quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ipojuca Pontes



Ipojuca é diretor de importantes filmes nacionais como "Pedro Mico" e "Canudos". Foi secretário de Cultura no governo Fernando Collor de Mello.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
A importância histórica do curta-metragem não se limita, de modo algum, ao cinema brasileiro: ela é mundial. De fato, o cinema nasceu sob forma de curta-metragem. Na sua origem, os filmes tinham apenas um, dois ou, no máximo, três rolos - eram filmes curtos. No entanto, convém lembrar aos leitores do seu site: os filmes são como os homens: não se medem aos palmos.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornal e a atenção da mídia em geral?
O espaço que a crítica de jornal e a mídia em geral concedem aos curta-metragem corresponde exatamente a importância que os leitores dos jornais e o grosso do público espectador dão ao curta-metragem: reduzida.

De minha parte, considero que o curta já tem espaço demais nos festivais semi-oficiais e nas televisões públicas, sempre com baixíssimos índices de audiência ou o registro do "traço" - o que significa zero em audiência na linguagem do IBOPE.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
O curta-metragem já teve exibição obrigatória nas salas de exibição do país, no tempo da ditadura militar, ai pelos anos de 1960/70. Mas o público protestava, e tanto, que anos mais tarde o governo foi obrigado a arquivar a lei, que não "pegou".

Já na "democracia permissiva", com a criação de sólidos aparatos burocráticos de controle cultural, o governo passou a financiar o curta-metragem sob o crivo de projetos selecionados por comissões ideologizadas (esquerdistas), que tornou o gênero, grosso modo, "instrumento político de denúncia e transformação social". Neste patamar, cresceu muito o financiamento público e diminui ainda mais o número de espectadores. O curta ficou chato, amador e pouco artístico.

Apesar de tudo, anoto a seguinte experiência, quem sabe a ser reativada num futuro que promete ser remoto: nos anos 1940/50, antes do governo meter o bico no cinema, haviam salas especializadas em exibir, em sessões contínuas, filmes curtos, comédias de dois rolos, documentários e jornais da tela. Eram os chamados e prósperos "Cine-Hora". Nesta fase, os filmes eram remunerados pelo público, que preferiam ver curtas a filmes de longa-metragem.

É possível ser cineasta só de curta-metragem?
Em todo mundo, de um modo geral, o curta é visto como uma forma de se ganhar métir. Salvo um completo idiota, ninguém quer ficar fazendo curta-metragem toda vida, nem mesmo Alain Resnais, tido como o melhor curta-metragista de todos os tempos. O cineasta em geral quer fazer filme de longa-metragem, de ficção ou não, para se profissionalizar, melhor se expressar e ganhar prestígio, honrarias e dinheiro - se possível. Mas poucos, raros, chegam lá.

Por outro lado, todo mundo é curta-metragista, inclusive quem faz longa. Havendo financiamento e saindo um bom produto, tanto faz que o filme seja de longa ou curta-metragem - o prazer de ver o cinema continua o mesmo.

O curta-metragem é marginalizado pelos próprios cineastas?
Claro, e no Brasil por um motivo camuflado e de inteira procedência: o curta-metragista de hoje é o mesmo sujeito que amanhã vai disputar a fatia de grana nos órgãos do governo, uma perspectiva sempre exasperante - embora na atualidade, contraditoriamente, o projeto do governo totalitário seja o de ampliar, para fins de controle politico-ideológico, o exercíto militante dentro da atividade.

Pensa em dirigir um curta novamente?
Fiz oito documentários de curta-metragem, todos eles premiados nacional e internacionalmente, em festivais do Brasil, Itália, França, Argentina, Espanha, Grécia, etc. Um deles, 'Os Homens do Caranguejo", elogiado pelo próprio Resnais é fonte de estudos nos indigentes cursos de cinema do país. Pessoalmente, esgotei o repertório. Agora, embora já tenha recebido propostas para voltar a filmar, só tenho saco para escrever.

domingo, 17 de abril de 2011

Nando Olival



Profissional que transita da publicidade para o cinema. Graduado em cinema pela Faap, Mando Olival ingressou na publicidade no começo dos anos 90, onde acumula a direção de mais de 600 peças publicitárias, um sem-número de prêmios, Leões de Ouro em Cannes.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Acredito que é de extrema importância porque muitos cineastas deram seus primeiros passos fazendo curtas metragens. Mais do que isso o curta-metragem é um grande laboratório de experimentação. Você pode ousar mais, deixar a rédea mais solta, sabendo que o público que vai vê-lo está justamente esperando por isso. Transgressão na narrativa, ousadia nos temas.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Deve ser difícil para a mídia pautar suas matérias a respeito de algo que o público não tem acesso. Talvez se os canais de exibição fossem maiores aí sim o curta-metragem teria uma maior exposição na mídia.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Os curtas que passavam antes dos longas-metragens por vezes traziam gratas surpresas. Talvez esse seja um caminho a ser resgatado. Mas que sobretudo esse resgate parta de alguma associação entre os produtores do filme, a distribuidora e a sala exibidora. Que haja uma conexão entre o longa e o curta que o precede. Como se fossem parte de um mesmo pacote.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acredito que, assim como eu, muitos cineastas deram seus primeiros passos com curtas-metragens e ainda continuam flertando com essa metragem. O curta não é só uma porta de entrada para as narrativas mais longas como também um excelente exercício de síntese. De aprimoramento narrativo. De intimidade com a produção, filmagem, edição, finalização. É uma bela escola mais do que um trampolim. Adoraria poder fazer um ou dois curtas por ano, mas a realidade é que fazer um curta é um compromisso tão sério quanto realizar um longa. Exige tempo, dedicação, seriedade. E muitas vezes a briga para captar recursos é ainda mais difícil do que para realizar um longa.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não. Ou pelo menos acho que não. Pelo menos não por mim. Eu gosto de filmar. Seja o que for.

