Paula é diretora do premiado curta ‘O Homem da Árvore’.
Conte sobre seu trabalho no cinema, especificamente com o curta-metragem.
Bom, eu estudei cinema, fui estudar fora, em Barcelona. Estudei lá por 4 anos. Nesses 4 anos a gente fazia muito curta, na escola tinha aquela coisa de estudante de cinema que quer aprender fazendo, e ai você aprende a fazer cinema da maneira mais difícil. Depois quando você vai trabalhar no cinema de verdade, você percebe que tem coisas que são muito mais fáceis. Mas fazer curtas é um modo de poder explorar tudo, desde a linguagem até a produção. Conseguir coisas de graça, ficar horas trabalhando, porque nunca dá pra filmar tudo em quatro dias, bom enfim, e todo mundo aprendendo junto. Acho que o curta é uma grande aula coletiva de cinema.“O Homem da Árvore” foi o primeiro curta que dirigi. Eu escrevi o projeto e mandei para o edital do MINC, quando percebi que ia demorar pra sair a lista dos selecionados resolvi que tinha que filmar como fosse. A história do Mário, o homem da árvore, não dava pra ficar esperando, por que eu não sabia até quando ele poderia viver ali na árvore. E daí eu juntei uma grana, 2 mil reais e falei, eu vou. E fui para Brasília, conheci um pessoal de Brasília bem bacana que faz cinema, que faz curta, e também está começando, outros que nem estão começando, mas que também entraram de cabeça no projeto. E ai foi isso, fui com a cara e com a coragem.
Você, como uma diretora de cinema, especificamente de curta gosta de ver seu trabalho visto por milhares de pessoas e o curta é bem restrito, é um publico seletivo que vai em busca mesmo, diferentemente do longa. Isso de certa forma te chateia, e atrapalha um pouco seus planos de cinema?
Você diz assim, do curta ser visto por menos pessoas... não, de jeito nenhum, acho maravilhoso que exista um público de curta-metragem. Normalmente são pessoas que estão começando ou que não estão começando, mas são apaixonadas por cinema, e por esse tipo de linguagem, são pessoas muito críticas também, que é legal, e nem tanto ao mesmo tempo, são pessoas que pensam muito o cinema. Eu acho maravilhoso que existam vários tipos de público, porque mesmo para o cinema brasileiro, podem ter três tipos de filmes completamente diferentes, e esses três filmes se comunicam com um público muito diversificado. Mesmo o cinema nacional, que já tem pouco público, quanto mais diversificado for o público melhor, melhor para quem faz.
Historicamente, um diretor ou uma diretora começa com um curta que é premiado ou não e depois migra para o longa, vira diretor mesmo de longa-metragem, acaba até abandonando o curta. Explica um pouco como que é essa migração.
Eu não sei porque não fiz nenhum longa, mas eu acho que depende da história que você vai contar, tem história que cabe num longa e tem história que num curta ela fica apertada, e tem histórias que para um longa pode ficar pobre. Eu acho que depende da história que você quer contar, óbvio que fazer um longa é um desafio maior, mais dinheiro, mais pessoas envolvidas. Narrar uma história em um hora e meia é realmente, não sei se é mais difícil, mas precisa de mais tempo. Então é um desafio que depois que você fez um curta, dois ou três, você quer enfrentar. Eu tenho várias idéias inclusive, que são idéias que não dariam para contar em 1 hora e meia. Eu acho que o curta é uma linguagem por si só. Tem muita gente que faz o curta, depois vai para o longa, e tem os cineastas que fazem o curta, que gostam do curta e desenvolvem essa linguagem, e os que usam o curta para passar, partem para o longa e daí não voltam mais.
Você acha que o curta é um gênero menor dentro do cinema?
Não, de jeito nenhum, é um outro gênero, assim como o média. O média é um formato mais difícil porque hoje em dia nos festivais, são poucos festivais que aceitam, ele não tem a agilidade, a rapidez que o curta tem, e ele não te dá o tempo para se envolver como no longa, então acho o média realmente um formato que saiu porque o mercado é restrito, mas o curta não, é um formato, é uma linguagem, é um conto, só que é leve, ali, tem começo, meio e fim, a se desenvolver rapidamente.
O curta tem o poder de síntese muito grande, você acha que ainda tem mais histórias para contar dentro do curta, mais curtas para fazer, mais histórias para contar?
Se eu tenho? Tenho, acho que eu tenho muitas histórias para contar, porque é um desafio, você imaginar a história se desenvolve assim, assim e assim, e daí, como é que você conta? Existem mil maneiras de se contar isso, que podem durar um minuto, durar três ou que podem durar quinze minutos, e é um desafio desenvolver. Eu acho incrível. Acho até que quanto mais curto, melhor o curta.
A produção, agora com câmera digital, está facilitando muito a produção, como que faz para diferenciar o seu trabalho de trabalhos que não tenham uma preocupação com a estética, com a narrativa, com a linguagem?
Hoje em dia existem muitos meios para se fazer um filme. É difícil saber, com essa quantidade de curtas que estão sendo produzidos e com a quantidade de cineastas e videomakers que existem, todo mundo hoje em dia pode fazer um vídeo, e eu acho que isso é muito bom, no sentido de estar se explorando a forma, o formato do vídeo, que realmente é um formato que todo mundo pode ter acesso. Ao mesmo tempo se produz muita coisa ruim, mas acho que a longo prazo as pessoas que conseguirem se desenvolver bem, que forem boas e tiverem histórias legais para contar, sendo amadores ou não, elas vão se destacar por si só, e vão seguir a carreira ou não, mas eu acho que a obra fala por si só. E o que é ruim vai ser ruim, as pessoas vêem e não vão mais ver, e morre ali mesmo.