quinta-feira, 25 de setembro de 2008

José Adalto

José Adalto teve passagem importante na Boca do Lixo, lá produziu diversos filmes que marcaram a cinematografia do período. Hoje empenha-se em construir o Museu do Cinema Brasileiro, em Altinópolis.

Qual é a importância histórica do curta-metragem no cinema nacional?
Historicamente, lá no início, o cinema era elaborado como curta. Mais que isso, documentários. Os famosos filmes “naturais”. O curta possibilita ao realizador, primeiro, ter uma percepção de mercado, preparar-se para “pegar” o longa. Depois, e acho o mais importante, é que o curta é uma forja de cineastas. Especificamente o de ficção, tem uma vantagem extra: põe à prova a capacidade de compilação para se contar uma história.

Qual é a avaliação que vocês faz dos curtas produzidos na região da Boca do Lixo?
A Boca praticamente não produziu curtas. Houve um “boom” entre 78 e 80, ocasião em que vigorou a famosa Lei do Curta. Foi aí que entrei no mercado profissional como produtor e diretor. No período produzi e/ou dirigi 10 curtas, cheguei a ganhar algum dinheiro com isso, e fui alavancado para o longa. Aliás Rafael, acho que seria legal alguém (que pode ser você!) mexer nesta ferida. A Lei do Curta existe, mas simplesmente não é cumprida. Com alguns reparos, correções de rumo ou coisa assim, pode voltar a funcionar e colocar muita gente boa no mercado do longa. Voltando à vaca-fria: os curtas feitos pela Boca tinham caráter comercial, e fugiam, da pureza, da quebra de linguagem, da inovação do curta puro.

Como é trabalhar com a síntese no curta-metragem?
Como disse, a síntese, o poder de compilação, é a grande sacada do curta. Se você consegue contar uma história com começo, meio e fim em até 15 minutos, está dando um grande passo para fazer longas melhor elaborados no que diz respeito à ritmo, a balanço, a movimento.

Acha que é possível um cineasta trabalhar só com curta-metragem?
Definitivamente, não. No Brasil não é segredo para ninguém que até o longa não funciona como meio de vida para a maioria dos profissionais, que só se movimentam pelo amor à arte. Não existe mercado de curta-metragem no Brasil, a não ser uma Mostra aqui, um Festival ali, um evento, uma tevê educativa. Na verdade, um curta pode dar mais visibilidade – ainda assim só no meio – do que dinheiro.

Acredita que, atualmente, o curta-metragem rompe com os cânones do cinema? Só através dos curtas dá para experimentar, inovar e romper barreiras?
Uma vez que o realizador (diretor, produtor, roteirista, fotógrafo) não tem compromisso com o mercado, pode se dar ao luxo – e faz isso – de dar asas à imaginação. Um curta é um desafio sempre. Um tentador desafio. Por definição chamam de “amador” o cara que faz curta e de “profissional” o que faz longa. Dentro desta ótica, o fato de ser “amador” é o grande barato. Como não foi feito, a princípio, para ser visto por grande público, mas sim para grupos mais fechados, não existe o mercado do “será que vai dar grana?”, “o que o público vai pensar de mim?”, “será que produtor vai gostar e continuar investindo em mim?”.

A ousadia do realizador é proporcional a seu não compromisso com a platéia. E esta situação permite que idéias inovadoras, novas experimentações venham à tona. Claro que nem todas dão certo, mas o que dá, esta aí para a gente ver aplaudir.

