terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Caco Galhardo

Caco Galhardo é um dos grandes cartunistas brasileiros, autor das tirinhas Os Pescoçudos, publicada na Folha de S.Paulo.

O cineasta que faz um curta, assim como um cara que desenha, que faz uma charge, um cartoon, tem um grande poder de síntese, porque tem pouco tempo pra passar uma idéia. Você poderia falar um pouco sobre isso.
Mais do que o cartoon, se eu te deixar aqui no boteco, é a história em quadrinhos. Eu tive uma experiência, faz 2 anos que eu lancei o Dom Quixote em quadrinhos, uma adaptação do Dom Quixote. É uma adaptação em quadrinhos em 40 páginas, e o Dom Quixote 1º volume tinha umas 600 páginas, então eu me senti meio que fazendo um curta-metragem, olha, e nem disse dessa adaptação que você tá fazendo, dessa linguagem do cartoon, é realmente a síntese assim. O curta-metragem geralmente gira em torno de uma idéia e isso tem a ver com a tirinha, o cartoon, ou mesmo uma história curta, ela gira em torno e uma idéia só e aquilo ali é o suficiente, o curta, porque eu vejo essa diferença, o curta e o longa, porque quando a gente cai num longa-metragem essa questão da idéia ela não é mais tão importante. Às vezes é o contrário, no longa o jeito de contar a história é muito mais importante que a idéia. Às vezes você tem a idéia boa pra longa, mas se não envolver, se você não sabe contar essa história durante 2 horas ele não funciona, é muito mais importante o jeito que você conta a história num longa do que num curta, o curta é muito rápido, você não tem tempo de desenvolver a história esse método, essa linguagem. Isso tem um pouco a ver com a literatura também, você pega um Dostoiévski, um ‘Crime e Castigo’, é uma história de um assassinato, não tem idéia nenhuma, é só o jeito que o cara escreve, tem a ver com o longa, e no curta a coisa gira em torno de uma idéia, ela é sintética até pela limitação de tempo mesmo, como na tira, o cartoon tem uma limitação de espaço, o cara tem que resolver a idéia em três tempos, em três quadrinhos ou em um, é só a idéia, e ela acaba sendo legal porque ela tem uma explosão. A tira ou o cartoon ou mesmo o curta é uma idéia, mas ela funciona rapidamente, e já foi.

Os seus desenhos são altamente possíveis para inserir num curta, dariam idéias que poderiam passar para a tela. Você já pensou nessa possibilidade?
Eu já pensei nisso, já escrevi uns curtas na adolescência, e nunca deu certo, eu meio que desencanei dessa idéia de ter um curta. Eu já tive experiência com televisão, não com cinema, com cinema já até tive quando comecei a trabalhar como assistente de montagem num curso e tal, eu curtia isso, mas eu trabalhei uns quatro anos na MTV antes de ser cartunista lá, eu era redator então eu escrevi umas coisas pra televisão e era legal, eu escrevi uns curtas, mas nunca achei que tinha chegado na linguagem do cinema mesmo, num curta que fosse bom. Hoje em dia estou mais desenhando uma história longa, que acho que ela até possível de ser adaptado para o cinema, que tem essa similaridade de linguagem entre o quadrinho e o cinema e pensando estou escrevendo uma peça de teatro curta e daria uns 40 minutos uma coisa assim. Eu tenho uns amigos que trabalham com teatro e eu acabo me imposto por esse lado. E então eu estou meio desencanado de curta, não tô pensando muito em curta até porque tem essa de idade, eu tô com 39, curta tem que fazer com 25, não deu certo, você não fez curta, aos 30 é melhor você partir para o longa direto, se bem que partir pro longa direto pode ser uma cagada maior, mas acho que tem essa coisa do curta, você tem que fazer no tempo certo.

Qual foi um curta que fez a tua cabeça?
Eu via muito na década de 80, então era “Ilha das Flores”, grande curta-metragem, tinha uma puta linguagem ali que era nova pra gente que via, o curta-metragem era meio que a linguagem do cinema, só que num curto espaço de tempo, e o “Ilha das Flores” tinha linguagem diferente, tinha narrador, e tinha o final que era diferente. Eu lembro que eu chapei com esse curta do Jorge Furtado.

Tem tanta coisa, eu lembro de curtas muito legais, vou lembrar de curtas que eu não tenho a menor referência, ai não adianta nada falar. Eu lembro que eu cheguei a ver na internet recentemente uns curtas do David Lynch que ele pintou a casa inteira de preto e tal, fez curtas-metragem maluquíssimos e achei bem legal, mas assim de cara um curta que eu tenho como referência é o “Ilha das Flores”.

Qual você acha que é o grande barato de um curta metragem?
Eu acho que assim como a tira e o cartoon eu acho que é a idéia mesmo. O curta metragem gira em tono de uma boa idéia que se resolve ali rapidamente e tem que ser surpreendente, o curta tem que ter essa característica assim para ele ser legal, ser bom tem que ter geralmente no final, um final surpreendente, algo que te derruba. Acho que uma idéia explosiva bem realizada em um curto espaço de tempo. Para mim um curta é isso.