terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sylvia Bandeira

Antes de se tornar atriz, Sylvia Bandeira foi modelo, onde ingressou para o cast da Shoot, a primeira agência profissional de modelos e manequins do Brasil. Sylvia Bandeira recebeu o prêmio Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado de 1983.


Para uma atriz como a senhora, que tem papéis notáveis no teatro e na TV, o que te faz topar fazer um curta-metragem, que fica à margem do mercado, tanto de critica, quanto de público?
Você esta me fazendo uma pergunta sem eu ter tido essa proposta antes.

Sim, mas quais as condições para aceitar?
Eu toparia sim! Evidentemente o tema do projeto eu levaria em conta, a proposta em si. Eu fiz um único longa-metragem, tem muito tempo e foi uma experiência até bem legal... então dependeria muito de que tipo de filme, um curta-metragem eu acho que pode ser muito criativo, ele pode ter mensagens, pode ser apenas uma idéia jogada no ar, que seria idéia para um futuro longa-metragem, então eu acho que depende muito. Eu toparia em função do interesse que isso provocaria de alguma forma em mim.

Você acha então que dá para contar uma história em tão pouco tempo de filme?
Eu já vi tanto curta-metragem interessante, que deixa uma coisa no ar, que te dá aquele gostinho de quero mais. Eu leio muito, adoro ler, quantas vezes eu li pequenos contos, e esses pequenos contos mexem com sua imaginação e você imagina como seria um filme com esse conto... e o conto não é uma história completa, pode até ser, mas que o curta-metragem tem essa proposta, ele propõe algo e a tua imaginação funciona para preencher as lacunas, é a sensação que eu tenho do curta-metragem.

Poderia falar um pouco da sua experiência com o curta?
Eu fiz um único curta-metragem há muito tempo atrás, eu estava iniciando a minha profissão como atriz e eu me lembro que era na Praça Paris (RJ) e era um rapaz jovem assim, cheio de idéias na cabeça. Tinha o Nildo Parente e o Roberto de Cleto que já faleceu, e eu me lembro de uma túnica indiana, eu caminhava por aquele jardim. Eu nunca entendi muito bem, não assisti, fui convidada algumas vezes para assistir, mas aquela falta de recursos daqui e ali, eu falei, não vou entrar em mais uma cilada dessas não. Curta-metragem eu só vou aceitar depois de ler muito, ficha técnica, saber dos anseios, o que está por trás desse curta-metragem. Tem um amigo meu que eu adoro e que é ator, chamado Marcelo Brou, que fez com o Luis Fernando Guimarães um curta-metragem chamado ‘O Poço’. São dois irmãos que se reencontram... foi até premiado, recebeu vários prêmios lá fora. Adorei a história, são dois irmãos que não se vêem há muito tempo, perdem o pai ou a figura da mãe e tem um poço que eles lembram de alguma coisa que aconteceu muito ruim, que um deles caiu dentro do poço. Tudo insinuado, e eu achei tão interessante, para responder sua pergunta do por quê.

Qual que você acha que é o grande barato de um curta? O que te leva a assistir um curta?
Ele provoca uma vontade de preencher as lacunas, porque o curta tem que dizer em muito pouco tempo uma história que nem sempre é possível. Então ele provoca uma curiosidade em você, isso é que é bacana. Eu não sou uma pessoa que tenha a experiência necessária para poder falar sobre curtas, eu não entro só pra ver curta, mas o curta que vem antes de um filme é uma coisa que me encanta quando ele vem, sempre.

