segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Marx Vamerlatti

Marx é diretor de fotografia. ‘Veludo & Cacos-de-Vidro’, ‘Sorria Você está sendo Filmado’, ‘Professora Helena & os Cirilos’ e ‘O Petróleo é Nosso!’, são alguns curtas em que trabalhou.



Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
A importância histórica da constante possibilidade do exercício estético e de linguagem. Muitos diretores brasileiros passaram, e ainda passam, pela realização do curta com a consciência plena de poder ousar e sintetizar um conflito, uma história. Sabemos que a produção de curtas foi muito intensa nos últimos 20 anos por se mostrar economicamente viável para muitos realizadores. Mas hoje considero o curta-metragem uma escolha, uma atitude...

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
A possibilidade de uma equipe trabalhar com afinidade e de se entregar para a ótima condução daquela história. A primeira leitura do roteiro com toda a equipe é primordial. Ter a chance de ouvir as manifestações de cada um é muito importante para cada área de trabalho. Estabelecer uma confiança mútua e levar isso adiante torna-se um desafio. Desenvolvo vários projetos com diretores experientes e fico muito grato quando um realizador iniciante me convida para fotografar um curta. Acredito muito na parceria que se cria entre o diretor do curta e o diretor de fotografia.

Você sente alguma diferença de satisfação profissional entre fazer cinema, teatro e TV?
A minha formação é em Cinema e Vídeo. Sempre trabalhei na realização de curta-metragem, documentários e longa-metragem. Tenho vontade de fotografar um seriado para televisão. Nunca me envolvi com o teatro. Ainda...

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Pelo formato, simplesmente... Um certo preconceito, talvez... Mas penso que a rede mundial está mudando isso.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Deveria fazer valer a lei do curta. Exibição obrigatória de um curta nacional antes de qualquer longa-metragem. Mas na prática... Enfim, todos nós sabemos como isso não funciona. A alternativa que está dando certo é a exibição através de canais na web. Sites especializados em exibição acompanhados de crítica é uma ótima opção. O espectador assiste ao curta, assiste depoimentos críticos, escreve uma opinião... É estabelecer uma aproximação do espectador com a obra exibida.

Considera o curta-metragem um trampolim para fazer um longa?
Considero que deveria ser uma etapa obrigatória. A experiência adquirida na realização do curta-metragem é reveladora. E toda a trajetória desta produção amplia-se consideravelmente em um longa.

Dá para o cinema nacional sobreviver sem subsídios?
Ainda não. Todos os projetos que participo são contemplados por edital Estadual ou Federal.

O que é necessário para vencer no cinema?
Determinação mas principalmente dedicação. Sabia que queria fazer cinema desde muito cedo, com doze, treze anos... Estudei para isso. O meu mundo é o cinema. Assistir aos filmes é um exercício celebrado constantemente.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, penso em dirigir. Aliás, sempre pensei. Comecei operando câmera e migrei para a direção de fotografia. Em tese, estou me preparando para a direção há algum tempo.

Qual é o seu próximo projeto?
Fazer a direção de fotografia de um curta documentário no próximo mês.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Daniel Og

Daniel dirigiu videoclipes da Pitty, Ultraje a Rigor, Rodox, entre outros. No cinema foi diretor de animação de ‘Muito Gelo e 2 dedos dágua’. Seu trabalho como quadrinista merece um olhar atento do público.


Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Eu acho que o curta-metragem de uma forma geral é onde se trabalha linguagem. É um formato curto que permite muita coisa... experimentar livremente sem muito compromisso de dinheiro, nem de tempo. E o formato curto é bacana. Alguns filmes ficam geniais, aquele do Disquinho Verde e o da Ilha das Flores, são filmes pequenos redondos. Uns do Glauber Rocha. Eu não sei dizer academicamente se no Brasil é importante... meu amigo João Mors te diria isso, eu falaria besteira se fosse dizer que sei.

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Hum... tá ficando interessante! Dinheiro! hahahhaa muito!

Você sente alguma diferença de satisfação profissional entre fazer cinema, teatro e TV?
Teatro eu só fiz quando era criança, no colégio. não tenho uma referencia de como é a realidade de trabalhar com teatro, pra dizer. conheço pessoas de teatro e gosto muito da atmosfera. Mas não conheço... Na TV tudo me parece um pouco rígido, em questão de ficção. Tem o Guel Arraes, mas eu imagino que não sobreviveria ao meio. Meus clipes eram de certa forma curtas na TV, mas o clipe eu acho que seja um outro formato... é mais para cinema, até... mas satisfação todo trabalho bem feito dá. Não sei se tem diferença.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que é a ideia que as pessoas fazem, de que curta-metragem é um tipo de exercício, ou que é um filme de quem tem pouco dinheiro... que é capenga, por qualquer razão. Talvez seja justo. Talvez seja por que os curtas em geral são muito experimentais, e o publico mais abrangente quer coisas mais fáceis... na TV Brasil, TV Cultura, TV Futura... redes publicas e educativas, passam curtas e isso não muda muito o efeito. acho que é cultural. Falta de interesse por que não conhecem trabalhos que gostem. Não acho que tenha um culpado... os jornais podiam fazer mais criticas, mas tem tanta coisa que todo mundo tinha que fazer mais... hahahaha. Acho que tem veículos tentando divulgar bons curtas...

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Festivais e antes dos filmes nos cinemas. Talvez entre um filme e outro. No intervalo das sessões. Se você ficar até o final do crédito, vê um curta...

Considera o curta-metragem um trampolim para fazer um longa?
Acho que é mais acessível. Então acaba sendo natural que o curta venha antes do longa. Mas uma coisa não deveria depender da outra.

Dá para o cinema nacional sobreviver sem subsídios?
Não sei. Não entendo muito, mas não gostaria que o cinema fosse coisa de indústria. Os americanos tem indústria, mas por algum motivo, e estou sendo bem franco, o cinema de indústria deles funciona, por mais que tenha muito lixo. É bom. nosso cinema de indústria seria uma bela bosta! Hahahhaa. Acho que pra coisas pequenas o apoio do governo deve ser importante sim.

O que é necessário para vencer no cinema?
Não sei.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Pretendo participar de editais. Estou tendo problemas com o mercado justamente pelo formato da minha empresa. Minhas animações são muito experimentais pra televisão e acabo fazendo péssimos negócios por pura pressão. Acho que os curtas são uma boa "rota de fuga"...

Qual é o seu próximo projeto?
Tenho muitos! Outras histórias longas, outras curtas, mas como ficamos nos curtas-metragens o que eu preciso é definir como ganhar dinheiro sendo um sujeito honesto e construir nossa casa... esse ano quero fazer muitos quadrinhos curtos, mas nada épico. Não tenho pressa.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Eliana Fonseca

Eliana é atriz, produtora e diretora. Dirigiu ‘Xuxa Requebra’, ‘O Martelo do Vulcano’, ‘Eliana em O Segredo dos Golfinhos’. É dela também o único filme realizado pelo SBT Filmes, ‘Coisa de Mulher’.


O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Em primeiro lugar o roteiro e, obviamente como atriz, o personagem. Depois é necessário um bom papo com o diretor pra ver sua leitura do roteiro e seu modo de trabalho.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Acho que porque, num primeiro momento, não parecem rentáveis em nenhum aspecto. As pessoas esquecem o poder de abrangência de um curta-metragem. Eu mesma tenho a experiência de ter tido muito sucesso com 2 deles : A REVOLTA DOS CARNUDOS (sou atriz, diretora e roteirista) e o FRANKSTEIN PUNK (filme de animação, que foi meu trabalho de formação da ECA). Até hoje tem gente que me reconhece por me ligar a esses dois trabalhos. E olha que faz tempo que foram lançados, mais de 15 anos, e eu faço um bocado de coisas. Acho que se as pessoas percebessem o poder do curta, seja como veículo de experimentação do cinema, seja como alcance do público quando se trata de um filme mais popular, tanto a imprensa como patrocinadores teriam outra visão sobre esse produto cultural.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

Sem dúvida ele tem que ganhar espaço na TV. Isso porque tem lugares no Brasil que nem cinema tem. Outra coisa bacana seria voltar àquela história de passar bons curtas antes de longas. Pacotes com curtas para quem quisesse locar também seria uma boa opção. E é claro, tudo isso com a mídia dando uma forcinha.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

Depois de ter feitos 3 longas, percebo que não. Acho a linguagem do curta cada vez mais estimulante. Trabalhar a síntese é algo difícil e ao mesmo tempo extremamente excitante. Sem dúvida, há muita história que só pode ser contada num curta.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?

