terça-feira, 30 de outubro de 2012

Odilon Wagner

O ator está na novela ‘Salve Jorge’. No cinema ‘Olga’; Lost Zweig’ e; ‘Ouro Negro - A Saga do Petróleo Brasileiro’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Apesar de ter feito muito pouco, como ator, o desejo e o prazer de fazer cinema é o mesmo, num curta ou num longa.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Puro preconceito, pois o curta metragem vem se mostrando um segmento vivo e importante, descobrindo novos talentos e criando linguagens muito próprias. Além disso tem a questão comercial, onde ele não se torna tão competitivo, pois o DNA do curta, é muito mais artístico, filosófico, jornalístico, etc.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A TV deveria abrir mais espaço, deveríamos ter inúmeros festivais com premiações significativas, voltar a ter exibições antes dos filmes comerciais, como tínhamos há algum tempo atrás e tantas outras ações que poderiam contribuir para o crescimento e desenvolvimento do cinema brasileiro.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Creio que o curta tem uma linguagem própria, um caminho próprio e pode sim ser uma opção de um cineasta, pois terá muito mais liberdade de fazer filmes denúncia, por exemplo.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não diria que é marginalizado, a questão é que um cineasta no Brasil, filma tão pouco, que não pode se dar ao luxo de ficar pensando num curta. Cada projeto de filme, demora anos pra ser realizado, é preciso manter o foco e se concentrar na sua realização. O tempo extra desse cineasta, é dedicado a sobrevivência, que em geral é feita em comerciais, documentários institucionais e programas de televisão.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei, mas você acaba de me dar uma excelente idéia.       

sábado, 27 de outubro de 2012

Eduardo Dussek

Eduardo é músico suas composições buscavam aliar sátira e bom humor. Em 2010 participou do filme ‘Federal’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O roteiro e argumento, o diretor e o elenco com quem vou contracenar. Tem que haver crescimento artístico.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por que não há uma política de distribuição e exibição. A exibição dos curtas está restrita aos festivais.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Deveria haver um critério de seleção do Ministério da Cultura, numa banca de cineastas e outros profissionais da cultura, premiando com exibição uma quantidade  grande de curtas, a cada dois meses. A seleção seria feita visando qualidade, classificação por idade e metragem; e paralelamente haveria  uma lei obrigando exibição de um  curta, de até tantos minutos, em todo sessão do circuito comercial.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não posso lhe informar isso, pois não sou produtor de curtas, mas concordo que produzir curtas na maioria das vezes é um trampolim pros longas.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não, afinal todos fazem ou já fizeram curtas.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Em arte, já fiz tantas coisas variadas, que até eu e o Universo duvidamos do que eu vou fazer amanhã. Jamais digo: dessa água não beberei! rsrsrsrs

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica


Texto em que Lucchetti narra as circunstancias como ocorreram a possibilidade da publicação do seu primeiro conto.

Na rua Guaicurús, junto ao ponto que eu utilizava para pegar o bonde que me levaria à cidade, havia uma gráfica. Enquanto aguardava minha condução, ficava olhando encantado para as máquinas imprimindo e produzindo um ruído cadenciado que soava aos meus ouvidos como suave melodia, que embalava meu sonho: imprimir ali minhas histórias que a essa época já se amontoavam numa das gavetas do guarda-roupa da família. E durante todo o trajeto de bonde até a cidade, eu ficava sonhando, vendo meus contos impressos com belas ilustrações, tal como via nas revistas pulps das quais eu era leitor e colecionador.

Um dia descobri que naquela gráfica imprimiam um jornalzinho que circulava uma vez por semana, ‘O Lapiano’. Imediatamente fui atacado de súbita ousadia. Escolhi um dos contos que me pareceu o melhor, coloquei-o num envelope e mandei meu pai subscritá-lo. Ele tinha uma caligrafia bonita e eu achava que o envelope subscritado por ele daria mais crédito.

