quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Toni Venturi


Toni dirigiu o longa-metragem "Cabra-Cega".

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Muito grande. O curta é o berço da experimentação, o filtro dos talentos, o funil dos vocacionados, o caminho dos obstinados que um dia irão se tornar cineastas...

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Hoje em dia nos jornais há mais anúncios que matérias. Não há espaço para a verdadeira crítica nem do longa (só resenhas rasas), imagine o curta. Na telinha o curta tem uma janela razoável em programas de tv culturais e canais pagos. E na internet o curta também tem um espaço de destaque, principalmente como janela de exibição.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Eu conheci um só cineasa em minha vida que dizia que queria somente fazer curtas: Mario Kuperman. Abandonou a profissão, hoje vive no sítio, escrevendo. A questão não é ser ou não ser um trampolim. A questão é se tornar gente grande, profissional, viver da atividade. Como viver do cinema? É muito difícil sobreviver da realização de cinema, só da direção. A maioria dos cineastas trabalha paralelamente na academia ou na publicidade. E quem não trabalha numa área afins é rico, vive de renda, mas anda de jeans bem velho para não dar bandeira.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Em absoluto. Eu pelo menos tenho grande prazer em ver curtas. Mas ando achando os curtas muito caretas, muito certinhos, sem ousadia, nem de linguagem, nem de narrativa. Por isso, quando aparece algo diferente, se destaca, as atenções se voltam para o realizador. É a minha dica pra moçada: ousem, com inteligência e muita criatividade!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, estou muito envolvido com diversas produções (pessoais e profissionais). É uma pena, mas pensar em dirigir um curta hoje é uma utopia em minha vida.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Joel Zito Araújo

Cineasta e pesquisador é doutor em Ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo – ECA/USP e fez pós-doutorado no departamento de rádio, TV e cinema e no departamento de antropologia da University of Texas, em Austin, nos Estados Unidos. Joel dirigiu documentários de curta e média-metragem tematizando o negro na sociedade brasileira, dentre os quais destacam-se ‘São Paulo abraça Mandela’, ‘Retrato em preto e branco’, ‘Ondas brancas nas pupilas pretas’ e ‘A exceção e a regra’.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta-metragem sempre teve um papel histórico de renovação do cinema brasileiro. Grandes talentos se desenvolveram com as possibilidades de experimentação de linguagens e temáticas que o curta oferece. E creio que o curta por muito tempo cumprirá este papel.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Além dos festivais de cinema que já é uma realidade, creio que a melhor janela a ser investida é a TV Pública (TV Brasil, TV Educativa e as emissoras educativas estaduais). Creio que o curta, por sua duração, oferece mais flexibilidade de incorporação na grade televisiva. E poderá ser um fator de criatividade, diversidade e desenvolvimento de talentos para a própria TV Pública.

O senhor já trabalhou em várias frentes (TV, literatura, etc.) mas no cinema fez longas e médias. E os curtas?
Na realidade, fiz alguns curtas. O último trabalho, Vista Minha Pele, uma estória voltada para o público adolescente sobre a questão da identidade racial e da discriminação, exatamente pelo flerte com um certo didatismo, tem circulado muito nacionalmente em escolas e centros comunitários. Mas, a minha possibilidade de experimentação veio com a realização de documentários e, especialmente, com as dezenas de vídeos institucionais que fiz nos anos noventa. Sempre busquei utilizar a linguagem e a narrativa ficcional em trabalhos institucionais em que fui convidado a atuar como diretor e roteirista.
E consegui convencer empresas grandes a adotar a ficção em vídeos institucionais, como FEBRABAN, Petroquímica União, Corn Products, além de outras. Foi daí, tendo inclusive essa possibilidade de estar em um trabalho pago, que fui me preparando para os longas. Foi, portanto, uma questão de oportunidade, e não de escolha. ‘Negação do Brasil’, livro de seu autoria é um grande clássico da literatura.

O senhor fez um verdadeiro tratado de como o negro é visto na televisão. Gostaria que contasse um pouco sobre o negro no cinema.
Talvez meu livro se torne um dia em uma espécie de clássico mais do tipo sociológico sobre o tema. Todo autor tem esse sonho. Basicamente, o meu trabalho e minhas idéias podem ser resumidas na constatação de que a produção audiovisual (cinema, tv e publicidade) são orientadas pelo desejo de branqueamento do país. Nossa estética é racista porque considera os seres humanos de características arianas mais belos, mais inteligentes e superiores. Assim como Hitler considerava. E consideram os negros feios e subalternos. Estamos longe de uma estética multirracial, valorizando todas as contribuições raciais e étnicas que fazem do Brasil o que é, o país da diversidade. Mas, o projeto de diversidade e o sonho de fazer daqui uma democracia racial é nosso. Das maiorias, constituídas por descendentes de negros e índios. O discurso de que superamos o racismo porque somos um país miscigenado, o que já nos tornaria em uma democracia racial não é um discurso daqueles que foram sufocados historicamente pelo colonialismo e pela política de branqueamento.

O cinema reflete estas idéias freirianas e esta estética racista ariana. As oportunidades para os atores negros ainda são orientadas pela representação dos afro-descendentes como favelados, subalternos e geradores da violência urbana. Eu quero ver o nosso cinema incorporando o negro como brasileiros, do povo, da classe média e da elite. E não como estereótipo da violência urbana e da subalternidade.

Acha possível educar o olhar em relação ao que é mostrado nos curtas? Os curtas podem ser o começo para adquirir o gosto pelo cinema?
Não. O gosto pela cinema virá do longa, pelo peso comercial, publicitário, de marketing. Pela enorme quantidade de recursos financeiros e humanos utilizada pela indústria do entretenimento. Acho que o curta pode desenvolver o gosto pela arte, pelo sensível, pelo olhar independente e autoral.

Qual é o seu próximo projeto?
Tenho dois roteiros de longa ficcionais prontos. Um, "Pai da Rita", é o olhar masculino, que dialoga com Filhas do Vento. É uma estória de dois velhos sambistas e boêmios da Vai-Vai brigando pela paternidade de uma filha que aparece no final da vida dos dois, e pode ser de um deles. O outro roteiro, "Sete Estações”, inspira-se na aventura de Lévy-Strauss no Mato Grosso nos anos 30. É uma história fascinante de encontro, conflitos e redenção entre brancos, negros e índios. Só espero encontrar patrocinadores. Tô louco para voltar à ficção.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Antonio Leão

Antonio Leão é um abnegado pesquisador. Escreveu diversos livros sobre cinema que são referências no gênero, como o ‘Dicionário de Curtas e Médias’.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Importância histórica e fundamental. No início das atividades cinematográficas no Brasil, em 1897, e durante dez anos, só produzimos curtas. O primeiro longa brasileiro foi produzido em 1908 (Os Estranguladores). Todos os grandes cineastas, com raríssimas exceções começaram no curta-metragem, que é a escola de todo principiante. É no curta que o cineasta vai aprender enquadramento, domínio do equipamento, luz, etc. Humberto Mauro dirigiu mais de 300 filmes, mas seus longas não chegam a 10 e todo mundo só fala dos longas, por isso, em meu dicionário de curtas, fiz questão de colocar sua filmografia completa, do primeiro ao último filme.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Justamente porque a mídia só se preocupa com os longas, que é o que dá retorno, sinto isso nos meus dicionários, o de longas foi super paparicado pela mídia, sucesso comercial, o de curtas, menos, e põe menos nisso. Os festivais de cinema, hoje em profusão no Brasil, estão ajudando muito a divulgar o curta-metragem. A história está mudando, mas muito a passos lentos. A Zita Carvalhosa faz um trabalho maravilhoso de divulgação do curta-metragem, através do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo e das Oficinas Kinoforum, um exemplo a seguir.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
É duro dizer isso, mas não vejo outra saída a não ser a obrigatoriedade de exibição dos curtas novamente, como era nos anos 70/80 e não só nos cinemas mas na televisão também. Talvez com outras, regulamentos, algo que pudesse garantir um padrão mínimo de qualidade. Programas tipo 'Zoom' da TV Cultura são fundamentais. O Canal Brasil também exibe bastante curta, e para por aí. Então é muito pouco, o público em geral não conhece o curta-metragem brasileiro, a maioria nem sabe que existe isso. E o curta é uma delícia de ver, são histórias enxutas, que passam sua mensagem, etc..

Quais os cineastas brasileiros que contribuíram para a consolidação do curta-metragem? 
Já citei o Humberto Mauro, nos anos 30/40, David Neves nos anos 60/70. No cinema recente podemos citar cineastas importantes do curta-metragem como Jorge Furtado do Sul, Francisco Cesar Filho, o Chiquinho de São Paulo, na UFF do Rio de Janeiro tem um pessoal maravilhoso fazendo curta também, enfim, poderia escrever dezenas de nomes aqui, de gabarito, cineastas inclusive que não querem sair do curta-metragem!

Na sua opinião, quais são os melhores curtas feitos no Brasil?
Sempre é difícil escalar os melhores, porque aí entra o gosto pessoal, cada um vê cinema de uma forma, mas posso citar alguns que eu gosto particularmente como 'Aruanda', 'Couro de Gato', 'Memória do Cangaço', 'Esta Rua Tão Augusta', 'Ilha das Flores', 'Rota de Colisão', etc, etc e etc..., tanto que coloquei alguns deles na capa do meu dicionário. Mas tem muita coisa boa já feita e sendo feita. A cada festival nos surpreendemos com a qualidade, de padrão internacional. Nosso cinema hoje está tecnicamente em igualdade com o cinema mundial, falta a grana, que lá tem de sobra, mas nossos técnicos não ficam devendo nada aos estrangeiros. Bota dinheiro na mão de um cineasta brasileiro e você vai ver o resultado.

