sábado, 10 de junho de 2017

As HQs dos Trapalhões


As HQs dos Trapalhões


Matéria a respeito do livro "As HQs dos Trapalhões" no jornal A Tribuna de Santos.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Os Trapalhões: a série


João Bourbonnais atuou no histórico "Atrapalhando a Suate", filme de 1983, quando da cisão do grupo. João é o quinto convidado da série, que é uma parceria da TV Cidade com a Editora Laços. Confiram: https://www.youtube.com/watch?v=Px65rqQV_7E

Os Trapalhões: Carlos Koppa


CARLOS KOPPA
Ator


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Foi o diretor, ele que me chamou. Fiz um bandido mascarado, metade era uma máscara e metade era a minha cara. A Angélica tinha quatorze anos. Ele, o diretor, me conhecia da televisão.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Não assistia aos filmes deles, sou muito diferente da turma. Não sou ator, sou um profissional, profissional digno. Sou obediente, não dou palpites. Faço o que o diretor pede. Mas não acompanho nada, esse filme eu não vi até hoje.

Quais as suas principais recordações dos bastidores desse filme?
Eu estava fazendo uma peça, a peça em si terminava todo mundo nu. Oh! Calcutá! era o nome da peça. Foi no tempo do Hair, no tempo em que todos ficavam nus. Fiz mais cenas noturnas desse filme, Os Heróis Trapalhões, porque saía do teatro e ia filmar. Nos bastidores, eu fiquei muito revoltado: o Didi não deixava ninguém entrar no trailer dele, nem Dedé, Mussum e Zacarias. Didi tem um rancor muito grande, tinha que ser chamado por alguém para sair do trailer. Ninguém tinha acesso direto a ele. Os três falavam mal dele, “o cara quer tudo pra ele”. Nos shows, 60% eram dele; o restante era dos três. Eu tive, se não me engano, uma única cena com ele, no final; e, assim mesmo, nós nem nos cumprimentamos.

Onde esse filme foi realizado?
Foi realizado no Parque do Povo, no Rio de Janeiro. Teve um acidente. Fazia parte das filmagens o grupo Dominó, um deles caiu e quebrou o braço. Caiu de boca, foi muito feio.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Era uma brincadeira, não tenha dúvida. Eles faziam muita piada, o humor de Renato era o de comandante das coisas. No setor de trabalho, ele era muito simpático; e ali os quatro se relacionavam bem.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Com o Renato, eu não tive nenhuma possibilidade de relacionamento. Eu achei que ele fosse mais gentil, mais humilde.

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Foi mais uma coisa que fiz, que está gravado no meu currículo. Os filmes deles são vistos até hoje. Todo mundo falava do filme, quando eu saia às ruas. O filme dava prestígio para o Renato, só pra ele.

Quem era o maior comediante do grupo?
O importante é o seguinte: cada um fazia uma coisa, tinha uma coisa para fazer; e faziam bem. Eles se transformaram em um grupo muito fértil de ideias.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele é realmente o chefe, quem comanda. Se não deu confiança para os outros três Trapalhões, quanto mais para nós...

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Eu estava no camarim. Estava um calor danado, no nosso camarim, que era meu e dos três (Zacarias, Mussum e Dedé); mas, no momento só estava eu, estudando. Liguei o ar condicionado bem forte. Ficou gostoso lá dentro. Nessa hora, chegou a mãe da Angélica, que era uma lavadeira, faxineira da Volkswagen. Ela não respeitava ninguém. Entrou no camarim e desligou o ar condicionado, sem mais nem menos. Falei: “Porra que é isso?” Ela replicou: “É que minha filha vai entrar aqui...” Tomei uma atitude que não tomo. Ela falou grosso, e eu disse: “Vai pra porra!!!” Tinha muito carinho pela Angélica, mas a mãe dela ficou famosa pelas loucuras e grossuras que fazia nos bastidores do filme.

Os Trapalhões: Carlos Azambuja


CARLOS AZAMBUJA
Assistente de fotografia


Como e em que circunstância surgiu a oportunidade de trabalhar com Os Trapalhões?
Como profissional de cinema, à época eu estava no mercado e fui contatado pelos produtores da CineFilmes, que iriam alugar o equipamento (a segunda câmera) para o filme e me chamaram para acompanhar o equipamento, assistindo e supervisionando o seu uso.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Pouco, pois eram voltados para o público infantil.

Seu único filme com o quarteto é O Cangaceiro Trapalhão. Nessa produção, você trabalhou como assistente de fotografia. É verdade que você foi convidado para trabalhar nessa produção só porque sabia operar a câmera Arri BL III?
Não exatamente. Participei porque já era um assistente de fotografia bem conceituado no mercado e tinha a confiança dos proprietários do equipamento em questão. E também porque não havia qualquer objeção ao meu nome por parte do resto da equipe de câmera, com quem até já havia trabalhado harmoniosamente em ocasiões anteriores.

