quarta-feira, 22 de abril de 2009

Paula Mercedes

Paula é diretora do premiado curta ‘O Homem da Árvore’.

Conte sobre seu trabalho no cinema, especificamente com o curta-metragem.
Bom, eu estudei cinema, fui estudar fora, em Barcelona. Estudei lá por 4 anos. Nesses 4 anos a gente fazia muito curta, na escola tinha aquela coisa de estudante de cinema que quer aprender fazendo, e ai você aprende a fazer cinema da maneira mais difícil. Depois quando você vai trabalhar no cinema de verdade, você percebe que tem coisas que são muito mais fáceis. Mas fazer curtas é um modo de poder explorar tudo, desde a linguagem até a produção. Conseguir coisas de graça, ficar horas trabalhando, porque nunca dá pra filmar tudo em quatro dias, bom enfim, e todo mundo aprendendo junto. Acho que o curta é uma grande aula coletiva de cinema.“O Homem da Árvore” foi o primeiro curta que dirigi. Eu escrevi o projeto e mandei para o edital do MINC, quando percebi que ia demorar pra sair a lista dos selecionados resolvi que tinha que filmar como fosse. A história do Mário, o homem da árvore, não dava pra ficar esperando, por que eu não sabia até quando ele poderia viver ali na árvore. E daí eu juntei uma grana, 2 mil reais e falei, eu vou. E fui para Brasília, conheci um pessoal de Brasília bem bacana que faz cinema, que faz curta, e também está começando, outros que nem estão começando, mas que também entraram de cabeça no projeto. E ai foi isso, fui com a cara e com a coragem.

Você, como uma diretora de cinema, especificamente de curta gosta de ver seu trabalho visto por milhares de pessoas e o curta é bem restrito, é um publico seletivo que vai em busca mesmo, diferentemente do longa. Isso de certa forma te chateia, e atrapalha um pouco seus planos de cinema?
Você diz assim, do curta ser visto por menos pessoas... não, de jeito nenhum, acho maravilhoso que exista um público de curta-metragem. Normalmente são pessoas que estão começando ou que não estão começando, mas são apaixonadas por cinema, e por esse tipo de linguagem, são pessoas muito críticas também, que é legal, e nem tanto ao mesmo tempo, são pessoas que pensam muito o cinema. Eu acho maravilhoso que existam vários tipos de público, porque mesmo para o cinema brasileiro, podem ter três tipos de filmes completamente diferentes, e esses três filmes se comunicam com um público muito diversificado. Mesmo o cinema nacional, que já tem pouco público, quanto mais diversificado for o público melhor, melhor para quem faz.

Historicamente, um diretor ou uma diretora começa com um curta que é premiado ou não e depois migra para o longa, vira diretor mesmo de longa-metragem, acaba até abandonando o curta. Explica um pouco como que é essa migração.
Eu não sei porque não fiz nenhum longa, mas eu acho que depende da história que você vai contar, tem história que cabe num longa e tem história que num curta ela fica apertada, e tem histórias que para um longa pode ficar pobre. Eu acho que depende da história que você quer contar, óbvio que fazer um longa é um desafio maior, mais dinheiro, mais pessoas envolvidas. Narrar uma história em um hora e meia é realmente, não sei se é mais difícil, mas precisa de mais tempo. Então é um desafio que depois que você fez um curta, dois ou três, você quer enfrentar. Eu tenho várias idéias inclusive, que são idéias que não dariam para contar em 1 hora e meia. Eu acho que o curta é uma linguagem por si só. Tem muita gente que faz o curta, depois vai para o longa, e tem os cineastas que fazem o curta, que gostam do curta e desenvolvem essa linguagem, e os que usam o curta para passar, partem para o longa e daí não voltam mais.

Você acha que o curta é um gênero menor dentro do cinema?
Não, de jeito nenhum, é um outro gênero, assim como o média. O média é um formato mais difícil porque hoje em dia nos festivais, são poucos festivais que aceitam, ele não tem a agilidade, a rapidez que o curta tem, e ele não te dá o tempo para se envolver como no longa, então acho o média realmente um formato que saiu porque o mercado é restrito, mas o curta não, é um formato, é uma linguagem, é um conto, só que é leve, ali, tem começo, meio e fim, a se desenvolver rapidamente.

O curta tem o poder de síntese muito grande, você acha que ainda tem mais histórias para contar dentro do curta, mais curtas para fazer, mais histórias para contar?
Se eu tenho? Tenho, acho que eu tenho muitas histórias para contar, porque é um desafio, você imaginar a história se desenvolve assim, assim e assim, e daí, como é que você conta? Existem mil maneiras de se contar isso, que podem durar um minuto, durar três ou que podem durar quinze minutos, e é um desafio desenvolver. Eu acho incrível. Acho até que quanto mais curto, melhor o curta.