Como teve início sua relação com o cinema e sua atividade de colecionador?
Comecei nos anos 60 nas cabinas de cinema, vendo os projetores funcionarem e colecionando fotogramas e pedaços de carvão dos projetores. Depois comecei a fazer projetores com caixa de sapato e lentes de óculos ‘roubado’ do avô. Meu primeiro projetor foi um Barlan, ou Barlanzinho como chamávamos. Era de plástico, com uma lâmpada de cozinha e projetava apenas dois quadros. Os filmes eram feitos em papel vegetal. Com 14 anos ganhei do meu pai um projetor alemão 16mm mudo e assim por diante. Hoje tenho acervo com mais de 500 cópias de filmes brasileiros.

Como se dá o desenvolvimento cotidiano desta atividade? Onde e como adquire os filmes? Há ocasiões de filmes mais difíceis ou fáceis de adquirir? Há casos excepcionais ou extraordinários de aquisição?
A atividade de colecionador de filmes é ‘marginal’, no bom sentido, pois não temos os direitos dos filmes que conseguimos, então a exibição tem que ser sempre gratuita, sem fins lucrativos. Sim, como toda peça de coleção, existem filmes fáceis e difíceis. Fico impossibilitado de citar títulos pelos motivos acima, mas me arrisco a comentar o caso do Carlão (Reichenbach) em que encontramos numa feira de antiguidades seu primeiro longa-metragem, ‘Corrida em Busca do Amor’, dado como perdido. O fato teve grande repercussão na mídia. Também fizemos uma exibição pública do filme no auditório da 2001 Vídeo, com a presença do diretor.

Que cuidados tem com a sua coleção? Tem o hábito de rever os filmes de sua coleção? Como se sente em revê-los? Você tem o hábito de exibi-los para outros?
Os cuidados são muitos, os filmes tem que estar em locais climatizados, longe de mofo e umidade, periodicamente tem que ser arejados e hidratados, etc. Sim sempre revejo filmes da coleção, principalmente aqueles que gosto mais. Nós dirigimos o Cineclube Ipiranga há 15 anos e tempos um espaço na Biblioteca Municipal Roberto Santos, também no Ipiranga, onde todos os sábados são exibidos filmes em 16mm fora de circulação, com ênfase aos que não foram lançados em vídeo ou DVD.

O que mais lhe motiva a colecionar filmes? Qual é o sentimento de adquirir um filme muito desejado?
Eu coleciono filmes desde 1969 quando tinha 12 anos. Isso é uma paixão. Hoje, com o advento do vhs e dvd, muitos colecionadores venderam seus acervos e migraram para as novas mídias. Eu sou um dos teimosos que teimo em continuar. Hoje me interesso mais por documentários brasileiros do que por longas de ficção. Hoje também está difícil conseguir títulos novos, mas quando acontece, é sempre uma alegria muito grande.

Há obras preferidas em sua coleção? Alguma da qual jamais se desfazeria? Você se desfaz de filmes em vendas, trocas ou doações? Há algum filme raro ou importante?
Como disse, fica complicado mencionar títulos. Prefiro declinar. Os filmes que gosto e que fazem parte do meu acervo são inegociáveis, mas é comum adquirir lotes e negociar, principalmente trocar o que não interessa por outros de meu interesse. Doações é difícil, pois que tenho foi comprado, nunca ninguém me deu nada.

Qual é a importância da figura do colecionador no Brasil? Em que ajuda o colecionador?
O colecionador de filmes 16mm sempre foi marginalizado, principalmente por produtores brasileiros, que nos viam como inimigos, ou algo assim. Tivemos muitos problemas em outras épocas. Mas hoje existe um entendimento que viemos para somar, tanto que somos reconhecimentos como entidade importante de preservação na própria Cinemateca Brasileira e do MAM. A prova disso é que fui convidado a representar os colecionadores no encontro dos acervos ocorrido em Ouro Preto em junho. O colecionador consegue filmes importantes e os conserva. Quando sei que um filme está perdido, eu deposito na cinemateca, mas nem todos fazem isso.

Qual você acredita ser a importância de preservar registros e imagens?
Existe um país sem memória? Essa é a questão. Só que preservar a memória custa dinheiro e não rende votos, então não existe interesse dos governos em investir nisso. Agora parece que as coisas estão mudando, mas, por causa dessa mentalidade mesquinha e retrógrada, 97% da produção da fase muda brasileira, até 1930, está perdida, mas os produtores também foram culpados, a maioria deles nunca se preocupou com isso, fazem o filme, lançam no cinema, ganham seu dinheiro e depois esquecem do filme e partem pra outro. E aquela matriz fica perdida. Quando os produtores começaram a depositar as matrizes na Cinemateca Brasileira, começamos a ter um controle maior. Eu acho que o fomento de cinema no Brasil deveria designar uma porcentagem do valor captado para preservação.

Você foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Colecionadores de Filmes em 16 mm. Quais os interesses, desejos e motivações desta organização? Quantos membros tem, e quais os seus rituais e eventuais encontros?
Fundamos a ABCF em 1992, com o intuito de reunir colecionadores de todo o Brasil. Chegamos a ter mais de 100 membros e acervo de 5000 cópias, vale explicar que o acervo fica com o colecionador e não com a Associação, apenas catalogamos. Mas com o advento do dvd, nossa função se esvaziou. Hoje não chegamos a 20, mas continuamos perseverantes.

Você escreveu alguns livros sobre cinema, dentre eles “Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro”, “Dicionário de Filmes Brasileiros” e uma biografia sobre Ary Fernandes. O que lhe motivou a escrevê-los? O que pode contar sobre as ocasiões de feitura e lançamento destes livros?
Sempre gostei de Cinema Brasileiro. A falta de informações sobre o assunto me motivou a fazer um fichário, tipo Kardex (comum nos anos 70) com todas as fichas dos filmes e biografia dos atores. Depois de colecionar 3000 fichas, resolvi transformar isso num livro. Assim nasceu meu primeiro livro. Depois vieram os dicionários, tudo meio que na seqüência, um livro puxando o outro. A biografia do Ary foi uma coisa de paixão mesmo, porque eu tenho verdadeira adoração pela série ‘Vigilante Rodoviário’. E Ary é seu expoente máximo, como produtor e diretor da série. Então fazer o livro foi muito gratificante, algo difícil de mensurar. Dia 28/10 vai saiu meu quinto livro, a biografia do cineasta Miguel Borges também pela Aplauso e em 2009 devo reeditar meu dicionário de longas, parado em 2002.

Qual é o seu próximo projeto?
Acabei de lançar a biografia do cineasta Miguel Borges, que também dirigiu curtas importantes, para a coleção Aplauso. Em 2009 devo reeditar meu dicionário de longas.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pedro Butcher

Pedro Butcher é mais conhecido como crítico de cinema, tendo passado pelos jornais ‘O Dia’, ‘Jornal do Brasi’l e ‘O Globo’, e hoje escrevendo para a Folha de São Paulo. Mas há alguns anos ele vem trabalhando em outra frente de cinema, editando o site e os boletins da Filme B, empresa especializada em pesquisa e análise do mercado de cinema.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
É uma importância fundamental, como em praticamente todas as cinematografias. Alguns poucos exemplos, só para ficar no lugar comum: A velha a fiar, de Humberto Mauro, os cinco episódios de Cinco vezes favela, pedra-fundamental do Cinema Novo, Ilha das flores, de Jorge Furtado.... É difícil pensar em um grande cineasta brasileiro que não tenha realizado um curta pelo menos.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por diversos motivos, o longa-metragem se firmou como o padrão hegemônico para a exploração comercial do cinema - e o cinema tem essa dualidade, essa característica tão forte de ser uma arte cara, de porte industrial. Segundo as convenções do "mercado", um espectador paga um ingresso para assistir a um filme que tenha, em geral, entre 90 minutos e 120 minutos de duração - e qualquer obra que desafie esse formato (ou seja, tanto os filmes curtos como os filmes mais longos) será prejudicada. Estabeleceu-se que uma determinada quantia de dinheiro "vale" por x minutos de "diversão". Mas é importante deixar claro que isso vale do ponto de vista da exploração tradicional do cinema, ou seja, sua exibição em cinemas tradicionais, que envolve uma complexa cadeia da qual fazem parte produtores, distribuidores e exibidores. A crítica de jornal não dá atenção aos curtas porque eles não estréiam nos cinemas comerciais, mas é verdade que também não são necessariamente valorizados, por exemplo, os festivais de curtas, que desempenham um papel fundamental na difusão do formato.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Entre parte dos cineastas, sim. Mas tenho a impressão de que aqueles diretores que costumam encarar o cinema como forma de expressão, e não apenas como uma forma de comunicação com o público, não marginalizam o curta.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
As formas de difusão estão se multiplicando e o curta está ganhando espaço, enquanto a exploração comercial do cinema tem enfrentado desafios e dificuldades no mundo inteiro. Mas em relação a atingir uma grande quantidade de público, a televisão continua sendo o meio mais importante e o espaço a se conquistar.

