício para cineastas em início de carreira preparando-se para fazer um longa-metragem. Acho que o curta-metragem, antes de ser considerado como um "exercício" é um formato cinematográfico onde se desenvolve narrativas breves. E isso me interessa muito. Assim como o romance está para o longa-metragem, o conto está para o curta-metragem. Em todo caso, a realização de curtas-metragens no Brasil, em sua maioria financiado por editais públicos, é responsável pela formação de muitos cineastas. A primeira vez que pisei num set de filmagem foi fazendo parte da equipe de produção do primeiro curta da cineasta Laís Bodanzky, "Cartão Vermelho". Como os recursos para a realização de um filme de curta-metragem são geralmente escassos e raramente se tem produtores experientes para dar suporte ao projeto, o desafio de filmar se torna ainda maior, o que faz com que os diretores e equipe técnica planejem tudo minuciosamente tentando evitar o "erro". Assim, acho que o curta tem um papel fundamental para formar bons cineastas.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Muito pelo fato do curta ainda não ser encarado como um "produto" audiovisual, algo sem valor comercial. Muitas vezes o curta é visto como uma experiência cinematográfica menor, algo que beira o amadorismo, feito por jovens cineastas idealistas que tem uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. O único espaço para esse tipo de realização são os festivais, que são frequentados por pequenos grupos formados por pessoas que estão envolvidas de alguma forma com a atividade cinematográfica, e não pelo grande público que consome cinema e alimenta o mercado de alguma forma (se é que isso de fato existe no Brasil).

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?

Não sei. Uma possibilidade seria exibi-los antes dos longas nos cinemas. Mas aí já temos 15 minutos de comerciais e traillers, depois mais ou menos 100 minutos de filme, será que caberia mais 15 minutos de um curta? Provavelmente a sessão ficaria muito longa e cansativa para o expectador. Também não sei se as pessoas pagariam para ir ao cinema assistir um curta. Provavelmente não. Por isso, uma forma de aumentar o público de curtas seria aumentar o número de festivais e mostras pelo pais destinadas a divulgação deste formato. Ou então levá-los para a TV. Realmente não sei!

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível desde que você não espere pagar as suas contas com isso. Curta não tem nenhum tipo de retorno financeiro, raramente recebe investimentos privados. É um mercado pobre.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não. Todo mundo que faz cinema já participou de um curta. É a porta de entrada, geralmente onde as pessoas tomam gosto pela coisa e descobrem com é duro fazer cinema num pais como o Brasil.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso sim. Tenho um projeto muito legal. A adaptação de um conto fantástico de um escritor uruguaio chamado Horácio Quiroga.

Qual é o seu próximo projeto?
Tenho feito muitos trabalhos para a TV. O artigo terceiro tem nos proporcionado isso.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O SER Ator - Maísa Magalhães

Pensando numa pergunta que uma jornalista me fez esses dias, sobre qual seria a função do ator na sociedade,comecei uma reflexão e mais uma vez refleti sobre um pensamento de Stanislavsky ,que diz que “para ser um grande ator, antes é preciso ser um grande ser humano”. E esse grande ser humano é o ser ator nessa sociedade. O ator tem que ser admirado e realmente fazer diferença com seu trabalho ou presença.

E começando pelo trabalho. Como ser capaz de mudar rumos com sua arte, de ter um personagem lembrado pra sempre por uma pessoa qualquer, de ser capaz de tocar no mais duro e frio coração e o amolecer, de provocar uma reflexão alheia sobre o que foi mostrado numa peça ou filme? Sim, é esse o maior desafio e a maior conquista de um ator.Ser capaz de SER-humano dentro de um personagem,”brincar de ser Deus” e criar essa vida interior de um espírito humano e assim passar a verdade na ação. Atuação é o momento de entregar-se, e não de jogar um texto decorado ou apresentar clichês.

