Pedro Butcher é mais conhecido como crítico de cinema, tendo passado pelos jornais ‘O Dia’, ‘Jornal do Brasi’l e ‘O Globo’, e hoje escrevendo para a Folha de São Paulo. Mas há alguns anos ele vem trabalhando em outra frente de cinema, editando o site e os boletins da Filme B, empresa especializada em pesquisa e análise do mercado de cinema.
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
É uma importância fundamental, como em praticamente todas as cinematografias. Alguns poucos exemplos, só para ficar no lugar comum: A velha a fiar, de Humberto Mauro, os cinco episódios de Cinco vezes favela, pedra-fundamental do Cinema Novo, Ilha das flores, de Jorge Furtado.... É difícil pensar em um grande cineasta brasileiro que não tenha realizado um curta pelo menos.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por diversos motivos, o longa-metragem se firmou como o padrão hegemônico para a exploração comercial do cinema - e o cinema tem essa dualidade, essa característica tão forte de ser uma arte cara, de porte industrial. Segundo as convenções do "mercado", um espectador paga um ingresso para assistir a um filme que tenha, em geral, entre 90 minutos e 120 minutos de duração - e qualquer obra que desafie esse formato (ou seja, tanto os filmes curtos como os filmes mais longos) será prejudicada. Estabeleceu-se que uma determinada quantia de dinheiro "vale" por x minutos de "diversão". Mas é importante deixar claro que isso vale do ponto de vista da exploração tradicional do cinema, ou seja, sua exibição em cinemas tradicionais, que envolve uma complexa cadeia da qual fazem parte produtores, distribuidores e exibidores. A crítica de jornal não dá atenção aos curtas porque eles não estréiam nos cinemas comerciais, mas é verdade que também não são necessariamente valorizados, por exemplo, os festivais de curtas, que desempenham um papel fundamental na difusão do formato.
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Entre parte dos cineastas, sim. Mas tenho a impressão de que aqueles diretores que costumam encarar o cinema como forma de expressão, e não apenas como uma forma de comunicação com o público, não marginalizam o curta.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
As formas de difusão estão se multiplicando e o curta está ganhando espaço, enquanto a exploração comercial do cinema tem enfrentado desafios e dificuldades no mundo inteiro. Mas em relação a atingir uma grande quantidade de público, a televisão continua sendo o meio mais importante e o espaço a se conquistar.
O portal 'Filme B' é um dos mais conceituados do gênero. Por que não há tanto espaço para os curtas?
Porque o Filme B é focado no mercado de cinema. Mas sempre que possível destacamos festivais, eventos especiais, editais relativos a curtas, etc.
Quais os planos do 'Filme B' para o futuro?
Ampliar o conteúdo aberto, atualizar e aumentar o Quem é Quem no Cinema Brasileiro, por no ar um vocabulário de termos técnicos, etc.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, nem longas, por enquanto.