Não sinto isso não. Acho que quando um filme é competente, tem personalidade, ele é respeitado seja lá a metragem, bitola ou o lugar que ele tenha sido feito.

Pensa em dirigir um curta futuramente?

Vários. Tenho engavetados alguns roteiros e ainda pretendo vê-los nas telas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Luciano Vidigal

Luciano é integrante do Grupo Nós do Morro, tendo participado de várias peças e filmes. Atualmente, dá aulas de teatro e cinema e está dirigindo novos curtas. É um dos diretores do projeto em longa-metragem ‘Cinco Vezes Favela – Agora Por Eles Mesmos’, idealizado por Cacá Diegues. Atuou nos curtas ‘Mina de Fé’, ‘A Distração de Ivan’, ‘Caixa Preta’, entre outros.


Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta é o momento inicial de identidade do cineasta. Tem importância de entrada e permanência no mercado audiovisual. É a prova de fogo da nossa criatividade, singularidade, personalidade a amor ao cinema.

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
O roteiro ou a linguagem determinada pela direção do projeto. Como sou ator também, tem que bater um amor a primeira vista com os personagens e as tramas.

Você sente alguma diferença de satisfação profissional entre fazer cinema,teatro e TV?
Atualmente estou priorizando cinema e teatro. Através do cinema me comunico com mais coerência com o mundo. Teatro é total liberdade. Sinto muita dificuldade com os estereótipos midiáticos que existe na TV.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque o nossa mídia é capitalista e preconceituosa. Acho isso uma regressão no acesso a cultura.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Voltar a lei do curta antes do longa nos cinemas. E criar uma nova lei para exibições de curtas na TV Aberta. Temos que se unir e lutar por esse nosso direto de distribuição.

Considera o curta-metragem um trampolim para fazer um longa?
Sim é sempre um grande aprendizado prático e teórico.

Dá para o cinema nacional sobreviver sem subsídios?
Pode ser uma das formas de realização. Mas temos direito de todos os tipos de investimentos. Eu penso assim: O cinema é uma das mais rápidas representações do nosso país no mundo.

O que é necessário para vencer no cinema?
Rsrsrsrs. Apesar da democratização do cinema digital, ainda continua uma arte elitizada. Temos que ter muita paciência, perseverança, identidade e criar parcerias. Talvez seja a saída.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Sempre. Estou com uma ideia dentro da cultura futebolística e a poesia popular.

Qual é o seu próximo projeto?
No momento estou dirigindo um documentário junto com o Cavi Borges sobre os dez anos do filme Cidade de Deus. Vamos falar sobre a transformação na vida de alguns atores. Vou lançar também o documentário Copa Vidigal nos cinema esse ano. Um filme que documenta o futebol de favelas com a ferramenta de paz.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Daniel Tupinambá

Daniel é cineasta. Além da direção, escreve roteiros. ‘Na Base’, curta/documentário, é uma visão do próprio diretor sobre a vida através do skate. ‘Risque outro Fósforo’ e ‘Estro’ são outros curtas de sua autoria.



Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Tem a fundamental importância de ser a porta de entrada para futuros cineastas. Além de ser uma excelente plataforma para o experimentalismo audiovisual.

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Um bom roteiro. Na verdade, eu escrevo os trabalhos que dirijo, então sempre batalho principalmente em ter uma boa história para contar.

Você sente alguma diferença de satisfação profissional entre fazer cinema, teatro e TV?
Tive a sorte de ter contato com essas 3 plataformas. Difícil dizer, mas é diferente sim. O que mais identifico e o que mais gosto de fazer é cinema, sem dúvidas. Acredito que no cinema a gente tenha a possibilidade de brincar de Deus, pois o controle total acaba sendo do diretor, principalmente quando ele também é o roteirista. Mas no ano passado desenvolvi muito mais projetos para TV e gostei bastante também. A TV te dá uma possibilidade maior para comunicar a sua mensagem, o conteúdo chega em mais lugares. Mas ao mesmo tempo te limita em abordar determinados temas. No teatro, nunca fiz uma peça, mas já estudei em diversos cursos para aprimorar o meu trabalho de direção e tive um pouco da sensação do que é um trabalho de interpretação, apesar de nunca pensar em ser ator. Tenho vontade de no futuro dirigir peças teatrais.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Falta engajamento de nós mesmos, profissionais do ramo. Não podemos esquecer que é um problema cultural também, pois mesmo com brilhantes momentos do cinema brasileiro (como o cinema novo por exemplo) nunca tivemos a cultura de assistir filmes em curta metragem na televisão, exceto nas TVs públicas que dão um espaço como a TV Cultura e a TV Brasil, mas que detém índices de audiência irrisórios perto das outras emissoras de TV aberta. Falo sobre a Televisão, pois é a mídia que detém a maior quantidade de público no Brasil.
De qualquer forma, temos a internet aí. Não precisamos mais depender das mídias antigas para divulgar nosso trabalho. Se fizermos um trabalho de engajamento, aos poucos teremos resultados. Basta nos unirmos!

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Teria que ter um trabalho em conjunto de divulgação na internet, mídia impressa e televisão, poderia ajudar bastante. Seria legal também se tivessem exibições de curtas antes de longas com distribuição comercial nas salas de cinema.

Considera o curta-metragem um trampolim para fazer um longa?
Sem dúvidas. Como já disse anteriormente, é a nossa possibilidade de experimentação, de auto-conhecimento profissional e autoral.

Dá para o cinema nacional sobreviver sem subsídios?
Sobreviver sim. Mas existir decentemente não... Tivemos alguns casos de longas que não precisaram de subsídios de leis de incentivo para serem produzidos e lançados. Acho que o Ônibus 174 do Bruno Barreto foi feito somente através de co-produção internacional. Mas não acho que é uma boa alternativa para o cinema brasileiro. Ainda somos muito dependentes das leis. Mas em questão de sobrevivência existem diversas maneiras para fazer um filme. A maioria de nós faz filmes na raça mesmo!

O que é necessário para vencer no cinema?
Não acho que cheguei lá ainda. Estou batalhando.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Provavelmente irei rodar 3 curtas de ficção esse ano.

Qual é o seu próximo projeto?
Em cinema é um curta chamado "Relato Inspirado por Orelhas". Roteiro que eu mesmo adaptei do livro da escritora Paula Febbe.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Vida longa ao Curta

Esse texto foi publicado no caderno “Ilustríssima”, da ‘Folha de S.Paulo’ em 12/02/12.

A França ainda é uma potência no cinema
SERGE KAGANSKI

TRADUÇÃO PAULO WERNECK

O ano de 2011 no cinema foi marcado na França por "Intouchables" (intocáveis). Com mais de 18 milhões de ingressos vendidos, essa comédia social de Eric Toledano e Olivier Nakache é a terceira bilheteria francesa de todos os tempos e provavelmente vai passar "A Riviera Não É Aqui" e "Titanic".

A boa-nova econômica é motivo de comemoração para o cinema francês, completada pelo sucesso artístico e internacional de "O Artista", que prova que a França ainda é uma potência no cinema.