Na manhã seguinte, entrei timidamente na pequena gráfica, encaminhei-me até o alambrado de madeira, atrás da qual, sentado à uma escrivaninha entulhada de papéis, estava um senhor gordo, rosto redondo, muito vermelho e calvo. Usava uma viseira presa à testa e as mangas da camisa, ligeiramente erguidas e presas por elásticos, parecendo com uma liga. Somente muito depois, fiquei sabendo que a viseira esverdeada era para que a luz que pendia sobre ele não o atrapalhasse ao revisar as provas tipográficas e que as mangas erguidas era para não sujar os punhos engomados. De onde ele estava perguntou-me que é que eu queria. Estendi o braço e me debrucei sobre o alambrado, estendendo-lhe o envelope. E sem uma palavra fui embora. Naquele dia, não esperei o bonde naquele ponto, na verdade nunca mais voltei e ele.

E qual não foi a minha surpresa, quando uma semana mais tarde, vi meu conto impresso. Era “A Única Testemunha”, calcado nos contos de Edgar Allan Poe, “O Coração Revelador” e “O Gato Preto” que eu havia lido numa de minhas revistas policiais.

Ver meu primeiro trabalho publicado com letra de imprensa, foi uma sensação indescritível. Com o jornalzinho na mão, fiquei vagando dando voltas pelo bairro, com uma vontade imensa de dizer a cada transeunte: “Olha, este conto é meu! Fui eu quem o escreveu”

Meus olhos estavam banhados de alegria que não conseguia ler além do título.

Momento supremo da existência onde conseguimos tocar o imponderável. Basta um instante para conseguimos ter nas mãos a essência da vida, o que muitos não conseguem em toda uma existência, embora bem sucedidos materialmente.

Era um sonho impossível que se realizava. Ele aconteceu no longínquo 31 de outubro de 1942, um sábado. E desde então aprendi que é aos sábados que os milagres ocorrem.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Videocast com Rafael Spaca

Recebemos no escritório-estúdio do Cronópios um radialista, produtor cultural, crítico de cinema e blogueiro influente, que ama os curtas-metragens. Para Rafael Spaca, o curta-metragem é o formato ideal da experimentação, da novidade e do risco calculado ou não. Uma passagem interessante da entrevistas é quando Rafael Spaca fala sobre atores e atrizes já consagrados buscam fazer alguns filmes de baixo orçamento, ou até mesmo sem orçamento algum, para se exercitarem e também se mostrarem à disposição para o “mercado”. Muitos filmes de alunos de escolas de cinema contam com 'atores famosos', o que é muito bom. Rafael fala e mostra trecho de seu primeiro curta, realizado com um celular. Assista agora ao Videocast com Rafael Spaca.
Os videocasts são entrevistas com autores e artistas que visitam o escritório do Portal Cronópios em São Paulo. Você é nosso convidado para acompanhar mais esse bate-papo cronopiano! Pegue os seus óculos 3D e entre no escritório do Cronópios junto conosco.
 
 

Pedro Paulo Rangel

Participou di diversas telenovelas, como ‘Vale Tudo’ e minisséries como ‘O Primo Basílio’. No cinema fez ‘O Coronel e o Lobisomem’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Roteiros interessantes ou então convites de amigos próximos.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Creio que a questão comercial faz com que os curtas sejam pouco exibidos e pouco divulgados na mídia convencional.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Já houve uma época em que havia uma espécie de “obrigatoriedade” de se exibir um curta nacional antes do filme principal. Mas a qualidade era tão ruim que se combinava chegar ao cinema antes ou depois do curta.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não acredito que alguém queira ser um diretor somente de curtas-metragens. Sempre haverá a necessidade de se realizar algo maior, de mais fôlego.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Penso que não. Por que seria? Quantos diretores hoje consagrados não começaram dirigindo curtas?
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, prefiro continuar na plateia.