O portal 'Filme B' é um dos mais conceituados do gênero. Por que não há tanto espaço para os curtas?
Porque o Filme B é focado no mercado de cinema. Mas sempre que possível destacamos festivais, eventos especiais, editais relativos a curtas, etc.

Quais os planos do 'Filme B' para o futuro?
Ampliar o conteúdo aberto, atualizar e aumentar o Quem é Quem no Cinema Brasileiro, por no ar um vocabulário de termos técnicos, etc.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, nem longas, por enquanto.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Neide Jallageas

Neide Jallageas é pesquisadora e artista visual brasileira. Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007) com tese sobre o cinema de Andriêi Tarkóvski, relacionado com as pesquisas sobre o tempo e a espacialidade no campo das artes, a partir dos estudos dos filósofos russos Pável Floriênski e Mikhail Bakhtin.

Você realizou trabalhos experimentais na área de vídeo com obras em acervos dos principais museus brasileiros (Mam e Masp, dentre outros). Como foi trabalhar com a imagem em movimento? Esses vídeos podem ser considerados curtas?
Pois é, como você mesmo disse, são “trabalhos experimentais na área do vídeo”. A maior parte de suas apresentações se dá em formato instalacional, em museus e galerias. O tempo que se inscreve neles é bastante largo e as imagens são propositalmente de baixa definição. Nestes vídeos trabalho com a precariedade, tanto humana quanto tecnológica. E são trabalhos realizados para ficarem disponíveis ao espectador em algum local tranqüilo, rodando em loopping. Exigem outro tempo do público e por isso, ainda, a especifidade na forma de apresentá-los. A questão do tempo e do descentramento de pontos de vista é também característica dos meus trabalhos com câmeras pin-hole, fotográficas, ou seja, sempre necessitei de longo tempo de exposição na fotografia para alcançar as imagens planejo. Essa experimentação teve início há dez anos e já começou como uma ação conjunta entre câmeras fotográficas de orifício (pin-holes) e uma câmera de vídeo. Também fiz experimentações com câmeras de vídeo onde interferi na captura, transformando a câmera de vídeo em uma pin-hole de vídeo, que resultou em Lagoadentro, uma instalação mostrada em 2006 no Centro Cultural São Paulo, à convite do Projeto Linha Imaginária. Neste sentido, os trabalhos aos quais você se refere são curtos, mas não curtas.

Você realizou pesquisas sobre dois importantes cineastas russos (Tarkovsky e Sokurov), a que deu essa escolha?
São planetas com órbitas próprias e exercem em mim um fascínio muito grande. Não são importantes apenas para a Rússia, mas para o mundo. Minha pesquisa sobre o cinema de Andriêi Tarkóvski não se restringe aos estudos de doutorado, ela continua e penso que continuará vida afora. E meus estudos sobre o cinema de Sokúrov também não se limitam apenas ao pós-doc. São cineastas densos, sofisticados, complexos, que oferecem um campo de investigação que se desdobra ao infinito. Trabalhar com eles requer não apenas compreender sua conexão imediata e profunda com a arte e a cinematografia russa e oriental em seu todo, mas também com a cultura planetária, a arte, a história, onde ambos vão beber. Em um sentido mais estrito, interessa-me a maneira pela qual lidam com o tempo e o espaço enquanto estratégias de construção de suas obras. Quando digo tempo penso em uma constelação onde brilham a duração, a memória, a história, principalmente. E espaço no que diz respeito ao deslocamento de pontos de vista, à fragmentação, ao policentrismo, à multiplicidade de percepções no jogo entre imagem e som. Venho pesquisando essas questões há anos e, naturalmente, meus trabalhos autorais também fazem parte dessa investigação. Da mesma forma estudo linguagens que se explicitam na flexão desses dois eixos, espaço e tempo, como as fotocolagens das vanguardas russas e alemãs, os ícones medievais, os trabalhos de Bill Viola e ainda as Cosmococas de Hélio Oiticica e Neville D´Almeida. Nesses trabalhos podemos perceber, enquanto espectadores, tanto a ação do tempo em deslocamento quanto a multiplicação de pontos de vista. Mas minha ancoragem é mesmo no audiovisual, pela sua extrema sensorialidade. E, dentre os mestres que trabalham com essas questões, privilegio os do cinema russo onde as produções de Tarkóvski e Sokúrov surgem como grandes paradoxos na contemporaneidade, pois ao mesmo tempo que são realizadas entre o século XX e XXI, tensionam esse período, por vezes desviam-se dele, não enquanto mero conteúdo, mas enquanto linguagem, construção de obra e, neste sentido, nos remetem a um outro tempo e espaço no qual sabemos não ter vivido, mas que nos soa extremamente familiar. Exemplos pungentes são Stalker e Soliaris de Tarkóvski e Elegia Oriental e Mãe e Filho de Sokúrov.

Andrei Tarkovsky foi um dos mais criativos, inovadores e importantes cineastas advindos do cinema soviético, mas na sua filmografia não consta curtas. Há uma razão?
Ser diretor na URSS nesse período trazia algumas peculiaridades como só ter direito a exercer a profissão quem fosse formado para tal e tivesse a licença do Partido para tanto; ganhava-se por metragem de filme realizado e ainda ficava à mercê da censura que, quando aprovava, já determinava o número de cópias e a qualidade das salas de exibição, pois havia uma hierarquia (Tarkóvski normalmente era exibido nas salas menos privilegiadas e tinha poucas cópias de seus filmes) e muitos outros requisitos, o que torna os parâmetros para produção e exibição de curta e de longa, distintos das nossas referências atuais! A rigor, Tarkóvski dirigiu três filmes de menor duração antes do seu primeiro longa. Se pensarmos pelos padrões brasileiros determinados pela Ancine, na Instrução normativa nº 22, no Anexo I, apenas o primeiro desses filmes seria considerado um curta. Trata-se de Os assassinos (1958), de 19 minutos. Os outros dois, Hoje não haverá dispensa (1959) e O violinista e o rolo compressor (1961) seriam considerados média-metragens, pois possuem cerca de 45 minutos. O de 1961 é o filme de sua formatura na escola de cinema VGIK, em Moscou. Os outros dois foram realizados enquanto exercícios de aula. E há ainda um filme que é pouco visto e comentado que é um documentário rodado na Itália, chamado Tempo de Viagem, de 1983, de 63 minutos, rodado em 16 mm e que teve a parceria na direção e no roteiro de Tonino Guerra. Quando exilado da URSS, nas últimas páginas de seu diário, poucos dias antes de sua morte, Tarkóvski planejava experimentar outros formatos. Era um criador voltado a outros campos da arte que não apenas o cinema. Por exemplo: ainda na Rússia dirigiu Hamlet, no teatro e, em 1983 fez a direção artística da ópera russa Boris Godunóv, de Modest Mussórgski, a convite de Claudio Abbado, em Londres, no Covent Garden.

Aleksandr Sokurov tem uma extensa filmografia. Qual é a importância dos curtas nesta filmografia?
Falar de formato, suporte, duração em Sokúrov é uma das coisas mais complicadas porque ele arrisca sempre, porque ele está sempre na fronteira, no limite. Da mesma forma é problemática a categorização documentário e ficção em seus trabalhos. E ele não começou fazendo curta para depois fazer um longa. O seu primeiro trabalho foi o longa A voz solitária do homem, de 1978. E da sua quase meia centena de filmes, há uma variação de duração que varia de 10 minutos a 13 horas! Penso que esta variação é que é importante, pois fundamentais são os caminhos que Sokúrov vai abrindo à nossa percepção com essas variações, e não uma hierarquização das variações, pois todas elas constroem um cinema único, inigualável.

Sokúrov dirigiu um curta ‘Sonata para Hitler’ que foi realizado em 1979, mas permaneceu banido por dez anos. Quais foram os motivos?
Posso arriscar algumas hipóteses. Vejamos: Sokúrov viveu sob cerrada censura no período da União Soviética. Sonata para Hitler, a exemplo dos filmes que faria sobre os grandes ditadores, mostra passagens de insegurança e fragilidade de Adolph Hitler, tanto pela maneira como o cineasta montou os fragmentos de arquivos (de documentários russos e alemães), quanto pela colagem de fragmentos sonoros. Certamente fazer um filme sobre Hitler, tentando mostrar também nele a face humana, não haveria de agradar aos dirigentes do Partido Comunista, em um país onde ainda imperava a ditadura do realismo socialista e cujo território fora invadido pelas forças nazistas no período da Segunda Guerra. Por outro lado, pensemos que é bem recente o lançamento (internacional) de uma pequena parte dos filmes de Sokúrov em DVDs, o que recoloca a questão que você formulou: por que grande parte de um dos maiores e melhores cinemas não vêm sendo comercializada em mídias digitais, ainda que não exista mais a censura soviética e ainda que boa parte de seus filmes hoje, sejam produzidos em parceria com outros países? O mesmo pode-se dizer de outro grande cineasta do período soviético, Sierguêi Paradjanov. No Brasil, o que temos em DVD de Paradjanov, de Grígori Kozintsev, Otar Iosseliani, Kira Murátova, etc, etc, etc?