Seria possível moderar de leve esse entusiasmo patriótico observando que "Intouchables" é mais um bom produto formatado que uma obra-prima comparável ao trabalho de Jean Renoir, Jean-Luc Godard ou François Truffaut, e que seu sucesso não deve nos fazer esquecer das dificuldades financeiras de muitos autores franceses.

Para cada "Intouchables", dezenas de bons filmes ficam em cartaz só por uma semana, vítimas da concorrência, de uma oferta abundante e de marketing insuficiente.

A VOLTA DO CURTA

No outro extremo econômico de "Intouchables", o curta-metragem permanece como território no qual fervilha o futuro do cinema.

No último dia 4, acabou o festival de Clermont-Ferrand, uma instituição do curta na França, que a cada ano alcança enorme sucesso.

Ao mesmo tempo, estreiam dois médias-metragens já cult graças ao burburinho dos festivais: "Le Marin Masqué" (o marinheiro mascarado), de Sophie Letourneur, e "Un Monde Sans Femmes" (um mundo sem mulheres), de Guillaume Brac.

Letourneur já assinou um longa elogiado ("La Vie Au Ranch", a vida no rancho) e volta ao formato curto com esta comédia romântica experimental e engraçada. Brac, por sua vez, estreia no cinema com um quarteto amoroso à beira-mar, num filme cujo tom faz pensar nas grandes figuras da nouvelle vague, como Eric Rohmer e Jacques Rozier (trailer em bit.ly/sansfemmes).

A exibição desses filmes de menos de uma hora no cinema é uma boa-nova: antes de serem curtos, "Le Marin Masqué" e "Un Monde Sans Femmes" são, sobretudo, excelentes filmes, que fazem acreditar no futuro desses cineastas.

"STAND-UP" MUÇULMANO

Numa pequena sala parisiense é encenado o "one-woman-show" de Sophia Aram. Muçulmana de origem marroquina, Sophia é uma cidadã francesa, laica, ateia, cujo humor espeta o culto excessivo às comunidades de imigrantes e o extremismo religioso. Como esses temas são sensíveis, isso lhe traz inimigos.

"Meu marido e eu somos de culturas diferentes", diz ela, casada com um cristão, numa apresentação. "Ele perguntou se podia me beijar após comer salsichão. Falei: 'É claro, desde que depois eu possa circuncidá-lo com os dentes'."

Sophia Aram também é titular de um quadro humorístico duas manhãs por semana na France Inter, rádio de grande audiência em todo o país.

Ela volta e meia desperta polêmica com líderes políticos que não apreciam seu senso de humor. Um dia tratou os eleitores do partido de extrema direita Front National de "grandes babacas".

Ela se justificou explicando que entendia as dificuldades econômicas de parte da população, mas que não entendia como aquelas pessoas podiam acreditar nas promessas simplistas de um partido político demagógico e xenófobo.

Ao fazer crítica social pela via do humor, gente como Sophia Aram é necessária à vida de uma democracia.

"FAIT-DIVERS" LITERÁRIO

Régis Jauffret, um dos escritores mais interessantes dos últimos anos, acaba de publicar o romance chocante da temporada de lançamentos de janeiro.
Assim como "A Sangue Frio", de Truman Capote, "Claustria" se inspira num "fait-divers" terrível: na Áustria, um pai de família estuprou sua filha, teve filhos com ela e os manteve reféns no porão durante 24 anos, à revelia do resto da família!

Jauffret tentou descrever o indescritível: não tanto as relações de violência incestuosa, mas o fato de viver apartado do mundo durante 24 anos. Longe de uma literatura obscena e sensacionalista, Jauffret transmite ao leitor uma experiência da duração, da limitação e de uma forma de condição humana que ultrapassa a compreensão comum: assim como uma microexistência que teria suas próprias regras longe de nossa civilização (a filha-mãe-vítima também tinha boas relações com seu pai-amante-predador).

De um "fait-divers" único e terrível, Jauffret tirou um romance único e poderoso.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Lena Roque

Lena fez licenciatura em artes cênicas na ECA, USP (1990-1995). Escreveu texto para teatro e dois roteiros para curta-metragem. Trabalhou em “Domésticas – o filme” (antes atuou na peça de mesmo nome) e “Quanto Vale ou é Por Quilo”. Na televisão fez novelas, a última foi “Essas Mulheres”, da Rede Record.



O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Principalmente o roteiro e o personagem que me é oferecido, além dos profissionais envolvidos no trabalho.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A resposta exata eu não sei. O que percebo é que não há a devida valorização destes filmes, como se fossem um trabalho menor subordinado aos longas, e por isso não conseguem a justa visibilidade. Penso que isso se dá pelo poder que a indústria internacional tem em nosso país em relação ao cinema como um todo. E a mentalidade restritiva que algumas pessoas tem e assim não divulgam.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Talvez pudesse ser exibidos nas escolas públicas e privadas, em clubes e associações de bairros, nos teatros antes dos espetáculos e também começar uma campanha nacional onde as pessoas pudessem entender o valor do curta metragem.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Eu acredito que é muito possível. Assim como podemos ser só documentarista. Questiono o SÓ. Não é só, o profissional É diretor de curta ou É documentarista, o SÓ diminui o valor do trabalho.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Espero que não. Ou será que ainda convivemos com pessoas que depreciam as outras, outros conteúdos, outros formatos, outras realizações que não as suas. (!!???!!)

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Já tenho dois roteiros escritos. Em um futuro breve lá estarei.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Linduarte Noronha

O blog ficou devendo uma homenagem ao saudoso cineasta Linduarte Noronha, que morreu no dia 30 de janeiro deste ano, aos 81 anos.

Noronha nasceu na cidade de Ferreiros, em Pernambuco, mas construiu toda a sua carreira na Paraíba. Ele foi um pioneiro do cinema local e fez história no Brasil com o documentário em curta-metragem 'Aruanda', de 1960. O cinema no Brasil nunca mais seria o mesmo. O filme, que é sua principal obra, promoveu grandes modificações estéticas na cinematografia brasileira.

Publico aqui três textos de autores distintos que nos permitem ter a dimensão da sua história:

Aruanda: os 50 anos de um filme clássico

“Como eu fui burro! Como eu fui burro!”. É o que teria dito o jovem Glauber Rocha ao conhecer Aruanda, o seminal documentário de Linduarte Noronha, filme que está comemorando 50 anos de existência. Anos bem vividos, aliás, pois poucas obras do audiovisual brasileiro foram tão influentes e seminais quanto este em aparência singelo registro de uma comunidade quilombola na Serra do Talhado, no Estado da Paraíba.

A “burrice” a que aludia Glauber Rocha se refere ao seu começo de carreira, em particular ao belo e estetizante curta-metragem O Pátio (1959), que pouca coisa teria a ver com os caminhos em seguida trilhados pelo cineasta baiano após sua estreia em longa-metragem com Barravento, em 1962. Ao assistir Aruanda, Glauber teria pressentido que o mapa da mina passava por aí. Numa imersão bruta na realidade brasileira, não em seu pitoresco, mas no registro mais verdadeiro e realista, que não excluía um olhar poético sobre a condição fragmentada do País. Quem conta essa história sobre Glauber é o próprio Linduarte Noronha, na sabedoria e na memória dos seus 80 anos. Ao lado de Aruanda, outro curta-metragem exerceu esse papel de farol para os jovens diretores do Cinema Novo: Arraial do Cabo, da dupla Paulo Cezar Saraceni e Mário Carneiro.