Qual é o curta que fez a tua cabeça, um grande filme que mexeu com você?
É difícil de falar, assim como é que eu vou te falar assim, imagem como essa de Luis Fernando Guimarães que é uma coisa recente, mas é difícil te dizer, porque eu vi curtas espalhados em que o leito motivo, na realidade, era o filme principal, se eu tivesse que falar sobre cinema eu vou falar muito porque eu amo cinema, agora curta, não tenho essa experiência, eu acho que ele é um pouco aperitivo, eu teria que ter mais experiência para poder te dizer que curta mexeu, não posso te falar de um curta iraniano ou americano, em coisas espaças que deixaram um gostinho de curiosidade.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Mário Bortolotto


Mário Bortolotto é um escritor e dramaturgo à margem do que se convencionou chamar “produto cultural”. Desde que fundou seu grupo de teatro Cemitério de Automóveis, no final dos anos setenta em Londrina, ele monta e dirige seus textos de maneira independente. Adepto do bom e velho “faça você mesmo” já escreveu mais de sessenta peças, algumas delas publicadas em livro.

Qual é a contribuição que o teatro pode dar ao cinema, especificamente para o curta-metragem? Porque o teatro não tem o poder de síntese tão grande quanto requer um curta-metragem...
Eu acho que hoje os redatores estão começando a escrever com esse poder de síntese maior. Antigamente os textos de teatro eram meio prolixos, mas hoje em dia não cara, hoje em dia se escreve um texto para 50, 60 minutos no máximo. Os dramaturgos estão escrevendo textos curtos, eu mesmo gosto de escrever muitas cenas curtas, tem várias cenas minhas que vários diretores já me procuraram pra transformar em curta-metragem. Eu não acho que é tão complicado, acho que é uma contribuição boa que o teatro pode dar.

Fala um pouco mais da sua experiência com os curtas, o cinema mais especificamente.
Assim, eu fiz cinema como ator, eu fiz curtas (Balaio, Enjaulados e Cauda de Dinossauro) como ator, ai eu dirigi um longa-metragem agora, não foi nem um curta, um longa-metragem digital! Quero dirigir um curta esse ano, estou afinzão, já tem o roteiro pronto mandei por edital, se for aprovado a gente deve fazer.

Qual você acha que é o grande barato de um curta metragem?
Esse barato de você poder dizer muito em pouco tempo, eu acho que contar uma história curta que não enche o saco de ninguém, pode ser legal. Eu gosto pra caramba de curta-metragem, acho uma pena que os cinemas não exibam curta-metragem antes dos longas, aquele monte de propagandas chatas... podiam estar exibindo um curta-metragem pelo menos, se possível, podia vaiar no final, tudo bem.

Qual você acha que seria a solução para poder propagar o curta metragem? Porque o que mexe com o barato de um ator é ele ser aplaudido por um monte de gente, ser criticado, e o curta-metragem é muito restrito.
Acho que Canal Brasil hoje em dia está legal para caramba, estão passando curta-metragem para caramba, tem as reportagens de curtas na internet, lá tem o Porta Curtas, uma porrada de sites de curta-metragem, eu acho legal. Acho que tinha que ter esses negócios, meio igual o Unibanco faz, a Petrobrás que passa uma sessão de curtas, acho que tinha que ter esse negócio de passar curtas antes dos filmes, pelo menos nos filmes nacionais.

Um curta que não tem nada a ver com o filme que vai ser exibido fica chato. Você vai ver um filme urbano etc. e tem que agüentar um curta sobre um cara na zona rural. Ai é falta de sacação do programador, tinha que começar a tentar achar quais são a similaridades do longa com o curta e você fazer um programa para quem for assistir aquele longa ter um curta na mesma sintonia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Caco Galhardo

Caco Galhardo é um dos grandes cartunistas brasileiros, autor das tirinhas Os Pescoçudos, publicada na Folha de S.Paulo.