Acha que falta pesquisa sobre o cinema brasileiro?
Há pesquisas e pesquisadores muito competentes no Brasil e esforços sérios para trazer à luz o cinema brasileiro, também tenho visto bons lançamentos por parte de editoras pequenas, médias e grandes. Uma iniciativa que penso ser exemplar é a do Arquivo Mário Peixoto no Rio de Janeiro e as pesquisas e publicações que vêm sendo feitas sobre a obra de Mário Peixoto e sobre Limite, produção única, brasileira, de 1931. Iniciativa privada, de poucos, mas de fôlego, abrindo caminho a outras. Temos a Cinemateca Brasileira com um acervo rico, bem cuidado, organizado e disponível a estudantes e pesquisadores. Temos ainda a Associação Cultural Videobrasil, que trabalha na fronteira do cinema, cujo histórico de 17 anos demonstra a seriedade da pesquisa e a qualidade das publicações, também aberta ao público, aos estudantes e pesquisadores com acervo multimídia amplo e organizado. Todos os três citados são centros de referência nacional e internacional, bem como outros que não elenco aqui por falta de espaço. E se você consultar os bancos de teses, dissertações e pesquisas das universidades públicas, principalmente, verá que há preciosidades que estão lá, à espera de serem publicadas. A pesquisa é movida pela curiosidade, pelo comichão de se saber mais e mais sobre determinado assunto, pessoa, fenômeno, etc. de aprofundar e gerar conhecimento. Enquanto houver esse comichão, haverá pesquisa, mas é necessário investir mais em recursos que possibilitem manter alta a qualidade da pesquisa e viabilizar a sua publicação para que ela possa ser lida, discutida e estudada nas escolas e universidades.

Qual é o seu próximo projeto?
Trabalho sempre no presente do futuro. No momento intensifico minhas pesquisas sobre o cinema contemporâneo russo, bem como as artes visuais contemporâneas russas, com ênfase no audiovisual, ou seja, artes na fronteira do cinema. E, enquanto experimentação autoral, estou trabalhando na realização de uma instalação audiovisual relacionada à paisagem, ou melhor, à contra-paisagem das grandes metrópoles (seguindo a série Traensfluxos, que iniciei em 2004 e que já trazia essa proposta). Mas isso é apenas uma das facetas do presente à espera de um futuro.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Alcino Leite Neto

Alcino é editor de Domingo da Folha e editor da revista eletrônica Trópico. Foi correspondente em Paris e editor do caderno Mais! Escreve para a Folha Online quinzenalmente, às segundas.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Humberto Mauro, um dos pioneiros do cinema brasileiro, tem uma enorme produção de curtas-metragens, um verdadeiro patrimônio cultural do país. Os diretores do Cinema Novo redefiniram a linguagem do curta no Brasil, valeria se debruçar novamente sobre seus filmes. Os diretores do "udigrúdi" também fizeram inúmeros filmes curtos, alguns interessantíssimos, por sua radicalidade. Nos anos 70, se não me engano, uma lei obrigava a exibição de curtas-metragens antes dos filmes estrangeiros no país. Tive a oportunidade de ver vários filmes bem realizados nesta época, muitos deles documentários que abordavam a obra e a vida de escritores e artistas. Ao que eu saiba, nada disso _ou muito pouco destas produções_ está disponível em DVD. Uma coleção histórica do curta-metragem brasileiro (sejam eles mais comerciais, de vanguarda ou documentários) seria de grande importância. Esta coleção mostraria que os curtas não são apenas um trampolim para diretores que aspiram fazer longas-metragens. Eles são, em si mesmos, documentos da história e da cultura brasileiras ao longo do século 20. 

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que deveria ser desenvolvido um programa de exibição de curtas-metragens em escolas e universidades, confrontando a produção histórica e a contemporânea (por exemplo, para ficarmos num tema popular: curtas sobre futebol, de ontem e hoje). Penso também que uma mostra anual de curtas-metragens poderia percorrer as cidades brasileiras, as grandes e as pequenas, mas feita por uma curadoria inteligente, atenta ao interesse do público atual. Finalmente, acredito que a criação de um grande site que reunisse o principal da produção brasileira de curtas-metragens, antigos e recentes, seria fundamental para a sua difusão.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por dois motivos, na minha opinião. Primeiramente, porque os jornais têm pouco espaço e precisam concentrar sua atenção nos filmes de maior importância cinematográfica ou de maior impacto comercial. Em segundo lugar, porque a divulgação e a difusão dos curtas no Brasil é amadorística ou inexistente _não há como falar deles, se os curtas não ganham uma existência pública.

O senhor trabalha na ‘Folha de S.Paulo’ e no site ‘Trópico’, quais as perspectivas destes dois importantes veículos de comunicação darem mais espaço para os curtas?
Não posso responder pela "Folha", porque não estou atuando na cobertura de cinema do jornal, mas em outra área. No "Trópico", revista eletrônica da qual sou editor, o nosso interesse é por tudo que tenha relevância jornalística, importância cultural e seja capaz de provocar o debate público mesmo se for um curta-metragem.

Pensa em dirigir um curta-metragem futuramente?
Não, faz muito tempo que desisti de fazer cinema.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ivan Cardoso


Ivan Cardoso sempre foi um original, um inovador, um cineasta que desafia classificações sempre em busca de projetos inesperados.

Cardoso viria a conceber um cinema que, usando a máscara do chamado "terrir" e a estética udigrudi, afrontava diretamente a ditadura e seus desdobramentos. Mais importante que isso, sua estética não se esgota nessa tal afronta. Pode-se dizer que os filmes de Cardoso propõem uma espécie de carnavalização cinematográfica, uma vez que, contrários a qualquer espécie de ingenuidade, exibem um niilismo ideológico assombroso e, acima de tudo, divertido.

Tudo isso vocês poderão conferir nesta explosiva entrevista.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É praticamente impossível porque, infelizmente, os curta metragens brasileiros não tem a menor chance no nosso problemático mercado cinematográfico. Aliás, é quase impossível, em nosso país, um cineasta profissional que (não sendo "banqueiro", publicitário ou funcionário da rede Globo), consiga sobreviver dedicando-se, apenas, a produzir seus filmes, sejam eles curtas, longas ou média metragens... Por isso mesmo, a maioria dos nossos diretores (sejam eles, ainda "autores", comerciais, ou até, experimentais), só pensam, em produzir longa metragens...

Porque, nesta categoria, as verbas publicas e os prêmios dos concursos oficiais são mais atraentes, as leis de incentivo permitem captar mais recursos, a divulgação da sua obra & conseqüentemente, do seu nome é muito maior, e, ainda por cima, se tem alguma chance de ganhar alguma coisa com a exibição do seu produto, em qualquer mercado, ou, mídia.

Eu não vejo maiores problemas do curta metragem ter se transformado, no Brasil, em trampolim para fazer um longa... Inclusive, eu acho bacana, essa coisa do curta ser uma etapa transitória, uma etapa de transformação artística, que não seja uma coisa definitiva, cristalizada e necrozada de criatividade. Que ele seja apenas um veiculo para a aprendizagem e desenvolvimento da linguagem cinematográfica. O lado mais negativo do curta metragem - por esta categoria, no terceiro mundo, ser eternamente tutelada por velhos artistas frustrados esquerdofrenicos, geralmente, pessoas burras, mesquinhas, invejosas & totalmente, desprovidas de talento - é o aprendiz de cineasta, ao invés de se transformar num diretor de cinema, se transformar num produtor de verdadeiros colchões mentais (filmes que, adormecem os espectadores) , produzindo obras perdidas no tempo & no espaço, comprometidas com ideais políticos & estéticos anacrônicos que, ao invés de aproveitarem este formato para experimentarem novas formas de expressão artística, se transformam desde cedo, em artistas acadêmicos que, enxergam o cinema como forma de trazerem as telas um mundo, por assim dizer, de ilusões perdidas anti cinematográficas... Devido a sua total ignorância, eles, nem conseguem perceber que o uso que fazem da revolucionaria sétima arte é transformá-la, na realidade, numa forma de arte inferior que, serve apenas, para ser um veiculo fajuto de suas idéias falidas, de representações reacionárias da realidade, ou, que ainda lutam por subjugar o cinema ao teatro... Ou, o que é pior, ainda, ao invés de transformarem os aprendizes de cineastas, em diretores de cinema, se transformam em "documentaristas"..., uma categoria que, nem, na antiga União Soviética existia, mas que, aqui, faz muito sucesso! Haja visto o veterano stalinista católico Eduardo Coutinho ser considerado, até hoje, pela turma do "Piauí" o maior documentarista brasileiro... Quando, na realidade, nos primórdios do cinema novo, quando se fazia cinema com uma câmera na mão & uma idéia na cabeça..., só faziam "documentário" os cineastas que, não tinham o menor talento!

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Mesmo sem ser um pesquisador desta área, eu não tenho vergonha de dizer que, eu não conheço a fundo toda a historia do nosso cinema e sempre fiz questão de deixar claro que, não gosto deste conceito de "cinema brasileiro”.Até, mesmo porque os personagens de terror com os quais trabalho: múmias, vampiros, escorpiões & lobisomens, não são personagens brasileiros, são personagens universais, são ícones do cinema americano, com o qual, eu tenho muito mais ligações, influências, enfim, eu me interesso muito mais pelo cinema americano, do que, pelo nosso esquerdofrenico, literário & teatral cinema brasileiro... Ao contrario do Paulo Emilio, eu acho que o pior cineasta americano é muito melhor que, o melhor cineasta tupiniquim... Mesmo, antes da globalização, eu já era um artista global! E, sempre achei essa coisa nacionalista, essa busca de raízes, esse ufanismo que sempre existiu em nossa cultura, uma coisa meio fascista... Aliás, se vocês prestarem atenção, os militares, os padres, os comunistas, os petistas & os fascistas têem uma ideologia muito parecida, têem muita coisa em comum... Mas, acredito que a grande importância do curta metragem seja a possibilidade que ele oferece, por ter um custo muito menor que o de um longa metragem, dos jovens cineastas apreenderem, na pratica, a fazerem cinema!