Quais as suas maiores recordações desse filme?
Várias... Das locações fantásticas às mais diversas experiências de vida e de trabalho.

O Cangaceiro Trapalhão se aproveitou do fato de, no ano anterior, a minissérie da TV Globo Lampião e Maria Bonita ter feito sucesso. O filme repete os mesmos protagonistas e parte da equipe técnica. Que achou dessa fórmula? Não aparenta uma certa preguiça para ousar e fazer uma releitura?
Não creio que seja “preguiça”, mas talvez um resquício da velha e boa paródia que o cinema brasileiro sempre fez em cima de diversos sucessos.

Esse filme é dirigido por Daniel Filho. Como foi trabalhar com ele?
É um diretor competente que sabia o que queria e tinha boa técnica.

E, com Os Trapalhões, como foi a convivência?
Tranquila e cordial. No trato pessoal, eram até um pouco tímidos, na deles.

Por que você só trabalhou nesse filme com eles?
Calhou de ser assim. Profissionais de cinema são autônomos que a todo momento estão trabalhando com equipes diversas e em diferentes produções.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Não sei dizer o quão perfeccionista ele foi ali. No entanto, acompanhava tudo com interesse e dedicação.

Em seu currículo no cinema, consta inúmeros longas-metragens. Gostaria que falasse o que representou na sua trajetória esse trabalho com Os Trapalhões.
Foi talvez a mais cara produção de que participei (fora os filmes publicitários), o longa-metragem que dispôs de mais recursos.

Quem era o maior comediante dos Trapalhões?
O Didi, sem dúvida!

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Não sei se “rejeitam”; mas talvez não tenham mesmo muito interesse, já que são produções comerciais voltadas para o público infantil.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Um cinema comercial de boa qualidade, voltado para um público específico: as crianças.

Hoje você é professor adjunto da Escola de Belas-Artes da UFRJ, coordenador do Núcleo da Imagem em Movimento, NIM/EBA/UFRJ, Membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (CAPES 6) - PPGAV/EBA/UFRJ. Em sala de aula, há curiosidade dos alunos a respeito dos Trapalhões?
Não, quase nenhuma. Não me lembro de terem sido citados em qualquer ocasião. Até porque o curso não é de Cinema, mas de Arte, o que orienta o foco das discussões em outras direções.

Que Os Trapalhões têm a ensinar para os estudantes?
De um modo geral, creio que eles confirmam que é possível fazer cinema nacional rentável quando é voltado para o público infantil. O mesmo acontecia com a Xuxa, naquela época.

Os Trapalhões: Carla Daniel


CARLA DANIEL
Atriz


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Na época, eu estava fazendo uma novela e dei uma entrevista à Revista da TV, que me perguntou o que eu sentia falta de fazer. Então, eu disse que queria fazer um filme que fosse para o público infantil, que seria um presente poder trabalhar para eles. E quem virou criança fui eu, quando recebi o convite.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Sempre tive um enorme carinho e admiração por eles. E lógico que, vendo seus programas de tevê, não tem como não ser cativado. Sou dessa geração que viu os “Trapa” e a garotada.

Em Os Fantasmas Trapalhões, você é dirigida por J. B. Tanko, o cineasta que mais dirigiu Os Trapalhões. Como foi ser dirigida por ele?
Esse é um dos meus maiores orgulhos e acertos: ser dirigida pelo mestre J. B. Tanko, a história do cinema. Aproveitei cada momento da sua presença. Quando não estava representando, ficava sempre ao seu lado, prestando atenção em tudo, como dirigia, posicionava a câmera. Ele sabia tudo. Era um cavalheiro, sério; porém, doce, competentíssimo. Nesse filme estive com pessoas especiais, muito queridas. E, olhando para trás, vendo na tela, foram tempos maravilhosos, aproveitando cada momento. Deixaram saudade. Afinal, era muita risada!

Recorda-se onde foi filmada essa produção?
Filmamos em um estúdio que tinha na Avenida das Américas. Acredito que onde foi a Tycoon. Posso estar enganada, mas era exatamente naquela área. Filmamos também no castelo que tem na entrada de Petrópolis.

Você não acha que Os Fantasmas Trapalhões era muito soturno para um filme feito para as crianças?
Eu fui na estreia do filme com o filho de uma amiga que era um xodó comigo. Ele assistiu ao filme no meu colo. Em alguns momentos, ele ficou assustado; mas ele era bem novinho. Já as outras crianças que estavam no cinema, ficavam eufóricas, riam, assustavam-se, interagiam, riam de novo. Acho interessante a possibilidade do cinema brincar com as nossas emoções. Começa aí o nosso pequeno espectador!