Pensa em filmar um curta futuramente?
Comecei no curta, Rafael. Lá pelos idos de 1970, ainda molecote, participei de Festival de Cinema em Chicago com uma proposta mais desafiadora ainda: na minha categoria só se aceitava curtíssima metragem (filme de menos de 3 minutos). E havia tema: A Condição do Homem. O filme tinha 1 minuto e meio, se chamava For Ever And Ever (Por todos os Séculos e Séculos) e tinha o ator Nery Victor como personagem principal. Com a Lei do Curta, final da década de 70, fiz 10 (8 dirigidos e produzidos por mim e 2 dirigidos por Edward Freund). Até hoje faço curtas experimentais, geralmente em vídeo. E posso te citar um dos grandes orgulhos que tenho da minha vida profissional: não fosse o curta-metragem e eu não teria em meu currículo o filme de 8 minutos, captado em 35mm Portinari, Cândido Torquatto (1903-1962). São caminhos que os curtas nos levam.
E viva o curta!!!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Paulo Betti

Um dos atores nacionais de maior renome, Paulo Betti estreou na direção de um longa-metragem com “Cafundó”.

Qual é o desafio, para um ator, atuar em curtas?
O desafio é o mesmo de um longa. O personagem é o desafio do ator, encontrar a melhor maneira de representá-lo.

É interessante atuar em curtas mesmo sabendo que a exibição é restrita e que o seu trabalho fatalmente será visto por poucas pessoas? O que te leva a aceitar esses desafios?
Acho interessante o contato com novas equipes, ás vezes são estudantes, é um ar novo, todo mundo fazendo por amor, querendo aprender, acabam ensinando. Um set de filmagem é sempre um ambiente curioso, interessante, depois a duração de filmagem de um curta é menor, não dá tempo de se instaurar o tédio. Aceito quando gosto do roteiro e do projeto.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que seria legal se houvesse espaço na televisão para exibição dos curtas, mas isso só ocorrerá quando esse espaço for obrigatório, determinado por lei. Mesmo para os canais a cabo seria interessante que a legislação obrigasse.Isso não fere os princípios democráticos como dizem as emissoras, a lei poderia regular isso, senão os curtas jamais terão espaço.

Você já dirigiu um longa, pensa em produzir e/ou dirigir curtas?
Ainda não tive idéia para um curta, mas se tiver uma certamente procurarei realizá-la.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Evaldo Mocarzel

À margem da imagem é o primeiro de uma série de quatro documentários realizados pelo cineasta, que compõem um retrato do Brasil urbano: ‘À margem da imagem’, sobre moradores de rua; ‘À margem do concreto’, sobre ocupações;’ À margem do lixo’, sobre catadores de papel; e ‘À margem do consumo’, sobre uma favela.

Qual é a importância história do curta-metragem no cinema nacional?
O curta-metragem tem uma importância fundamental para a linguagem do cinema. Não é uma mera porta de entrada para os cineastas que querem fazer filmes de longa-metragem, mas um veio de possibilidades de linguagem, de síntese, de flagrar o paroxismo de uma história, de condensar um questionamento artístico, social, ético, estético, político, entre outras possibilidades. Fazer um curta é muito difícil. Acho sinceramente mais fácil, sob o ponto de vista linguístico, fazer um longa do que um curta, pois o curta te exige concisão e muita criatividade para sugerir os mistérios da existência humana. Não podemos esquecer que "Um Cão Andaluz", de Buñuel e Dalí, foi um curta que revolucionou a História do Cinema, trazendo para a sétima arte as imagens surrealistas que escorrem no fundo das nossas retinas.

Como é trabalhar com a síntese no curta-metragem?
Depende de cada artista, depende de cada realizador. Mas, como já disse na resposta anterior, o curta te exige uma elaboração de linguagem muito concisa, muito sintética, e um talento muito grande para "sugerir" com os sons e as imagens da narrativa cinematográfica enxutíssima que você está criando.

Acha que é possível um cineasta trabalhar só com curta-metragem?
Volto a dizer: depende do artista, depende do realizador, e principalmente depende do formato e da coerência da narrativa que você está querendo criar. Tudo depende da idéia. Há idéias que nascem curtas, e outras que são para longas-metragens.

Acredita que, atualmente, o curta-metragem rompe com os cânones do cinema? Só através dos curtas dá para experimentar, inovar e romper barreiras?
Concordo com você. O curta é um dos poucos espaços onde hoje se experimenta artisticamente. E a experimentação é o verdadeiro oxigênio da criação artística.