Na vida em sociedade, o ator tem o papel de conhecer a alma humana, se despir de qualquer preconceito, ver a beleza em todos e trabalhar a empatia. Se não convive e divide seu espaço social com pessoas de diferentes crenças, gostos, hábitos, então como poderá interpretar um personagem ou assimilar um texto que envolve culturas e personalidades diferentes da que esse ator vive? Não saberá viver um personagem completamente. A base da atuação é sim o auto-aprimoramento como indivíduo. É se expandir, é amar o ser humano,é não julgar.E ser ator é ser generoso,porque sozinho o seu trabalho é nulo.O ator precisa do diretor,do roteirista,de toda equipe e também de outros atores. É ilusão querer ser individualista nessa profissão. A Arte deve envolver.
Você provavelmente já saiu de um filme ou peça pensando “nossa, eu me vi naquele personagem” ou “esse filme mudou minha vida”.

E o poder de um filme ou peça de provocar quem assiste não pára aí. Muda também quem o faz, que é o ator. Sinto que cada personagem que faço ,me muda como pessoa desde o momento que começo as pesquisas pra conhece-lo.Me faz compreender melhor as diferentes personalidades,a aceitar melhor os defeitos e limitações de cada um e ver beleza onde antes passava despercebido.

Sendo atriz, conheço as mais diferentes vidas: do pobre ao milionário, da executiva à prostituta, da mimada à mal tratada. Sem preconceitos. Acho importante e gratificante ter amizades com pessoas completamente diferentes de mim, em todos os sentidos. E somente entendendo o outro, consigo passar a verdade e chegar ao que vejo como função do ator na sociedade: envolver as pessoas não só com sua arte, com sua presença.

Maísa Magalhães é atriz e colunista do blog do Os Curtos Filmes.
Informações sobre a artista em:
www.maisamagalhaes.com.br

domingo, 8 de abril de 2012

Matheus Nachtergaele

Matheus é um dos nomes mais conhecidos do cinema nacional. Participou de inúmeras produções, entre elas estão: ‘Cidade de Deus’, ‘Amarelo Manga’, ‘Narradores de Javé’, ‘Nina’, ‘Tapete Vermelho’, entre outros. Como diretor, fez ‘A Festa da Menina Morta’.



O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Como em qualquer outra mídia, costumo me atrair por projetos com vocação artística real, por artistas que me interessam e por projetos inovadores. Tanto no teatro, quanto na tv ou cinema, é isso que me impulsiona para o trabalho: a vocação do projeto e dos envolvidos. Nesse sentido, um filme ser um curta ou um longa têm a mesma importância.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito, efetivamente que isso está mudando para melhor. Vejo muitos festivais voltados para o curta-metragem surgindo pelo Brasil afora, e isso vai formando não apenas o público, mas os próprios cineastas...

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Acho que iniciativas como as do Canal Brasil por exemplo, que tem faixas diárias dedicadas a curtas, são extremamente necessárias. Outros canais de tv têm feito o mesmo... A ideia de curtas serem exibidos antes de longas, como acontece no Festival do Rio também são bacanas.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É difícil fazer um curta, atingir em pouco tempo um conceito e envolver o espectador. O curta pode ser sim um grande treino artístico e técnico para um longa, mas não necessariamente. Admiro quem faz belos curtas.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não. Pelo menos nunca senti isso.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, mas também não pensava em fazer 'A Festa da Menina Morta', e fiz! Rsrsrsrsrs! Tudo pode acontecer, se uma idéia forte como uma febre surgir em mim, e se isso dever ser contado num curta, então assim será.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Marco Wey


Marco é designer e cineasta. ‘Cet Été’ é um curta de três minutos onde o artista fez o roteiro, a animação, a produção, montagem e direção.



Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Acredito que o curta-metragem sempre foi uma saída para quem quer produzir porém não possuí muitos recursos, o que é o caso da maioria dos cineastas e videoartistas brasileiros. Essa escassez de recursos, na minha opinião, apesar de triste, pode se tornar interessante à medida em que força os realizadores a adaptarem sua linguagem, tentando conciliar os meios de produção à suas idéias e tornar isso o mais coerente e coeso possível. E é isso que por muitos anos foi a identidade do cinema nacional, o abandono de quaisquer técnicas complexas e caras de produção e a valorização do conteúdo.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Ter espaço para crítica em jornais e receber atenção da mídia em geral são duas coisas de certo modo diferentes. Muita arte que pode até ser considerada de vanguarda têm espaço para críticas em jornais; não acontece tanto quanto gostaríamos, na verdade, bem menos do que gostaríamos; e a vanguarda que consegue aparecer não é tão vanguardista também. Mas pela pretensão de alguns jornais em terem cadernos voltados para um público mais intelectual, acho que não seria difícil conseguir espaço para tal, também porque essa pretensão independe do gosto e das preferências do grande público.

Já receber atenção da mídia em um âmbito maior, que se dirija à um público não tão segmentado, é muito mais complicado, pois a princípio a maioria da audiência não tem interesse em curtas-metragens. Acredito que até gostariam se vissem algum depois da novela das oito, mas quem irá convencer uma pessoa arriscada a perder milhões de reais em publicidade? Atualmente o maior veículo é mesmo a internet, muito eficiente em veicular as produções para todos que se interessam por cinema, porém incapaz de alcançar pessoas fora desse público segmentado.

Um outro aspecto que também ainda não é muito visto no curta metragem é usá-lo como publicidade. Não estampando um logo no final, nem fazendo merchandising durante, mas apenas ligando a identidade de uma marca ao curta. Um bom exemplo é o ‘I'm Here’, do Spike Jonze, que foi bancado pela Absolut Vodka, e cujo enredo não tenta vender, nem lembra em nenhum momento a marca. Um dos grandes problemas de qualquer forma de arte no Brasil é a falta de interesse da iniciativa privada em patrocinar artistas, projetos e eventos. Depende-se muito de editais, que acabam por homogeneizar as obras devido ao processo de seleção aplicado ser sempre o mesmo. Adoro curtas-metragens, assisto muitos; mas sempre que aparece um logo de lei de incentivo nos créditos iniciais eu já sei que vai ser apenas mais um. Não vai haver nada de experimental nem inovador, muito menos alguma acidez crítica no conteúdo. Insistir em usar sempre a mesma linguagem, e um conteúdo que em 10 minutos não se diferencia dos restantes é o que causa a falta de empatia de muitas pessoas por curtas-metragens.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

Na minha opinião o espaço mais viável seria nas salas de cinema. Não existe nenhuma empresa grande, como Kinoplex ou Cinemark que veicule curtas-metragens no começo das sessões. Seria um grande atrativo para o público e um espaço para se divulgar as produções.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

Curtas-metragens são uma forma muito mais flexível, e aberta a mais experimentações do que o longa. E não acho que realizá-los seja tarefa apenas de cineastas, e diga-se de passagem os mais interessantes que eu já vi não eram feitos por cineastas. É uma forma de um indivíduo começar a se vender como diretor, mas também é uma forma de se fazer experimentações e de se produzir pelo simples prazer em se fazer isso. Alguns encaram como treino, ou um meio até atingir um estágio "maior". Acho que esse é um dos grandes fatores que os torna iguais. Pensar em um curta como um longa, porém de menor duração, é um erro. Isso impede o indivíduo de usar o formato da maneira mais experimental e diferente que ele consiga. O resultado final são trechos de um enredo que não se explica direito, não diz de onde veio nem pra onde vai.

O curta-metragem precisa ser encarado como um formato consolidado, e não com pretensão de se tornar outro. A impressão que tenho é como se o diretor tivesse a vontade de fazer um longa, mas como não tem recursos faz um curta. Para esses, o curta metragem será apenas um treino, e não uma forma final de expressão. Não deveria ser encarado como um desafio de como se espremer um roteiro que deveria ter 90 minutos em 10.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?

Nunca ouvi nada do tipo. Pelo contrário, acho que todos dão valor. Todo cineasta que se preze já fez um curta!

Pensa em dirigir um curta futuramente?