Nesse filme você teve a oportunidade de atuar ao lado de Wilson Grey, um dos atores mais icônicos da nossa filmografia. Que tem a falar a respeito dele?
Trabalhei com ele várias vezes. Afinal, qual filme nacional de toda uma época que o Wilson Grey não participou? Maravilhoso! Merece milhões de homenagens! Só sei que não tem uma pessoa que, quando diz o seu nome, não fale com respeito, admiração e carinho.

Outro nome importante na história dos Trapalhões é Dino Santana, irmão de Dedé Santana. Como foi trabalhar com ele?
Convivi muito pouco com ele. Tive muito mais contato com Dedé Santana. Esse, sim, trabalhou muito com meu pai, quando os dois começaram.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagens desse filme?
Na minha cabeça vêm imagens... Mussum me apresentando um pote de pitangas. Foi a primeira vez que comi essa fruta. Como o Mussum gostava de pitangas... O Dedé me contando suas histórias da época de circo; conversas de espiritismo com Zacarias, que era muito espiritualizado. Sr.Tanko, atrás de mim, dizendo para mim: “Ruth (Ruth era o nome do meu personagem) decotee!!!!” (como eu tinha emagrecido bastante na época, o personagem tinha que ter seios fartos e rebolar bastante; então, ele falava isso, e eu começava a rebolar!); José Alvarenga Júnior, nosso outro diretor, sempre atencioso; e o Renato, sempre tímido, quando não estava filmando, mas, se começasse uma prosa, ele ia!

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Quando o filme estreou é que tive maior noção, porque, até então, eu só imaginava. Engraçado que as crianças viam mais de uma vez...

Os Trapalhões: Caíque Martins Ferreira


CAÍQUE MARTINS FERREIRA
Assistente de produção e diretor de produção


Você começou a trabalhar com Os Trapalhões no filme que muitos consideram o maior clássico do quarteto, Os Saltimbancos Trapalhões. Como surgiu a oportunidade de trabalhar com eles?
Eu estava cursando Jornalismo na PUC-RIO e tinha como colega de curso o filho do Renato, Paulo Aragão. Sabendo da minha vontade de conhecer produção de cinema, fui convidado por ele a participar da produção do filme.

Sua função era de assistente de produção. Quais eram as suas funções nessa área?
Como eu não tinha nenhuma experiência na área, minhas funções eram relacionadas a “ajudar a produzir”, como se fosse um estágio. Na época, não havia cursos de Cinema; e apenas a prática do fazer era a escola. Fiz de tudo um pouco e aprendi tudo o que sei a partir da experiência com eles. Como a R. A. Produções era a produtora, tive oportunidade de conhecer todas as áreas e fases ligadas à produção de cinema, participando da pré-produção, filmagens, edição e pós-produção de uma obra cinematográfica.

Que você fazia antes de trabalhar com Os Trapalhões?
Cursava Jornalismo na PUC e havia trabalhado como fotógrafo freelance para uma publicação semestral ligada ao IBRAPSI (Instituto Brasileiro de Psicologia).

Quais são as suas principais recordações de trabalho em Os Saltimbancos Trapalhões?
A maior talvez tenha sido ver de perto como se faz um filme, tudo o que envolve essa atividade e o enorme trabalho de toda a equipe envolvida. Além disso, ter participado da gravação e mixagem da trilha sonora do filme foi uma experiência incrível.

Você trabalhou diretamente com o Ivan Lins? Chico Buarque chegou a visitar o set de filmagem para acompanhar também?
Não que eu me lembre.

Nesse filme você teve a oportunidade de trabalhar com o cineasta J. B. Tanko, que, apesar de ter dirigido outros filmes de outros gêneros, ficou marcado mesmo como o cineasta dos Trapalhões. Fale a respeito do J. B. Tanko.
Um diretor muito comprometido com o projeto e conhecedor do público para o qual os filmes eram feitos. Sabia tomar decisões criativas, levando o público-alvo em consideração e mantinha uma relação muito próxima aos atores e produção.

Por que, na sua opinião, J. B. Tanko se deu tão bem com Os Trapalhões?
Tanko era uma pessoa muito ética e correta, além de conhecer profundamente o grupo. Acho que esses fatores criaram uma relação de amizade e respeito; e, na minha opinião, o resultado do bom trabalho dele ajudou a criar um relação duradoura com o grupo.

No ano seguinte vocês começam a filmar Os Vagabundos Trapalhões, que é uma história mais árida, social. Como foi esse trabalho? Recorda-se onde foi filmado?
As locações foram todas na Cidade do Rio de Janeiro, salvo engano.

Gostaria que falasse daquela caverna onde Os Trapalhões moravam. Como foi o processo de construção daquele cenário?
A caverna era uma locação na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Não foi montada em cenário.