Como a maioria dos nossos cineastas é autodidata, são artistas intuitivos que, nunca estudaram cinema - as faculdades de cinema são recentes em nosso país -, o curta metragem se tornou a grande escola do cinema brasileiro... Agora, tudo isso é muito problemático, porque sendo um pais muito pobre, as chances de você "queimar" negativo, de você experimentar, de você se exercitar são muito pequenas... E, não podendo errar, você também, não pode acertar!

O cinema brasileiro devido ao nosso subdesenvolvimento intelectual e artístico é super preconceituoso, não é só o curta metragem que sofre esse preconceito... No Brasil, como em todos os países atrasados as pessoas só querem filmar em 35mm e, com uma câmera 35mm, nem o Orson Welles, ou, o Hitchcock teriam apreendido a filmar... As câmeras 35mm são muito pesadas e muito profissionais para quem esta aprendendo, para quem esta começando. Eu posso falar isso de cadeira, porque apreendi a fazer cinema com uma câmera super 8 que, eu acredito que seja a melhor bitola para você começar filmar... Não só pelo baixo custo dos filmes super 8, como também por serem câmeras pequenas, super leves e tecnologicamente muito avançadas que, democratizaram a atividade cinematográfica no final dos anos 60. Na verdade o super 8 foi um pré vídeo, as câmeras super 8 anteciparam essa revolução que as câmeras de vídeo fizeram a partir dos anos 90.Qualquer dona de casa podia filmar as festinhas de aniversario dos seus filhos, batizados, casamentos, etc.

O super 8 é genial porque você tem a chance de apreender a fazer cinema sem mestre, você apreende, como diria o Mojica, "praticamente, na pratica"... Mas, aqui, as pessoas tinham preconceito, até, do 16mm...

Aliás, aqueles festivais de cinema amador, 16mm, patrocinados pelo Jornal do Brasil/Mesbla, foram super importantes para o cinema brasileiro porque, não só ajudaram a diminuir esse preconceito como também lançaram vários cineastas importantes, como o próprio Rogério Sganzerla, o Neville d'Almeida, o Sergio Santeiro, o Haroldo Marinho Barbosa, o Andrea Tonacci, o Bruno Barreto & muitos outros .

Agora, por outro lado como a maioria dos nossos curtas-metragens são documentários e até, os filmes de ficção com o passar dos anos também se transformam em documentários da época em que foram feitos, os curta metragens nacionais acabam se transformando num fabuloso banco de imagem preservando muitas vezes, a memória de grandes artistas que, infelizmente, neste país sem memória, não tiveram a sua incrível trajetória devidamente registrada em nossa desmemoriada, elitista, esquerdofrenica & preconceituosa cultura.

Como é trabalhar com a síntese no curta-metragem?
O curta metragem me fascina por vários motivos: primeiro, devido ao seu baixo custo. Talvez, por seu formato reduzido, o curta ainda seja um filme livre das leis de incentivo, ainda seja uma obra que possa ser produzida livremente pelo seu próprio autor... Dai, ele também ser um divisor de águas: somente, os verdadeiros artistas é que investem o seu próprio capital para realizarem os seus sonhos ! Por permitir que você produza um filme a fundo perdido, sem as terríveis conseqüências financeiras que, você sofrerá, caso o seu longa metragem seja um tremendo fracasso de bilheteria, acredito que os curta metragens sejam a categoria ideal para a produção de filmes de arte ou experimentais ! Até mesmo, porque eu acho um equivoco, quase ridículo você fazer um filme experimental com a mesma duração, bitola & características de um filme comercial... E, olha que muitas vezes os filmes experimentais ainda são maiores que, os comerciais! E, por isso mesmo, o grande público acaba tomando horror desses filmes que, sempre foram imprescindíveis para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica.

Além disso, a entrada em cena dos vertiginosos videoclipes trouxeram as telas um tipo de linguagem fragmentada, com uma ritmo alucinante de cortes não lineares, que aboliu todas as regras einsteinianas de montagem, criando uma nova forma & formato compacto, com uma duração média de 3 minutos que, provocaram uma verdadeira revolução áudio visual, transformando os quilométricos longa metragens em obras jurássicas... O camarada, realmente, tem de ter alguma coisa diferente para mostrar para dizer para conseguir manter alguém sentado durante 90 minutos... Ou, então como dizia o saudoso poeta & critico José Lino Grunewald, um clássico é aquele filme tão bom que, você pode dormir tranquilamente durante 90/100 minutos, no escurinho do cinema!

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Em primeiro lugar, eu gostaria de deixar claro que, no Brasil, existem poucos, cineastas que, realmente são diretores de cinema... Aliás, depois da morte do Glauber, do Walter Hugo Khouri, do Carlos Hugo Christiesen, do Jean Garett, do Leon Hirzmann, do Carlos Imperial, do Jece Valadão, do Nilo Machado & do grande Rogerio Sganzerla, você terá de contar nos dedos quais são os verdadeiros cineastas que, ainda existem por aqui... O resto é uma manada de idiotas, de falsos artistas, de mulheres feias mal amadas, de comunistas aposentados, de publicitários de sucesso, de ambiciosos fotógrafos da "moda", de milionários culpados porque são ricos & de alpinistas sociais que, desconhecendo totalmente o seu oficio e conseqüentemente a tradição cinematográfica, só entendem o que, eles pensam ser o cinema como filmes de longa metragem... Então, eu acho que é super natural que, esses elementos que, não tem a menor intimidade com o que fazem, tenham preconceito contra o curta-metragem... Eles têm horror de tudo que é menor... Por ter uma duração menor que um longa metragem, eles se equivocam, pensando que um curta é tão pequeno quanto o seu talento, ou,o tamanho do seu pau... Na verdade, eles tem medo do curta-metragem por que nesta categoria minimalista, compacta, se constata imediatamente, em poucos minutos, a sua total falta de talento!

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A exibição de qualquer filme brasileiro é um verdadeiro cipoal de problemas, a dos curta metragens então, nem se fala. Nos anos 70, nos tivemos uma experiência inusitada com a inesquecível Lei de Obrigatoriedade de exibição de curta metragens nacionais, na frente dos filmes longa metragens estrangeiros... Uma Lei que, a principio parecia ser ótima e caso tivesse dado certo teria sem duvida nenhuma revolucionado e democratizado a nossa combalida industria cinematográfica. Por que, além de garantir a exibição dos nossos curtas em todos os cinemas do território brasileiro, tornou a sua produção extremamente lucrativa & industrial. Cada produtora tinha o direito de produzir cinco filmes por ano e só com a receita da bilheteria - se não me engano, nos tínhamos direito a 5% da bilheteria do longa metragem estrangeiro, até, atingir um determinado teto -, qualquer pequena produtora podia, em pouco tempo, caminhar com as suas próprias pernas, produzindo mais cinco curtas, no próximo ano, mais cinco, no outro, até transformar-se numa verdadeira produtora independente, capaz de num período de três, quatro anos, ter recursos próprios para vôos mais altos, produzindo seus primeiros longas, ou, aprimorando sua produção de curtas. Infelizmente, tanto as distribuidoras americanas, como os exibidores nacionais que, nunca esconderam seu descaso contra os nossos curtas e o seu ódio profundo contra mais esta Lei de Obrigatoriedade, que, na pratica, realmente diminuía uma pequena fração dos seus gigantescos lucros, logo encontram uma maneira eficaz de boicotar a Lei, exibindo somente um lixo produzidos por eles mesmo ou comprados de produtores inescrupulosos, que vendiam por qualquer preço as coisas mais horríveis que, já chegaram as nossas telas... Numa manobra suja, mas, de grande eficiência que, rapidamente, não só desmoralizou a Lei como jogou, mais uma vez, os próprios espectadores e a critica contra o cinema nacional: eles chegavam ao requinte de programar curtas pavorosos, totalmente inadequados aos longa metragens americanos que, o publico havia comprado ingressos para ver e quando, começava a projeção dos nossos malditos shorts era uma vai danada ! Entretanto, nos devemos ser pragmáticos, não se esquecendo que, mesmo durante a pavorosa ditadura militar, ninguém gostava de assistir um filme por causa de uma Lei de Obrigatoriedade..., que, assim como Ministério da Cultura foi inventada, nos anos 30, pelo carismático líder fascista Benito Mussolini ! - que, naquela época desfrutava de uma popularidade, entre os italianos, bem maior que a de Lula, nos tenebrosos dias de hoje...

Acho que, tanto para os longas como para os curta metragens nacionais, a única saída para a circulação e exibição dos nossos filmes é a televisão ! Sendo, um verdadeiro absurdo que, mesmo durante "o melhor governo (esquerdofrenico) que este país, já teve", a nossa televisão continue sendo a casa do cinema americano...