Pensa em dirigir um curta futuramente? Qual é o seu próximo projeto?
Não tenho pensado em roteiros para curta-metragens. Estou coma minha cabeça mais voltada para projetos de longa e televisão. Estou agora em processo de finalização de um longa chamado "Ela Ele Eu".

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Karen Akerman



Karen é diretora, produtora, montadora e atriz. Entre os curtas que dirigiu está o filme ‘Acossada’.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Os curtas - historicamente, mas não generalizadamente - são o lugar dos primeiros filmes, da ingenuidade, do desenvolvimento e maturação da linguagem autoral. Entretanto, não consigo fazer a distinção curta X longa, a não ser pelo primeiro ser de duração menor. Não sei ver o curta-metragem como partido ou rótulo, muito menos como entidade.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Este espaço está suficiente. Muito se menciona sobre curtas nos cadernos de cultura dos jornais (em matérias sobre festivais de cinema, programações de mostras ou lugares da noite), alem dos programas televisivos que abordam o gênero. O problema está é no conteúdo que a mídia produz, na maioria das vezes dedicando a sua atenção a banalidades em vez de investigar a única questão pertinente, e a única que me interessa, o cinema. Felizmente existem publicações alternativas focadas em pensar o cinema, propondo uma visão crítica e marcando um ponto de vista: as revistas virtuais, como a Cinética e a Contracampo.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
O curta metragem que se quer cinema na raiz (puro, sem desvios) não se preocupa em atingir a quantidade, mas antes a apreensão. O autor deve entender por onde o seu filme ganhará caminho. Não vale a pena enfiar o seu curta em qualquer espaço, como hoje se vê com a exibição de filmes em bares e discotecas. Do jeito que está, mantendo o discernimento, pode-se distribuir bem um curta-metragem. A única lacuna é não entrar em circuito, antes dos longas ou em sessões de curtas (como existe o Petrobrás as 6).

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Quem pensa e cria cinema, escreve filma e monta para o tempo que dura a obra. Quem irá designar se a idéia cabe em 15, 40 ou 120 minutos é a própria idéia. Eu diria: é possível ser um cineasta?

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Primeiro precisaria de saber quem são os cineastas. Depois que curtas são. E o problema maior que é tantos filmes nulos com tanto sucesso e tantas obras primas negligenciadas.

Você já montou vários curtas. Como é o seu processo de trabalho neste formato? Difere muito quando trabalha com longas?
O que difere são as imagens, as intenções, os diretores, os produtores, o local de trabalho, o momento em que estou na vida, o desejo. O que posso dizer ao certo é que dura menos tempo montar um curta.

Pensa em dirigir um curta futuramente? Qual é o seu próximo projeto?
Tenho alguns projetos para realizar no cinema: dirigir um curta, quem sabe um longa, montar um filme do Godard, criar um fundo para produzir os projetos que eu me identificar, exibir mostras integrais dos autores que eu mais admiro, e etcétera. Entretanto, no momento, o meu maior projeto é cuidar do meu filho que acabou de nascer.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pascoal da Conceição

Seus papéis mais conhecidos são o de Dr. Abobrinha na série infantil ‘Castelo Rá-Tim-Bum’; e o de Mário de Andrade na minissérie "Um Só Coração". Em cinema atuou em filmes como ‘Olga’ e ‘Lumpet’, este, um curta-metragem.

Gostaria que você falasse da sua história em relação aos curtas-metragens...
Fiz muito pouco cinema, seja curta, seja longa. Os curtas foram principalmente com pessoal da ECA-USP que me permitiram um pequeno contato com o universo do cinema e de certa maneira me prepararam para os dois longas que participei.

E a sua preparação para atuar numa peça de teatro, em um filme, como que é o tempo de preparação de um personagem, o que difere do teatro para ao cinema?
Há sem dúvida mais diretores de atores para teatro do que para cinema ou televisão. Os diretores de cinema estão na maioria das vezes assoberbados com o trabalho da realização técnica e dão muito pouca atenção ao trabalho da atuação. Por sua vez, os atores, falo em meu nome, se viram como podem na frente das câmeras, apoiando-se no seu trabalho de criação e interpretação aprendido no teatro. Eu cheguei até a pensar que interpretação fosse igual em todos os lugares, mas cada vez eu fico mais confuso e vou e volto com esse raciocínio achando que são muito diferentes entre si. Uma coisa que altera profundamente a interpretação é a presença de público, ao vivo, o que no cinema acontece em outro tempo e espaço.

Você gosta da linguagem do curta-metragem?
Em se tratando de contar histórias, de permear realidades, o que interessa é o conteúdo, e sendo curta, longa ou teatro é uma coisa irrelevante.

É uma coisa que mexe com você como ator?
Não fiz muitos trabalhos em cinema que me dessem condição de sentir mais profundamente esses trabalhos. Teria que fazer mais, errar mais, buscar uma maior quantidade para aprimorar minha qualidade como interprete.

Você pensa em dirigir um curta, tem idéia ou o seu trabalho é mais como ator?
Não pensei no assunto. É o que disse: cinema é uma língua que não faz parte do meu cotidiano, sempre fui mais espectador do que realizador. Vontade de fazer eu tenho, mas nunca me mexi para fazer.