Refiro-me internamente, dentro da caverna. Todas as crianças ficaram com vontade de morar lá.
O cenário do interior da caverna, como eu disse. foi criado numa locação na Floresta da Tijuca e não houve nenhum problema de adaptação do elenco em filmar lá.

Outro nome muito caro à história dos Trapalhões é o ator Carlos Kurt. Ele atua nesse filme. Fale a respeito dele.
Meu contato pessoal com Carlos Kurt e, de maneira geral, com o resto do elenco se dava apenas no set de filmagem. Carlos era uma pessoa amável e sem “frescuras”, era também comprometido com o trabalho. Um excelente profissional.

No mesmo ano vocês lançaram Os Trapalhões na Serra Pelada. Em termos de logística, de produção, esse foi o filme mais difícil pra você?
Serra Pelada demandou, sim, uma logística bastante complexa. Como na época eu ainda era assistente de produção, não fui para Serra Pelada. Apenas uma equipe reduzida se deslocou para lá, junto com Os Trapalhões, para filmar os planos gerais que determinaram o que seria necessário em termos de construção de cenário para a continuidade das sequências filmadas na região.

Os Trapalhões eram muito populares à época. Como foi conter o assédio dos garimpeiros, durante as filmagens?
Não estava lá, mas imagino a loucura !

Tem também, no final do filme, uma menção às Forças Armadas. Era uma permuta, em razão da cessão para as filmagens no Sítio do Capim Melado, no Rio de Janeiro, cedidas pelo Exército?
Esses acordos não eram feitos por mim. Não sei responder.

Os Trapalhões na Serra Pelada é, até hoje, um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional. Trabalhar com Os Trapalhões era sucesso garantido?
Os Trapalhões eram campeões de bilheteria; mas, como tudo na vida, o sucesso nunca era garantido. Na minha opinião, a qualidade dos filmes e o comprometimento do produto com o público-alvo era o que garantia o sucesso.

Em Os Trapalhões na Serra Pelada, você trabalhou com dois saudosos ícones do cinema nacional: Wilson Grey e Eduardo Conde. Fale deles.
Minha relação com o elenco era basicamente durante as filmagens. Eram atores profissionais e comprometidos com o trabalho.

Em 1993, realizaram O Cangaceiro Trapalhão, inspirado na história do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, também conhecido como Lampião, o Rei do Cangaço. Como foi trabalhar nessa produção?
Esse filme talvez tenha sido a maior produção dos Trapalhões, no que diz respeito a locações, cenas de ação e efeitos especiais. O trabalho do diretor de arte, Mário Monteiro, foi muito meticuloso e técnico também. A criação da “casa da bruxa” (tanto interior como exterior) e a carroça dos Trapalhões ilustram parte desse trabalho, tanto sob o ponto de vista técnico como de criação.

Lembra onde a produção foi filmada?
Parte no interior do Ceará, numa pequena cidade chamada Juatama, próxima a Quixadá, onde a equipe ficou baseada. Parte no Rio de Janeiro e parte em Itaboraí.

Quais as dores e as delícias de se trabalhar em locações sem estrutura para filmagem?
O maior desafio é criar condições para equipe/elenco em locações sem estrutura. É preciso um maior tempo de preparação, para que essa infraestrutura possa ser instalada. O prazer de tornar isso possível é exatamente o de se vencer desafios.

O Cangaceiro Trapalhão se aproveitou do fato de, no ano anterior, a minissérie Lampião e Maria Bonita, da TV Globo, ter feito sucesso?
Acredito que sim, mas não acho que foi determinante.

Foi coincidência ou falta de criatividade o fato de, nesse filme, terem usado os mesmos protagonistas da minissérie (Tânia Alves e Nelson Xavier), além dos roteiristas Doc Comparato e Aguinaldo Silva?
Não chamaria de falta de criatividade... de jeito nenhum. Acredito que a escolha se deveu ao talento de cada um, principalmente porque a série da tevê não tinha o caráter cômico do filme.

Esse filme foi dirigido por Daniel Filho. Como foi trabalhar com ele?
Daniel é um diretor muito talentoso, competente e criativo. Exigente com sua equipe e atores e que sempre buscou as melhores parcerias em todas as áreas. O trato pessoal foi bem tranquilo, nas situações mais difíceis. E, através de seu prestígio como diretor, trouxe para o filme uma equipe excelente de técnicos e atores.

Por que J. B. Tanko não prosseguiu com Os Trapalhões?
Não sei dizer; e, na verdade, nos próximos anos ele voltou a dirigir os filmes do grupo.

