Cineasta e pesquisador é doutor em Ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo – ECA/USP e fez pós-doutorado no departamento de rádio, TV e cinema e no departamento de antropologia da University of Texas, em Austin, nos Estados Unidos. Joel dirigiu documentários de curta e média-metragem tematizando o negro na sociedade brasileira, dentre os quais destacam-se ‘São Paulo abraça Mandela’, ‘Retrato em preto e branco’, ‘Ondas brancas nas pupilas pretas’ e ‘A exceção e a regra’.
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta-metragem sempre teve um papel histórico de renovação do cinema brasileiro. Grandes talentos se desenvolveram com as possibilidades de experimentação de linguagens e temáticas que o curta oferece. E creio que o curta por muito tempo cumprirá este papel.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Além dos festivais de cinema que já é uma realidade, creio que a melhor janela a ser investida é a TV Pública (TV Brasil, TV Educativa e as emissoras educativas estaduais). Creio que o curta, por sua duração, oferece mais flexibilidade de incorporação na grade televisiva. E poderá ser um fator de criatividade, diversidade e desenvolvimento de talentos para a própria TV Pública.
O senhor já trabalhou em várias frentes (TV, literatura, etc.) mas no cinema fez longas e médias. E os curtas?
Na realidade, fiz alguns curtas. O último trabalho, Vista Minha Pele, uma estória voltada para o público adolescente sobre a questão da identidade racial e da discriminação, exatamente pelo flerte com um certo didatismo, tem circulado muito nacionalmente em escolas e centros comunitários. Mas, a minha possibilidade de experimentação veio com a realização de documentários e, especialmente, com as dezenas de vídeos institucionais que fiz nos anos noventa. Sempre busquei utilizar a linguagem e a narrativa ficcional em trabalhos institucionais em que fui convidado a atuar como diretor e roteirista.
E consegui convencer empresas grandes a adotar a ficção em vídeos institucionais, como FEBRABAN, Petroquímica União, Corn Products, além de outras. Foi daí, tendo inclusive essa possibilidade de estar em um trabalho pago, que fui me preparando para os longas. Foi, portanto, uma questão de oportunidade, e não de escolha. ‘Negação do Brasil’, livro de seu autoria é um grande clássico da literatura.
O senhor fez um verdadeiro tratado de como o negro é visto na televisão. Gostaria que contasse um pouco sobre o negro no cinema.
Talvez meu livro se torne um dia em uma espécie de clássico mais do tipo sociológico sobre o tema. Todo autor tem esse sonho. Basicamente, o meu trabalho e minhas idéias podem ser resumidas na constatação de que a produção audiovisual (cinema, tv e publicidade) são orientadas pelo desejo de branqueamento do país. Nossa estética é racista porque considera os seres humanos de características arianas mais belos, mais inteligentes e superiores. Assim como Hitler considerava. E consideram os negros feios e subalternos. Estamos longe de uma estética multirracial, valorizando todas as contribuições raciais e étnicas que fazem do Brasil o que é, o país da diversidade. Mas, o projeto de diversidade e o sonho de fazer daqui uma democracia racial é nosso. Das maiorias, constituídas por descendentes de negros e índios. O discurso de que superamos o racismo porque somos um país miscigenado, o que já nos tornaria em uma democracia racial não é um discurso daqueles que foram sufocados historicamente pelo colonialismo e pela política de branqueamento.
O cinema reflete estas idéias freirianas e esta estética racista ariana. As oportunidades para os atores negros ainda são orientadas pela representação dos afro-descendentes como favelados, subalternos e geradores da violência urbana. Eu quero ver o nosso cinema incorporando o negro como brasileiros, do povo, da classe média e da elite. E não como estereótipo da violência urbana e da subalternidade.
Acha possível educar o olhar em relação ao que é mostrado nos curtas? Os curtas podem ser o começo para adquirir o gosto pelo cinema?
Não. O gosto pela cinema virá do longa, pelo peso comercial, publicitário, de marketing. Pela enorme quantidade de recursos financeiros e humanos utilizada pela indústria do entretenimento. Acho que o curta pode desenvolver o gosto pela arte, pelo sensível, pelo olhar independente e autoral.
Qual é o seu próximo projeto?
Tenho dois roteiros de longa ficcionais prontos. Um, "Pai da Rita", é o olhar masculino, que dialoga com Filhas do Vento. É uma estória de dois velhos sambistas e boêmios da Vai-Vai brigando pela paternidade de uma filha que aparece no final da vida dos dois, e pode ser de um deles. O outro roteiro, "Sete Estações”, inspira-se na aventura de Lévy-Strauss no Mato Grosso nos anos 30. É uma história fascinante de encontro, conflitos e redenção entre brancos, negros e índios. Só espero encontrar patrocinadores. Tô louco para voltar à ficção.
O senhor fez um verdadeiro tratado de como o negro é visto na televisão. Gostaria que contasse um pouco sobre o negro no cinema.
Talvez meu livro se torne um dia em uma espécie de clássico mais do tipo sociológico sobre o tema. Todo autor tem esse sonho. Basicamente, o meu trabalho e minhas idéias podem ser resumidas na constatação de que a produção audiovisual (cinema, tv e publicidade) são orientadas pelo desejo de branqueamento do país. Nossa estética é racista porque considera os seres humanos de características arianas mais belos, mais inteligentes e superiores. Assim como Hitler considerava. E consideram os negros feios e subalternos. Estamos longe de uma estética multirracial, valorizando todas as contribuições raciais e étnicas que fazem do Brasil o que é, o país da diversidade. Mas, o projeto de diversidade e o sonho de fazer daqui uma democracia racial é nosso. Das maiorias, constituídas por descendentes de negros e índios. O discurso de que superamos o racismo porque somos um país miscigenado, o que já nos tornaria em uma democracia racial não é um discurso daqueles que foram sufocados historicamente pelo colonialismo e pela política de branqueamento.
O cinema reflete estas idéias freirianas e esta estética racista ariana. As oportunidades para os atores negros ainda são orientadas pela representação dos afro-descendentes como favelados, subalternos e geradores da violência urbana. Eu quero ver o nosso cinema incorporando o negro como brasileiros, do povo, da classe média e da elite. E não como estereótipo da violência urbana e da subalternidade.
Acha possível educar o olhar em relação ao que é mostrado nos curtas? Os curtas podem ser o começo para adquirir o gosto pelo cinema?
Não. O gosto pela cinema virá do longa, pelo peso comercial, publicitário, de marketing. Pela enorme quantidade de recursos financeiros e humanos utilizada pela indústria do entretenimento. Acho que o curta pode desenvolver o gosto pela arte, pelo sensível, pelo olhar independente e autoral.
Qual é o seu próximo projeto?
Tenho dois roteiros de longa ficcionais prontos. Um, "Pai da Rita", é o olhar masculino, que dialoga com Filhas do Vento. É uma estória de dois velhos sambistas e boêmios da Vai-Vai brigando pela paternidade de uma filha que aparece no final da vida dos dois, e pode ser de um deles. O outro roteiro, "Sete Estações”, inspira-se na aventura de Lévy-Strauss no Mato Grosso nos anos 30. É uma história fascinante de encontro, conflitos e redenção entre brancos, negros e índios. Só espero encontrar patrocinadores. Tô louco para voltar à ficção.