Com seu trabalho pioneiro, Linduarte entrou para a história do cinema brasileiro. Foi reconhecido. A fortuna crítica de Aruanda é impressionante. No calor da hora, os maiores ensaístas do cinema brasileiro escreveram sobre ele. Glauber Rocha, além do reconhecimento verbal, escreveu sobre Aruanda no Jornal do Brasil e depois incorporou o artigo em seu livro Revisão Crítica do Cinema Brasileiro. Paulo Emílio Sales Gomes e Jean-Claude Bernardet o estudaram em profundidade em seus livros e nas páginas do Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo. Paulo Emilio dizia que Aruanda era um manifesto. Em 2007, Bernardet voltou a ele em ensaio escrito para o suplemento Cultura de O Estado. A professora da ECA, Marília Franco, coordena, na USP, um laboratório de estudos sobre documentários chamado…Aruanda. O festival de cinema de João Pessoa, que promoveu esta homenagem aos 50 anos da obra, chama-se Cine Fest Aruanda (acaba de realizar sua 6ª edição) e distribui o Troféu Aruanda. Em suma, o filme de Linduarte Noronha nunca saiu de cartaz durante esse meio século de existência.

Curiosamente, a obra teve origem numa reportagem. Linduarte, antes de ser cineasta, era jornalista e crítico de cinema em diários da Paraíba. Tinha fama de exigente. Tanto assim que um dos distribuidores de filmes da cidade, irritado com os textos negativos sobre seus produtos, o apelidou de Bílisduarte Noronha. Linduarte ri muito ao recordar a história e lembrar seus 15 anos de crítico militante. Mas o trabalho que está na origem de Aruanda é uma reportagem à maneira clássica. Linduarte, e o correspondente do Estadão na Paraíba, Dulcídio Moreira, tinham ouvido falar de uma comunidade quilombola na Serra do Talhado. Os descendentes de escravos viviam de maneira primitiva, quase isolados da economia do país. Sobreviviam da venda de potes de barro, confeccionados de maneira artesanal e segundo técnicas ancestrais. Ambos subiram ao Talhado em 1957, em lombo de cavalo. Linduarte publicou a reportagem no jornal A União e Dulcídio a sua, no Estadão, com o título “Talhado não é mais que uma longínqua favela”. A notícia mereceu chamada de primeira página no Estado.


Havia mesmo naquela comunidade material para um excelente trabalho jornalístico, afinal era, nos anos 1960, uma sobrevivência arcaica em país que se industrializava. Havia também assunto para um filme, pressentia Linduarte. Só não havia como fazê-lo, por falta de condições técnicas. E não é que o jovem Linduarte teve a caradura de se deslocar ao Rio de Janeiro e pedir a Humberto Mauro, então presidente do Ince (Instituto Nacional do Cinema Educativo), que lhe emprestasse câmera e outros apetrechos? Diz que formulou o pedido a Mauro, que, de tão surpreso, gritou a um funcionário: “Esse rapaz da Paraíba quer que todos nós sejamos presos!” Mas como Mauro não era diretor igual aos outros, escravo da burocracia, Linduarte saiu do instituto com uma câmera Bell & Howell debaixo do braço. Voltou com ela à Paraíba e lá começou a fazer história, ainda que sob descrença e chacota de seus colegas da redação.

Aliou-se ao fotógrafo Rucker Vieira e subiram a Serra do Talhado. Trabalharam durante meses com os habitantes do quilombo e, depois da filmagem, o material foi levado ao Rio, ao Laboratório Líder, para ser montado. Não há no filme depoimentos orais dos habitantes do Talhado. Apenas o registro de imagens do seu trabalho de oleiros, realizado em especial pelas mulheres. Depois, o produto, potes e jarras, é colocado no lombo de jegues e levado para a cidadezinha mais próxima, Santa Luzia, onde são vendidos e trocados por mantimentos. Um ciclo econômico primitivo e, em aparência, sem saída. Esse círculo de ferro da pobreza extrema era justamente o que o documentário queria mostrar. E também era esta a ambição do Cinema Novo, que ensaiava nascer da parceria entre Glauber Rocha, que viera da Bahia, e jovens aspirantes a cineastas da Zona Sul carioca. Aruanda lhes apontava o caminho a seguir.


Em seus 22 minutos de duração, o filme tem a graça e o frescor das obras definitivas. Começa por uma parte que se poderia chamar de “ficcional”. Faz os próprios moradores encenarem a saga dos membros da família de Zé Bento (Paulino Carneiro), no século 19, em busca de terra fértil, onde pudessem se estabelecer. Encontram, por fim, uma nascente d’água e começam a construir a casa de barro, com a mesma técnica ainda hoje empregada nas regiões pobres do país, seja no sertão ou no litoral. Após esse prólogo, há um corte brusco e saltamos do século 19 para meados do século 20. Vemos as mãos no trabalho de moldar o barro e, dele, tirar os artefatos. A trilha sonora utiliza material em conformidade com as imagens – a comovente canção folclórica “ Ô mana deixa eu ir” (recriada por Villa-Lobos) e, em outras cenas, um tema recorrente tocado por uma banda de pífanos.

Quem pergunta a Linduarte por que empregou a forma ficcional para mostrar a chegada dos ex-escravos à Serra do Talhado, ouve a resposta: “Não havia escolha”, diz. “Não queria usar uma longa narração em off e precisava mostrar de alguma maneira como eles haviam chegado lá”. E, uma vez chegados lá, revelar como e porque aquelas pessoas permaneciam à parte, como num espaço econômico primitivo e perpetuador da sua condição precária. Na época, o Brasil instalava sua indústria automobilística e ainda havia gente vivendo à maneira do século 19. Essa sobrevivência do arcaico no moderno era um depoimento chocante sobre os contrastes sociais do País. Linduarte havia encontrado assunto e a forma para tratá-lo. De onde tirou essa sacada? Quando lhe perguntam sobre influências, responde: “apenas a dos cinejornais”. Aruanda é um filme de jornalista. A técnica cinematográfica, ele aprendeu, como autodidata, do Tratado de Realização Cinematográfica, do russo Lev Kulechov.

De maneira inspirada, Linduarte encontrou a maneira mais direta de mostrar as coisas como elas são. Simples assim.

A repercussão crítica

Um filme se completa naquilo que sobre ele se escreve. Para Paulo Emilio, Aruanda era “um manifesto” – quer dizer, um indicador do caminho a seguir na linha evolutiva do cinema brasileiro.

Glauber Rocha escreve que Linduarte e Rucker Vieira “entram na imagem viva, na montagem descontínua, no filme incompleto. Aruanda inaugura o documentário brasileiro nesta fase de renascimento que atravessamos.” (Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, 1963).

Jean-Claude Bernardet, mesmo fazendo reparos à precariedade técnica, diz que “a fita é importante porque, além de ser uma provocação e um estímulo, além de tratar de assunto brasileiro, o faz de uma maneira que pode se tornar um estilo e dar ao cinema brasileiro uma configuração particular (fora de qualquer emprego de folclore, exotismo, naturalismo, etc.), o que este, ao que eu saiba, nunca possuiu, nem de longe.” (Suplemento Literário do Estado de S. Paulo, 12/8/1961).

Em 2006, Bernardet volta ao assunto. Participando de um seminário no Fest Aruanda, percebe que o filme feito por Linduarte, Rucker era diferente daquele que ele e outros intelectuais haviam detectado como guinada no cinema brasileiro no início dos anos 60. E o clássico que hoje se discute à luz de certo recuo histórico, era ainda outra coisa, já contaminada pela consagração. O texto “Aruanda como objeto mental” (Caderno 2/Cultura, 18/2/2007) articula essa fértil ideia de Bernardet: o mesmo filme pode adquirir configurações distintas segundo a época e o grupo de pessoas que sobre ele se debruçam.

De certa forma, há um Aruanda para cada espectador e para cada época. E isso por vários motivos. Um deles é, em se tratando de interpretação artística, esse deslizamento é inevitável. Mais ainda quando se trata de obra ambígua como é o caso. Moderna pela fotografia, montagem e precariedade de meios aplicadas à própria linguagem, Aruanda é antiquada pela narração em off por um locutor à Luiz Jatobá, como lembra Bernardet. E, depois, porque, à maneira de um clássico, Aruanda não se esgota e nem deixa de produzir significações, mesmo tendo já tanto tempo de estrada.

Um dos significados da palavra Aruanda é liberdade.