domingo, 21 de outubro de 2012

Juliana Schalch


Juliana Schalch, atriz e dançarina. Em 2004 fez o curta-metragem ‘Formigamento’, de Fábio Telles. Em 2007, participou do curta-metragem ‘Dorian’ direção, roteiro e produção Cesar Gananian e Gregorio Gananian. Em 2006 foi auxiliar de produção de elenco no curta-metragem ‘Ao Vivo’, com direção de Giuseppe Sifredi. Fez também o filme ‘Tropa de Elite 2’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O curta-metragem, na minha opinião, é um experimento. É um experimento sério e livre. Pode ser realizado por pessoas que estão se formando e estudando cinema, pode ser de diretores mais experientes, mas é acima de tudo uma boa oportunidade para procurar verticalizar o estudo na linguagem, descobrir possibilidades diversas, histórias diferentes, novas possibilidades e meios de contar essas histórias, desde recursos de câmera, enquadramento, como sonoplastia, trilha sonora, personagens...
 
Me interessa pelo exercício do fazer. Uma produção artística como o cinema e o teatro, envolve muitas pessoas, cada um cuida de algo e é responsável por aquilo. Eu sou atriz, minha responsabilidade é com o personagem, mas tem a figurinista, o diretor de fotografia, de arte, o diretor geral, o técnico de som, de foco; e o convívio de todas essas pessoas, o respeito que cada um tem com a atividade do outro, e o exercício da administração do set de filmagem são aspectos que me interessam de mais. Outra coisa que me interessa bastante, são as histórias. Quais histórias estão sendo contadas por nossos diretores brasileiros? O que o artista brasileiro está pensando, o que habita seu imaginário, e qual a forma através da qual ele vai abordar esse imaginário?
 
Além disso, a troca diretor-ator. Qual o papel do ator, dentro de uma produção cinematográfica? Como expressar suas percepções da personagem, do enredo, da história, para o diretor? Como estabelecer esse diálogo? Quais as práticas que o diretor vai utilizar para trazer o ator, estabelecer uma linguagem comum com o ator? Isso é algo pensado pelo diretor, ou o ator é mais uma peça, como um móvel que se coloca na sala?
 
Acho bastante enriquecedor pensar sobre isso, e me colocar a disposição para a arte. Para mim, o cinema é algo fascinante, e o exercício do ator é diferente em cada trabalho que executa, em cada personagem. Nessa busca, nessa pesquisa, me envolvo com as histórias e me fascino com os estudos.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O teatro também é pouco divulgado, embora eu sinta que  curta é ainda menos. Essa resposta é bastante complexa, porque não acho que seja algo que não interesse, uma boa história interessa sempre. Os festivais de curta costumam ser bem divulgados, e já fui a algumas estréias de curtas onde havia bastante público. Acho que talvez seja uma questão cultural, de espaço para a cultura em nosso país.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Na Argentina, os curtas são passados na sala de cinema, no lugar do trailer, aqui no Brasil temos propagandas. Eu acredito que esse espaço poderia ser melhor utilizado com a exibição de curtas.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sobre essas questões práticas da experiência de um cineasta eu não tenho muito como responder, minha prática é no exercício como atriz.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Posso falar de quem conheço, os diretores com os quais trabalhei já fizeram curta, documentário, acho que são possibilidades de uma mesma arte, a arte de fazer cinema, o curta é um outro veículo.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, tenho bastante interesse em direção, pretendo começar dirigindo teatro, mas tenho intuito e convicção de que farei esse experimento mais pra frente. Inclusive atualmente tenho um projeto, mas não serei eu quem irá dirigir, embora eu compartilhe bastante minhas opiniões.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Mariana Lima