Pensa em filmar um curta futuramente?
Tenho um curta bem experimental, escrito a partir de uma peça do genial dramaturgo Newton Moreno, "A Cicatriz é a Flor", que pretendo rodar em breve. Uma idéia muito louca, arrojada, experimentalmente poética, que só caberia no halo de possibilidades sempre tão abrangente do curta-metragem.

domingo, 14 de setembro de 2008

Francisco César Filho

Cineasta e produtor cultural. Criou e organiza até hoje a Mostra do Audiovisual Paulista, e é programador associado do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, e programador-adjunto do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários.

Qual é a sua relação com o curta-metragem?
Não só comecei minha carreira trabalhando em curtas (e, posteriormente, dirigindo vários), como também foi nesse formato minha maior atuação como agitador cultural, criando pequenos eventos de exibição que se transformaram com o passar dos anos em importantes festivais (como a Mostra do audiovisual Paulista e o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, entre outros).

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Contar histórias, documentar fatos, desenvolver ensaios audiovisuais - a curta duração obriga à síntese (e abole aquela arquitetura dramática enfadonhamente repetitiva e previsível dos longas: apresentar personagem, instaurar conflito, resolver conflito) e, por isso, está muito mais em sintonia com a apreensão dos jovens na contemporaneidade.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
O curta não tem implicações comerciais em nenhum lugar do mundo - e isso é o que garante seu caráter de pesquisa de ponta da linguagem audiovisual. Por outro lado, ninguém vai sobreviver só na direção de filmes curtos. Vários autores praticam exclusivamente formatos de curta duração, com sucesso (como sobrevivem, não sei - mas não é da realização de curtas com certeza).

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Basta lembrar três momentos: os mais de 300 títulos feitos por Humberto Mauro entre as décadas de 1930 a 1960 no Instituto Nacional de Cinema Educativo (fundadores de um olhar cinematográfica brasileiro); os primeiros filmes do Cinema Novo (foram curtas! - "Aruanda", "Arraial do Cabo" - a partir dos quais foi cunhada a terminologia cinema novo brasileiro); e a larga produção independente dos anos 1970 (mais de mil documentários em 16mm que abordavam temas proibidos ao cineastas de longas em 35mm).

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Muito pelo contrário. Desde meados dos anos 1980 o curta-metragem ganhou prestígio inédito em todo o mundo. Atualmente é cult (vide nomes como Jorge Furtado voltarem sempre à sua prática).

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sempre que aparecer oportunidade.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Zelito Viana

Produtor e cineasta que, em 1965, fundou com Glauber Rocha a Mapa Filmes, empresa que realizou, entre outros, "Terra em transe" (1966); "O dragão da maldade contra o santo guerreiro" (1968) e; "Cabeças cortadas" (1970). Em 1999 dirigiu seu projeto mais ambicioso, "Villa Lobos, uma vida de paixão".

Qual é a sua relação com os Curtas?
Minha relação com o curta metragem não pode deixar de ser ótima. Já fiz algumas dezenas deles. Não existe nenhum cineasta que não tenha passado - e continue passando - por esta experiência.

Acha que dá para contar uma história em pouco tempo de metragem?
Dá para contar histórias em 30 segundos. Depende da história e da maneira de contá-la. O tempo não é empecilho. Tem comerciais que narram a vida de uma pessoa desde o nascimento até a morte e duram 30 segundos ou um minuto.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem?
É difícil, pois não existe mercado de curta-metragem. Talvez com o advento das novas mídias isto seja possível.

Qual é a importância histórica do curta-metragem no cinema nacional?
O cinema brasileiro tem uma produção riquíssima e de grande qualidade em curta-metragem sejam de ficção ou documentais. Filmes de altíssimo nível e premiados mundialmente. Apenas para citar dois entre dezenas de outros: "Di Cavalcanti" de Glauber Rocha e "O dia em que Dorival encarou a guarda" de Jorge Furtado.