Em O Cangaceiro Trapalhão, vocês contam com um time repleto de estrelas. Além dos já citados Tânia Alves e Nelson Xavier, o filme conta também com Regina Duarte, Tarcísio Meira, Bruna Lombardi, José Dumont e Cininha de Paula. Como é trabalhar em uma produção com tanta estrela?
Talvez tenha sido a maior produção do grupo. Locações remotas, efeitos especiais e elenco estrelar exigiram uma produção muito bem planejada e eficiente. Nenhum dos atores teve um comportamento de “estrela”, com exigências absurdas. Existe uma grande diferença, na minha opinião, entre atores “estrelas” e “profissionais”. Nosso elenco se comportou o tempo todo de maneira profissional, independentemente do fato de serem grandes “estrelas”.

Em alguma filmagem dos Trapalhões, você se deparou com atores “estrelas”? Se sim, como lidou com a situação?
Nunca tive problemas com “estrelismos”.

Renato Aragão era sempre o dono do filme. Que tipo de suporte ele dava para vocês lidarem com essas “estrelas”?
Acredito que a personalidade do Renato ajudava a criar um ambiente tranquilo com toda a equipe. Ele, dono do filme e a maior estrela do grupo, se adequava às condições de produção de forma profissional; e isso dava a todos o tom do projeto. Não havia exigências fora do normal. Respeito, condições de trabalho dignas tanto para o elenco como equipe eram exigidas; mas sem nenhum tipo de regalias absurdas para ninguém.

A presença dessas “estrelas” foi um pedido do Daniel Filho?
Qualquer escolha de elenco é uma escolha do diretor e produtores. A partir do roteiro, atores são sugeridos em função dos personagens e da trama. Sem dúvida, o Daniel, enquanto diretor, teve uma participação muito importante nessas escolhas; mas, colocá-las como “exigência”, vai além do que realmente aconteceu. As escolhas e convites foram feitas em função do roteiro e da qualidade que se buscava para o filme em todos os sentidos.

Muita “estrela” em um filme significa mais dor de cabeça?
Absolutamente, não. Respeito e condições dignas são as coisas fundamentais para um relacionamento profissional com qualquer tipo de pessoa.

1983 foi o ano que marcou a ruptura dos Trapalhões. De um lado ficou Renato Aragão, que filmou O Trapalhão na Arca de Noé; e de outro, na DeMuZa, ficaram Dedé, Mussum e Zacarias, que filmaram Atrapalhando a Suate. E você? De que lado ficou?
Continuei trabalhando na Renato Aragão Produções.

Foi uma escolha difícil? O fato de ficar de um lado poderia lhe render algum tipo de inconveniente, boicote, por parte do outro lado?
De forma nenhuma.

É verdade que Renato Aragão queria O Trapalhão na Arca de Nóe fosse o melhor filme da sua carreira, para mostrar ao Dedé, Mussum e Zacarias que poderia ter uma trajetória sem os três?
Não acredito que o Renato tivesse essa preocupação.

A separação durou poucos meses, e já no ano seguinte o quarteto voltaria e filmaram Os Trapalhões e o Mágico de Oróz. É nessa produção que você assumiu a direção de produção dos filmes dos Trapalhões. Como foi isso?
Acredito que foi uma transição natural dentro da profissão.

Quem o promoveu?
Não lembro; mas, como eu disse, foi uma transição natural.

Quais as responsabilidades de um diretor de produção?
Comandava a equipe de produção em todos os sentidos; acompanhar, discutir e aprovar, com a assistência de direção, o plano de trabalho; contratar equipe técnica, elenco, locações, equipamento; e supervisionar toda a logística de produção/ filmagem, além de ser responsável pela pós-produção do filme e administrar o orçamento do filme.

Os Trapalhões e o Mágico de Oróz foi dirigido por Dedé Santana e Victor Lustosa, outro nome muito importante na filmografia dos Trapalhões. Fale a respeito do Victor.
Victor foi, em muitos filmes do Trapalhões, um excelente assistente de direção e, por mérito, dirigiu, junto com Dedé, Os Trapalhões e o Mágico de Oróz. É uma pessoa do mais fino trato e conhecedor dos processos de direção e produção.

Esse filme foi realizado pela Renato Aragão Produções em parceria com De-MuZa Produções. Foi fácil administrar a relação de interesses dessas duas empresas no filme?
Não houve nenhum problema.

Tinha ainda algum resquício de conflito ou tudo já estava superado?
Absolutamente.

Esse filme é uma paródia do clássico O Mágico de Oz. Ao fazer uma paródia sempre se corre o risco de comparações. Até que ponto vale a pena seguir esse caminho?
Por ser uma paródia, não acho que as comparações façam sentido. Não era um remake.

Gostaria que falasse a respeito de Arnaud Rodrigues. Ele atuou nesse filme, mas foi muito mais que isso nos Trapalhões, não é?
Arnaud teve uma história longa e muito próxima do grupo. Era muito querido e admirado por todos.