Participou da peça ‘Livro de Jó’ que foi realizada em um hospital fechado. No cinema, interpretou a irmã de Luís Carlos Prestes no filme ‘Olga’, atuou também em ‘Árido Movie’; ‘Sábado’, ‘A Suprema Felicidade’, entre outros.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Na verdade fiz dois curtas em NY, quando era  muita nova e estava estudando lá. E fiz ‘Rua dos Bobos’, da Julia Martins , que era um curta que virou média.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que há um grande mercado de curtas e os festivais são a saída deles. É quando a mídia os enfoca.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Os curtas são também um bom exercício  de direção e produção cinematográfica e sei que há muitos curtas que tem  uma forte carga artística, contam estórias naquele tempo, constroem personagens, situações e emoções  redondas.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acho que o curta seja marginalizado, pelo contrário.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Por enquanto não penso em dirigir cinema. Sou  incentivadora dessa produção e quando há espaço na minha agenda e leio bons roteiros de curta, acho muito bom participar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

BISTURI - Rejane K. Arruda

Mônica Vitti na Linguagem Antonioni: Notas sobre “O Deserto Vermelho”
Rejane Kasting Arruda
Apesar da cor já estar sendo utilizada a um bom tempo no cinema, é somente em 1964, com “Deserto Vermelho”, que ela aparece em Antonioni. E como material de uma escrita fílmica que porta abstração, parece assumir um valor de contrassenso, de estranhamento, muitas vezes em extensão à construção da personagem feminina interpretada por Monica Vitti.
Logo de início, o verde do casaco de Giuliana “grita” em contraste com a palidez do cenário. O mundo está desfocado. Tanto o jogo do desfoque quanto da cor e parece misturar-se a plasticidade do olhar da mulher. São muitos materiais por onde ela constrói a angústia: os gestos trêmulos, o balbucio da voz, as falas interpelativas. Mas a artificialidade da cor parece se descolar dos ambientes, como se o fundo fosse falso.
A diegese convive com a abstração, apresentada de maneira clara e evidente: o trauma foi grande; Giuliana ainda não voltou ao normal; está tentando montar um negócio; eles têm um filho e o casamento não vai bem. É quando outro homem aparece. Por dar pouco valor ao trabalho e estar também em uma espécie de errância, parece combinar melhor com ela. Ele imediatamente se apaixona pela fêmea. Quanto ao marido, o que encontra é a intimidade, a camisola, a descabelada.
A sonoplastia estridente faz alusão às vozes que a personagem feminina escuta. A mulher contorcida, sozinha no hall frio de paredes brancas e o marido em contra-plongè. O filme salta desta parede para outra: cheia de musgos. Há pensamento neste movimento? De repente, o olho de Giuliana. Gestos muito rápidos e muita tinta na parede. “São cores que não perturbam”, ela diz, com um displicente gesto de ajeitar o cabelo caído na testa. Para uma ilusão de naturalidade? Uma folha de jornal que cai no chão adquire um valor incrível quando se enlaça aos pés dela.
O cinema de Antonioni é cheio de recortes, de materiais que saltam aos olhos para depois se perder na brancura, na indeterminação, no alheamento. Ela está alheia. “Estou sempre cansada”, diz. Mulheres enigmáticas, perturbadas, estas do Antonioni! O homem a acompanha de perto. Ela é linda e frágil. Ele a distrai com qualquer coisa. Com as suas mãozinhas misturadas à estampa do sofá, ela parece criança. O homem escuta as suas histórias: “Como se estivesse escorregando num plano inclinado, caindo”. “Quem sou eu?” O ambiente: a areia, as árvores, o navio – tudo desfocado. Uma linha, apenas, definida: o seu rosto.
De repente, outra mulher: vulgar e de pés grandes. Ela se diverte com os casais. Lá fora tudo é cinza. “Parece que lavei os olhos. O que devo fazer com meus olhos?” ela diz. A presença inesperada do navio. Afinal, alguém gritou ou não? Às vezes, parece Beckett! Os rostos na neblina. Somem. “Sabe o que quero? Ter todas as pessoas que me querem bem aqui, como um muro” ela diz. A palavra prenhe de significação.
Bicho abatido estático despedaçado pela câmera-linguagem de Antonioni enquanto o homem invade os seus cabelos e o seu ombro. O sexo não. Depois, mais que isto, em meio à imprecisão do enquadramento, agora muito de perto, difuso. “Faço de tudo para voltar à realidade” ela diz. “Há algo de terrível na realidade e eu não sei o que é”.
Em todo lugar por onde ela passa tem cores. Mas os pássaros não passam mais pela fumaça amarela, pois sabem que é tóxica.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Eliana Ravanhani