Pretende fazer um curta-metragem futuramente?
Acabei de fazer um de 7 minutos sobre uma crônica de Euclydes da Cunha. É o primeiro que faço de ficção e gostei muito do trabalho.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Hermano Penna

Com seu primeiro longa-metragem, Sargento Getúlio (1983), foi premiado como melhor diretor no Festival de Locarno, na Suiça, e melhor filme em Gramado (RS).

Qual é a sua relação com o curta-metragem?
De profundo respeito. Apesar de não praticar o gênero, acredito que o curta está para o cinema assim como o conto está para a literatura. Alguns curtas foram fundamentais na minha compreensão do que é o cinema.

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Sem dúvida. As telas, e telinhas, estão cheias da prova. Histórias são contadas em até 30 segundos, vide alguns comerciais, o que dizer então de dez a vinte minutos.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É um desrespeito considerar o curta como mero trampolim. Cineastas importantes, no Brasil e no mundo, elegeram o curta como sua forma de expressão.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Basta conhecer medianamente a história do cinema brasileiro para saber a importância de filmes como : "Couro de Gato" de Joaquim Pedro de Andrade; "Aruando" de Linduarte Noronha; "Arraial do Cabo" de Paulo César Sarraceni; "Cinco Vezes Favela" do CPC do Rio de Janeiro; "Klaxon" de Sérgio Santeiro; "Porto de Santos" de Aloysio Raulino; "Ilha das Flores" de Jorge Furtado.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não e não.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Infelizmente não tenho o dom da concisão necessária a gramática do curta. Gostaria muito de não ter essa limitação, o que fazer?

domingo, 7 de setembro de 2008

Lucia Murat

Durante a ditadura militar participou da guerrilha, foi presa e torturada. Na prisão, permaneceu durante três anos e meio, início de 1971 até a metade de 1974. Em 1988 comoveu o Brasil com o belo filme “Que Bom Te Ver Viva”, protagonizado por Irene Ravache, em que dava voz a várias mulheres, além dela própria, que lutaram contra a ditadura e que foram torturadas.

Qual é a sua relação com o curta-metragem?
Pouca. Na verdade, a minha escola foi mais o documentário e televisão. Tive poucas oportunidades de trabalhar com o formato curta, a exceção do filme "Daisy", episódio do longa "Oswaldianas",que realizei em 1992

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Acho que é exatamente a mesma relação da literatura entre conto e romance. Há contos geniais, que se expressam num tempo menor, da mesma forma como há curtas geniais. Houve uma época inclusive que alguns filmes de episódios exploraram belos temas com excelentes resultados como Bocaccio 70. Acho que é uma idéia que deveria ser retomada.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Possível, é. Mas neste caso é um pouco diferente da literatura. Existem grandes contistas, mas é difícil a gente encontrar cineastas que considerem o curta sua forma de expressão única.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Tem sido a escola de grandes cineastas e fizemos alguns antológicos como "Ilha das Flores", de Jorge Furtado.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que sim, basicamente porque não existe um mercado.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Gosto de pensar em trabalhar para um público. Então, me atrai mais a possibilidade de fazer um curta como episódio de um longa. Pelo menos na atual situação do mercado.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Rubens Francisco Lucchetti

Em homenagem ao Lucchetti este blog irá fazer, anualmente, a premiação 'Troféu Rubens Francisco Lucchetti de Cinema'. Quero homenagear pessoas que construiram uma história importante na área. Atualmente procuro uma editora para publicar a biografia deste gênio do roteiro.

Rubens Francisco Lucchetti – desenhista, teorizador e novelista policial. Escreveu seriados e peças radiofônicas. Organizou eventos culturais/cinematográficos. Fez cinema experimental, roteiros para histórias em quadrinhos, fotonovelas, televisão e cinema.