O cineasta que faz um curta, assim como um cara que desenha, que faz uma charge, um cartoon, tem um grande poder de síntese, porque tem pouco tempo pra passar uma idéia. Você poderia falar um pouco sobre isso.
Mais do que o cartoon, se eu te deixar aqui no boteco, é a história em quadrinhos. Eu tive uma experiência, faz 2 anos que eu lancei o Dom Quixote em quadrinhos, uma adaptação do Dom Quixote. É uma adaptação em quadrinhos em 40 páginas, e o Dom Quixote 1º volume tinha umas 600 páginas, então eu me senti meio que fazendo um curta-metragem, olha, e nem disse dessa adaptação que você tá fazendo, dessa linguagem do cartoon, é realmente a síntese assim. O curta-metragem geralmente gira em torno de uma idéia e isso tem a ver com a tirinha, o cartoon, ou mesmo uma história curta, ela gira em torno e uma idéia só e aquilo ali é o suficiente, o curta, porque eu vejo essa diferença, o curta e o longa, porque quando a gente cai num longa-metragem essa questão da idéia ela não é mais tão importante. Às vezes é o contrário, no longa o jeito de contar a história é muito mais importante que a idéia. Às vezes você tem a idéia boa pra longa, mas se não envolver, se você não sabe contar essa história durante 2 horas ele não funciona, é muito mais importante o jeito que você conta a história num longa do que num curta, o curta é muito rápido, você não tem tempo de desenvolver a história esse método, essa linguagem. Isso tem um pouco a ver com a literatura também, você pega um Dostoiévski, um ‘Crime e Castigo’, é uma história de um assassinato, não tem idéia nenhuma, é só o jeito que o cara escreve, tem a ver com o longa, e no curta a coisa gira em torno de uma idéia, ela é sintética até pela limitação de tempo mesmo, como na tira, o cartoon tem uma limitação de espaço, o cara tem que resolver a idéia em três tempos, em três quadrinhos ou em um, é só a idéia, e ela acaba sendo legal porque ela tem uma explosão. A tira ou o cartoon ou mesmo o curta é uma idéia, mas ela funciona rapidamente, e já foi.

Os seus desenhos são altamente possíveis para inserir num curta, dariam idéias que poderiam passar para a tela. Você já pensou nessa possibilidade?
Eu já pensei nisso, já escrevi uns curtas na adolescência, e nunca deu certo, eu meio que desencanei dessa idéia de ter um curta. Eu já tive experiência com televisão, não com cinema, com cinema já até tive quando comecei a trabalhar como assistente de montagem num curso e tal, eu curtia isso, mas eu trabalhei uns quatro anos na MTV antes de ser cartunista lá, eu era redator então eu escrevi umas coisas pra televisão e era legal, eu escrevi uns curtas, mas nunca achei que tinha chegado na linguagem do cinema mesmo, num curta que fosse bom. Hoje em dia estou mais desenhando uma história longa, que acho que ela até possível de ser adaptado para o cinema, que tem essa similaridade de linguagem entre o quadrinho e o cinema e pensando estou escrevendo uma peça de teatro curta e daria uns 40 minutos uma coisa assim. Eu tenho uns amigos que trabalham com teatro e eu acabo me imposto por esse lado. E então eu estou meio desencanado de curta, não tô pensando muito em curta até porque tem essa de idade, eu tô com 39, curta tem que fazer com 25, não deu certo, você não fez curta, aos 30 é melhor você partir para o longa direto, se bem que partir pro longa direto pode ser uma cagada maior, mas acho que tem essa coisa do curta, você tem que fazer no tempo certo.

Qual foi um curta que fez a tua cabeça?
Eu via muito na década de 80, então era “Ilha das Flores”, grande curta-metragem, tinha uma puta linguagem ali que era nova pra gente que via, o curta-metragem era meio que a linguagem do cinema, só que num curto espaço de tempo, e o “Ilha das Flores” tinha linguagem diferente, tinha narrador, e tinha o final que era diferente. Eu lembro que eu chapei com esse curta do Jorge Furtado.

Tem tanta coisa, eu lembro de curtas muito legais, vou lembrar de curtas que eu não tenho a menor referência, ai não adianta nada falar. Eu lembro que eu cheguei a ver na internet recentemente uns curtas do David Lynch que ele pintou a casa inteira de preto e tal, fez curtas-metragem maluquíssimos e achei bem legal, mas assim de cara um curta que eu tenho como referência é o “Ilha das Flores”.