A produção, agora com câmera digital, está facilitando muito a produção, como que faz para diferenciar o seu trabalho de trabalhos que não tenham uma preocupação com a estética, com a narrativa, com a linguagem?
Hoje em dia existem muitos meios para se fazer um filme. É difícil saber, com essa quantidade de curtas que estão sendo produzidos e com a quantidade de cineastas e videomakers que existem, todo mundo hoje em dia pode fazer um vídeo, e eu acho que isso é muito bom, no sentido de estar se explorando a forma, o formato do vídeo, que realmente é um formato que todo mundo pode ter acesso. Ao mesmo tempo se produz muita coisa ruim, mas acho que a longo prazo as pessoas que conseguirem se desenvolver bem, que forem boas e tiverem histórias legais para contar, sendo amadores ou não, elas vão se destacar por si só, e vão seguir a carreira ou não, mas eu acho que a obra fala por si só. E o que é ruim vai ser ruim, as pessoas vêem e não vão mais ver, e morre ali mesmo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Maria Manoella


Considerada a musa da cena teatral underground de São Paulo, a atriz fez as minisséries ‘Filhos do Carnaval’, da HBO, e ‘JK’, da Globo, e o filme ‘Nossa Vida Não Cabe num Opala’.

Qual é o grande barato do curta?
Eu já fiz alguns curtas, para dar maior força, eu sou rato do festival de curta-metragem assisto tudo que eu posso, e eu acho um formato bacana, acho que toda sala de cinema devia apresentar antes da projeção de seu longa um curta como acontece nos festivais de cinema, eu sou super a favor do curta-metragem, tem muito filme, muito rolo que sobra de filmagem, os cineastas deviam doar para os cineastas jovens ou para curta-metragistas, para que o curta, enfim, tenha mais espaço, mais visibilidade.

Você trabalha no teatro, trabalha com curtas, qual que é a diferença de preparação de um papel, por exemplo, do curta para o teatro?
A gente no teatro tem muito ensaio, tem uma rigidez que no cinema é um pouco mais livre, eu tenho essa sensação, essa impressão, assim os curtas que eu fiz eu ensaiei em um, dos dias, no teatro a gente ensaia 2, 3 meses, mesmo os longas que eu fiz, eu ensaiei três, quatro dias, assim. Te dá uma grande rigidez, um grande ensaio, ali foi improviso, que no teatro tenta tomar cuidado para não precisar improvisar, tenta seguir a cartilhazinha.

No teatro geralmente os textos são longos, e no curta o poder de síntese é muito grande, você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de rodagem?
Acho que dá para contar uma história com pouco tempo e sem texto, acho que dá contar uma história do jeito que você puder contar essa história, e depende o tamanho do texto, depende do formato, se é teatro, se é cinema, se é curta, se é média, se é longa. Se tiver uma história aí dá para contar.

O que te leva a aceitar um papel, um trabalho com curta-metragem?
Curta-metragem... Identificação com o personagem, paixão, identificação com o projeto, paixão pelo personagem. Basicamente é isso.

A atriz gosta que seu trabalho seja visto por milhões de pessoas, e o curta é bem restrito. Isso não te chateia, de fazer um trabalho bacana e poucas pessoas terem conhecimento.
Não, porque acho que no teatro isso acontece, às vezes a gente faz um trabalho que tem uma demanda emocional e pessoal muito grande e que quando a gente vai ver o público, é restrito. Teatro normalmente é um segmento que a maioria do público do teatro, é gente de teatro, a gente não tem, eu fiz uma peça ano passado que alcançou um grande público, mas normalmente o teatro que eu faço é um teatro menor entende, então contando que alguém veja, que alguém se toque com aquilo que a gente está fazendo, está valendo.

Alguém tem que ver, porque sem platéia não funciona.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Jarbas Capusso Filho

Jarbas é um roteirista e diretor de teatro.

Qual que é a sua opinião sobre o curta-metragem, você que é um cara mais ligado ao teatro?
Eu acho o curta-metragem, bom, posso falar de mim, que eu gosto de cinema, eu estou tentando fazer cinema, o curta-metragem é bacana porque é viável hoje em dia, você tem novas tecnologias para filmar, então você reúne a rapaziada. Foi meu caso, por exemplo, reunir os amigos, são técnicos, um que manja de luz, eu acho que o curta é realizável, vamos dizer assim, para um cara que nem eu, que não tem grana para filmar. Um longa-metragem para mim já é uma coisa distante, um curta eu já consigo realizar, junto a rapaziada, eu acho assim. E o curta, ele é bacana também para você exibir, é muito mais fácil, a gente já fez mostra aqui no Sátyros numa madrugada a gente exibiu 8 curtas entendeu, então eu acho que o grande barato do curta-metragem é ele ser viável hoje em dia economicamente.