Luiz Zanin Orichio

Linduarte Noronha

por Jorge Furtado em 30 de janeiro de 2012

Morreu na manhã desta segunda-feira, em João Pessoa, aos 81 anos, o cineasta, crítico, professor e jornalista Linduarte Noronha, autor de uma obra decisiva para a história do cinema brasileiro, o curta-metragem “Aruanda”, de 1960.

Aruanda é um documentário que se utiliza de processos narrativos ficcionais, com personagens reais que aceitam interpretar os seus próprios papéis. O filme se passa em 1960, ano de sua realização, mas fala de acontecimentos de meados do século XIX, embaralhando cronologias e dramatizando a terrível desigualdade brasileira, cristalizada em séculos de imobilidade social: pouca ou nenhuma diferença entre os escravos foragidos dos tempos do Império e os deserdados da miséria do Brasil moderno.

Aruanda conta a história ex-escravo e madeireiro Zé Bento, que partiu com a família à procura de terra e fundou o Quilombo do Olho d'Água da Serra do Talhado, em Santana do Sabugi (PB). Brilhantemente roteirizado, encenado, fotografado e decupado, Aruanda é um valioso registro etnográfico, filme precursor de uma estética cinematográfica brasileira que iria originar o Cinema Novo.

Conheci Linduarte num Festival de Brasília, era uma figura admirável, de grande sabedoria, inteligência e humor, ótima conversa. Ele me mostrou o roteiro de “Aruanda”, um roteiro de documentário escrito e decupado em detalhes, uma lição e tanto para estes tempos digitais, onde muitos pensam que fazer documentário é sair por aí filmando e depois construir o filme na montagem.

Para conhecer as misérias do Brasil – e também o poder transformador do seu melhor cinema - assista “Aruanda”, de Linduarte Noronha (1930-2012).

Aruanda

Ao texto postado por Jorge Furtado no seu blog por ocasião do falecimento de Linduarte Noronha, gostaria de acrescentar duas observações:

1) a trilha musical de ARUANDA se compõe de musicas gravadas por Linduarte após pesquisa, o que revela uma preocupação com a música inexistente no documentário brasileiro da época. Simplesmente se usava um disco qualquer, e pronto, o filme tava musicado. A gravação sonora não está associada à imagem, o equipamento de som direto só chegaria mais tarde, mas a preocupação musical já é de som direto. Por outro lado, a locução, com timbre e entonações inconfundíveis, é típica dos anos 50. Com essa locução e uma preocupação musical que já é de cinema direto, ARUANDA é um filme de transição na materialidade de sua trilha. Essa transição passará ainda por MAIORIA ABSOLUTA de Leon Hirzman e GARRINCHA ALEGRIA DO POVO de Joaquim Pedro de Andrade, antes de chegar a VIRAMUNDO de Geraldo Sarno.

2) A repercussão de ARUANDA logo depois de sua produção não se deve apenas ao filme, mas igualmente a uma decisão tomada por Linduarte: viajar para o sul. Linduarte foi primeiro ao Rio mostrar o filme a Glauber, que teve a reação que se sabe. Em seguida ele foi a São Paulo mostrar o filme a Paulo Emilio Salles Gomes na Cinemateca Brasileira. Meu artigo “Dois documentários” sai no Suplemento Literário do Estado de S. Paulo em 18.8.1961. O segundo documentário era APELO de Trigueirinho Neto, que me criticou por não ter consagrado o artigo exclusivamente a ARUANDA. Rudá de Andrade, Maurice Capovilla e eu programamos ARUANDA na Bienal de São Paulo de 1961. Quero destacar que a importante repercussão do filme em 1961 não teria sido a mesma sem a viagem, que faz parte da história do cinema tanto quanto o filme.

Escrito por Jean-Claude Bernardet

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Carla Ribas

Eleita pela critica especializada como uma das grandes atrizes da sua geração. Fez curtas como ‘Gisela’, ‘O Cavalo’, entre outros. A respeito de seu trabalho em ‘A Casa de Alice’, longa-metragem de Chico Teixeira, Luiz Carlos Merten, o crítico de cinema do jornal ‘O Estado de São Paulo’, escreveu: "Em sua estreia no cinema, a atriz de teatro Carla Ribas sobe imediatamente ao pódio das maiores interpretações femininas da história do cinema no País".


O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Uma história interessante, mas principalmente, a equipe.
Para participar de um projeto, tanto em curtas quanto em longas metragens, eu procuro saber quem está envolvido na produção: Quem é o diretor, quem é o diretor de fotografia, o diretor de arte, e quem está no elenco. Eu preciso confiar na qualidade artística da equipe, senão fico muito insegura.

Como é o seu método de preparação para atuar em curtas? Difere dos trabalhos que faz em novelas, seriados e longas?

Não tenho experiência em novelas, mas acho que a preparação de um ator deve sempre partir do estudo do texto. É preciso entender profundamente, cada cena e a história como um todo, e, também, descobrir as características e a trajetória da personagem que se vai interpretar. Depois é abrir espaço para a intuição e para o inesperado. O estudo e a preparação dão a base, mas muito da criação se dá no set, na hora da filmagem. Porque é só ali que a situação, finalmente, se concretiza.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Imagino que seja porque não entram no circuito comercial.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

Acho que já melhorou bastante. Antigamente não se conseguia assistir a curtas, hoje já há canais na televisão com programas dedicados a exibição de filmes neste formato, há sites na internet e há os festivais de cinema. A medida que cresce o interesse, cresce, também, o leque para a exibição.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

Imagino que seja possível, sim. É só querer. Um curta metragem é um filme que conta uma história curta. Quando o história é longa, é preciso fazer um longa metragem. E há muitas histórias, curtas e longas, para se contar. O que acontece muitas vezes, é que se quer fazer um curta e não se sabe nem o que se quer dizer, não se tem uma história interessante para contar. A única coisa concreta que se tem é o "querer fazer um curta". Daí, o resultado pode ser desastroso.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?

Entre alguns, sim. Já participei de um filme em que as pessoas quase pediam desculpas por estarem fazendo um curta. Diziam fases que começavam com: "Apesar de ser só um curta ..." Eu estranhei muito essa postura por que eu vinha de trabalhos onde tudo funcionava com o mesmo nível profissional de num longa. E na verdade não há diferença mesmo. Como eu disse, o única diferença é o tamanho da história que se quer contar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Escola de Samba Jaedim do Lado Lindo - Nilson Primitivo

Tem gente que faz cinema pra depois querer se livrar do cinema, ou pra conseguir a vida que tinha antes do cinema, mas o cinema muda tudo: o jeito de pegar uma colher, de andar pela rua, o cinema incomoda, o cinema é foda.

Esse é o samba da escola de samba (imaginária) 'Jardim do Lado Lindo" com o sambinha desse ano de 2012 'Novo-Éden'. E esse é o nosso inesquecível estandarte.



Novo-Èden

"Apatia é inútil
se voce já está aí
se levanta, enjoa e corre,
já não dá mais pra fugir

tenta ver oque te engasga
de uma forma genial
segue reto na avenida
Novo-Éden carnaval!"


Nilson Primitivo é cineasta e colunista do blog Os Curtos Filmes.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Frederico Machado

Frederico é cineasta e fundador da Lume Filmes que nestes últimos anos firmou-se como a mais importante distribuidora de cinema autoral e independente no Brasil. Desde seu início a Lume vem surpreendendo o mercado com lançamentos de importantes peças da cinematografia brasileira e mundial, tirando-as do baú do esquecimento para o deleite daquele público ávido por um cinema de qualidade.


Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Enorme! Vários grandes cineastas surgiram depois de terem realizado curtas, além de vários filmes considerados como os melhores da história do cinema brasileiro, são curtas-metragens, como por exemplo " A velha a fiar" de Humberto Mauro e "Ilha das flores" de Jorge Furtado.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Falta política de incentivo à exibição de curtas-metragens. O próprio governo incentiva a produção nacional, tanto de curtas como de longas, porém não há nada no sentido da exibição. Então o realizador corre o risco de conseguir fazer seu filme e não exibi-lo.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

A exibição de curtas antes de longas-metragens (Isso já acontecia anteriormente e não sei por que parou, inclusive ainda sendo lei), na TV pública, em projetos como o que a Lume tem aqui em São Luís que é o"Cinema vai à escola", além dos próprios festivais e mostras.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

Sim, é possível! O curta-metragem te possibilita lidar mais de perto com os processos não só artísticos mas técnicos da pré-produção, além da filmagem e pós-produção. Isso, com certeza te capacita mais para migrar para o longa, então o curta nem sempre pode ser o trampolim, mas é o caminho natural para o cineasta chegar ao longa.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?

Realmente não! O curta-metragem é o tipo de produção que dá mais prazer de realização, porque nele tem-se muito mais liberdade para produzir, o que possibilita um maior exercício criativo ao cineasta.

Pensa em dirigir um curta futuramente?

Sim, claro! Como havia dito, o curta te permite um maior controle sobre a realização do mesmo e isso possibilita que o resultado final seja bem mais autoral. Estamos preparando para um futuro bem próximo 4 curtas e 2 longas.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

BISTURI - Rejane K. Arruda

Margarita Kherékova em O Espelho
(e uma reflexão sobre “viver o momento” no cinema)


A compreensão da personagem representaria um obstáculo para o ator? O esforço de compreensão do roteiro seria infrutífera? Já que o filme surge na montagem, o ator deveria trabalhar cada momento isolado, sem pensar na linearidade? É o que pensa o russo Andrei Tarkovski, diretor de filmes como O Espelho, Nostalgia, O Sacrifício, e autor do livro Esculpir o Tempo.

“Cada ator de teatro precisa construir seu próprio papel, interiormente, do começo ao fim. Ele deve desenhar uma espécie de gráfico dos sentimentos, subordinado à concepção integral da peça. No cinema, não se admite essa elaboração introspectiva do personagem. Sua tarefa é viver! (...) Então o diretor, tendo em mãos as seqüencias, segmentos e retakes do que realmente se passou diante da câmera, irá montá-los de acordo com seus objetivos artísticos pessoais, criando a lógica interna da ação“ (Andrei Tarkovski)

Margarita Kherékova é a atriz principal do filme O Espelho. Sua performance parece comprovar a veracidade das hipóteses de Tarkovski. Kherékova nos dá a impressão de estarmos violando sua intimidade. Isto na medida em que a flagramos alheia à câmera (cujo olhar invade os gestos displicentes), em um total desprezo pelo fazer fílmico; em uma atmosfera de desleixo!

Um “corpo sujo“: parece que isto resiste à leitura de uma situação de representação. Perdemos de vista “a atriz representando”. Uma espécie de “sujeira cotidiana” cumpre o papel de resistência à leitura de uma elaboração planejada ou formal.

A atriz esfrega os olhos, massageia a testa; quase dorme (diríamos) apoiada nas mãos; não “dona do tempo“ (quem o esculpe é o diretor), mas “escrava da espera” - de uma fala cujo insight ainda não se deu, do “corta!” que ainda não chegou.

Algo similar encontramos na atuação de Inecy Rocha em A Lira do Delírio, de Walter Lima Jr. Estranha colocação, dadas as diferenças: a brasileira traz a intensidade, alegria e vertigem do desbunde!

No entanto, o “viver o momento” (e o amor à instantaneidade da revelação de uma incidência viva) está presente nas duas atrizes, bem como no discurso dos respectivos diretores: enquanto para Tarkovski o ator tem “total liberdade em cada segmento isolado”, para Walter Lima Jr., deve-se abrir mão da “literatice que sufoca o cinema, justifica o autor e robotiza o ator” (LIMA upud FERREIRA, 2012: 88).

Poderíamos dizer que a docilidade de uma Kherékova, que submete o corpo (“afetado“) ao voyeurismo da câmera, se limita aos momentos sem um texto (que a amarraria em uma cadeia linearmente planejada)? Sem o limitador da pré-programação, poderia, então, mergulhar na vertigem do “não sei o que vai acontecer”? O despojamento de um “corpo sujo” se intensifica na cena em que ela conversa com o marido; uma cena difícil com um longo texto. Seria improvisado?

Há uma situação ficcional em jogo: “Diante da câmera o ator tem de existir com autenticidade e imediatamente no estado definido pelas circunstâncias dramáticas” (Tarkovski, 1998). Com uma regra de jogo, seja ela qual for, surge uma situação que deve ser manejada; isto traz resoluções inesperadas: é o que percebemos na experiência prática com atores. O improviso tem regras: “você precisa falar disto e disto” ou “tal coisa precisa aparecer”. O improviso com a fala sem regra gera resultantes sem brilho.

É evidente que a situação dramática isolada estabelece um imaginário e certos significantes, por exemplo, implicados na relação mãe e filho (em questão no filme O Espelho), palavras cuja incidência é perceptível. No entanto, é o corpo impregnado de uma “cotidianidade suja” que se revela, no caso de Margarita Kherékhova, como “a verdade de um jogo” extremamente elaborado.

É a dedicação profunda a pequenas e insignificantes “coisas fora do script” que respondem ao “o ator tem de existir com autenticidade” de Tarkovski. Autenticidade conquista na medida em que a atriz se impregna de um certo bailado entre as partes (do corpo) que, enamoradas entre si, se oferecem displicentemente ao olhar voyerizado da câmera.

Mão com testa, dedos com olho, braço com rosto: a atriz deita-se no braço; deixa à mostra o cocuruto desfocado; coça os olhos com o dedo mindinho ou a mão fechada e os aperta, bem forte, com os dedos; leva a mão direita à testa, a massageia; estala a língua.

Trata-se da “verdade de um jogo” (entre outros); verdade que se adapta a um processo de construção fílmico específico. Isto enquanto se dispara palavras feito uma metralhadora silenciosa, destas que atingem o alvo sem muito alarde: “Ah (...) O que quer da sua mãe? Que relações procura? (...) Ãh? (...) E ela quer te ver como uma criança outra vez”.

Será que este jogo se adaptaria a outros? Se tomarmos o cinema de Elia Kazan, ou mesmo de um Woody Allen, Almodóvar ou Coppola, não haveria a construção de um papel? Os materiais com os quais o ator joga não estariam selecionados na medida em que operam dentro de uma lógica? Neste caso, não seria importante a compreensão do percurso (ficcional) oferecido pelo roteiro?

Na hipótese de Tarkovski, o ator não representa e sim vive. Se a personagem surge na montagem, não cabe ao ator compreender. Há apenas a liberdade em momentos isolados. Poderíamos dizer que o que vive é a própria situação. Por analogia, esta resulta na leitura verossímil com a qual o diretor evoca a personagem. Neste caso, poderíamos dizer que uma “dinâmica de bastidor” (que a câmera flagra) pode ser “a causa” da verdade da atuação?

Seria algo para não esquecermos: em analogia ao corpo impregnado das impressões e incidências internas de um pensamento que não será revelado, os atores evocam o corpo ficcional?

Trata-se de material pessoal, cuja importância é destacada por Grotowski: “A ação física deve apoiar-se e fundar-se sobre associações pessoais, íntimas do ator, sobre suas baterias psíquicas, sobre seus acumuladores internos” (GROTOWSKI, 1962: 22 upud BARBA, 1994: 164).

Em outras palavras, os atores tomariam a situação de set como “paralela” à ficcional. É neste sentido que compreendemos a máxima que parece prevalecer hoje na prática de preparação de atores no Brasil: “Não há personagem, é o ator vivendo uma experiência” (Fátima Toledo, 2007).

