Ipojuca é diretor de importantes filmes nacionais como "Pedro Mico" e "Canudos". Foi secretário de Cultura no governo Fernando Collor de Mello.
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
A importância histórica do curta-metragem não se limita, de modo algum, ao cinema brasileiro: ela é mundial. De fato, o cinema nasceu sob forma de curta-metragem. Na sua origem, os filmes tinham apenas um, dois ou, no máximo, três rolos - eram filmes curtos. No entanto, convém lembrar aos leitores do seu site: os filmes são como os homens: não se medem aos palmos.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornal e a atenção da mídia em geral?
O espaço que a crítica de jornal e a mídia em geral concedem aos curta-metragem corresponde exatamente a importância que os leitores dos jornais e o grosso do público espectador dão ao curta-metragem: reduzida.
De minha parte, considero que o curta já tem espaço demais nos festivais semi-oficiais e nas televisões públicas, sempre com baixíssimos índices de audiência ou o registro do "traço" - o que significa zero em audiência na linguagem do IBOPE.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
O curta-metragem já teve exibição obrigatória nas salas de exibição do país, no tempo da ditadura militar, ai pelos anos de 1960/70. Mas o público protestava, e tanto, que anos mais tarde o governo foi obrigado a arquivar a lei, que não "pegou".
Já na "democracia permissiva", com a criação de sólidos aparatos burocráticos de controle cultural, o governo passou a financiar o curta-metragem sob o crivo de projetos selecionados por comissões ideologizadas (esquerdistas), que tornou o gênero, grosso modo, "instrumento político de denúncia e transformação social". Neste patamar, cresceu muito o financiamento público e diminui ainda mais o número de espectadores. O curta ficou chato, amador e pouco artístico.
Apesar de tudo, anoto a seguinte experiência, quem sabe a ser reativada num futuro que promete ser remoto: nos anos 1940/50, antes do governo meter o bico no cinema, haviam salas especializadas em exibir, em sessões contínuas, filmes curtos, comédias de dois rolos, documentários e jornais da tela. Eram os chamados e prósperos "Cine-Hora". Nesta fase, os filmes eram remunerados pelo público, que preferiam ver curtas a filmes de longa-metragem.
É possível ser cineasta só de curta-metragem?
Em todo mundo, de um modo geral, o curta é visto como uma forma de se ganhar métir. Salvo um completo idiota, ninguém quer ficar fazendo curta-metragem toda vida, nem mesmo Alain Resnais, tido como o melhor curta-metragista de todos os tempos. O cineasta em geral quer fazer filme de longa-metragem, de ficção ou não, para se profissionalizar, melhor se expressar e ganhar prestígio, honrarias e dinheiro - se possível. Mas poucos, raros, chegam lá.
Por outro lado, todo mundo é curta-metragista, inclusive quem faz longa. Havendo financiamento e saindo um bom produto, tanto faz que o filme seja de longa ou curta-metragem - o prazer de ver o cinema continua o mesmo.
O curta-metragem é marginalizado pelos próprios cineastas?
Claro, e no Brasil por um motivo camuflado e de inteira procedência: o curta-metragista de hoje é o mesmo sujeito que amanhã vai disputar a fatia de grana nos órgãos do governo, uma perspectiva sempre exasperante - embora na atualidade, contraditoriamente, o projeto do governo totalitário seja o de ampliar, para fins de controle politico-ideológico, o exercíto militante dentro da atividade.
Pensa em dirigir um curta novamente?
Fiz oito documentários de curta-metragem, todos eles premiados nacional e internacionalmente, em festivais do Brasil, Itália, França, Argentina, Espanha, Grécia, etc. Um deles, 'Os Homens do Caranguejo", elogiado pelo próprio Resnais é fonte de estudos nos indigentes cursos de cinema do país. Pessoalmente, esgotei o repertório. Agora, embora já tenha recebido propostas para voltar a filmar, só tenho saco para escrever.