O curta-metragem é o grande movimento do cinema atual?
Não existe mais nenhum grande movimento no cinema atual, nem no curta, nem no longa, nem nas outras artes ! Assim como não existem mais grandes lideres, também não existem mais grandes artistas... A arte não é um continente isolado que, esta imune a realidade dos nossos dias... Chegamos ao século XXI sem que o bíblico apocalipse incendiasse o nosso decadente planeta, como muitos profetas anunciaram durante séculos... E, o que é pior e torna a nossa existência, ainda mais monótona: os misteriosos óvnis, os populares disco voadores desapareceram, até, da mídia: os sinistros marcianos não invadiram a Terra ! E, assim como tudo, o cinema também acabou... Não se faz mais filmes como antigamente. Não existem mais cinemas - os grandes templos cinematográficos foram transformados em templos evangélicos... - como antigamente. Tirando dois ou três dinossauros que ainda existem por aí, não existem mais grandes diretores como antigamente. Como não existem mais poetas, filósofos, cantores, músicos, escritores, mágicos, dançarinos, toureiros, assassinos, gângsteres, jogadores de futebol, pilotos, artistas plásticos, atores, fotógrafos, produtores, lutadores de box, inventores, cientistas malucos, aviadores & até, mesmo astronautas como antigamente. E, o que é pior não existem mais estrelas capazes de seduzirem multidões de espectadores para o escurinho do cinema!!!

Como nos ensina, o mega poeta Augusto de Campos, em seu visionário CD "Poesia é risco": "para que poetas, em tempo de pobreza...” Ou, no prefacio do seu indispensável livro invenção, "Verso, Reverso, Controverso": "a poesia é uma família de náufragos bracejando, no tempo e no espaço...”

Talvez, o iluminado Stockhausem estivesse certo e a queda das torres gêmeas, em Manhattan, tenha sido a nossa ultima grande obra de arte... Assunto proibido que, virou tabu, para que o grande publico não descubra que, os autores desta sinistra obra prima foram os irados agentes da CIA... A morte de Michelangelo Antonioni aumentou, ainda mais o nosso deserto de idéias, levando no seu vácuo, o velho Igmar Bermann que, há muitos anos vivia escondido em sua ilha.

Restando, agora, somente o subversivo demônio das onze horas Jean Luc Godard que, ao lado do incansável Bob Dylan, talvez sejam os dois maiores artistas contemporâneos, ainda vivos ! Não podendo nos esquecer de alguns outros pontos luminosos que, ainda brilham na escuridão das trevas, como o surpreendente Quentin Tarrantino, o mafioso Francis Ford Coppola, o demencial João Gilberto & o quase centenário Claude Levi Strauss!

Quais os melhores curtas que foram produzidos no Brasil?
Minha lista dos 10 melhores curtas made in brazil:

01 "O PATIO", de Glauber Rocha
02 "DI CAVALCANI", de Glauber Rocha
03 "DOCUMENTARIO", de Rogerio Sganzerla
04 "HQ", de Rogerio Sganzerla
05 "A PEDREIRA DE SÃO DIOGO", de Leon Hirzman
06 "BOM JESUS DA LAPA", de Eliseu Visconti
07 "AS IMAGENS DE LAMPIÃO", de Abraão Medina
08 "O UNIVERSO DE MOJICA MARINS", de Ivan Cardoso
09 "HO", de Ivan Cardoso
10 "UMA ESTRELA PARA IÔ IÔ", de Bruno Safadi

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Cada diretor, cada artista tem o seu processo de criação, de produção e, é essa individualidade, esse universo próprio, essa marca original que, o distingue da maioria dos artesões, dos artistas burocráticos, ou dos falsos artistas que, só sabem diluir o que os outros inventaram... Hoje, você fala em artista e as pessoas pensam, logo, que você esta falando dos atores da tv Globo..., embora existam alguns atores da Globo que, podem ser considerados grandes artistas ! Eu, de certa forma, me considero uma pessoa predestinada, porque tive o privilegio de, ainda muito jovem, com menos de 18, conhecer, conviver & me tornar parceiro dos nossos maiores artistas de vanguarda! Gente, como os irmãos Campos, Décio Pignatari, Helio Oiticica, Torquato Neto, Caetano Veloso, Rogerio Sganzerla, Julio Bressane, Tim Maia, Raul Seixas, Zé do Caixão & muitos outros.

Para que vocês tenham uma idéia do que estou falando, na maioria dos curta metragens que dirigi & produzi, eu procurei fazer um pequeno "paideuma" reunindo & homenageando alguns artistas inventores, cujo trabalho, em diferentes áreas, poderia ser classificado como "divisor de águas"!

Então, por exemplo, nos três filmes que fiz sobre o Hélio Oiticica "HO", em 1979, "A Meia Noite com Glauber", em 1997, um diálogo subversivo entre a "estética da fome X a estética da vontade de comer"... que, revelou & liberou um lado desconhecido & proibido da obra do inventor do cinema novo e "Heliorama", em 2004, todos estes curtas-metragens, além do depoimento do próprio Oiticica, contam com textos poéticos, ou cine roteiros - como ele próprio os classificou - do grande Haroldo de Campos ! Sendo que, no "HO", este texto original foi narrado pelo irado Décio Pignatari, com a sua inconfundível voz & imbatível dicção concreta... O Décio também foi o autor de um texto brilhante sobre o Zé do Caixão, comparando-o à um "Antonio Conselheiro de subúrbio que, fez de Canudos o seu cinema"..., escrito especialmente para "O Universo de Mojica Marins", em 1977, e além disso foi quem me levou para Porto Alegre, em 1978, onde documentamos com a sua interferência critica um dos mais brilhantes & desconhecidos escritores brasileiros, o ex deputado & psiquiatra gaúcho Dyonélio Machado, o velho"centauro dos pampas" ! E, no final dos anos 90, ao ouvir o CD "Poesia é Risco" de Augusto de Campos - cuja a foto da capa é de minha autoria -, percebi que, tinha em meus arquivos imagens suficientes para "clipar" os seus visionários "cinepoemaspopcretos"... E, resolvi fazer o instigante curta "HI FI”, homenageando o Augusto ! Ou seja, eu sou o único cineasta brasileiro que desenvolveu junto aos nossos mais brilhantes poetas contemporâneos, uma produção literária inédita, por que eles próprios nunca tinham escrito para cinema e que, ainda, não foi devidamente estudada, ou, classificada. A minha parceria com o Oiticica, também, foi inédita por que além dos filmes que fiz sobre a sua obra, ele também foi ator de "O Segredo da Múmia", fazendo o papel de um mercador egípcio, e de "Dr.Dyonélio", onde interpretou um senador romano!

Dizem que, a primeira impressão é a que fica... De forma que, tendo me infiltrado no cinema brasileiro através do demencial Rogerio Sganzerla, me acostumei, desde cedo, a fazer varias coisas ao mesmo tempo, a produzir vários filmes simultaneamente que, devido as suas características ou verba de produção, ficam prontos dentro de um prazo normal, ou, se tornam obras in progress que, as vezes acabam sendo finalizadas muitos anos depois do seu inicio... Eu chego, até, a dizer brincando que caso nunca mais consiga filmar, eu ainda teria filmes para montar, até, o final dos meus dias... O que, felizmente, não é verdade porque, no final do século passado eu comprei uma pequena câmera de vídeo high eight & descobri que ela era uma versão aperfeiçoada da minha velha câmera super 8... Então, as curvas do destino me levaram, novamente, ao inicio de tudo... E, o meu velho vício de registrar imagens, voltou com força total & já produzi mais de 50 filmecos experimentais em vídeo, ainda não finalizados ! Mas, voltando aos curtas, aos documentários filmados em película 16 mm que, até, já foram ampliados para 35 mm, mas, ainda não foram definitivamente montados, eu tenho uma jóia rara intitulada "A BRASA DO NORTE" , um cine clipe com o endiabrado Jackson do Pandeiro, filmado em 1977... Um "trailer" fake sobre o livro espetacular de Georges Battaile, "A HISTORIA DO OLHO", também de 77, estrelado pela apetitosa Claudia Ohana ! Neste mesmo ano, também rodei outro "trailer" pornô, em parceria com o meu amigo Eduardo Viveiros de Castro, intitulado "CURIOSIDADES DE VIDAS IRREGULARES...” Dei inicio ao longa udigrudi, "O LAGO MALDITO" que, foi o filme que deu origem ao "Segredo da Múmia" (1982) e recentemente, ao telefilme "O Sarcófago Macabro" (2006) e que, um dia, ainda, pretendo concluir seu projeto original... Também, neste período dei inicio a um dos projetos mais sensacionais da minha carreira e pelo qual tenho um grande carinho, chamado "A HISTORIA DE UM OLHO" que, iniciei em 1973, filmando as filmagens de "O Rei do Baralho", do Julio Bressane - nesta época, agente nem desconfiava o que era um making-off... Então, eu chamava estes documentários que, inicialmente, ainda foram rodados em super 8, de filmes de filmagens... -, que prosseguiram em 1975, com "O Monstro Caraiba" estrelado pelo saudoso Carlos Imperial, também do Julinho. Depois, continuei este projeto em 16 mm, documentando "A Agonia", 1977, & o antológico "Gigante da América", 1978, ambos de Bressane. Ainda, neste mesmo ano, eu rodei "O TERCEIRO OLHO", registrando as demenciais filmagens de "O Abismo" do Rogerio Sganzerla que, é um curta metragem que, ´também já foi ampliado para 35 mm & pretendo finalizar, no próximo ano. Estando em duvida de trocar seu titulo para "O MELHOR DE TODOS", num trocadilho com "A Mulher de Todos" & por acreditar mesmo que o Rogério foi o nosso maior cineasta ! Nesta linha de documentários - se é curta, media , longa, ou, telefilme, isso realmente não me importa - ainda, gostaria de acrescentar mais alguns projetos queridos: "O ABC DO AMOR", uma cinentrevistas com os jurrásicos TIM MAIA, NELSON GONÇALVES & BENE NUNES que, iniciei, em 1993; "AS MEMORIAS DE UM HOMBRE LOBO", outra cinentrevista que , realizei em 2005, durante as filmagens de "Um Lobiosomem na Amazônia" com o grande ícone do cinema de terror, o ator espanhol PAUL NASCHY ! Outro documentário que iniciei no festival de Turim de 2006, entrevistando o surpreendente diretor norte americano JOE SARNO... E, outro tesouro que o destino me reservou , por ser a ultima entrevista - & filmada em mini dv - do inesquecível mega poeta HAROLDO DE CAMPOS, realizada em 2004, quinze dias antes da sua morte, intitulado "AS CONFISSÕES DE UM POETA" !!!