Qual você acha que é o grande barato de um curta metragem?
Eu acho que assim como a tira e o cartoon eu acho que é a idéia mesmo. O curta metragem gira em tono de uma boa idéia que se resolve ali rapidamente e tem que ser surpreendente, o curta tem que ter essa característica assim para ele ser legal, ser bom tem que ter geralmente no final, um final surpreendente, algo que te derruba. Acho que uma idéia explosiva bem realizada em um curto espaço de tempo. Para mim um curta é isso.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Paula Cohen

Paula Cohen é uma das atrizes mais profícuas desta geração. Entre outros curtas, Paula participou de ‘Parabéns’, de Gero Camilo e ‘Ímpares’, de Luiz Augusto Ramalho.

Fale um pouco seu trabalho na Fuleragem.
Somos um grupo que vem trabalhando há muito tempo junto, e a maioria se conheceu na EAD,a gente se conheceu a 11 anos atrás e a gente tem um amor, uma coisa muito forte e uma identificação com o olhar do outro e com a arte.

Experimentar a linguagem cinematográfica é genial e o digital ajudou muito porque você pega uma câmera e você faz. Agora a gente fez três filmes e mais um que é a pílula que foi um bônus track. O primeiro filme foi uma confusão cotidiana que é baseado num conto do Kafka que é uma adaptação de Marat Descartes direção dele, enfim a gente reveza em várias funções e isso é uma delícia por que a gente, uma hora faz, dirige um filme, uma hora você produz, então a gente está experimentando outros lugares, que não só os lugares que agente está acostumado, mas que na verdade são lugares que a gente está acostumado. Esse é o primeiro filme, o segundo filme chama “Parabéns” que é um roteiro que eu escrevi e o Gero dirige com o Gustavo Machado, eu faço uma atriz, o Gu Ramalho que é meu marido, é o fotógrafo dos filmes. O terceiro é “145” que é rodado aqui na praça Roosevelt, que é um texto do Gero, e eu e o Marat fazemos como atores, é uma história em que um casal se conhece através do disk amizade 145 e que casa. E ai tem essa pílula que é um filme que chama “O Gato Borralheiro” que é o Milton Bicudo e que é um filme de direção do Gu Ramalho.

O curta tem pouca visibilidade, não tem muitas salas de cinema que exibem a não ser em grandes festivais. Para uma atriz não chateia ter um trabalho bacana, um curta-metragem, mas que pode ser pouco visto?
É, eu acho que chateia para todo mundo que faz cinema, porque você quer que seu filme rode, né? E você chega a vários lugares e conseguir comungar com várias pessoas e enfim, isso eu acho que é uma coisa que tem que se resolver, mas eu acho que, por exemplo, essa coisa do youtube vem cada vez abrindo mais portas, por exemplo, essa sessão mais que tem no Unibanco, o Unibanco às 6, se todos começassem a ter um espaço sabe, se começassem a abrir um espaço, porque tem curtas incríveis, que não só porque é mais tempo ou menos tempo, são mais incríveis ou menos incríveis, mas é porque tem uma história... E viva ao canal Brasil!

Para uma atriz então a satisfação que ela encontra num curta metragem pode ser a liberdade de experimentar trabalhar com novos diretores jovens cineastas?
É, eu acho que como tudo quando você está querendo fazer uma coisa contemporânea e você encontra pessoas que tão vivendo, estão produzindo e estão se inspirando, estão criando. O curta é isso, é um lugar maravilhoso é uma possibilidade de mil descobertas, como é fazer uma peça, um longa, como é enfim, o curta é fazer arte, e você conta a história como deve ser contada, e o curta é de verdade, agente tem se divertido muito fazendo e, voltando a falar, essa coisa de digital é uma possibilidade incrível, porque antigamente era tudo muito caro, muito pesado, como que você conseguia e agora agente consegue, pega uma câmera, tem uma idéia e se inspira e experimenta e se joga, se diverte.