No início do filme, uma cena clássica, para mim, em que Tony Tornado interpreta o Carcará. Como foi o trabalho de produção daquela cena/daquele número musical?
Filmamos com duas câmeras, grua, carrinho e câmera na mão. Os ensaios aconteceram antecipadamente... com o coreógrafo que também estava presente na filmagem.

Roberto Guilherme, apesar de ser um nome constante nos programas da televisão dos Trapalhões, pouco aparecia no filme. Em Os Trapalhões e o Mágico de Oróz, ele fez o papel de um comerciante. Por que Roberto Guilherme não tinha muito espaço nos filmes?
Não sei até que ponto concordo com essa afirmativa, já que ele participou de vários filmes.

Logo após, vocês lançaram A Filha dos Trapalhões, filme dirigido por Dedé Santana. Como era o Dedé na direção?
A experiência como ator que Dedé tinha, tendo sido dirigido por vários diretores, deu a ele um entendimento muito claro da função de um diretor. Acho que, como diretor, foi tão competente quanto como ator.

A Filha dos Trapalhões foi realmente baseado no filme O Garoto, de Charles Chaplin, por quem Renato Aragão tem verdadeira admiração?
Sinceramente, não sei dizer.

Onde foi filmado?
Todo na cidade do Rio de Janeiro, com muitas locações na Barra da Tijuca.

Os Trapalhões no Reino da Fantasia é um filme ousado. Poucos filmes no Brasil se aventuraram na combinação de animação (realizadas nos Estúdios Mauricio de Sousa) e live action, com Os Trapalhões em cena. Conte a respeito dessa produção.
Foi realmente uma inovação. Vários aspectos técnicos tiveram que ser levados em conta, e acredito que o resultado ficou acima do esperado.

O fato de “casar” uma apresentadora infantil popular com o grupo humorístico de maior sucesso do país era uma combinação certeira para os filmes?
Certamente foi uma combinação que beneficiou a todos.

Qual era a posição do Beto Carrero dentro dos Trapalhões? Ele participou desse filme. Mas a sua influência era grande. Ia além, não ia?
Não sei dizer. Minha relação com o Beto dizia respeito apenas aos filmes em que, de certa forma, ele participava ou apoiava.

Como era a relação dos Trapalhões com a Embrafilme?
Os projetos do grupo eram grandes sucessos de bilheteria, o que proporcionava uma relação profissional de interesse mútuo.

Celso Magno, mais conhecido como Baiaco, era o dublê principal do Renato Aragão. Em que momentos ele era acionado e em que momentos Renato Aragão assumia o risco?
Baiaco era um grande artista circense; e, quando a cena necessitava de habilidades específicas de circo ele era acionado. Não era um dublê no sentido de “cenas de risco” . Na grande maioria das vezes, o próprio Renato atuava; e o Baiaco era responsável por atuar em situações nas quais a habilidade específica era necessária.

Como era a relação de trabalho dos Trapalhões com o artista José Luiz Benício, que produziu todos os cartazes dos filmes do quarteto?
Uma parceria em vários trabalhos. Benício conhecia muito bem o grupo e usava seu talento para transmitir nos cartazes o espírito de cada filme.

Chegamos ao filme Os Trapalhões e o Rei do Futebol. Quais as suas principais recordações desse filme?
As filmagens de segunda unidade para planos gerais, feitas durante o intervalo de um jogo real entre Flamengo e Vasco, com o Maracanã lotado. Foi uma grande estratégia de produção que funcionou muito bem na montagem.

Onde ele foi filmado?
Todo na cidade do Rio.

Foi fácil convencer o Pelé a participar do filme?
Não participei desse acordo, mas acredito que não deve ter sido difícil. O argumento do filme é assinado por Renato e Pelé; portanto; a parceria vai além do Pelé como ator.

O mítico Carlos Manga dirigiu Os Trapalhões e o Rei do Futebol. De quem partiu a ideia de convidá-lo? Como foi trabalhar com ele?
O convite partiu do próprio Renato. Manga era um diretor exigente e muito competente. Na verdade, trabalhar com profissionais assim não é difícil.

Esse filme marcou o fim da sua trajetória com Os Trapalhões no cinema. Por que isso aconteceu?
Após o lançamento do filme, fiz uma viagem longa para fora do Brasil e no meu retorno aceitei um convite do Paulo Thiago para fazer a direção de produção do filme Jorge, Um Brasileiro. Acredito que tenha sido o fim de um ciclo na minha carreira profissional. E aconteceu naturalmente. Guardo as melhores lembranças e sou muito grato a todos da R. A. Produções, onde tive a oportunidade de crescer profissionalmente. Sem dúvida, o período que trabalhei com eles foi uma grande escola e fundamental na minha vida profissional.