Meus "curtas" tem um caráter mais experimental, envolvendo, design e computação gráfica. Um curta com um enredo comum, uma história linear... talvez.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

VAGA IDEIA

A novela no cinema da Globo Filmes


Ninguém pode negar a importância que a telenovela têm na nossa cultura. Responsável por lançar talentos, gerar empregos e dar a oportunidade para uma ampla plateia assistir nomes como Fernanda Montenegro, Walmor Chagas, Lima Duarte e Marilia Pera ,interpretando com refinamento, seus respectivos papéis na televisão. Sem dúvida, é o meio mais democrático de se deparar com atores de renome em ação.

O teatro e o cinema não estão em todos os lugares e o acesso a esses equipamentos não é tão fácil. Custa caro para a maioria da população.

Ao longo desta história vimos sopros de genialidade em novelas épicas como ‘Vale Tudo’; ‘O Bem Amado’, ‘Escrava Isaura’, ‘Tieta’, entre outras.

Cada mídia tem o seu formato e característica própria. A apropriação de elementos é válida, um pode se alimentar e abastecer do outro, mas a “espinha dorsal” precisa ser preservada.

O que a Globo Filmes têm feito no cinema brasileiro é de se lamentar. Não falo de transições de novelas de sucesso para o cinema, como ‘O Bem Amado’. Essa é uma outra história.

Falo de filmes que são lançados e vendidos como filmes, mas na verdade são novelas com noventa minutos de duração. ‘Se eu Fosse Você 1 e 2’, Qualquer Gato Vira-Lata tem uma Vida Sexual mais Sadia que a Nossa’ , ‘Casamento de Romeu & Julieta’, ‘Divã’, e por aí vai...

São filmes feitos por pessoas da televisão, das novelas (nada contra, mas levam seus “vícios” para a sétima arte). Os diretores, os atores, produtores, roteiristas, quase toda a equipe envolvida numa produção da Globo Filmes é oriunda da televisão. Até a curva dramática dos filmes é da telenovela. E por que isso? Porque o que eles querem é levar o público das novelas para o cinema.

A medida merece meio aplauso. Convencer a pessoa a sair de casa e assistir um filme no cinema é sensacional, mas ao chegar na sala de cinema o que essa pessoa vê não é cinema. Assim, você acaba não formando público para o cinema, forma-se público só para os (tele)filmes que eles produzem.

A maioria dos filmes que a Globo Filmes produz têm uma clara referência ao modelo água com açúcar americano. Grande parte desta produção é descartável, como as músicas da moda (funk, pagode, entre outras tralhas), que vem e vão sem deixar saudade. Vendem milhares de discos, mas não ficam na história.

Os filmes, não são todos, que a Globo Filmes produz vão para o mesmo caminho: a vala do esquecimento.

Rafael Spaca, radialista, autor do blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Marat Descartes

Destaque no Teatro, Marat, ultimamente, vem recebendo muitos convites para trabalhar no cinema. Trabalhou em ‘2 Coelhos’ e ‘Os Inquilinos — Os Incomodados que Se Mudem’, de Sergio Bianchi, será o seu primeiro protagonista no cinema.



O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Um bom roteiro, uma boa história... isso é o que sempre me seduz primeiro quando topo fazer um curta; e é claro, uma turma bacana, porque os curtas de que participei até hoje quase sempre foram experiências criativas de turmas - ou de faculdade, ou recém formadas -, onde a experiência do fazer coletivo que envolve o cinema é vivenciada em sua radicalidade, e surge com força o tal espírito do "cinema de guerrilha", aquela equipe cheia de vontade, cada um pronto pra assumir qualquer função, se preciso for... enfim... essa experiência de um coletivo completamente centrado na criação de uma cena, de uma imagem, é algo muito prazeroso vivenciar, e acho que quanto mais afinidade essa "turma" tiver, mais facilmente isso se vivencia.