O teatro tem textos longos, e dificilmente você vê uma peça com menos de 20 minutos que é o tempo de duração do curta. O curta tem um poder de síntese muito grande, como que você faz para se adaptar a essa linguagem?
Cara, ta aí uma pergunta enigmática, porque eu comecei no teatro então realmente eu estou acostumado a textos longos e aí eu parti para fazer o curta-metragem. Mas no meu caso foi assim, os meus dois primeiros curtas, foram documentários, então deu para ficar fora dessa coisa do teatro, não influiu tanto, agora o terceiro curta que é o “Desde o Fim até o Começo”, que é uma ficção mesmo, eu me adaptei...

Jarbas, fala um pouco sobre seus trabalhos com curta-metragem.
Eu comecei com curta-metragem, meu primeiro trabalho foi um documentário, que chama “Você Acredita em Quê?”. Onde eu saí às ruas perguntando para as pessoas no que elas acreditavam e onde tudo isso aqui ia dar, e eu tentei fazer essa pergunta para um público, vamos dizer assim, mais diferenciado, eu perguntei para moradores de rua, travestis. Vamos dizer assim, os excluídos, e foi muito bacana, porque eu imaginei que as pessoas podiam dar respostas: acredito no meu cartão de crédito, acredito no meu pai, acredito no meu amigo, mas a coisa se voltou muito para religião, e foi bem bacana. No segundo trabalho, o meu documentário, foi um trabalho que eu fiz com a Linise, que é presidente das mães da Praça da Sé, que é uma entidade que cuida de crianças desaparecidas, ela teve uma filha desaparecida há 13 anos atrás, uma filha de 12 anos, e a partir daí ela fundou essa entidade, são aquelas mulheres que ficam segurando cartazes com fotos nas escadarias da Sé, e eu fiz o documentário sobre ela, então eu peguei um dia dela, que é o domingo, que ela vai todo domingo na praça da Sé.
Eu filmei esse dia intercalado com algumas entrevistas e etc. O meu terceiro trabalho no cinema é um curta-metragem, minha primeira ficção que chama “Desde o Fim até o Começo”, é um filme que eu rodei com o Ivan Cabral, a Lilian Borges e o Gustavo Adares que fez fotografia, é um roteiro meu, junto com a Denise de Almeida e eu gostei muito, eu tenho alguns outros projetos na gaveta, mas por conta de grana, de tempo, e etc. por enquanto está na gaveta.

O curta ele é viável para fazer, mas ele é pouco acessível, diferentemente do longa-metragem, isso não causa uma certa frustração, de fazer um trabalho e ficar com um público seletivo?
Com certeza, né? Quando fazemos um trabalho desse a gente quer chegue a um grande público seria muito bacana. Por exemplo, os meus trabalhos eu ainda não coloquei em festivais por falta de grana mesmo, por exemplo, para escrever, mandar cópia e etc. então eu acho que é um grande problema esse, de você ter um público muito limitado no curta-metragem, então eu acho que deveria criar ferramentas, alguma parada assim, para que as pessoas tivessem mais acesso aos curtas, talvez em DVDs, locadoras mesmo, ou colocar um curta no inicio de cada longa no cinema, ou no próprio DVD de longa que a gente loca eu acho que podia colocar um curta, acho que alguma dessas paradas seria a solução.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Selma Egrei

A atriz já atuou em mais de trinta filmes.

Por sua beleza, foi uma das atrizes prediletas de Fauzi Mansur. No entanto, nas mãos de Walter Hugo Khouri, com quem fez quatro filmes, é que seu talento se revelaria.

Você é uma espectadora de curta-metragem?
Eu não vou ao cinema nunca, não vejo nem curta, nem longa, nem média, no máximo depois de 2 anos que passou um filme em cartaz, e eu ouço as pessoas falarem “é lindo, é lindo, é lindo”, eu espero passar na TV paga ou eu alugo um vídeo. Não vou ao cinema.

Você nunca assistiu um curta?
Já assisti muitos, mas bem por acaso assim, porque não vou a festival, não acompanho, não sei quem faz, quem dirige, não sei nada.

Nunca recebeu um convite?
Já, até participei de um, mas faz o que, uns 30 anos, isso. Não sou ligada a cinema.

Como que foi esse trabalho 30 anos atrás?
Era um espetáculo que eu estava fazendo de dança, e uma pessoa que estava trabalhando quis fazer um curta-metragem, sobre um solo que eu fazia de dança e tal. E é isso.

Ficou bacana esse curta?
Ficou, ficou legal.

Então quer dizer que você odeia cinema?
Não odeio cinema, só não gosto, não sou ligada. Eu gosto de bicho, gosto de natureza eu gosto de comida, de pizzas. Cinema não sou chegada.