Atriz, particpou de diversas montagens teatrais, entre elas "Sex and the Sampa - A Paródia".
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O enredo é o principal motivo que me faz escolher em qual curta participar.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que, atualmente, a exibição de curtas metragens cresceu bastante no Brasil. Acho que se, houvesse maior espaço da mídia, e maior investimento por parte de patrocinadores, os curtas estariam em evidência, já que tem surgido no mercado curtas incríveis com ótimos roteiros e direção.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Para mim, algumas emissoras de TV mais comerciais, deveriam fazer como outras, que costumam exibir esses curtas.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Na minha opinião, não. Recentemente fiz um curta com o cineasta Marco Della Costa, da Vega Filmes ("Motivo Fútil e Torpe") e o próximo projeto dele é fazer um longa. Então acredito que quem dirige um curta, pode dirigir um longa também.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Fica difícil eu responder isso prá vc, porque todos os cineastas com os quais trabalhei, nunca mencionaram nada sobre isso.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não. Eu prefiro trabalhar somente como atriz. O diretor tem que ter uma noção geral de tudo, além de lidar com o ego de cada ator. Sinceramente, não me sinto apta prá isso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica


BOULEVARD DES CAPUCINES
Rubens Francisco Lucchetti
O Cinema, a Sétima Arte, nasceu no inverno. E em Paris o inverno é escuro e triste. Vem com vento agudo e frio, que faz rodamoinhos... Vem também com chuva fina e persistente. As fachadas das casas tornam-se mais negras, a água salpica nos pavimentos. Só as árvores se conservam luminosas, e suas últimas folhas amarelas e vermelhas cobrem o chão das grandes avenidas silenciosas e dos boulevards trepidantes.


O Boulevard des Capucines tem suas velhas árvores com manchas redondas e troncos esbranquiçados. Chove; e o vento derrama dos galhos as folhas mortas, outra chuva de ouro. Rompeu a guerra, as grandes vitrinas amortecem a luz ao final do crepúsculo. É dezembro de 1939.

Manuel Villegas López, o grande escritor e historiador espanhol detém-se diante do enorme casarão, consulta o relógio; e sua imaginação retrocede... retrocede...
Até dezembro de 1895...


O historiador acerca-se do casarão. Vê o número, é o 14. E lê a gravação no mármore:

“Aqui, em 28 de dezembro de 1895, teve lugar a primeira sessão pública de fotografia animada, por meio do aparelho cinematográfico dos Irmãos Lumière.”


O Cinema não possui monumentos que descrevem a sua história, pensa Villegas López. Possui esta casa, mas aí está representada a vida do Cinema. Aqui havia o Grand Café, em cujo sótão, no Salon Indien, instalou-se o primeiro cinema do mundo. Apareceram trinta e três curiosos, pagando um franco cada um. Foi uma tarde como essa, cinzenta e fria, sob a chuva fina e tenaz, sob o rumor das árvores que se desfolham.

Villegas López encolhe-se em seu grosso sobretudo... O olhar triste, vagando pelo tempo e pelo espaço, como que querendo nele encontrar a imagem daquela tarde... e, então, pudesse ser o feliz trigésimo quarto “curioso”...O Grand Café já não existe mais. Em seu lugar surgiram oito ou dez vitrinas, amplas e iluminadas, que dão volta à esquina da Rua Scribe. Sobre elas, em letras de bronze, a placa: “Agência Cook”. E nas vitrinas anúncios de viagens. Palmeiras: “Taiti e as ilhas paradisíacas da Polinésia”. Montanhas, lagos: “Visite a Noruega”. As pirâmides do Egito e o cume nevado do Fujiama... Bandeiras multicores das exposições internacionais. O camarote de luxo do mais recente transatlântico e o modelo mais novo de avião de passageiros. Um trem a toda velocidade parece querer sair do cartaz. “Realize a volta ao mundo na Agência Cook.”