É autodidata, freqüentou até o quarto ano primário do Grupo Escolar “Tomas Galhardo”, de Vila Romana, na capital paulista. A par de sua intensa atividade literária e artística, Lucchetti exerceu as mais variadas profissões: desde almoxarife a gerente de cinema, desde chefe de escritório a editor. A seguir, vamos conhecer um pouco da TRAJETÓRIA DE LUCCHETTI:

R.F.LUCCHETTI – como é conhecido – tem cerca de 31 livros e mais de 200 textos entre contos, novelas e folhetins publicados, desde os anos 40 até o final dos 70, em praticamente todos os magazines pulps brasileiros: X-9, Detective, Policial em Revista, Meia-Noite, Suspense (de Alfred Hitchcock), Emoção, Contos de Mistério, etc. Com o desaparecimento dessas publicações, criou suas próprias revistas: Série Negra, Aventura e Mistério e Mistérios, nas quais redigia todos os textos, assinando-os com os mais diferentes nomes para dar a impressão de que eram escritos por vários autores. Por absoluta falta de infra-estrutura dos editores para manterem lançamentos mensais, nenhuma delas foi além do segundo ou terceiro número. No ano de 2007 completou sessenta e cinco anos como autor, perseguindo sempre os gêneros: Detetive, Mistério & Horror, caso único no Brasil. Seu primeiro trabalho, o conto “A Única Testemunha”, foi publicado no jornal ‘O Lapiano’ do bairro de Vila Romana, onde sua família residia.

Mas sua produção raramente está assinada com o seu próprio nome, tendo adotado os mais variados pseudônimos e alguns heterônimos, porém, foram sugeridos pelos próprios editores, que não acreditavam num nome latino assinando textos de Mistério & Horror.

Foi a partir de 1942, mesmo ano da publicação de “A Única Testemunha”, que começou a escrever argumentos que eram radiofonizados por Octavio Gabus Mendes, em seu programa diário de rádio, que apresentava peças completas de 30 minutos. Esse vinculo com o famoso homem de rádio foi interrompido em 1945, com a mudança da família de Luccheti para a cidade de Ribeirão Preto.

A partir de janeiro de 1948, com a publicação do seu artigo “Viagem à Lua” no ‘Diário da Manhã’, de Ribeirão Preto, onde seu primo Luciano Lepera era o redator-chefe, iniciou sua intensa atividade jornalística, publicando quase diariamente um artigo em um dos jornais daquela cidade. Sua colaboração era basicamente constituída de textos sobre Cinema, Literatura e contos. Essa colaboração deveria se estender até 1960, quando sua carreira tomou outro rumo.

Nos anos 1956/58, atendendo a um pedido de Aloysio Sila Araújo (outro famoso homem da radiofonia brasileira que, juntamente com Manoel de Nóbrega, teve um dos mais populares programas de rádio, “Cadeira de Barbeiro”), na época diretor de broad-casting da PRA-7 Rádio Clube de Ribeirão Preto, criou ‘O Grande Teatro de Aventuras’, apresentado diariamente nos finais da tarde; ‘O Grande Teatro A7’, levado ao ar aos domingos à noite com peças de quase duas horas e que uma vez por mês era substituído pelo ‘Grande Teatro do Mistério’, com scripts originais ou adaptados dos clássicos do gênero.


Em 1961, com a inauguração da TV-Tupy de Ribeirão Preto, que ficava no ar das 18:00 às 20:00h quando começava a gerar imagem de São Paulo, passou a integrar o cast da emissora, escrevendo e apresentando uma vez por semana uma série policial-enigma, ‘Quem Foi?’. O programa era produzido ao vivo com uma só câmera e com a participação do telespectador que, por telefone, tinha que esclarecer o mistério proposto. Lucchetti, que já era o pioneiro do radioteatro em Ribeirão Preto, tornou-se também da televisão e quem sabe até mesmo da participação do telespectador por telefone, uma vez que não tenho noticias de nenhum outro programa de televisão, antes do ‘Quem Foi?’, que o tenha utilizado.

Em 1956, ganhou como Melhor Novelista, no Concurso dos Melhores do Rádio do 1º Centenário de Ribeirão Preto (promovido pela Prefeitura e jornal ‘A Cidade’). O dia em que se escrever a história do rádio e da televisão de Ribeirão Preto, certamente Lucchetti merecerá um capitulo especial.