Referências citadas:

BARBA, Eugênio A Canoa de Papel: Um Tratado de Antropologia Teatral. São Paulo: Ed. Hucitec, 1994.
DUAILIBI,Julia. Perfil de Fátima Toledo. Ed. Abril: Revista Veja, edição 2035, 21 de novembro de 2007.
FERREIRA, Lírio. O Cinema Delirante de Walter Lima Jr. In: Catálogo da Mostra Jairo Ferreira, Cinema de Invenção. São Paulo: CCBB, 2012. Pg.86-89.
TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o Tempo.São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.


Rejane Kasting Arruda, é atriz e pesquisadora. Atua em cinema e teatro. Faz pesquisa na Universidade de São Paulo junto ao Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator. Ministra aulas de atuação para cinema. Participou dos filmes Corpo, O Veneno da
Madrugada, Tanta, Iminente, Edifício do Tesouro e Medo de Sangue, entre outros. É também colunista do blog Os Curtos Filmes, onde assina uma coluna mensal.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Adrian Teijido


Adrian é diretor de fotografia. Recebeu elogios por seu trabalho em ‘Por Trás do Pano’, de Luís Vilaça. É vencedor do prêmio de melhor Fotografia no Festival do Rio, pelo filme ‘Boca do Lixo’, longa-metragem dirigido por Flávio Frederico.



Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Não sou a pessoa mais adequada para responder esta pergunta. Mas no meu caso ,como diretor de Fotografia foi no curtas que comecei a experimentar o exercício da Narrativa cinematográfica,foi nos curtas que entendi o que era fazer cinema,tanto no sentido técnico como conceitual.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Acredito que os curtas ocupam um espaço alternativo, um espaço que só desperta o interesse de uma parcela muito pequena do público.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

Não sei responder essa pergunta, sempre quando vou assistir curtas metragens acabo assistindo curtas bons, mas também assisto a vários ruins ou muito ruins e isso não estimula.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

Não acho possível ser um cineasta só de curtas-metragens, os curtas são um trampolim sim para os longas, mas ,também são peças aonde se pode ser experimental, aprender estéticas e conceitos que podem se desenvolver para outros projetos seja Longa ou mini séries para a TV.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?

Não acho que o curta seja marginalizado, simplesmente é um formato alternativo, e como um formato alternativo é mostrado em espaços específicos.

Qual é a grande diferença em fotografar um curta e um longa?

Cada projeto tem sua particularidade, o curta por se tratar de um formato menos comercial, se pode ter uma atitude menos comercial e mais experimental. Hoje em dia também se pode pensar em formatos mais alternativos tanto de projeção como de captação. Por exemplo, um curta pode sem problemas ser captado em digital e projetado em digital, já um longa é necessário uma estratégia mais sofisticada em relação a distribuição, pois geralmente envolve muito dinheiro.

Qual é a sua análise sobre a fotografia no curta?
Essa é uma pergunta muita genérica, existem curtas de todos os jeitos, bons, ruins, caros, baratos, amadores, etc.... Eu pessoalmente gosto ver curtas experimentais, diferenciados, independente da qualidade fotográfica. Por exemplo já assisti a curtas estudantis muito bons com uma fotografia tosca,mas nem por isso deixei de achar o curta legal. O curta é pra isso mesmo!

Pensa em dirigir um curta futuramente?

Não tenho no momento intenção de dirigir um curta, mas se surgir uma idéia legal, com certeza seria o formato em que me arriscaria na direção.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Don’t Come Knocking - Wanessa Rudmer


Há algum tempo fui convidada pelo amigo Rafael Spaca para escrever sobre cinema neste blog maneiríssimo que ele mantém. Sou atriz. Orgulhosa atriz e produtora do Grupo Cemitério de Automóveis, fundado há 30 anos pelo dramaturgo Mário Bortolotto. Sim, senhores, a partir de agora estarei por aqui tentando, sem muitas pretensões, falar sobre cinema.

Eu gostaria de começar falando sobre um dos meus grandes ídolos: Sam Shepard.
É isso que eu chamo de ser ambiciosa e contraditória: pra quem começou este post dizendo que não tinha muitas pretensões ao tentar falar sobre cinema, digo que vou começar logo com Sam Shepard?! Calma, vamos usar só um fragmento da obra de Shepard neste post, ok?

Dia desses comprei um box com alguns filmes do Wim Wenders, dentre os quais repousavam reluzentes “Paris, Texas” (1984) e “Don’t Come Knocking” (2005), ambos com roteiro do Sam Shepard. Por mais que eu tivesse assistido mil vezes estes filmes, me sentiria levando a maior vantagem trazendo esse tipo de tesouro pra dentro de casa. Rapidamente saquei “Don’t Come Knocking” de dentro da caixinha e me pus a contemplar a obra dessa grande dupla de caubóis cheios de talento.

Ambos se sentem em casa no deserto norte americano. Lugar mítico dos já extintos grandes ídolos de filmes de faroeste, residência perpétua do espírito do macho americano e cenário para quase todos os personagens da obra de Shepard.

E é lá que nos encontramos pela primeira vez com Howard Spence (Sam Shepard).

Classificado seja “Don’t Come Knocking” e seu protagonista brilhantemente interpretado por Shepard, que consegue conferir carisma a um personagem tão pouco digno da simpatia do público em geral quanto Howard Spence, uma estrela decadente de filmes de faroeste.

O negócio é mais ou menos assim:

Após três atribuladas décadas de fama, mulheres e álcool, Spence resolve abandonar o set a galope, em meio às filmagens. Vai de encontro a mãe, após trinta anos sem dar notícias. Ato recorrente dentro da dramaturgia de Shepard: o retorno à mulher, ao ser que confere sentido à sua existência e penitências deste mundo. E essa mulher vale um alto percentual do filme. Interpretada por Eva Marie Saint, a mãe de Spence é um espetáculo à parte. Sua curta aparição é absolutamente deliciosa. O elenco como um todo está muito bem. Jessica Lange, companheira de Shepard desde 82, causa admiração (e inveja) por sua interpretação e beleza irretocáveis. Ela aparece na trama como a mãe de Earl (Gabriel Mann), rapaz de cerca de 20 anos de quem Spence descobre ser o pai. O mesmo acontece com Sky, interpretada por Sarah Polley. A garota mandou bem. Seu personagem causa estranhamento e promove um extremo contraponto na trama em relação ao seu revoltado meio irmão, Earl. A cena final dela com Shepard é um ponto alto; emocionante. Outro personagem que merece destaque é o do detetive particular contratado para encontrar Spence, interpretado por Tim Roth.
Atenção também à trilha sonora, que ficou por conta de T-Bone Burnett e que é matadora.

Sam Shepard tem um jeito muito peculiar de tratar o vazio e a solidão dos quais já não aguentamos mais falar nem ouvir. E sempre vale muito a pena.

Qualquer tentativa de discorrer brevemente sobre este filme, será pequena.
Portanto eu espero que vocês se deem a oportunidade de assistir a este filmão do Wim Wenders. Caso já o tenham feito, espero que tenham ficado a fim de assistir de novo. Eu fiquei.


Wanessa Rudmer é atriz, produtora do Grupo Cemitério de Automóveis e colunista do blog ‘Os Curtos Filmes’.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Bráulio Mantovani

Bráulio é roteirista autor do roteiro do consagrado filme ‘Cidade de Deus’ (indicado ao Oscar) e do curta-metragem ‘Palace II’, ambos dirigidos por Fernando Meirelles. Mais recentemente trabalhou em ‘Tropa de Elite’.



Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Acho que a mesma importância que tem para a cinematografia de qualquer país. O curta-metragem é um formato que permite experimentar com a linguagem com mais intensidade (custa menos) e também serve como treino para os diretores iniciantes.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Provavelmente porque não existe um mercado de curta-metragens como existe no caso dos longas. Os curtas têm espaço em festivais e acabam sendo vistos pelas pessoas que fazem cinema. Não sei se precisam de mais espaço na mídia. Não seria ruim ter esse espaço, mas não penso que essa falta de espaço iniba o trabalho de quem faz curtas. Quanto a não ter mais atenção dos críticos, isso me parece uma vantagem. Quem precisa de críticos?