Você é, certamente, um dos profissionais que mais tempo trabalhou com Os Trapalhões. Como conseguiu ficar tanto tempo trabalhando com eles?
Na época, a R. A. Produções produzia dois filmes dos Trapalhões por ano, todo ano. A continuidade no trabalho com eles se deu de forma natural, a partir de Os Saltimbancos Trapalhões; e a oportunidade que me foi oferecida de subir na carreira contribuiu para essa parceria de muitos anos.

Quem era o maior comediante do grupo?
Como grupo, completavam-se; e cada um com suas características e personalidades, contribuía para o sucesso do grupo.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
O Renato estava sempre presente em todas as decisões e acompanhava de perto tudo, mas dava autonomia a cada um dos profissionais que faziam parte de sua equipe.

Acredita que essa característica de Renato o torna diferente, um profissional de sucesso?
Profissional de sucesso, sem a menor dúvida.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Acho sinceramente que isso mudou. Houve época em que pode ter sido assim, talvez por ser um cinema de sucesso comercial, voltado para o público. Se foi, acredito que essa visão tacanha mudou. Basta ver os grandes nomes de artistas, técnicos, compositores, roteiristas etc. que trabalharam nas produções do grupo.

Você trabalhou com diversos profissionais técnicos nos filmes dos Trapalhões. Quem você destacaria, assim como você, como figuras históricas na trajetória cinematográfica do quarteto?
Infelizmente, alguns desses técnicos já faleceram; mas eu citaria os seguintes: J. B. Tanko, Antônio Gonçalves (diretor de fotografia), José Tavares (técnico de som), Geraldo José (técnico de ruídos de salas), Jaime Justo (montador), Antonio Pacheco (maquiador), entre outros...

Os Trapalhões: Cacá Diniz


CACÁ DINIZ
Produtor executivo


O senhor trabalhou em diversos filmes dos Trapalhões. Como surgiu o primeiro convite para trabalhar com eles?
A partir das relações de trabalho com profissionais que faziam parte da “família cinematográfica Os Trapalhões”. A energia que rolava era luminosa e, durante as filmagens de Os Vagabundos Trapalhões, aproximei-me do cinema que eles faziam. Eu queria fazer parte daquele mundo. Surgiu pelo Cinema.

Antes de iniciar essa parceria profissional com eles, o senhor já acompanhava os seus filmes?
Sim. A televisão foi o veículo de apresentação e convivência, os filmes desenvolveram uma relação de respeito e amizade.

O senhor é um dos profissionais que tiveram uma longa parceria profissional com o quarteto. A que se deve essa longa parceria?
A felicidade de estar nessa aventura, parceria profissional no sentido mais amplo e prazer de fazer parte do time, incluindo os profissionais que acompanhavam Renato Aragão nas diferentes áreas de entretenimento que atuavam (circo, teatro popular, televisão), enfim era todo “o dia a dia” de preparação, filmagem e exibição que estimulava querer fazer mais filmes.

Que de fato, um produtor como o senhor, fazia quando trabalhava com Os Trapalhões? Onde começava e terminava o seu trabalho?
Começava no momento em que o Renato Aragão sinalizava que era hora de começar, feito uma partida de futebol: vestia a camisa e fazia de tudo para jogar os noventa minutos e, se fosse necessário, jogar a prorrogação e ir para a disputa nos pênaltis, comemorar com a galera nos cinemas.

Os filmes tinham como público-alvo só as crianças?
Por natureza, crianças e cinema se parecem, não como público alvo, mas como essência da diversão que se estende ao longo da vida.

Os Trapalhões sempre tentaram criar longos vínculos com profissionais (cineastas como J. B. Tanko, José Alvarenga Júnior, entre outros). Isso era uma ideia do Renato, de trabalhar com quem já conhecia?
É a característica mais gratificante perceber que o Renato Aragão, o produtor sério, e o palhaço Didi fazem o possível e o que for necessário para manter todos os profissionais na roda-gigante do processo de criação e execução dos filmes. Isso exige uma grande capacidade de determinação e energia.

O cinema dos Trapalhões lançou diversos profissionais, sejam eles atrizes, atores e técnicos de cinema. Essa era uma diretriz que Renato colocava para vocês?
Não como uma colocação, mas como o exercício constante de criação e renovação, procurando novos caminhos, realização do imaginário pessoal, teimosia de criança.

Quais as suas principais lembranças de bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
A simplicidade no relacionamento profissional, algo próximo das brincadeiras da infância.

Que tem a dizer do ator Carlos Kurt? Ele tem uma participação muito ativa no cinema dos Trapalhões.
As personagens do universo dos Trapalhões oferecem dezenas de oportunidades de permanência. O ator Carlos Kurt representa essa característica; e suas atuações se enriqueciam, a cada nova participação.