Como é o seu método de preparação para atuar em curtas? Difere dos trabalhos que faz em teatro, seriados e longas?
Entre o curta e o longa, e até mesmo os seriados, não vejo muita diferença no que toca a preparação para a atuação. Mas entre eles e o teatro sim. No teatro existe uma convenção, uma espécie de acordo entre o palco e a platéia de que aquilo que ela está vendo é uma representação da realidade, feita ao vivo, em cima daquele espaço cênico, e se algum imprevisto acontecer, se um refletor cair, esse acordo garante que mesmo após essa intervenção da realidade, a platéia voltará a crer na representação. No cinema, ou seriados, por mais ousada ou convencional que seja a proposta, existe sempre a intenção de criar a ilusão de que aquilo que está sendo visto realmente é a realidade. Te mostrando detalhes, te fazendo ver por vários ângulos, enfim, conduzindo teu olhar, o cinema pretende te fazer esquecer completamente de que aquilo não é verdade, de que aquilo é uma criação artística. E me parece que é então que o ator tem que ser mais verdadeiro do que nunca, mais sem máscaras, limpo, simplesmente se colocando nas situações do roteiro, como se aquilo que acontece com a personagem, através dela realmente passasse a acontecer com você, no momento do "ação!". As equipes de figurino, de arte, de fotografia, o próprio roteiro, todos já criaram meticulosamente a ilusão de que aquela personagem, de que aquilo que está sendo visto é real, então me parece que se o ator simplesmente respirar tudo isso, se simplesmente fizer uma espécie de doação dos seus órgãos, nervos e pele, já estará de bom tamanho pra que a magia do cinema se estabeleça.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Boa pergunta. Acho que ela vai no mesmo lote de perguntas como: Porque um longa nacional geralmente não permanece mais do que um mês em cartaz?

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
E aí já respondendo a próxima pergunta, me parece evidente que é preciso haver alguma política pública no que se refere à exibição das produções nacionais, seja curta, ou longa, ou doc, pra que elas possam não ficar fadadas a serem vistas tão poucas vezes e por tão pouca gente no cinema, pra depois caírem em alguma prateleira escondida de uma vídeo locadora. Acho que como no teatro, um mês é um tempo mínimo pra que o "boca a boca" comece a funcionar, pra que as pessoas saibam por quem já assistiu, e comecem a ir assistir, e recomendar para os próximos. Portanto vai minha sugestão pra algum deputado ou vereador sem assunto pros próximos 4 anos: salas de projeção e/ou tendas de projeção em praças públicas, em que só sejam exibidas produções nacionais, nos mais diversos horários, a preços populares. Não adianta nada a política cultural fomentar a produção cinematográfica se não garantir que essa produção vai ser vista pela população. E é o que vem acontecendo: se o filme não enche as salas nas primeiras semanas, tchau, um abraço, e o cineasta já pode começar a correr atrás do próximo edital, pra o seu próximo filme, e uma cultura cinematográfica não se estabelece de fato no país, apenas se chega a um número respeitável de produções.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que é possível sim, mas acho que é inevitável a vontade de se fazer um longa, depois que se tem a experiência de um curta. Mas conheço diretores que adoram só fazer curtas, que fazem curtas entre um e outro projeto de longa, ou que depois do primeiro longa nunca mais voltam aos curtas. E nesse último caso, talvez exatamente porque os curtas tenham essa visibilidade ainda mais limitada que a dos longas, fadados a serem vistos - quando muito - nas poucas exibições de alguns festivais de curtas dentro e fora do país.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Então não sei se existe uma marginalização, mas talvez uma resignação, uma triste consciência de que um curta também pode dar sim muita satisfação artística, mas terá provavelmente uma carreira... curta.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
No momento não, mas já dirigi um curta e gostei muito da experiência. Chama-se "Uma Confusão Cotidiana", baseado numa crônica de Franz Kafka, e foi feito junto com a minha turma - de atores que se formaram juntos na EAD -, inaugurando um coletivo que chamamos de Fuleragem Filmes, que hoje já tem três outros curtas finalizados, mas que atualmente anda inclusive um pouco parado, exatamente porque todos esses atores estão atuando nas tantas produções de ultimamente. Mas tenho vontade sim de dirigir um curta novamente.