Naquela primeira sessão de cinema foram projetadas dez películas de pouco mais de um minuto cada uma (A Saída dos Operários da Fábrica e A Chegada de um Trem são as mais famosas delas). Essas películas permaneceram vários meses em cartaz – os primeiros ingressos, trinta e três francos; três semanas mais tarde entravam diariamente dois mil e quinhentos francos, sem publicidade alguma. Eram documentários e reportagens, ou melhor, eram “viagens”; e os Irmãos Lumière denominaram o seu invento de “o grande viajante”. Naquele tempo, o Cinema se propunha apenas a isso mesmo: ser o grande viajante. E os transeuntes despreocupados entravam no primeiro cinema com a mesma ilusão, com o mesmo sonho com que nessa fria tarde de inverno os passantes se detêm diante dessas vitrinas cheias de cartazes de viagens. No mesmo local, a mesma janela do mundo.

Manuel Villegas López olha mais uma vez a vitrina e principia a caminhar. São os derradeiros dias de 1939, mas é como se estivesse naquele longíquo final de 1895. Pouco a pouco, sua figura começa a perder-se em meio de outras pessoas que caminham apressadamente pelo boulevard molhado. Chove, e o vento derrama dos galhos de ouro... chuva de ouro...
Rubens Francisco Lucchetti é ficcionista e roteirista de Cinema e Quadrinhos.
Ano 1 - nº 1 - novembro de 2008/janeiro de 2009


Inicio da Série ‘Desvendando R.F.Lucchetti’

Em 2012 R.F.Lucchetti comemora 82 anos de idade e 70 anos de haver publicado o seu primeiro conto, o que aconteceu num jornalzinho de bairro no dia 31 de outubro de 1942.
Até outubro do próximo de 2013 irei publicar uma série de textos, artigos, contos e outros escritos que poucos tinham acesso, muitos deles inéditos.
Lucchetti disponibilizou esse material ao blog e a partir de hoje publiquei quinzenalmente.
A reunião desse arquivo, precioso, de parte da nossa memória levou mais de um ano de trabalho e agora compartilho com vocês.
Rafael Spaca.

Day Mesquita


A atriz participou recentemente da novella ‘Cheias de Charme’.
 
O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Sempre que estou num trabalho me envolvo muito. Visto a camisa para dar o meu melhor. Então, tenho que ler o roteiro e me identificar. Sentir que vou contribuir ao passar aquela mensagem. Se for algo que não acredito, prefiro não fazer. Não tive a oportunidade de fazer muitos curtas, mas sempre que ouço um cineasta falar do seu trabalho, sinto um enorme carinho e cuidado que eles tem com seu projeto, então, se estou junto, tenho que sentir o mesmo.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Infelizmente a maioria das pessoas não tem o hábito de assistir curtas e a mídia dá espaço aquilo que vende. A atenção da mídia vai ser resultado de um trabalho de inserção dos curtas para o grande público. Há alguns anos o cinema brasileiro não tinha o espaço que tem hoje e isso foi conquistado através dos longas. Acho que com um bom trabalho de divulgação  os curtas também terão seu merecido reconhecimento. 
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A internet é um excelente meio de divulgação, mas acaba atraindo mais aqueles que já estão habituados e gostam da linguagem. Acho que os curtas deveriam ser inseridos antes de um longa, nos cinemas; e a televisão também deveria abrir espaço.  
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que é possível sim. Mas acredito que os curtas também podem ser o início do caminho para se fazer um longa. Muitos diretores começam suas carreiras dirigindo curtas, ganham experiência, para depois dirigirem seus longas.  A produção, o tempo e o investimento são menores, o que dá uma liberdade maior para "experimentar". 
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Como cineasta não posso responder, mas como atriz, nunca ouvi esse tipo de comentário.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Acho que dirigir não. Ainda não tive vontade e acho que não terei essa ousadia sem estudar e entender do assunto. Mas se eu tivesse uma boa idéia para um curta faria uma parceria com alguém. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Sandra Corveloni