Durante dos anos de 1960/63, juntamente com Bassano Vaccarini, cenógrafo e artista plástico, um dos fundadores do Teatro Brasileiro de Comédia, criou o Centro Experimental de Cinema de Ribeirão Preto, produzindo 14 filmes, muitos dos quais premiados no Brasil e no exterior. A dupla é pioneira em filme abstrato (desenhado diretamente na película).

No mesmo período, idealizou, organizou e realizou sob suas expensas, vários festivais culturais-cinematográficos, como a Semana Chapliniana, Festival de Introdução ao Cinema Francês, Festival do Cinema de Animação (no Museu de Arte de São Paulo), Chaplin-Show, Festival Sherlock Holmes e I Festival Internacional de Cinema de Animação (na VIIIº Bienal de São Paulo), que somadas à produção do Centro Experimental, levou sua loja de autopeças à falência. De um certo modo, isso foi uma benção para ele, obrigando-o a mudar-se para São Paulo, cheio de dividas e começar vida nova.


Foi ainda a partir de 1960 que começa a colaborar esporadicamente na imprensa paulistana: ‘Diário de S.Paulo’, ‘Folha de S.Paulo’, ‘Última Hora’, ‘O Estado de S.Paulo’ e ‘Shopping News’. Essa atividade tornou-se mais assídua na imprensa portuguesa, escrevendo para ‘República’, ‘Diário de Lisboa’, alguns jornais provincianos e nas revistas ‘Celulóide’ e ‘Platéia’ e no Brasil, na RCC (Revista de Cultura Cinematográfica) e ‘Revista de Cinema’, ambas de Belo Horizonte.

De 1963 à 1985 marca presença em quase todas as revistas de histórias em quadrinhos de Terror & Horror, formando dupla com a maioria dos desenhistas brasileiros ou aqui radicados. Mas foi com o italiano Nico Rosso que mais se identificou, criando uma série de revistas que inovaram o gênero: ‘A Cripta’, ‘O Estranho Mundo de Zé do Caixão’, ‘Zé do Caixão no Reino do Terror’, ‘Coleção A Cripta’ e ‘Fantastikon’.

Durante os anos de 1967/68, trabalhou na TV-Bandeirantes e TV-Tupy de São Paulo, escrevendo os scripts dos programas: ‘Além, Muito Além do Além’ e ‘O Estranho Mundo de Zé do Caixão’, apresentados por José Mojica Marins e dirigidos, o primeiro por Antonio Seabra e Mário Pomponet e o segundo por Antonio Abujamra.

Entre 1968 e 1971 escreveu roteiros de fotonovelas para revistas femininas e de Terro, muitas das quais chegou a dirigir. Nesse período, foi diretor de redação da ‘Projeção’, uma revista dirigida aos exibidores cinematográficos; e o coordenador da ‘Melodias’, especializado em rádio, música, TV e cinema.


Foi a partir de 1967 que Lucchetti começou a sua carreira como roteirista de José Mojica Marins, sendo o responsável por seus treze filmes de terror, entre os quais, o premiadíssimo ‘O Estranho Mundo de Zé do Caixão’ e ‘O Despertar da Besta’ (Prêmio de Melhor Roteiro no IIº Rio-Cine Festival, 1986). Eu tive o prazer de ter Lucchetti como roteirista dos meus quatro longas metragens: ‘O Segredo da Múmia’ (Prêmio Melhor Roteiro no Xº Festival de Gramado, 1982), ‘As 7 Vampiras’, ‘O Escorpião de Escarlate’ e ‘Um Lobisomem na Amazônia’ (2005).