Ou seja, eu não sou nenhum Raul Seixas, mas também tenho o meu "baú"...

Me arrependo amargamente, de não ter feito em parceria com o Eliseu Visconti, um documentário sobre o magistral LUPICINIO RODRIGUES que, é, até hoje, o meu compositor preferido... E, outros três curtas que, infelizmente, não tive recursos para realizar, documentando outros gigantescos ícones da nossa cultura: o polemico comentarista esportivo botafoguense João "sem medo" Saldanha; "DA-LHE RIGONI", focalizando o grande jóquei paranaense Luiz Rigoni & finalmente, outra corda do meu coração que era o fantástico campeão do circuito da Gávea, CHICO LANDI, o grande pioneiro do nosso automobilismo !

Atualmente, estou pensando em fazer um documentário sobre o incrível, fantástico & extraordinário desenhista de historias em quadrinhos, o lendário SHIMAMOTO e também, continuo desenvolvendo outro filme experimental, desenhado na própria película 35 mm, intitulado "O CREPUSCULO DO OLHAR" um esforçado exercício de "decomposição da imagem"... Que, na verdade, também, não deixa de ser um protesto - ao invés de manifestar verbalmente minhas criticas ao governo Lula, eu preferi riscar artisticamente pontas de negativo -contra a ultrapassada política áudio visual cubana orquestrada, muito mal interpretada & sucedida pelo sorumbático ex ministro Gilberto Gil... Eu conheci o GG, através do TorquatoNeto, na década de setenta, fiz a fotografia da capa do lp "umbandaum" e sempre fui seu fã... Há três anos atrás, quando nos encontramos durante o Festrio, contei-lhe sobre a "ultima entrevista" do Haroldo & manifestei o meu interesse de transformar este precioso material num filme... Vocês sabem o que o ministro me respondeu com o seu debochado sotaque baiano: "Apresente, o projeto" !

Ora, meus amigos é por essas & outras que, seguidamente, eu penso em abandonar o cinema... Qualquer idiota desconhecido que, se aproximasse do pior ministro da cultura que, a França já teve & lhe revelasse que tinha eu seu poder a ultima entrevista do Jacques Derrida, do Foucault, ou, do Roland Barthes... No dia seguinte uns dez funcionários do ministério da cultura francês estariam atrás deste sujeito para cuidar & lapidar com todo carinho esta inusitada pedra preciosa!!!

E, o que me deixou, ainda, mais triste foi a frieza do Gilberto Gil que, além de dever muito intelectualmente falando ao Haroldo, seguramente, jamais teria sido ministro se o Augusto de Campos não tivesse tido a generosidade de escrever o "Balanço da Bossa" !

Mais, é isso aí pessoal, a vida como ela é..., é assim mesmo ! No Brasil, infelizmente, artista bom é o artista morto... Aquele abraço !!!

FILMOGRAFIA COMPLETA DE CURTAS-METRAGENS:

1973 — MOREIRA DA SILVA — Com: Kid Morengueira e Wilson Grey - Direção: Ivan Cardoso — Roteiro: Ivan Cardoso — Fotografia: Renato Laclete — Montagem: Amaury Alves — Som Direto: Júlio Romiti — Música: Antônio Moreira da Silva, Billy Blanco, Geraldo Pereira, Lupicínio Rodrigues e Wilson Batista — Still: Bina Fonyat — Letreiros: Amarilio Gastal — Produção: Ivan E. S. Cardoso e Carlos Cardoso — 35mm PB — Duração: 10'.
Documentário musical focalizando a figura ímpar do compositor e cantor ANTONIO MOREIRA DA SILVA, o popular KID MORANGUEIRA, o inventor do samba de breque, que aos 70 anos está em plena forma de terno de linho branco e chapéu panamá, interpretando seus antigos sucessos em locais-cenários freqüentados pela antiga malandragem como o Morro de São Carlos, o Hipódromo da Gávea, o Cinema íris, a gafieira Elite e outros que marcam a imagem do Rio de Janeiro como o Pão de Açúcar.

1974 — MUSEU GOELDI — Direção: Ivan Cardoso — Roteiro: Eduardo Vivei­ros — Fotografia: Renato Laclete — Montagem: Amaury Alves —Depoimento e narração: Eduardo Galvão — Letreiros: Carlos Pini — Still: Ivan Cardoso — Produção: DAC/MEC — 16mm Color — Duração: 10'.
Documentário focalizando o MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI dedicado desde a sua fundação ao estudo sistemático de uma área geográfico-cultural tão imensa quanto pouco conhe­cida, reunindo em seu acervo material etnográfico, antropoló­gico, geológico, zoológico e botânico originário de regiões tão distantes de Belém como as cabeceiras do Amazonas e o planalto central, mostrando a variedade do ambiente natural da Amazônia bem como a necessidade de sua preservação e estudo cien­tífico. Entrevista com o etnólogo Eduardo Galvão.

1974 — RUÍNAS DE MURUCUTU — Direção: Ivan Cardoso — Roteiro: Ivan Cardoso — Fotogra­fia: Renato Laclete — Montagem: Amaury Alves —Depoimento e narração: Eduardo Galvão — Letreiros: Carlos Pini — Still: Ivan Cardoso — Produção: Ivan E. S. Cardoso — 16mm Color — Duração: 9'.
Documentário etnográfico, de abordagem livre, focalizando fragmentos de um ideograma tropical: o caboclo urbano. Das Ruínas de Murucutu, a primeira missão jesuítica da Amazônia, às favelas da cidade de Belém do Pará. A vida do caboclo é comentada por referência as formas de moradia, a simbiose com o rio, o futebol na várzea e o ritmo do carimbo mostrando por trás da pobreza do caboclo, a sombra dourada do índio.

1977 — O UNIVERSO DE MOJICA MARINS — Com: José Mojica Marins, Satã, Carmem Marins, Wilson Grey, Georges Michael e Rogério Sganzela — Direção: Ivan Cardoso — Assistente: Carmem Gomes — Roteiro: Ivan Cardoso — Fotografia: Aloísio Araújo e Renato Laclete — Montagem: Gilberto Santeiro — Trilha sonora: Julio Medaglia — Still: Ivan Cardoso — Depoimento: Décio Pignatari — Letreiros: Ruth Freiroff — Produção TV CULTURA e Ivan E. S. Cardoso — Produtores associados: Guti Carvalho e Sérgio Carvalho — 35mm Color e PB — Dura­cão: 26'.
Documentário sobre a vida e a obra do ator, diretor e produtor paulista JOSÉ MOJICA MARINS, penetrando em seu estúdio e mostrando o seu mundo: a origem de ZÉ DO CAIXÃO... O choque fascinante de um primitivo contra o cinema, em plena era de viagem à lua... A primeira religião cinematográfica: sua escola de arte dramática, especializada no sobrenatural. Confi­dências de um autor de terror sobre a sua luta (mais de qua­renta filmes realizados). Complementa o documentário trechos do filme O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO. Para ser exibido comercialmente como curta-metragem esse filme foi dividido em duas partes, ficando a segunda com o título de A RAZÃO DO SER.

1978 — DR. DYONÉLIO — Com: Dyonélio Machado, Wilson Grey, Helena Lustosa, Oscar Ramos, Márcia Pitanga, Ruban, Lurdes Salgado, Radar, Márcia Lomardo, Júlio Borges e Hélio Oiticica — Direção: Ivan Cardoso — Roteiro: Décio Pigna­tari — Fotografia: Antônio Penido — Montagem: Ricardo Miranda — Som Direto: Ivan Cardoso — Depoimento e narração: Décio Pignatari — Still: Eduardo Viveiros e Ivan Cardoso — Letreiros Óscar Ramos e Luciano Figueredo — Produção: Aloisio Leite, Ivan E. S. Cardoso e Cine­mateca do MAM — 35mm Color e PB — Duração: 13'.
Documentário ficção focalizando o consagrado escritor psiquia­tra, ex-deputado gaúcho DYONÉLIO MACHADO na época com 83 anos.
Os anos 30: inícios literários. A consciência política e social. 1935: OS RATOS — um dos grandes romances brasileiros. Sua Porto Alegre querida. O som que havia no ar. A fala gaúcha: o "tu". As figuras. Os locais. Dyonélio erudito. A longa pesquisa para os DEUSES ECONÔMICOS. O gosto pelos clássicos. A planta de Roma no século I: por onde caminham as persona­gens... O velho apartamento da Borges de Medeiros. A família. O patriarca. Adaptação livre de trechos de OS DEUSES ECONÔMICOS.