A atriz, por sua atuação em ‘Linha de Passe’, filme de Walter Salles e Daniela Thomas, foi escolhida como melhor atriz no Festival de Cannes. Atuou também nos curtas ‘Flores Ímpares’ e ‘Amor!’.
Você debutou no cinema nos curtas-metragens "Flores Ímpares" de Sung Sfai e "Amor" de José Roberto Torero. Qual a importância do curta na sua carreira?
Foi meu primeiro contato com a câmera, com um set de filmagem, então foi super importante, alem do mais tinha gente muito bacana e experiente, como a Rosi Campos, que eu já adorava ( dos palcos de Sampa).Acho que a pratica nos torna mais tranqüilos, mais seguros.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O roteiro e a direção, se o roteiro for bacana, pra mim, claro e se o diretor tiver uma boa proposta, eu aceito, é difícil contar uma boa historia, é isso que me seduz.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que o Brasil tem uma Cultura imediatista, de resultados rápidos e principalmente o que esse produto causa na mídia, não é só o curta metragem que não tem espaço na mídia, o teatro também não tem, a musica, o que importa pra mídia é o que vende mais, infelizmente, ainda bem que existe alguma mídia especializada, alguns programas que nos dão noticias de outras produções "alternativas", como se costuma dizer...
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Pra começar, poderia haver um horário na TV aberta ( fora TV Cultura ) que exibisse um curta, tipo 3 por semana, não é muito, é? Acho que a exibição na TV alcançaria um numero incrível de pessoas que nem sabem que existe o curta metragem. Nunca pensei numa estratégia para os curtas, mas já que você perguntou, comecei a pensar sobre isso. Que tal um DVD com vários curtas juntos, que poderia ser alugado ou vendido. Um curta atrelado a um longa no cinema ( sempre) também não seria ruim, enfim... vamos fazer um debate sobre isso!???
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho perfeitamente possível, ser diretor só de curta-metragem é uma tarefa difícil, ser objetivo, contar uma boa historia, aproveitar bem o pouco tempo que se tem e conseguir envolver o publico nesse " pouco" tempo, acho que isso ja é uma carreira e tanto. Isso não impede que o Diretor dirija curtas e longas, mas não acho que deva servir como trampolim, é uma obra ( curta ou longa) e deve ser tratada com respeito.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei, espero que não!
 
Em 2008, você ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. Depois disso, aumentou ou inibiu os convites para atuar em curtas?
Tomara que não tenha inibido, quem chega para convidar, chega com
muito respeito, acho bonito, mas quem quer mesmo que eu trabalhe no projeto , não fica inibido, quem sabe o que quer, chega com uma proposta firme, clara e isso faz toda a diferença. Fiz 3 curtas muito lindos no ano passado. Esse ano ainda não surgiu nenhum, pena.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso em dirigir um curta , um longa, uma série, eu sou muito curiosa, tenho muitos sonhos e desejos, mas vou devagar, tem muita coisa ainda por fazer antes de pensar em dirigir cinema.

sábado, 6 de outubro de 2012

VAGA IDEIA


Amor Estranho Amor: 30 anos depois
 
O tempo passou, e neste ano completa-se trinta anos da primeira exibição do polêmico filme "Amor Estranho Amor" (1982). Á época do lançamento, não houve tanta repercussão, o filme passaria batido ao longo da história, pois assim como tantos outros, não tem nenhuma característica que o tornaria um clássico. Muitos filmes foram produzidos, todos assistidos (por pouco ou muito público), mas quase todos eles passam, são poucos os que ficam.
 