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu gostava quando as sessões de longas-metragens no cinema eram precedidas por exibições de curtas. Hoje, somos massacrados por comerciais. Tenho saudade de ver curtas antes dos longas.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Eu só escrevi dois curtas na minha vida. É um formato que eu não domino. Eu não conheço nenhum cineasta que voluntariamente queira dirigir apenas curtas. Me parece natural que o curta seja não um trampolim mas um ensaio, uma preparação, um aprendizado para futuros diretores de longas-metragens. E também, como eu disse, um formato privilegiado para o experimental. Evidentemente, se alguém quiser se dedicar exclusivamente a curtas-metragens, não há nenhum impedimento. A pessoa apenas tem que ter consciência de quem vai "conversar" com um público reduzido, porém, especializado. Tem suas vantagens.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Nunca vi isso. Os cineastas assistem aos curtas com muito interesse.

Seu roteiro para o filme ‘Cidade de Deus’ era formado por pequenas histórias (de vários personagens) que, fundidas, se tornaram um marco no roteiro nacional. Como é trabalhar com a síntese? Você utilizou os mesmos recursos do roteiro do 'Palace II', em 2001?
O roteiro de Cidade de Deus não tem nada a ver com curta-metragem. O roteiro do Palace II foi escrito especialmente para uma série da TV Globo, depois de já ter escrito pelo menos 4 ou 5 versões do roteiro de Cidade de Deus. O esforço de síntese que eu fiz em Cidade de Deus não tem nada a ver com o tipo de síntese que acontece em um curta-metragem. No caso do Palace II, eu não tive muito trabalho. Escolhi momentos do romance do Paulo Lins e inventei o Laranjinha e o Acerola para costurar os momentos escolhidos. Tudo com a colaboração do Fernando Meirelles. Eu não precisei condensar nada, porque delimitei o universo da história antes de partir para o roteiro.

Qual é a grande diferença em escrever um curta e um longa?
Minha exígua experiência com curtas limita muito a minha resposta. Claro que a diferença mais óbvia é o tamanho da história que você quer contar. Você não pode esticar uma história curta para fazer um longa nem espremer uma história longa para fazê-la caber em um curta. A história que se quer contar é que vai estabelecer a duração do filme. Fora isso, penso que muitos curtas funcionam como piadas: eles têm uma grande sacada, e por isso produzem um determinado efeito no espectador. Em longas-metragens, há também casos de grandes sacadas, mas elas não funcionam tão bem quanto nos curtas, se não tiverem personagens densos e uma boa história por trás. Mas tudo isso que eu disse pode ser uma grande besteira. Eu nunca refleti sobre o tema.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
A única coisa que eu dirijo é o meu carro velho. Sou um escritor. Sempre serei.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Nizo Neto

Nizo é ator, é ilusionista, comediante, radialista e escritor. Seu papel de maior destaque foi Seu Ptolomeu na ‘Escolinha do Professor Raimundo’. Hoje é um redatores do programa ‘Zorra Total’.


O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
O roteiro e o personagem.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Provavelmente porque os curtas, infelizmente, "não vendem". O que é uma pena.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?

Antigamente, até o início dos anos 80, era lei exibir um curta nacional antes de todo filme em cartaz. Mas era uma época em que os curtas não tinham a qualidade de hoje. ou seja, a maioria era de documentário e de produção precária. Mas acho que a solução seria essa.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que sim. O difícil, imagino, é se sustentar só com curtas. Com certeza é uma grande forma de aprendizado pra quem quer fazer longas.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Imagino que não. Se for, acho uma grande babaquice.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sinceramente não. Mas, sei lá, nessa carreira a gente tem sempre grandes surpresas. Eu vivia dizendo que não queria fazer humor e aqui estou eu, fazendo stand-up comedy e escrevendo e atuando no Zorra Total.

Qual é o seu próximo projeto?
Estou escrevendo um livro com o título provisório de ‘Almanaque do Humor Brasileiro’.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Revista Cinema Caipira de fevereiro de 2012

A revista Cinema Caipira ISSN 1984-896x, número 36, já está disponível para encomenda e download gratuito em diversos formatos. Neste mês ela conta com os seguintes artigos;


“Wilson Grey, o rei das “pontas”.
de Rafael Spaca


“Uma introdução “B” ao mundo trash de Daniel Villaverde ou do porque vale a pena entrevistar esse piá”
de Daniel Mittmann

“Ipojuca Pontes, ministro da Cultura no governo Fernando Collor de Mello.”
de Rafael Spaca


“Agora o trem vai – parte 4, Uma casa de roça no coração do cenário”
de Luiz Carlos Lucena– PG 08


OBS: Os participantes desta edição tem direito a uma revista, bastando enviar por e-mail seus endereços.

revista folheável para leitura online

revista para impressão em arquivo pdf
http://www.4shared.com/office/Cg9aS8Q6/REVISTA36_IMP_.html

clique aqui para saber como montar a sua com o arquivo pdf

arquivo ePub para leitura em celulares e tablets
http://www.4shared.com/file/MRUYVwxB/Revista36_-_Grupo_Kino-Olho.html

para encomendar a revista no valor de R$7,00 cada ou assinar a anuidade por R$70,00, envie e-mail para jpmiranda82@yahoo.com

Para quem quiser ler somente o meu artigo, segue aqui:

Wilson Grey, o rei das “pontas”.

Por ocasião do carnaval, minha coluna do mês é dedicada a Wilson Grey. A lembrança, de fato, veio em uma conversa com um amigo, Marcos Luchesi.

Luchesi, ao ler o artigo sobre Mauricio do Valle, me alertou: Wilson Grey é muito mais marginal e foi muito mais injustiçado do que ele!

É verdade, o ator sempre ficou à margem, desde os tempos das chanchadas da Atlântida. Quando todos falam ou falavam de Oscarito e Grande Otelo, lá estava Wilson Grey, fazendo papéis de malandros, bandidos, garçom e uma série de papeis secundários.

Ao que parece, nunca se incomodou com isso.

Franzino, sua característica mais forte era o bigode fininho e o cabelo para trás, com gomalina. Ninguém interpretou um legitimo malandro carioca como ele.

Foram quase meio século dedicados ao cinema, pela listagem da sua biografia, constam mais de 250 filmes, destes, somente em dois foi o ator principal: ‘O Segredo da Múmia’, de Ivan Cardoso e ‘A Dança dos Bonecos’, como Helvécio Ratton.

Wilson Grey não optou por isso, foi a vida e o cinema que o levaram a ficar com as “pontas”. Concorreu ao Guinness Book pelo vasto currículo, mas encontrou um indiano pela frente e ficou como o segundo ator que mais atuou em filmes no mundo.

Essa conquista não fez e não faria falta em sua extensa coleção, apesar de reivindicar esse recorde para si. Mesmo fazendo pequenas aparições, colecionou prêmios, respondendo àqueles que acham que grandes atores precisam necessariamente serem os protagonistas.

Todos os diretores gostavam de trabalhar com ele. Não tinha estrelismos e ajudava a compor as produções orientando atores e até mesmo os diretores. Seu apelido era Take 1, porque nunca precisava (re)filmar a mesma cena.

Nasceu Wilson Chaves, porém, apaixonado pela atriz americana Nan Grey, optou pela fusão. Por uma incrível coincidência, faleceram no mesmo ano, em 1993.
Morreu amargurado, triste, abandonado e sem dinheiro.

— Aos amigos, diga que estou morrendo e precisando de dinheiro, que aí desaparece todo mundo. Eu não quero ver mais ninguém!

Essa foi uma das últimas frases do ator.

Falar de cinema sem falar de Wilson Grey é praticamente impossível. Era um grande ator, até hoje pouco conhecido.

Rafael Spaca, radialista, autor do blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/)