1979 — HO — Com: Hélio Oiticica, Lygia Clark, Waly Salomão, Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Carlinhos do Pandeiro, Nininha, Nildo da Mangueira e Paulo Supli — Direção: Ivan Cardoso — Assistente: Carmem Gomes — Roteiro: Ivan Cardoso — Fotografia: Edson Santos — Montagem: Ricardo Miranda — Depoimento: Hélio Oiticica — Texto poético: Haroldo de Cam­pos — Narração: Décio Pignatari — Still: Eduardo Viveiros e Ivan Cardoso — Letreiros: Oscar Ramos e Luciano Figueiredo — Produção: Ivan E. S. Cardoso e Fernando Carvalho — 35mm Color e PB— Dura­cão: 13'.

CINE TEATRO NÔ focalizando a obra do artista plástico carioca HÉLIO OITICICA, com texto poético de HAROLDO DE CAM­POS: "onde se vê MONTE FUJI" —"veja-se o MORRO DA MANGUEIRA", habitat natural de suas obras, onde OITICICA, CARLINHOS DO PANDEIRO, NILDO & outros passistas exibem os legendários PARANGOLÉS em performances-épico-poético. Visita à casa do artista onde foram filmadas suas maquetes e outras obras feitas exclusivamente para o filme.
CINE JORNAL da estréia do penetrável 27 RIJANVIERA, com a participação especial de LYGIA CLARK.

1997 - À MEIA NOITE COM GLAUBER – Com: Glauber Rocha, Hélio Oiticica, José Mojica Marins, Helena Ignês, Sólon Barreto, Darlene Glória, Othon Bastos, Odete Lara, Maurício do Vale, Geraldo Del Rey, Ana Maria Magalhães, Tarcísio Meira, Jece Valadão, Hugo Carvana, Luiza Maranhão, Antônio Pitanga, Torquato Neto, Cristiny Nazareth, Zé Português, Paulo Gracindo, Paulo Autran, José Lewgoy, Danuza Leão, Edson Machado, Jardel Filho, Clóvis Bornay, Lygia Clark, Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Nildo da Mangueira, Luiz Carlos Saldanha, Carlos Imperial, Seu Mário, Malvina Reis, Georges Michael, Íris Bruzzi, Modesto de Souza, Cláudia Ohana, Rogério Duarte, João Ubaldo Ribeiro, Paulo Villaça, Sandro Solviati, Paco Rabal, Raza Rassaminov, Pierre Clementi e Jean Pierre Leaud — Direção: Ivan Cardoso — Assistente: Eduardo Goldenstein — Argumento: Ivan Cardoso — Roteiro: Haroldo de Campos — Narração: Jorge Ramos — Fotografia: Material de arquivo — Apresentação e letreiros: Ivan Cardoso — Montagem: Francisco S. Moreira — Música Tema: Renato & seus Blue Caps — Trilha sonora: Júlio Medaglia — Still: Ivan Cardoso — Produção executiva: Luiz Arantes Pedroso — Produção: Topázio Filmes Ltda e Cláudio Klabin — Co-produção: Secretaria para o Desenvolvimento do Áudio Visual do Ministério da Cultura, CTAV Funarte, Riofilme, Secretaria Municipal da Cultura e Prefeitura do Rio de Janeiro — Produtores associados: Cândido José Mendes de Almeida, Cláudia Kalmonovith, Paulo César Ferreira, Pedro Carlos Rovai, Tempo Glauber e Vera Andrade — Patrocínio: BR Petrobrás — 35mm Color — Duração: 16’. O olho vorticista do ivampirante Ivan escolheu os seus totens, elegeu os seus emblemas, regeu em diadema os seus temas. Este filminvenção glauberélico, helioglauberiano, é uma partitura de iluminuras em mosaico, belas e brutas como pedras recém-saídas de seus geodos. Eis o livro de imagens-voltagens, ivang(h)élio glaubericônico do Ivan, que desenha um gráfico luminescente, um rastro cúmplice de “afinidades eletivas”. Parangol’olho e glauberóptica justapostos e confraternizados – flagrados e deflagrados – epifanizados no instante, efemérides do efêmero: o cinema. Olho em trânsito e em transe. Lentes e luz diagramando imagens para o júbilo da retina. Cinema como festa. Cinefesta.




1999 – HI-FI – Com: Haroldo de Campos, Clarice Piovesan, Haroldo de Campos, Cristiny Nazareth, Carlos Imperial, Décio Pignatari, Rogéria, José Lino Grunewald, Helena Lustosa, Felipe Falcão, Satã, Nina de Pádua, Wilson Grey, Sandro Solviati, René Clair, Orson Welles, Sydney Greenstreet, Man Ray e Marcel Duchamp — Direção: Ivan Cardoso — Roteiro: Augusto de Campos e Ivan Cardoso — Fotografia: Eduardo Viveiros, Ivan Cardoso e material de arquivo — Apresentação, letreiros e animações: Ivan Cardoso — Montagem: Francisco S. Moreira — Trilha Sonora: Augusto de Campos e Cid Campos — Still: Ivan Cardoso — Produção executiva: Luiza Arantes Pedroso — Produção: Topázio Filmes — Produtores associados: Alexandre Dumans, Augusto de Campos, Cid Campos e Cláudio Klabin — Apoio: CTAV Funarte — Som: Dolby Stereo — 35mm Color e PB — Duração: 8’. É uma colagem de contratipos riscados, sampleando takes raros para forjar clips de “ALTA (IN)FIDELIDADE”, que revelam um longo rastro cúmplice, entre “a tradição poética mais viva” e o cinema experimental...

Um mergulho profundo, através de fragmentos magistrais da obra do poeta Augusto de Campos, na literatura de vanguarda, revendo o “subversivo” movimento concreto paulista ...

Um lance de dados marcados pós-tudo! Ao som dos “versos malditos” de William Blake, James Joyce, E. E. Cummings & outros mini anti sonetos de “Kid & Kampos”!

Um game para cinecubistas, que descobre outras funções para seqüências clássicas & fitas udigrudis, que experimentam uma inusitada sobre vida, oralizando, ou melhor, “OUVENDO”, 13 pérolas preciosas do CD “Poesia é risco” (de Augusto & Cid Campos), que nos instigam a encontrar novas dimensões criativas, num verdadeiro “COLIDOUESCAPO” de imagens inventadas, chegando ao infinito mágico da linguagem cinematográfica – onde o “Cinema, também é risco”!
Um “CINEPOEMABOMBAPOPCRETO” que leva o espectador à um surpreendente, filosófico & revolucionário, vertiginoso redemoinho POÉTICO/VISUAL/SONORO, onde só o “INCOMUNICÁVEL: COMUNICA”!

2004 – HELIORAMA – Com: Helio Oiticica, Lygia Clark, Caetano Veloso, Waly Salomão, Lygia Pape, Dom Pepe, Antonio Manoel, Carlinhos do Pandeiro e Haroldo de Campos – Direção: Ivan Cardoso – Assistente: Fernando Cardoso - Roteiro: Haroldo de Campos – Fotografia: Andréas Valentim, Edson Santos, Eduardo Viveiros, Ivan Cardoso, João Carlos Horta, Luiz Carlos Saldanha e Walter Carvalho – Direção de arte: Hélio Oiticica – Apresentação: Fernando Hargreaves - Montagem: Francisco S. Moreira – Música-tema e narração: Fausto Fawcett -Trilha Sonora: Guilherme Vaz – Still: Eduardo Viveiros e Ivan Cardoso – Produção executiva: Luiza Arantes Pedroso - Produção: Topázio Filmes Ltda. – Produtores associados: Alexandre Dumans, Cláudio Klabin, Pedro Henrique de Paiva, Projeto HO, Labocine e Wilson Borges – Patrocínio: Petrobrás BR – Som: Dolby Digital – 35mm Color e PB – duração: 14’

HELIORAMA é uma espantosa colcha de retalhos, formada por planos deslumbrantes nunca antes mostrados.

O filme é dividido em quadros. Seu formato é uma homenagem as primeiras exibições CINEMATOGRAPHICAS: uma curiosa montagem que reúne cinejornais, trailers, clipes e outros fragmentos inéditos e visionários (de som e imagem) do saudoso artista plástico HÉLIO OITICICA.
Estilo CINEAC - cinema de atualidades e atrações - "novidades excêntricas". O estilo está ligado à origem da Sétima Arte: dar vistas ao não visto...

HELIORAMA não é documentário tradicional, nem filme de sobras ("trash") e sim um instigante desafio: encontrar novas relações para antigos materiais.

Onde podemos aprender como HÉLIO dava uma misteriosa vida as suas fantásticas CAPAS, vestindo seus maleáveis PARANGOLÉS, em performances assombrosas: ora, transformando-se, num estranho alienígena, ora num iluminado feto sideral ... Para, em seguida, voltar a ser o exímio PASSISTA da MANGUEIRA, gingando rumo, ao além do além !!! - possibilitando, desta inusitada forma que, o público jovem conheça melhor o fabuloso universo do criador da "TROPICÁLIA"!!!