Dedé Santana tinha muito interesse na área de direção. Ele dirigiu alguns filmes dos Trapalhões. Como avalia o trabalho dele como cineasta?
Dirigir um filme dos Trapalhões é um exercício de barganha com o Renato Aragão. Para o Dedé Santana, o desafio era ainda maior, pois a troca de interesses se fazia também com o Mussum e o Zacarias.

Qual foi o melhor diretor dos filmes dos Trapalhões e por quê?
Todos. Porque é prazeroso o trabalho, ver as salas de cinema cheias e ver crianças, hoje adultos, vivendo o imaginário como se tivesse acontecido ontem.

O cinema dos Trapalhões tinha como caracteristica a paródia de filmes, contos ou clássicos da literatura estrangeira. Era uma fórmula que sempre seguiam e deu muito certo. Os críticos diziam que eles ficavam numa zona de conforto e nunca ousavam. Qual é a sua análise a respeito?
Zona de conforto é algo inimaginável para quem faz cinema. Mais de cento e vinte milhões de pessoas foram aos cinemas, os filmes continuam sendo exibidos. Gerações se revezaram, diante das palhaçadas do grupo. Esses são os críticos que se redescobrem há mais de quarenta anos.

Quem era o maior comediante do grupo?
Os quatro com suas particularidades se completavam, e o Renato trabalhava com segurança para a manutenção desse perfil.

Renato Aragão tem fama de ser superprofissional, atento do roteiro ao cartaz do filme, perfeccionista. Isso procede?
Sim, é procedente. Devo acrescentar que essa busca era feita com muito cuidado e reflexão, considerando a realização de suas ideias e agregando sugestões de todos os demais.

Acredita que o cinema era a grande paixão do Renato, mais que a televisão? Na sua visão, de onde vinha essa característica tão profissional do Renato? Dedé, Mussum e Zacarias eram preocupados somente em atuar?
Sim, vinha do conflito pessoal entre o advogado com formação acadêmica e o menino travesso que persiste dentro dele. Dedé, Mussum e Zacarias se divertiam com a confusão que esse conflito gerava e atuavam expondo este paradoxo.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
A rejeição é parte do processo de criação, é parte das diferenças e diversidades de situações que envolvem realizações pessoais e exposição pública. E dissolvesse com o tempo.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Diversão infantil que atende aos desejos de sonhar, transgredir as regras do universo adulto e levar à condição humana seriamente bagunçada.

Tião Macalé era considerado o quinto Trapalhão. Quais as lembranças dele?
Não participei dessa convivência profissional. Como espectador, divertia-me muito; mas não existiu um quinto Trapalhão.

Os Fantasmas Trapalhões marcou certas rupturas na produção cinematográfica do quarteto. As filmagens passaram a ser feitas, em sua maioria, em um universo fechado, ou seja, em estúdio. Cenários e figurinos pré-fabricados se tornaram mais presentes, facilitando a produção. Isso foi proposital?
É fundamental entender esse movimento. Foi proposital, mas não por esses motivos. A criação dos argumentos e roteiros, responsabilidade do Renato, exigiam magia. A engenharia de arte e produção desenvolveram ferramentas e atitudes com às quais estávamos identificados e atendiam ao próprio grupo serem vistos nesse formato.

Outra mudança é com o dito cinema “social” dos Trapalhões, típico de vários filmes anteriores como Os Trapalhões e o Mágico de Oróz. De quem foi a ideia de seguir nessa diretriz?
O cinema é social por legitimidade, por atestado de nascimento. As diretrizes, análises pueris e fantásticas não se encaixam nesses condicionamentos racionais.

Os Trapalhões tinham também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Por esse motivo, tornou-se frequente, a partir desse filme, a presença de personalidades da tevê como, por exemplo, o grupo Dominó e Gugu Liberato. Isso era o melhor a fazer, pensando na visão de um exigente e diversificado público infanto-juvenil?
É da natureza do cinema ser infantil, ser juvenil, ser adulto. Não se obedece a uma exigência, faz-se com prazer e da melhor forma possível.

O senhor acompanhou Renato Aragão em filmes solos, os mais recentes. Na sua visão, que mudou em Renato Aragão e o seu cinema, daquele tempo e o de hoje?
Não foi o Renato Aragão e seu/nosso cinema que mudou. O time não é aquele que nos encantava com suas palhaçadas. Não se explica ou se justifica, apenas sentimos sua presença e sua ausência.

Gostaria que contasse uma história curiosa, desconhecida, que o senhor tenha sido testemunha ocular.
As cenas de brigas e de conflitos físicos eram uma constante no dia a dia das filmagens. Numa delas, o diretor empolgou-se e entrou numa de filme de Ação; e a sequência foi perdendo a graça. O Renato (Didi) em cena, parou tudo e explicou que esse não era o filme que estava roteirizado: a gente bate, a gente briga; mas é carinhosamente.