No inicio de 1972, Lucchetti transferiu-se para o Rio de Janeiro, para ocupar o cargo de editor de publicações especiais da Editorial Bruguera, que mais tarde mudaria seu nome para Cedibra. Ao aposentar-se em 1982 retorna a Ribeirão Preto e incrementa a sua produção de livros sob encomenda e, quando lhe sobra tempo dedica-se aos seus próprios projetos, que vão abarrotando gavetas, uma vez que lhe falta disposição para ficar correndo atrás de editores. As paredes de seu gabinete estão cobertas por mapas de Nova York, Londres, Paris e outras cidades e um arquivo sobre os assuntos os mais banais aos mais extraordinários. Escreve humor, romances, vidas romanceadas e se necessário for não duvido que escreva até bulas de remédios ou prefácios para máquinas agrícolas. Peça-lhe o que quiser e ele recorre a seu fabuloso arquivo e numa semana o livro estará pronto.

R.F.Lucchetti é, no fundo, um autodidata, movido mais pela intuição e pela sensibilidade que orientado por normas cientificas. É um bom exemplo da expressão low profile, que em inglês se aplica a pessoas discretas que não fazem alarde, demais. Jamais fez questão de ser best-sellers. Sempre procurou ser the-gost-writer. E é. Leiam-no. É um convite para a diversão.

Texto escrito por Ivan Cardoso.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS IDEALIZADAS E ORGANIZADAS POR R.F.LUCCHETTI

SEMANA CHAPLINIANA – Ribeirão Preto, de 11 a 19 de março de 1960, sob os auspícios da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos, Societá Dante Alighieri e Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

FESTIVAL INTRODUÇÃO AO CINEMA FRANCÊS – Ribeirão Preto, de 13 a 20 de agosto de 1960, sob os auspícios da Unifrance Film e Escola de Artes Plásticas de Ribeirão Preto.

FESTIVAL DO CINEMA DE ANIMAÇÃO – Museu de Arte Moderna de São Paulo, de 20 a 23 de junho de 1962.

CHAPLIN-SHOW – Ribeirão Preto, de 05 a 13 de junho de 1965, sob os auspícios da Escola de Artes Plásticas de Ribeirão Preto e PRA-7 Rádio Clube de Ribeirão Preto.

FESTIVAL SHERLOCK HOLMES – Ribeirão Preto, de 10 a 17 de julho de 1965, sob os auspicious do Centro Experimental de Cinema de Ribeirão Preto, Centro Médico e PRA-7 Rádio Club de Ribeirão Preto.

I FESTIVAL INTERNACIONAL DO CINEMA DE ANIMAÇÃO – VIII BIENAL, São Paulo, de 17 de setembro a 08 de outubro de 1965.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE PARTICIPOU

CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS – Museu de Arte de São Paulo, de 23 a 28 de novembro de 1970. (organizou o catálogo da Seção Brasileira)

Balé “SHOCK” Uma Noite no Castelo de Drácula (autor do libreto) – Escola Jazz Dance. Teatro Municipal de Ribeirão Preto, 21,22 e 23 de novembro de 1984.

FESTIVAL HITCHCOCK – Cineclube Cauim. Ribeirão Preto, de 23 de abril a 06 de maio de 1987. (organizou e redigiu o Boletim).

BASTIDORES DA CRIAÇÃO – Oficina Cultural Oswald de Andrade. Programa de Pós Graduação em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade Catatólica de São Paulo. 24 de maio a 25 de junho de 1994. (remessa de originais – processo de criação.

Tarifa R$ 2,30


Fiz um vídeo chamado ‘Tarifa R$ 2,30’: http://www.youtube.com/user/rafaelspaca


Dois comentários sobre o vídeo:



‘Rafael, você se comporta como um digno discípulo de Kiarostami.Parabéns!’

Jean-Claude Bernardet


‘Assisti ao Tarifa R$2,30 e gostei do seu radicalismo. "Minimalista" não no sentido da repetição, mas da célula única, faz com que nós, ao invés de nos relacionarmos com a cidade/paisagem através da janela, nos relacionemos com nós mesmos assistindo a cidade/paisagem através da janela. Mergulho interior através da imagem exterior.’

Lina Chamie