Se acessos na internet valessem como bilhetes, talvez “Amor Estranho Amor” seja hoje o filme mais assistido de todos os tempos.  Marcelo Ribeiro, uma criança á época, não prosseguiu a carreira de ator. É ele que, ao lado da Xuxa, protagoniza as cenas sensuais mais assistidas da história do cinema nacional. O drama se popularizou pela Internet como um pornô, ainda que esta seja uma reputação completamente controversa.
 
Entre diversas passagens do filme dirigido por Walter Hugo Khouri (1929-2003), a eterna rainha dos baixinhos se deita nua sobre Ribeiro e diz frases como "logo você vai virar um gurizão, mas desde já você já é um sabonetinho" e "eu sou uma ursinha macia, olha como eu sou macia". O filme saiu quase completamente de circulação após decisões judiciais em favor da apresentadora, que adquiriu os direitos do filme e tolhe a sua circulação. A internet disponibiliza fragmentos e em alguns sites podemos assisti-lo na íntegra. Recentemente Aníbal Massaini tentou reaver os direitos do filme, alegando que Xuxa não tinha renovado o direito de compra dos direitos da película.
 
Toda e qualquer noticia que gira em torno dessa produção rende polêmica. Recentemente Marcelo Ribeiro disse que estava escrevendo um livro sobre a experiência. Na obra, detalharia sua filmografia --composta por "Eros, o Deus do Amor" (1981), "Amor Estranho Amor" (1982) e "Pecado Horizontal" (1982). Bastidores da aventura com a rainha dos baixinhos, é claro, serão incluídos.
 
Ribeiro participou de um teste com 500 meninos para o filme "Eros, o Deus do Amor" (1981), de Khouri, em que fez cenas sensuais com Kate Lyra. Khouri notou a repercussão que o filme teve por usar uma criança e resolveu escrever o filme "Amor Estranho Amor".
 
“Amor” foi o primeiro filme de Xuxa, ela faz praticamente uma figuração. A estrela principal era Vera Fischer, que ganhou no Festival de Brasília, prêmio pela sua atuação no filme.
 
O primeiro cartaz de porta de cinema era uma foto de Ribeiro com braços cruzados segurando uma foto que representava um útero remetendo à história de Édipo e Jocasta. Quando a Xuxa começou a fazer sucesso na [extinta] TV Manchete e foi consagrada como "rainha dos baixinhos", a produtora mudou a linha de divulgação do filme. Colocaram Tarcísio Meira, Íris Bruzzi, Vera Fischer e Mauro Mendonça vestidos e a Xuxa nua no meio. Foi aí que começou a ser o filme da Xuxa.
 
Em 2007 a produtora ‘Brasileirinhas’, atenta ás noticias, mitos e polêmicas em torno desta produção,  lançou “Estranho Amor”  e trouxe como protagonista o próprio Marcelo Ribeiro, numa referência óbvia ao clássico dos anos 80.
 
A cena polêmica de Tâmara, o personagem fictício de Xuxa –é arte, não é pedofilia, é uma das cenas mais antológicas do cinema nacional. Xuxa atua com esmero. O menino Hugo, personagem de Marcelo Ribeiro, idem.
 
Considerar qualquer atentado à moral ou pedofilia no filme é um erro, Xuxa teve um grande momento, talvez seu melhor momento, superando o preconceito que havia com modelos que atuavam na tevê e no cinema.
 
Xuxa havia conseguido interditar a saída do filme em vídeo, nos anos 1990, que poderia representar certo perigo a sua imagem de “rainha dos baixinhos”, Não me parece que o essencial fosse o fato de abalar uma imagem de “fadinha”, mas, ao contrário, escancarar o fato de que a “rainha” era extremamente erotizada, o que contribuía, aliás, para o sucesso do programa também entre os adultos. Interditar obras de arte ou trabalhos intelectuais, quer gostemos deles, quer não, é um absurdo.
 
Rafael Spaca, radialista, autor do blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/).